• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Caracterização de pigmentos em um microfragmento de uma pintura atribuído ao Padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819) por microscopia ótica, MEV-EDS e XPS

Autores

Priori, G.A. (IQ/UFRJ) ; Rocco, M.L.M. (IQ/UFRJ) ; Rizzo, M.M. (EBA/UFRJ)

Resumo

Neste trabalho foi realizada a caracterização de um microfragmento de uma pintura atribuída ao Padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764 - 1819), importante autor paulista do período barroco. Para a caracterização foram utilizadas as técnicas de microscopia ótica (MO), microscopia eletrônica de varredura (MEV) acoplada a espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e espectroscopia de fotoelétrons de raios X (XPS). As análises permitiram a identificação de diversos materiais utilizados na composição da obra, além de indicar uma intervenção posterior na região estudada, além de contribuir multidisciplinarmente no estudo da produção artística de Jesuíno.

Palavras chaves

arqueometria; MEV/EDS; XPS

Introdução

Atualmente, uma nova luz vem sendo lançada sobre o trabalho de Padre Jesuíno do Monte Carmelo (Santos, 1764 - Itu, 1819), pintor, arquiteto e músico santista. A história e estilo de suas obras, que figuram entre as principais representantes da arte colonial Barroca no estado de São Paulo, já foi extensamente estudada, tendo na figura de Mario de Andrade (1893-1945) seu principal biógrafo. Para Andrade, Jesuíno era “a mais curiosa e importante figura da arte colonial paulista” (ANDRADE, 1945). Jesuíno decorou tetos de igrejas e trabalhou com pinturas de cavalete. Importantes exemplares de sua obra se encontram, principalmente, nas cidades de Itu e São Paulo (SALOMÃO, 2020) (MURAYAMA, 2016). A arqueometria (do inglês, archeometry) é uma área multidisciplinar que visa conhecer a composição dos diferentes materiais utilizados pelos artistas em uma determinada obra de arte, assim como possíveis alterações físicas, químicas e biológicas na obra, e se houve adição posterior de material. As informações obtidas fornecem dados acerca a história da peça e do processo criativo do autor, além dar indícios acerca da autenticidade da obra e auxiliar na criação de estratégias de conservação e restauro (RIZZUTTO, 2015) (AUCOUTURIER; DARQUE CERETTI, 2007). Neste trabalho, foi realizado o estudo dos pigmentos em um microfragmento da pintura Bodas Místicas de Santa Teresa (1796-1797), atribuída ao Padre Jesuíno do Monte Carmelo, por microscopia ótica, microscopia eletrônica de varredura (MEV) acoplada à espectroscopia por energia dispersiva (EDS) e espectroscopia de fotoelétrons de raios X (XPS).

Material e métodos

As amostras foram montadas em um bloco de resina poliéster, que foi cortado com uma serra fina e polido lentamente, com lixa G-200, passando por G-320, G-400, G-600, e finalizada com G-2000, expondo o corte estatigráfico da amostra. A amostra foi, então, fotografada em microscópio ótico ZEISS AxioZoom v.16, analisada por MEV-EDS em equipamento VEGA3 TESCAN com metalização em ouro com 20 KV de tensão por 3 minutos. Para o XPS, o espectro survey foi obtido com fonte Al-Kα sem monocromador e energia de passagem de 70 eV, enquanto os espectros para cada elemento de interesse foram obtidos com energia de passagem de 30 eV. Todas as análises foram realizadas sobre a mesma amostra. A identificação dos pigmentos foi realizada a partir da comparação entre a composição elementar e a cor apresentada e pela confirmação por XPS.

