• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Preparação e caracterização de biofilmes a base de polímeros naturais que incorporam óleo de Lithraea brasiliensis

Autores

Lopes, P.H.S. (UFMA) ; Figueredo, A.S. (UFMA) ; Cutrim, E.S.M. (UFMA) ; Teixeira, M.M. (UFMA) ; Rocha, C.Q. (UFMA) ; Silva, M.C.P. (UFMA) ; Alcântara, A.C.S. (UFMA)

Resumo

Os biofilmes poliméricos têm se destacado ao longo dos últimos anos, dentre os materiais com notáveis aplicações farmacêuticas, biomédicas e alimentícias. Este trabalho teve como objetivo preparar um filme autossustentado composto pelos carboidratos naturais alginato de sódio e carboximetilcelulose como matrizes biopoliméricas para o óleo essencial de Lithraea brasiliensis. Os filmes foram caracterizados por espectroscopia vibracional na região do infravermelho (FTIR), microscopia eletrônica de varredura (MEV), por análises térmicas TG/DTA e DSC e foram analisadas as taxas de vapores de transmissão de água. Os biofilmes indicaram uma melhor estabilidade térmica e química do óleo essencial na matriz biopolimérica comparada ao óleo puro, sendo promissores para aplicação farmacológica.

Palavras chaves

Óleo essencial ; Biofilmes; Biopolímeros

Introdução

Recentemente, os polímeros naturais têm sido usados como alternativas para a geração de biomateriais utilizados em aplicações biomédicas. A maior vantagem destes materiais é seu baixo custo devido à elevada disponibilidade da matéria- prima além de serem biodegradáveis tornando-se matrizes atrativas para a encapsulação de compostos ativos, evitando a degradação precoce por efeitos térmicos ou químicos (MITSUKA, 2007). Os compostos que apresentam atividade antimicrobiana podem ser considerados compostos ativos, como é o caso dos óleos essenciais, que podem ser incorporados em filmes poliméricos ajudando no processo de melhoria de peles lesionadas, por exemplo, evitando a infecção e inflamação da ferida, e apresentando em sua composição substâncias antifúngicas e antibacterianas que auxiliem na cicatrização (MOGOSANU, 2014). A Lithraea brasiliensis pertence à família Anacardiaceae que é presente no Brasil, Uruguai e Argentina, ela é conhecida como “aroeira”, “aroeira-braba” ou “aroeira preta” e, apesar de possuir propriedades irritantes (Alé et al., 1997; Piernaar e Teichman, 1998; Shi et al., 2017), também mostrou atividade promissora contra microrganismos (Shimizu et al., 2006). O presente trabalho visa utilização dos carboidratos naturais alginato, oriundo de algas marrons, e carboximetilcelulose, um derivado de celulose, como matrizes naturais para a encapsulação de princípios ativos do óleo essencial de Lithraea brasiliensis. Tais materiais foram processados como biofilmes e caracterizados adequadamente com diversas técnicas físico-químicas e analíticas com o intuito de obter produtos com potenciais usos na indústria farmacêutica.

Material e métodos

Filmes foram preparados usando o método de casting. Para isso, composições foram feitas a partir da combinação de uma solução de 0,5% (m/m) de Alginato de Sódio (AS) e 1% (m/m) de Carboximetilcelulose (CMC). Em seguida, foi adicionado às soluções 1,5% (m/m) de glicerol e 0,2% (m/m) de Tween 20 em 30 ml de água destilada. Uma vez homogeneizado todo o sistema, foram introduzidas na formulação 0,15% (m/m) do óleo essencial de Lithraea brasiliensis. As curvas DSC foram obtidas em um equipamento Shimadzu DSC-60 sob atmosfera dinâmica de nitrogênio com vazão de 50 mL.min-1. As análises foram realizadas em cadinho de alumina no intervalo de temperatura de 30 a 550°C com razão de aquecimento de 10°C.min-1. As análises dos biofilmes e do óleo essencial foram realizadas em um Espectrômetro Shimadzu IR-Prestige-21, com acessório de HATR. Os espectros foram obtidos com resolução de 2 cm-1, na faixa de 400 a 4000 cm-1.

