Autores
dos Santos Gama, P. (UFAL)  ; Monteiro da Silva, K.R. (UFAL)  ; Viana, R.S. (UFAL)  ; Barbosa, C.D.A.E.S. (UFAL)
Resumo
O estudo de nanomateriais com propriedades 
luminescentes têm se destacado 
amplamente nos últimos anos por exibirem 
versatilidade de aplicação em diversas 
áreas científicas e tecnológicas. Dentre 
os materiais em nanoescala, os Metal-
Organic Frameworks baseados em íons 
lantanídeos (Ln-MOFs) destacam-se devido 
às 
suas propriedades distintas, exibindo 
ampla diversidade estrutural e 
possibilitando uma série de aplicações. 
Diante do exposto, a proposta deste 
trabalho é sintetizar via sonoquímica a 
temperatura ambiente a LnMOF 
[Eu2(BDC3
(H2O)4]n 
(NanoBDC) utilizando como agentes 
passivante o polivinilpirrolidona (PVP), 
buscando a obtenção de estruturas em 
nanoescala, as quais são úteis em tintas 
fluorescentes antifalsificação. 
Palavras chaves
Lantanídeos; compostos de coordenação;  nanomateriais
Introdução
Os Metal-Organic Frameworks (MOFs) 
compreendem uma classe de composto de 
coordenação constituídos pela combinação 
entre ligantes orgânicos e centros ou 
clusters metálicos ligados entre si e que 
se estendem uni-, bi e 
tridimensionalmente no espaço (BATTEN et 
al, p. 1716, 2013). Devido à sua 
cristalinidade e porosidade bem definidas, 
alta estabilidade e versatilidade de 
estruturas e topologias, esses materiais 
têm atraído considerável atenção nas 
últimas décadas.
As MOFs contendo íons lantanídeos, às 
chamados Ln-MOFs (Lanthanide Metal-Organic 
Frameworks), têm recebido grande atenção 
principalmente devido às propriedades 
luminescentes únicas dos íons lantanídeos, 
tais como fotoestabilidade, longos 
tempos de vida (>10-4 s), 
grandes deslocamentos Stokes/anti-Stokes 
(>200 nm), 
linhas de emissões estreitas, possuindo 
largura total da linha de emissão tomada 
a meia altura menores que 10 nm, e por 
possuir altas eficiências e rendimentos 
quânticos (TEIXEIRA et al, p. 887, 2011) . 
Dentre estes, o íon európio (III) se 
destaca, pois este possui espectro de 
emissão que apresenta as transições 
características 5D0 
→ 7FJ (J = 0, 1, 
2, 3 e 4) que compreendem quase a 
totalidade da região do visível, 
produzindo 
luminescência intensa de coloração 
vermelha, o que é um aspecto relevante na 
preparação de diversas classes de 
materiais luminescentes, desde sensores 
(BORISOV; WOLFBEIS, p. 5094, 2006), 
catalisadores (PAUNOVIĆ et al, p. 9791, 
2017), marcadores de resíduo de tiro 
(PILLAY et al, p.73, 1970), compostos 
imprimíveis (ANDRES et al, p. 5029, 2014), 
dentre outros. Diante deste cenário, 
as Ln-MOFs que assumem a escala 
nanométrica ampliam as possibilidades de 
aplicação já existentes desta classe de 
compostos e introduzem às 
características intrínsecas dos 
nanomateriais, como o aumento na razão 
entre 
a área de superfície e o volume. Dentre os 
métodos de síntese de MOFs em 
nanoescala, destaca-se a rota sonoquímica. 
