• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

HIDROGÉIS DE CARBOXIMETILCELULOSE COM A INCORPORAÇÃO DE NANO-CRISTAIS DE CELULOSE EXTRAÍDA DO BIOMA DO SEMIÁRIDO

Autores

Silva, N.C. (UFVJM) ; Santos, L.S.D. (UFVJM) ; Rodrigues, J.S. (UFVJM) ; Paiva, A.E. (AMBER/TRINITY COLLEGE DUBLIN) ; Vasques, J.F.B. (AMBER/TRINITY COLLEGE DUBLIN) ; Borsagli, F.G.L.M. (UFVJM)

Resumo

O uso de fibras vegetais na extração de nano-cristais de celulose pode ser uma alternativa promissora, principalmente, para a obtenção de hidrogéis para aplicações biomédicas. Nesse enfoque, o presente trabalho produziu hidrogéis de carboximetilcelulose com incorporação de nano-cristais de celulose extraída do bioma do semiárido. Esses nano-cristais foram caracterizados apresentando morfologia bastante diferenciada, com tamanhos na ordem de 30 nm.

Palavras chaves

Biomateriais; CMC; fibras-naturais

Introdução

Hidrogéis são materiais que possuem a habilidade de adsorver água mantendo sua estabilidade química, o que o torna promissor para diversas aplicações (NOGUEIRA et al, 2012). Diversos estudos vêm sendo desenvolvidos com esses materiais, derivados de misturas poliméricas ou copolímeros, em razão de suas características promissoras como biodegradabilidade, propriedades mecânicas, estabilidade química e interações polímeros-polímeros (THANKAM et al, 2013). Nesse contexto, a possibilidade de adaptação dessas matrizes poliméricas para otimizar a liberação de drogas baseada em suas propriedades e parâmetros farmacocinéticos é bastante interessante no âmbito biomédico (FEDERICO et al, 2015). O Brasil possui uma grande biodiversidade vegetal que pode ser explorada para diversos fins tecnológicos. Dentre os polissacarídeos, a celulose se destaca devido à sua disponibilidade, biocompatibilidade, biodegradabilidade, grande disponibilidade e extração de nanocritais (SANTOS et al, 2016). O uso de fibras vegetais para a obtenção de hidrogéis nanocelulósicos pode ser uma alternativa promissora, pois o resultado destas estruturas altamente ordenada, mostra grande capacidade de armazenamento de água, elevada resistência mecânica, propriedades óticas, magnéticas e elétricas significativamente diferentes do material macroscópico (SAMMIR et al, 2005).Hidrólise realizados com ácido sulfúrico, os grupos sulfatos se ligam à superfície dos nano-cristais e tornam estes carregados negativamente, o que causa uma repulsão eletrostática que evita aglomeração das partículas (SILVA; D´ALMEIDA, 2009). Nesse sentido, o presente trabalho visou obter hidrogéis de carboximetilcelulose com a incorporação de nano-cristais de celulose, para aplicação no tratamento da saúde da mulher.

Material e métodos

Nano-cristais de celulose foram obtidos por meio de adaptação do método de Song et al, (2019). Primeiramente, as fibras pré-tratadas foram imersas em uma solução de 60 % de ácido sulfúrico e 40 %de ácido clorídrico deixada sob agitação por 1 hora. Após, 300 mL de água deionizada gelada foi adicionado ao processo para finalizar a hidrólise. Então, a solução foi centrifugada várias vezes, retirando-se o sobrenadante e, em seguida, a solução foi dialisada e guardada em geladeira para posterior uso. Para a produção dos hidrogéis,, um solução 2 %de carboximetilcelulose (CMC) foi preparada e mantida sob agitação por 24 horas. Após a completa solubilização da CMC, acrescentou 1 % de nano-cristais e manteve-se sob agitação por 24 horas. Sequencialmente, acrescentou-se 10 % (m/m) de ácido cítrico na solução CMC-CNC-HCl/H2SO4 deixando sob agitação por 20 minutos. Após, 10 mL da solução CMC- CNC-HCL/H2SO4-AC foram vertidas em placa de petri de poliestireno e secos em estufa a 40 ˚C durante 24 h para remoção da água. Na sequência, as amostras foram mantidas na estufa com aumento de temperatura para 80 ˚C durante 24 h para a reação de reticulação (método de evaporação lenta). As análises morfológicas dos nano-cristais foram realizadas utilizando-se Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)no SEM, FEI- FEG-FIB-QUANTA 3D acoplado com espectroscópio de dispersão de energia (EDX, EDAX Bruker), com resolução de 0,8 nm. A princípio, a amostra foi metalizada com uma fina camada de carbono (30 nm) e as imagens foram obtidas pelo método de elétrons secundários, com ampliações de 350x na área superficial.

