• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Isotermas de adsorção do azul de metileno a partir de hidrogéis do tipo IPN de alginato de sódio e sulfato de condroitina enxertados com poli(ácido acrílico)

Autores

Farias, A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Chaves, E. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ) ; Francisco, F. (UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ)

Resumo

Hidrogéis do tipo IPN de alginato de sódio (AS) e sulfato de condroitina (SC) enxertados com poli(ácido acrílico), na razão de AS/SC (50/50 %m/m), foram sintetizados por polimerização em solução com interesse nestes sistemas como adsorventes do corante catiônico azul de metileno (AM) a partir de soluções aquosas. Para estabelecer a correlação mais adequada para as curvas de equilíbrio e estimar os parâmetros das isotermas, os modelos de Lang¬muir e Freundlich foram ajustados aos dados experimentais. O modelo de Langmuir foi o mais adequado para descrever a linearidade dos dados experimentais, indicando que a adsorção de AM envolve a cobertura da monocamada na superfície dos hidrogéis, apresentando um qmax = 1663 mg.g-1, para os hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA.

Palavras chaves

Polissacarídeos; Corante; Remediação

Introdução

A partir dos anos 1960, os hidrogéis têm sido largamente estudados por diversas pesquisas que tratam de formulação, propriedades e aplicação (WICHTERLE, LÍM, 1960). O grande interesse nestes materiais está relacionado ao fato de que os hidrogéis podem ser obtidos a partir de uma variedade de polímeros (sintético, natural ou ambos) bem como sua aplicabilidade em vários campos (SPAGNOL, et al, 2012). Hidrogéis podem ser definidos como redes de polímeros hidrofílicos, química ou fisicamente reticulados, capazes de absorver e reter grande quantidade de água sem perder sua forma 3D (RODRIGUES, et al, 2019). O azul de metileno (AM) é um corante catiônico comumente utilizado em indústrias têxteis, cosméticas e farmacêuticas, entre outras. Embora o AM seja classificado como atóxico, ele pode ser nocivo à saúde humana dependendo da quantidade que é exposta e/ou ingerida, o tratamento de águas residuais contaminadas com AM é de interesse devido seu impacto ser bastante nocivo. A técnica de adsorção tem atraído a atenção devido às suas vantagens econômicas, simplicidade, bem como a disponibilidade de uma grande variedade de adsorventes (PEREIRA, et al, 2021). Atualmente, diferentes métodos e/ou tratamentos, incluindo, principalmente, os processos físicos, químicos e biológicos têm sido usados para a adsorção de íons metálicos e corantes iônicos de águas residuais. Dentre estas, a adsorção é a técnica mais largamente utilizada por ser de baixo custo, mais eficiente, energeticamente econômica, de fácil operação, não gerar resíduos tóxicos ou outros subprodutos (MELO, et al, 2018). Neste sentido, a síntese de adsorventes à base de polissacarídeos tem despertado particular interesse, porque muitos polissacarídeos são atóxicos e/ou biodegradáveis. Esses novos materiais, denominados como hidrogéis inteligentes, têm despertado grande interesse quanto ao uso como sistemas de separação e adsorção de íons metálicos e/ou corantes iônicos, principalmente os hidrogéis obtidos a partir de polímeros naturais como a celulose, amido e quitosana, que estão sendo constantemente estudados para remoção de tais contaminantes em águas residuais. No presente trabalho hidrogéis do tipo IPN de alginato de sódio (AS) e sulfato de condroitina (SC) enxertado com poli(ácido acrílico) foram sintetizados por polimerização em solução com interesse de avaliar a concentração a inicial da solução de AM e os parâmetros isotérmicos de adsorção a partir dos hidrogéis do tipo IPN.