Qiu e colaboradores foram os 
primeiros a empregar este método na 
obtenção de nanoesferas e nanofios da MOF 
Zn3(BTC)
2∙12H2O, onde pela 
primeira vez este 
nanomaterial foi sintetizado a partir de 
métodos clássicos (QIU et al, p. 3642, 
2008). Sua utilização na síntese de MOFs 
tem sido cada vez mais difundida, 
devido à sua simplicidade, baixo custo, 
curto tempo de reação e à formação de 
nanocristais bem definidos (KHAN; JHUNG, 
p. 11, 2015). Importante destacar que o 
nosso grupo de pesquisa também tem 
trabalhado na síntese de Ln-MOFs via 
método 
sonoquímico e vem obtendo sucesso na 
obtenção desta classe de materiais com 
microestruturas diferentes, incluindo 
morfologias na forma de flor (CALADO et 
al, 2022). Portanto, a formação de 
composto nanoestruturado baseado na 
combinação do sal de Európio com o ácido 
tereftálico, o [Eu2(BDC)
3(H2O)4]
n, utilizando o método de 
cristalização assistida pela rota 
sonoquímica apresenta-se como uma 
estratégia 
promissora para a obtenção de um material 
luminescente avançado útil para 
utilização para aplicações forenses, como 
na fabricação de tintas luminescentes 
visando uso em documentos 
antifalsificação.
Material e métodos
Síntese do ligante Benzeno-1,4-
dicarboxilato disódico 
(Na2BDC):
O ligante Na2BDC foi 
preparado utilizando uma solução de ácido 
benzeno-1,4-dicarboxilico 
(Na2BDC; 10 mmol, 50 mL de 
H2O) 
e uma solução de hidróxido de sódio 2,0 
mol.L-1 na proporção molar 
1:2 (ligante:hidróxido). Em seguida, a 
solução de NaOH foi gotejada lentamente 
ao ligante, sob agitação à 60 °C. Após a 
completa dissolução do sal, a mistura 
foi mantida sob agitação e aquecimento à 
130 ºC até atingir 1/3 do seu volume 
inicial, onde foram adicionados 10 mL de 
etanol P.A para que ocorresse a total 
precipitação do Na2BDC. O 
precipitado foi separado através de 
centrifugação à 5000 rpm por 3 minutos e 
secado em alto vácuo. Síntese das 
nanopartículas de EuBDC (NanoEuBDC): 
Para a síntese do Eu2(BDC)
3(H2O)4, 
foram preparadas três soluções aquosas 
de Eu(NO3)
3.6H2O (0,5 mmol, 30 
mL), 
Polivinilpirrolidona (PVP; 5 mmol, 20 mL) 
e Na2BDC (0,5 mmol, 15 mL) 
sob agitação e condições de pressão e 
temperatura 
ambiente (25°C e 1 atm). Em seguida, em um 
béquer foram misturadas as soluções 
de Eu(NO3)
3.6H2O e PVP, 
seguido do gotejamento 
da solução de Na2BDC na 
mistura. Após a formação de uma suspensão 
de 
aspecto leitoso, a solução foi 
imediatamente levada ao ultrassom por 5 
minutos. 
Logo após, o sistema foi condicionado em 
repouso por 1 hora. Em seguida, 
realizou-se o procedimento de separação e 
lavagem do precipitado através de 
centrifugação a 8000 rpm por 5 minutos, 
lavando com etanol P.A. três vezes para 
remoção dos reagentes de partida 
indesejados. Por fim, foi realizada a 
secagem 
do produto em alto vácuo.Preparação da 
tinta fluorescente baseadas no 
NanoEuBDC: A tinta luminescente foi 
preparada a partir da mistura de 10 mg 
do NanoBDC e 5 mL de Etanol P.A e em 
seguida, o sistema foi sonicado por 20 
min. 
Após a preparação da suspensão de 
partículas de NanoBDC, a tinta 
luminescente 
foi transferida para uma caneta do tipo 
pincel para aquarela recarregável e 
posteriormente utilizada para os 
experimentos de marcação de padrões em 
papel 
manteiga.Caracterização: Os 
espectros de absorção na região do 
infravermelho, foram obtidos a temperatura  
ambiente, no intervalo de 4000 
cm-1 a 650 cm-1. As 
análises termogravimétricas foram 
realizadas usando o analisador térmico 
Shimadzu (modelo DTG-60) em atmosfera de 
Ar comprimido com fluxo 50 
mL.min-1. Os dados de difração 
de raios-X 
em pó foram registrados à temperatura 
ambiente em um difratômetro Bruker Modelo 
D8 com radiação Cu Kα (λ = 1,5406 Å), 
passo de 0,02°, tempo de aquisição de 1 
segundo e janela angular (2θ) de 5°-50°. 