Resultado e discussão

Os dados das análises de DSC estão na Figura 1. Para o óleo essencial puro, é observado em torno de 116 ºC um pico endotérmico referente a evaporação de substâncias voláteis, uma vez que o composto ativo é encapsulado nos filmes biopoliméricos o mesmo sofre pequenos deslocamentos para maiores temperaturas apresentando no biofilme em 127 ºC. O pico endotérmico em 393,6 ºC está relacionado a decomposição dos ácidos graxos do óleo. As bandas exotérmicas em 335,17 e 330,85 ºC são referentes à decomposição dos biopolímeros de alginato e CMC. No entanto, o associado à fusão de ácidos graxos livres no óleo essencial puro, foi deslocado no biofilme para 404 ºC, sugerindo uma melhor estabilidade térmica do composto ativo, uma vez encapsulado. Na Figura 2 é apresentado os espectros de FTIR para o óleo puro e o biofilme. No caso do filme biopolimérico, observa-se que a ampla banda de absorção entre 3600-3250 cm-1 está relacionada com as vibrações intra e intermoleculares de -OH (vibrações de estiramento OH livre e ligado a H, respectivamente) (JAHED et al., 2017). As bandas de absorção destes são relacionados aos seus alongamentos O-H presentes na estrutura do CMC e do biopolímero alginato de sódio (CARPINÉ et al., 2016). Também, é possível evidenciar no filme uma banda na faixa de 1592 cm-1 referente ao estiramento assimétrico de COO- presente na estrutura dos biopolímeros e no composto do óleo. Por outro lado, as principais bandas vibracionais do óleo essencial estão presentes em 895 cm-1 (estiramento C-C); 1600 cm-1 (ressonância anel aromático); 1641 cm-1 (C=O); 1930 cm-1 (estiramento –CH2). Assim, a presença de bandas características do óleo essencial que também estão presentes no espectro do filme corrobora a encapsulação do composto ativo na matrizes poliméricas.

Figura 1

DSC do óleo essencial de Lithraea brasiliensis e do filme AS 0,5% - 1% CMC

Figura 2

Espectro FT-IR do óleo essencial de Lithraea brasiliensis e do filme AS 0,5% - 1% CMC

Conclusões

Foi possível obter filmes de alginato de sódio e carboximetilcelulose que incorporam o óleo essecial de Lithraea brasiliensis, os quais foram caracterizados por distintas técnicas mostrando assim uma significativa retenção dos constituintes do óleo no filme. O biofilme apresentou uma melhora na estabilidade térmica comparado ao óleo essencial puro, aumentando o campo de aplicação dos seus constituintes. Esse filme está sendo avaliado e submetido à novas formulações e futuras análises quanto as suas aplicações farmacológicas.

Agradecimentos

O trabalho foi realizado com apoio da CAPES - Código de Financiamento 001, FAPEMA (POS-GRAD-02533/21), CNPq (401840/2021-2, 425730/2018-2, 315109/2021-1) e da UFMA. P.H.S Lopes agradece à Fapema pela bolsa de mestrado concedida.

Referências

ALÉ, I.S. et al. Allergic Contact Dermatitis Caused by Lithraea molleoides and Lithraea brazilienzis: Identification and Characterization of the Responsible Allergens. American Journal of Contact Dermatitis, Vol 8, No 3 (September), 1997: pp 144-149.
CARPINÉ, D. et al. Effect of the natural surfactant Yucca schidigera extract on the properties of biodegradable emulsified films produced from soy protein isolate and coconut oil. Industrial Crops and Products Industrial Crops and Products, v. 83, p. 364–371, 1 maio 2016.
JAHED, E. et al. Physicochemical properties of Carum copticum essential oil loaded chitosan films containing organic nanoreinforcements. Carbohydrate Polymers, v. 164, p. 325–338, 15 maio 2017.
MITSUKA, M. Correlações entre estrutura química, superestrutura macromolecular e morfologia das blendas e redes poliméricas à base de quitina e poliuretano. 2007. 119 f. Tese (Doutorado em Engenharia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007.
MOGOŞANU, G.D.; GRUMEZESCU, A. M.. Polímeros naturais e sintéticos para curativos de feridas e queimaduras. Revista Internacional de Farmácia, v. 463, n. 2, pág. 127-136, 2014.
PIENNAR, M.E; TEICHMAN, I.V. The generic position of Lithraea brasiliensis Marchand (Anacardiaceae): evidence from fruit and seed structure. Botanical Journal of the Linnean Society (1998), 126: 327-337.
SHIMIZU, Mario Tsunezi et al. Óleo essencial de Lithraea molleoides (Vell.): composição química e atividade antimicrobiana. Revista Brasileira de Microbiologia , v. 37, p. 556-560, 2006.

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