Material e métodos

Sínteses dos hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA Hidrogéis do tipo IPN de alginato de sódio (AS) e sulfato de condroitina (SC) enxertado com poli(ácido acrílico) foram sintetizados de acordo com o procedimento a seguir, 0,5 g dos biopolímeros na razão de AS/SC (50/50 %m/m) foi solubilizada em 30 ml de água destilada à 70 °C sob agitação magnética e fluxo de N2. Após a gelatinização, 2% m/m de K2S2O8 foram introduzidos para gerar radicais livres nos biopolímeros. Dez minutos depois, 3,5g de AA (70% neutralizado com solução de NaOH 6 mol.L-1) e 2% m/m de N,N'- metilenobisacrilamida foram adicionados.O produto resultante (50AS/50SC) foi resfriado à temperatura ambiente e, após 24 horas, lavado com água destilada, seguido de secagem em estufa a 70 ºC, e macerado até granulometria de 9-24 mesh (2,00-0,71 mm). Caracterização por espectroscopia na região do infravermelho (IV) Os espectros de absorção na região de Infravermelho dos materiais de partida, e do hidrogel do tipo IPN foram obtidos em equipamento Shimadzu® modelo IR Trace 100, operando na faixa de 400-4000 cm-1 em pastilha de KBr. Ensaios de adsorção de corantes iônicos Para os experimentos de adsorção, foi avaliado o efeito da concentração inicial da solução de AM (1000-2200 mg/L). Os ensaios de adsorção foram realizados utilizando as seguintes condições, inicialmente, 50 mg do adsorvente foram imersos em 50 mL de solução de AM à temperatura (25,0±1,0 oC). O adsorvente foi separado por filtração utilizando um cadinho filtrante de 30 mL (porosidade nº 0) e uma alíquota do sobrenadante foi recolhida para análise da concentração residual. A concentração residual de AM foi determinada por espectrofotometria UV-Vis, utilizando o comprimento de onda máximo (670 nm) através de uma equação linear obtida a partir de uma curva analítica (y = 0,0735x – 0.00299, R²=0,9979, sendo y a absorbância e x a concentração, respectivamente). A capacidade de adsorção foi calculada a partir da Equação 1. qe =[(Co-C)×V]/m, (1) onde, q é a quantidade do corante adsorvido no tempo t ou no equilíbrio (mg.g- 1), Co é a concentração inicial do corante (mg.L-1), C é a concentração final do corante (mg.L-1), V é o volume da solução do corante (L) e m é a massa do gel utilizado (g). Todos os ensaios foram realizados em triplicata.