As imagens de Microscopia Eletrônica de 
Transmissão (TEM) foram obtidas no JEOL 
JEM-2100. As propriedades 
fotoluminescentes dos materiais foram 
realizada
Resultado e discussão
A fim de elucidar a estrutura cristalográfica do NanoEuBDC sintetizado neste 
trabalho foi utilizada a técnica de difração de raios-x (DRX) de pó. O NanoEuBDC 
apresenta-se estrutura isoreticular a apresentada pelos dados cristalográficos 
reportados na literatura ([Tb2(H2O)4(BDC)
3]n) (REINEKE et al, p. 1655, 1999), que é indicado pela 
concordância entre os picos de difração apresentados pelo difratograma de raios-
x experimental (Figura 1A, linha vermelha) em comparação ao padrão simulado 
(Figura 1A, linha preta). Além disso, não são observados picos adicionais, o que 
sugere a ausência de impurezas como reagentes de partida ou mistura de fases. 
Assim, utilizando-se o métodos de cristalização assistido por ultrassom foi 
possível obter o composto NanoEuBDC. A análise química dos materiais foi 
inicialmente realizada através da investigação dos espectros de infravermelho 
com transformada de Fourier (FT-IR). O espectro FT-IR do NanoEuBDC (Figura 1B; 
linha vermelha) revela a presença de uma banda larga entre 3600-3000 
cm-1 referente ao alongamento -OH das duas moléculas de água 
coordenadas, o que concorda com a caracterização estrutural do  composto. Além 
disso, duas bandas centradas em 1533 e 1402 cm-1 são observadas 
para o estiramento assimétrico (νasCOO-) e simétrico (νsCOO-
) do ligante carbonílico BDC2-, indicando sua coordenação com o 
íon Eu3+. A coordenação é confirmada por comparação com o espectro 
Na2BDC (Figura 1B; linha preta). Pode-se observar que o sal ligante 
apresenta sinais centrados em 1544 e 1389 cm-1 
referentes aos estiramentos νasCOO- e νsCOO-, que estão 
deslocados em relação ao espectro do NanoEuBDC, indicando a coordenação do 
composto. A curva de TGA para NanoEuBDC foi mostrada na Fig. 1C. O NanoEuBDC 
apresenta três eventos de perda de massa, onde o primeiro ocorre entre 25-150 
°C, que está relacionado à eliminação de duas moléculas de água coordenadas ao 
íon Európio (III) (8,3%). O segundo evento ocorre entre 220-600°C correspondendo 
à decomposição do ligante BDC2- em duas etapas, o que corresponde à eliminação 
de 56,7% da massa do material. Imagens TEM foram adquiridas para NanoEuBDC 
elucidando as propriedades morfológicas (Figura 1D). As micrografias confirmam a 
obtenção do material em nanoescala, que foi verificada pela presença de 
nanopartículas esféricas dispersas homogeneamente por toda extensão analisada. 