Resultado e discussão

A Figura 1 mostra a avaliação morfológica dos nano-cristais de celulose obtidas por MEV. Os nano-cristais apresentaram morfologia bastante heterogênea com tamanhos na faixa de 30 nm. Além disso, os nano-cristais obtidos a partir da fibra Ceiba speciosa apresentaram alto teor de celulose (60,63 %) e holocelulose (91,14 %). Os nano-cristais apresentaram morfologia bastante heterogênea utilizando ácido clorídrico. Todavia, a presença do ácido sulfúrico manteve o formato dos nano- cristais acicular, conforme relatado na literatura e possibilitou uma melhor dispersão dos nano-cristais no hidrogel de CMC (Figura 2). No entanto, percebeu-se uma porosidade presente nos nano-cristais, provavelmente, em razão da presença de ácido clorídrico.

Figura 1

Figura 1: Micrografia dos nano-cristais obtida por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) com aumento de 350x

Figura 2

Figura 2: Hidrogel produzido

Conclusões

Os resultados mostraram que é possível produzir hidrogéis de carboximetilcelulose com a incorporação de nano-cristais de celulose. As caracterizações dos hidrogéis produzidos apresentaram um material homogêneo. Os resultados indicaram a formação de nano-cristais com formação acicular de tamanho em torno de 30 nm, indicando que esta biomassa subutilizada pode ser explorada como uma nova fonte de matéria-prima de celulose para a produção de nano-cristais com potencial para múltiplas aplicações, incluindo a biomédica.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao BIOSEM-LESMA/UFVJM e o AMBER/Trinity College Dublin pelas análises e caracterizações químicas realizadas. Assim como a FAPEMIG (APQ-02565- 21), CAPES, CNPq e UFVJM pelo suporte financeiro ao projeto

Referências

FEDERICO, Marilia Pinto; SAKATA, Renata Akemi Prieto; PINTO, Paula Figueiredo Carvalho; FURTADO, Guilherme Henrique Campos. Noções sobre parâmetros farmacocinéticos/farmacodinâmicos e sua utilização na prática médica. Sociedade Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 3, p. 201-205, jul. 2015.

NOGUEIRA, N.; CONDE, O.; MIÑONES, M.; TRILLO, J. M.; MIÑONES JR, J. Characterization of poly(2-hydroxyethyl methacrylate) (PHEMA) contact lens using the Langmuir monolayer technique. - Journal of Colloid and Interface Science v. 385 p. 202- 210, 2012.

SAMMIR, M. A. S. A.; ALLOIN, F.; DUFRESNE, A. Review of Recent Research into Cellulosic Whiskers, Their Properties and Their Application in Nanocomposite Field. Biomacromolecules, 6, 2005. 612-626.

SANTOS, Fernanda Abbate dos; IULIANELLI, Gisele C. V.; TAVARES, Maria Inês Bruno. The Use of Cellulose Nanofillers in Obtaining Polymer Nanocomposites: properties, processing, and applications. Materials Sciences And Applications, Rio de Janeiro, v. 07, n. 05, p. 257-294, 2016.

SILVA, Deusanilde de Jesus; D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero. Nanocristais de celulose: cellulose whiskers. O Papel, São Paulo, v. 70, p. 34-52, jul. 2009.

SONG, Kaili; ZHU, Xiaoji; ZHU, Weiming; LI, Xiaoyan. Preparation and characterization of cellulose nanocrystal extracted from Calotropis procera biomass. Bioresources and Bioprocessing, China, v. 45, n. 6, p. 1-8, 2019.

THANKAM, Finosh Gnanaprakasam; MUTHU, Jayabalan; SANKAR, Vandana; GOPAL, Raghu Kozhiparambil. Growth and survival of cells in biosynthetic poly vinyl alcohol–alginate IPN hydrogels for cardiac applications. Colloids And Surfaces B: Biointerfaces, India, v. 107, n. 1, p. 137-145, jul. 2013.

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