Resultado e discussão

A obra Bodas Místicas de Santa Teresa se trata de uma têmpera sobre madeira, medindo 1,68 m por 1,20 m. Na obra observamos Santa Teresa vestindo um hábito carmelita marrom e branco, e Jesus Cristo, vestindo uma túnica vermelha e azul. Este painel é parte de uma série de 19 painéis presentes na Igreja da Venerável Ordem Terceira do Carmo, em São Paulo – SP. A figura 1 mostra a pintura estudada, a região de remoção da amostra, em violeta. A figura 2 mostra a fotografia em microscopia ótica do corte estratigráfico da amostra, mostrando todas as camadas de material sobrepostos utilizados na produção da obra. Na figura 3, vemos a micrografia obtida pela técnica de MEV e os pontos de análise pela técnica de EDS. É possível observar a presença de diversas camadas de material sobrepostas. Na tabela 1, a compilação dos resultados obtidos, incluindo os materiais confirmados por XPS. O ponto A é relativo à camada pictórica (parte mais externa e visível da pintura), enquanto os demais pontos indicam camadas mais abaixo, colocadas conforme a intenção do artista. As análises indicam a utilização de gesso (CaCO3) como base de preparação (ponto G). A presença combinada de Al2O3, SiO2, FeO, Fe2O3 nas mesmas regiões (pontos B e C) indicam a presença de bauxita, mineral natural com alto teor de Al2O3 (SAMPAIO; ANDRADE; DUTRA, 2005). Na obra, devido a alta concentração de óxidos de ferro, a bauxita se apresenta com tonalidade marrom. No ponto A, há a presença de ZnO, pigmento branco cujo uso é posterior a produção da obra (CABRAL, 1995), indicando que em tal região houve uma intervenção posterior. Alguns destes materiais foram encontrados em outra pintura da mesma série (RIZZO et al., 2019).

Figuras 1 e 2



Figura 3 e Tabela 1



Conclusões

A presença dos principais materiais encontrados é condizente com o período de produção da obra e com materiais já encontrados em outras obras produzidas pelo autor na mesma época. Há também indícios de uma intervenção posterior na área estudada. Os resultados auxiliam na elucidação do processo criativo do artista, indicando a construção da pintura.

Agradecimentos

À CAPES pela bolsa de estudos, ao CENABIO pelas medidas de microscopia ótica, ao Núcleo de Microscopia Eletrônica da COPPE/UFRJ pelas medidas de MEV/EDS e ao Prof. Dr. Abner de Siervo do IF/UNICAMP pelas medidas de XPS.

Referências

ANDRADE, M. DE. Padre Jesuíno do Monte Carmelo. Publicações do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 14, 1945.

AUCOUTURIER, M.; DARQUE-CERETTI, E. The surface of cultural heritage artefacts: physicochemical investigations for their knowledge and their conservation. Chemical Society Reviews, v. 36, n. 10, p. 1605, 2007.

CABRAL, J. M. P. Exame científico de pinturas de cavalete. Colóquio/Ciências, n. 16, p. 60–83, 1995.

MURAYAMA, E. T. A Pintura de Jesuíno do Monte Carmelo em São Paulo e Itu: Busca de Referenciais Iconográficos e Novas Considerações. [s.l.] Universidade Estadual Paulista - UNESP, 2016.

RIZZO, M. M. et al. Discovery of a ceiling painting from an 18th century chapel collapsed under the paintings of Friar Jesuíno of Mount Carmel: an interdisciplinary work. TECHNART. Anais...Burge, Bélgica: 2019

RIZZUTTO, M. A. Métodos físicos e químicos para estudo de bens culturais. Cadernos do CEOM, v. 28, n. 43, p. 67–76, 2015.

SALOMÃO, M. Tradição Clássica e Historiografia da Arte na obra Padre Jesuíno do Monte Carmelo de Mário de Andrade. MODOS: Revista de História da Arte, v. 4, n. 2, p. 181–194, 21 maio 2020.

SAMPAIO, J. A.; ANDRADE, M. C. DE; DUTRA, A. J. B. Bauxita. In: Rochas & minerais industriais: usos e especificações. Rio de Janeiro: CETEM, 2005. p. 279–304.

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau