Autores
Gomes, V.A.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA) ; Silva, P.P. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA) ; Carvalho, G.M. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)
Resumo
Diferentes pesquisas buscam a produção de blendas e compósitos com propriedades
biodegradáveis para amenizar os problemas ambientais. Este trabalho tem por
objetivo preparar esferas magnéticas biodegradáveis com alginato, celulose e
magnetita e estudar suas propriedades físico-químicas e estruturais. A magnetita
foi sintetizada pelo método de co-precipitação e as esferas produzidas por
gotejamento. As esferas apresentaram capacidade de intumescimento entre 36,6% –
70,1%, umidade entre 0,9 – 15,3% e solubilidade entre 1,7 – 32,1%. A composição e
a reticulação são fatores que influenciam no comportamento do polímero. As
análises de infravermelho indicam a presença de interações intermoleculares entre
os grupos funcionais dos polímeros contribuindo para a estruturação das esferas.
Palavras chaves
Blendas; Polímeros; Compósitos
Introdução
Diferente são os materiais de fontes renováveis que seguem com relevância na
Ciência de Materiais por serem biodegradáveis e possuírem amplas aplicações nas
áreas de alimentos, saúde e meio ambiente. Entre os diferentes polímeros
estudados, destaca-se a celulose (CEL) e o alginato (ALG) por serem acessíveis e
de fácil manipulação. O ALG é um polissacarídeo extraído de algas marrons ou
obtido de biossíntese por bactérias (DIAS, 2020). A solução de ALG na presença
de soluções com cátions bivalente, o ALG se reticula formando esferas, esse
processo é resultado da interação dos íons e os grupos funcionais presentes na
estrutura (SCHAFRANSKI, 2019; DIAS, 2020). A CEL também é um polissacarídeo
extraído da parede celular das plantas e apresenta insolubilidade em água em
razão das interações intermoleculares, sendo solúvel em soluções alcalinas
(POLEZ, 2019; ZAMAN et al., 2020; ARAÚJO et al., 2021). Usufruindo da
propriedade de solubilidade, em soluções ácidas a CEL dissolvida pode ser
regenerada e ser moldado de acordo com o objetivo do estudo (esferas ou
membranas). Em razão dessas especificidades de reticulação (ALG) e regeneração
(CEL), é possível a produção de esferas incorporadas com substâncias, como por
exemplo, a magnetita – Fe3O4 (MAG). O óxido de ferro é um nanomaterial de baixo
custo, não possui toxicidade ao ser humano/meio ambiente e apresenta
propriedades de biocompatibilidade e biodegradabilidade. (SANTANA, 2021).
Tornando-se viável a produção de compósitos e blendas para variadas aplicações
utilizando o óxido e os polímeros. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo produzir e caracterizar esferas de CEL, ALG e MAG.
Material e métodos
A MAG foi sintetizada pela metodologia de co-precipitação, adaptada de Souza
(2011). Soluções de FeSO4.7H2O e FeCl3.6H2O (1:2 mol) foram misturadas em um
balão mantidas sob agitação magnética por 30 minutos em atmosfera de nitrogênio
(N2) e temperatura de 25°C. Em seguida, adicionou-se hidróxido de amônio (NH4OH)
[1,5 mol. L-1] e manteve-se a agitação por mais 40 minutos em N2. A MAG formada
foi isolada com um imã, lavada com metanol e dispersa na proporção de 30% (m/m)
na solução do polímero. As soluções dos polímeros foram preparadas na
concentração de 3% (m/v) e as esferas produzidas foram CEL; CEL/MAG; ALG;
ALG/MAG; ALG/CEL e CEL/ALG/MAG. Utilizou-se a solução de CEL dissolvido em
NaOH/ureia/H2O (7/12/81%m/v) para o gotejamento em ácido sulfúrico (H2SO4)
(10%), as esferas de CEL permaneceram por 15 minutos na solução e em seguida
foram lavadas até pH=7. Para as esferas CEL/MAG incorporou-se a dispersão da MAG
em CEL e gotejou-se conforme indicado na esfera de CEL. As esferas ALG foram
preparadas com o gotejamento da solução de ALG em cloreto de cálcio (CaCl2)
(3%m/v), as esferas permaneceram na solução em repouso por 24h a 25°C e lavadas
com água destilada. Para as esferas ALG/MAG adicionou-se a dispersão de MAG em
ALG e realizou-se mesmo processo da esfera de ALG. Nas esferas CEL/ALG,
misturou-se soluções de CEL e ALG na proporção 50%/50% (v/v) e nas esferas de
CEL/ALG/MAG, adicionou-se a MAG (30% m/m) na solução de CEL/ALG, para ambas
esferas os processos de gotejamento foram iguais aos descritos para as esferas
de ALG. Todas as esferas foram secas em 45°C por 24 horas e submetidas a ensaios
físico-químicos de teor de solubilidade (S), teor de umidade (U), intumescimento
(INT) e análise de espectroscopia no infravermelho por transformada de Fourier
(FTIR).
Resultado e discussão
A esfera de CEL apresentou menores valores de S, U e INT (Figura 1). Este
comportamento pode estar relacionado com as fortes interações
intra/intermoleculares da rede cristalina da CEL, tornando-a insolúvel em água
(ZAMAN et al., 2020). A esfera ALG demonstrou maiores valores de S e U por ser
um polímero hidrofílico. No entanto na blenda CEL/ALG, percebe-se a redução dos
valores do INT, S e U devido ao envolvimento das -OH e outros grupos funcionais
do ALG com a CEL para formação da blenda. Essas interações envolvidas são
observadas no espectro A apresentado na Figura 2, onde é perceptível o
deslocamento e redução da intensidade das bandas atribuídas aos estiramentos dos
grupos O-H em 3335cm-1; C-H em 2898cm-1; C-O em 1040cm-1; COO- em 1650cm-1 e C-
O-C em 1407cm-1. Estes deslocamentos podem ser atribuídos a interação entre CEL
e ALG, contribuindo para a redução da capacidade de intumescimento e
solubilidade (REIS, 2019).A presença de MAG reduz os valores de S, U e INT das
esferas (com exceção a CEL). Esse comportamento é decorrente das interações do
Fe3O4 com as -OH superficiais dos polímeros e as interações entre o óxido e as
cadeias adjacentes (ALG-MAG-ALG; AL-MAG-CEL, CEL-MAG-CEL) resultando uma rede
polimérica densa e com menor disponibilidade dos grupos funcionais interagirem
com a H2O (LIN et al., 2019). Tais afirmações coadunam com as interpretações dos
espectros B, C e D da Figura 2, as bandas referentes ao estiramento do
grupamento O-H das esferas com MAG apresentaram redução na intensidade. Os picos
presentem nas regiões de 500cm-1 são atribuídos aos estiramentos característicos
Fe-O (BRITO et al., 2019). Todas as esferas com MAG apresentaram picos
característicos da MAG em 500cm-1, confirmando a incorporação do óxido no
polímero.
Conclusões
As esferas à base de celulose e alginato foram preparados com sucesso por pela
técnica de gotejamento. Os espectros de FT-IR puderam confirmar interações
intermoleculares entre os polímeros e o óxido sugerindo que estas contribuem com a
estruturação desses materiais. Os menores valores de capacidade de intumescimento
em água e solubilidade podem ser atribuídos as fortes interações entre o ALG e a
CEL.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ); a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível (CAPES) pelo fomento da
pesquisa e ao Grupo de polímero -UEL.
Referências
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