Ainda a partir dos dados de TEM foi possível estimar o tamanho médio de 
partículas com valor igual a 7,2 ± 2,2 nm. Importante salientar que é a primeira 
vez que o composto [Eu2(H2O)4(BDC)3]
n é sintetizado em nanoescala, com morfologia esférica regular, 
utilizando um método simples, rápido e menos oneroso quando comparado as rotas 
disponíveis na literatura para síntese de Ln-MOFs. A fotoluminescência do 
NanoEuBDC foi investigada pelos espectros de excitação (λEm = 614 nm) e emissão 
(λEx = 280 nm), conforme mostrado na Fig. 2A. O espectro de excitação (Figura 
2A; linha azul) mostrou uma banda larga na região de 250-350 nm atribuída às 
transições π → π* do ligante coordenado por BDC2-. Além 
disso, é possível observar também entre 350-540 nm as transições 
interconfiguracionais f-f para o íon Eu3+ 7F0,1 
→ 5D4-1, 5G2-6, 
5L6. O espectro de emissão (Figura 2A, linha vermelha) 
mostra as transições características do íon Európio (III) 
5D0 → 7F0-4. Além disso, a presença 
de uma única linha 5D0 → 7F0, a 
divisão Stark da transição 5D0 → 7F1 
em 3 componentes e a alta intensidade relativa da transição hipersensível 
5D0 → 7F2 sugerem que o ambiente 
local do íon Európio (III) não possui centro de inversão levando ao ponto grupos 
de simetrías C1, C2, C2v e Cs, o que concorda com os dados cristalográficos.
A NanoEuBDC foi testada pela primeira vez quanto ao seu como tinta de escrita 
fluorescente. Para isso, o interior de canetas aquarelas recarregáveis foram 
preenchidas com a tinta fluorescente. A Figura 2B e 2C mostram que as canetas 
preenchidas com as tintas são quase transparentes à luz do dia e apresentando 
fotoluminescência vermelha sob luz UV, respectivamente. Escrevemos a sigla do 
'Instituto de Química e Biotecnologia' da Universidade Federal de Alagoas com 
a caneta diretamente no papel manteiga. As letras I, Q e B eram absolutamente 
invisíveis à luz do dia, mas exibiam letras vermelhas sob a irradiação da 
lâmpada UV (Figura 2D). Apesar de experimentos adicionais serem necessários para 
a completa caracterização do material, esta tinta apresenta-se potencialmente 
útil em diversas aplicações, tais como etiquetas antifalsificação invisíveis. 

(A) DRX para NanoEuBDC e simulado, (B) FTIR para o Na2BDC e o NanoBDC (C) Termograma para o NanoEuBDC (D) MET para o NanoEuBDC (Insert: distribuição de tamanho de partículas).

(A) Excitação e emissão para o NanoEuBDC. Imagens da tinta NanoEuBDC em (B) luz do dia e (C) luz UV e da sigla manuscrita sob irradiação de luz UV (D)
Conclusões
O NanoEuBDC foi sintetizado com sucesso através da combinação 
de Íons Európio (III) e o ácido tereftálico  utilizando uma rota eficiente e de 
fácil execução, possibilitando a obtenção de um composto com elevada intensidade 
de luminescência. A análise de TGA revelou que os compostos apresentaram boa 
estabilidade térmica em suas respectivas estruturas. A análises de FTIR indicaram 
que o grupo carboxila é o sítio de coordenação responsável pela ligação entre a 
molécula BDC e o Íons Európio (III). A Análise por difração de raios-x revelou que 
o NanoEuBDC apresenta-se isorreticular a estrutura [Tb2(H2O)4(BDC)3]n, com alta 
cristalinidade e ausências de impurezas. A Morfologia do NanoEuBDC foi Investigada 
através das análises de TEM, a qual revelou a obtenção do material em escala 
nanométrica, com morfologia esférica regular e  tamanho médio de 7,2 ± 2,2 nm. Os 
resultados preliminares para o uso do NanoEuBDC como tinta fluorescente indicaram 
a capacidade do composto imprimir padrões simples em folhas de papel. Esta 
propriedade possibilita sua utilização futura em diversas aplicações, tais como na 
produção de etiquetas antifalsificação invisíveis.  
Agradecimentos
A equipe do Grupo de Óptica e Nanoscópias 
(IF-UFAL) e ao Laboratório de Terras 
Raras-BSTR (dQF-UFPE). Ao Laboratório 
Multiusuário de Microscopia de Alta 
Resolução (LabMic/UFG). CAPES, UFAL e 
FAPEAL. 
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