Resultado e discussão

Caracterização por FTIR A Figura 1 mostra os espectros de FTIR de AS, SC e AS/SC-g-PAA. O espectro de FTIR de AS, mostra uma banda alargada na região de 3436 cm-1(ν OH), correspondente ao estiramento dos grupos hidroxila O-H e as bandas em 1618 (νass COO-) e 1419(νsim COO-) cm-1, referentes a vibração assimétrica e simétrica, respectivamente do estiramento COO-. Além disso, observa-se uma banda de baixa intensidade em 818 cm-1 identificada como os estiramentos C-O e C-C-H, e uma outra banda em 1316 cm-1 relacionada ao estiramento COO-. A banda em 1033 cm-1 é referente aos estiramentos C-O, C-C-O e C-C (WANG, et al, 2019). No espectro do sulfato de condroitina (SC), evidenciam a presença de bandas em 3441 cm-1, referente à ligação -OH, em 1649 cm-1, referente à amida I, em 1571 cm-1 observou-se à vibração, referente a deformação da amina, em 1238-1060 cm-1 referente ao estiramento da ligação S=O e em 856 cm-1 associado a ligação do grupo C-O-S (FOOT, MULHOLLAND, 2005). O espectro FTIR do hidrogel do tipo IPN de AS/SC-g-PAA apresenta as bandas procedentes do AS e SC puro, porém, mais fracas. Observa-se uma banda característica em 1720cm-1 (ν C=O) atribuída ao grupo - COOH e -COOMe e as bandas 1580 (νass COO-) e 1409 cm-1 (νsim COO-) atribuída aos grupos COO-. Adicionalmente, as bandas de vibração características de C-OH entre 933-1193 cm-1 do AS e do SC foram sensitivamente enfraquecidas após a reação de copolimerização, indicando que os grupamentos C-OH do AS e SC participaram da reação de enxertia com o ácido acrílico (EMAMI, et al, 2018). Figura 1. Espectros de FTIR. Efeito da concentração inicial sobre a adsorção do corante A Figura 2 mostra a influência da concentração inicial em função da capacidade de adsorção do corante AM por hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA. Pode-se observar que ao aumentar a concentração de AM na solução aquosa de 100 a 1700 mg/L ocorre um aumento acentuado na capacidade de adsorção de 95,02 ±5,78- 1616,58±43,65 mg.g-1, seguido de uma estabilização para concentrações superiores de AM (1700 a 2200 mg/L), respectivamente, 1616,58±43,65 e 1633,92±49,47 mg.g-1, isto é, a capacidade de adsorção dos adsorventes não teve um aumento significativo para concentrações superiores do corante. Estes resultados podem ser atribuídos ao fato de que à medida que a concentração inicial aumenta, os sítios de adsorção presentes na superfície dos hidrogéis vão sendo preenchidos pelas moléculas de AM e a uma determinada concentração se tem a saturação completa destes sítios, tornando quase impossível a difusão das moléculas do corante mais profundamente pela estrutura dos hidrogéis (AZEVEDO, et al, 2015; GOMES, et al, 2015; VAZ, et al, 2017). Figura 2. Efeito da concentração inicial de corante sobre as capacidades de adsorção de AM por hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA. Experimento de adsorção: Tempo de equilíbrio: 60 min; pH0: 6,0; T = 25,0±1,0 ºC; massa do adsorvente = 50 mg; velocidade de agitação (200 rpm); Razão molar AA/biopolímeros = 7. Para estabelecer a correlação mais adequada para as curvas de equilíbrio e estimar os parâmetros das isotermas, os modelos de Lang¬muir (Tipo I e Tipo II) e Freundlich (AZEVEDO, et al, 2015; GOMES, et al, 2015; VAZ, et al, 2017) foram ajustados aos dados experimentais, como mostra a Tabela 1. Tabela 1. Parâmetros de isotermas de Langmuir (Tipo I e Tipo II) e Freundlich para a adsorção do AM por hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA. Isotermas Parâmetros qe (mg.g-1) 1654,62 Langmuir Tipo I qmax (mg.g-1) 1662,54 kLI (L.mg-1) 0,1947 RLI 0,0026 R2 0,99934 Langmuir Tipo II qmax (mg.g-1) 1850 kLII (L.mg-1) 0,056 RLII 0,0088 R2 0,82973 Freundlich kF ((mg.g-1)(L.mg-1)1/n ) 206,40 n 0,7258 1/n 1,37786 R2 0,66052 Analisando os coeficientes de correlação (R²), pode-se notar que o modelo de Langmuir do Tipo I é o mais adequado para descrição dos dados experimentais devido apresentar maiores valores de R², quase se aproximando de uma unidade. Além disso, o valor de qm,cal para adsorção de AM se aproxima dos valores encontrados experimentalmente sendo 1662,54 mg.g-1 para o hidrogel, indicando que o processo de adsorção é conduzido pela formação de uma monocamada de corante na superfície dos adsorventes. Neste caso, essas superfícies apresentam morfologia homogênea e um número finito de sítios de adsorção (AZEVEDO, et al, 2015; GOMES, et al, 2015; VAZ, et al, 2017). Por outro lado, os modelos de isotermas de Langmuir tipo II e Freundlich mostraram-se inadequados para explicar os dados experimentais.

Figura 1.

Espectros de FTIR.

Figura 2

Efeito da concentração inicial de corante sobre as capacidades de adsorção de AM por hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA.

Conclusões

Formou-se hidrogéis do tipo IPN de alginato de sódio e sulfato de condroitina AS/SC-g-PAA enxertados com poli(ácido acrílico), como observado por FTIR. Os resultados mostram que a formação da rede IPN apresentou efeitos sinérgicos na adsorção de AM. Esse comportamento pode ser atribuído em virtude que ambos biopolímeros são polieletrólitos com caráter aniônico, isto é, devido a presença de grupos carboxilatos (AS) e de grupos sulfônicos (SC). O maior número desses grupamentos carregados negativamente causa a dilatação na matriz polimérica devido a repulsão entre os grupos -COO-/-COO-, -OSO3-/-OSO3- e -COO-/-OSO3-. Além do aumento nas interações eletrostática com o AM positivamente carregado. O modelo de Langmuir foi o mais adequado para descrever a linearidade dos dados experimentais, indicando que a adsorção de AM envolve a cobertura da monocamada na superfície dos hidrogéis. A capacidade máxima de adsorção encontrada foi de 1663 mg.g-1 para os hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA. Estes resultados indicam que os hidrogéis do tipo IPN de AS/SC-g-PAA apresentam um grande potencial para ser usados como adsorventes alternativos no tratamento de águas residuais contaminadas com corantes industriais.

Agradecimentos

Os autores agradecem à FUNCAP (BP4-00172-00124.01.00/20), ao CNPq e a UEVA pelo apoio financeiro.

Referências

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