• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

PRODUÇÃO E MODIFICAÇÃO QUÍMICA DE SÍLICA OBTIDA A PARTIR DA CASCA DE ARROZ E SEU USO NA REMOÇÃO DE CORANTE ALIMENTÍCIO

Autores

Batista, M.C.B. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS) ; Braga, E.A.F. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS) ; Silva, T.F.P. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS) ; Silva, J.S. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS) ; Fógia, M.P.S.A. (INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS INHUMAS)

Resumo

Neste trabalho visou-se a produção de sílica, a partir de um subproduto da agricultura, a casca de arroz, e sua modificação química, através da etapa de sililação, usando o 3-aminopropiltrimetoxisilano. Os pós híbridos foram caracterizados por espectroscopia do Infravermelho, Termogravimetria, e por Difração de raios-X. Finalmente, tem-se o processo de adsorção das soluções contendo o corante alimentício amarelo de tartrazina com os pós híbridos obtidos. O material produzido com o APTES, apresentou um rendimento de adsorção de 94 % em 12 horas de reação, enquanto o SiAr 16 % no mesmo intervalo de tempo. Com este estudo foi tornar mais acessível e mais barato o tratamento dos efluentes dos mais variados ramos da indústria química, usando como matéria prima um subproduto da agricultura.

Palavras chaves

Adsorção; Sililação; Corantes

Introdução

A produção de resíduos na agroindústria tem causado grande preocupação nos últimos anos, visto que seu descarte vem desencadeando diversos problemas ambientais, como a poluição do solo, de mananciais e até mesmo do ar. Dentre os resíduos agrícolas, destacamos neste projeto a casca de arroz, produzida durante o seu beneficiamento, apresentando cerca de 23% do peso do arroz. Esta casca possui alta dureza, fibrosidade, natureza abrasiva, baixa propriedade nutritiva, boa resistência e muita cinza na sua queima. Uma grande quantidade desta casca é reaproveitada dentro da própria usina de beneficiamento do arroz onde, a partir da sua combustão, é gerado calor para a parbolização dos grãos. Como resíduo desta combustão, é produzida a cinza de casca de arroz, que possui um elevado teor de sílica (SiO2) ou dióxido de silício (SILVA e SANTOS, 2019). A sílica gel é um polímero inorgânico inerte, resistente, amorfo, com alta porosidade, que possui muitas aplicações tecnológicas, tais como a fabricação de vidros, cerâmicas, isolantes térmicos e silicones (GREENWOOD et al., 2002). A presença de grupos silanóis (Si-OH) em sua superfície permite sua modificação química, no sentido de produzir novos materiais com aplicações tecnológicas diversas. A sílica desempenha um papel importante na função de suporte para uma grande gama de substâncias e sua modificação permite a obtenção de compostos de maior versatilidade e com propriedades específicas, relacionadas às espécies ligadas à sua superfície (GUPTA et al., 2010). Entre suas diversas aplicabilidades pode-se destacar a capacidade de troca catiônica (GUSHIKEM et al., 2002) a quelação de espécies (PRADO et al, 2001), adsorção de pesticidas (AIROLDI et al., 2001) e a catálise (NASSAR et al., 2002). A sílica apresenta-se em unidades tetraédricas de SiO4 distribuídas aleatoriamente e unidas em seu interior por pontes de siloxanos Si-O-Si, e contém grupos silanóis vicinais, Si-OH, e geminais, HO-Si-OH, dispersos na superfície, os quais são sensíveis às reações que possibilitam as modificações químicas desta matriz (PRADO et al., 2005). O método mais comum de modificação da sílica com grupos orgânicos pendentes está baseado na reação dos grupos silanóis com agentes sililantes, como o 3- aminopropiltrimetoxisilano. Estes compostos possuem estrutural geral (RO)3SiY, onde Y é a cadeia carbônica contendo o grupo funcional desejado (ALCANTARA et al., 2007) (SANKAR et al., 2019). Este processo denominado de sililação refere-se à fixação do agente modificador ao suporte obtendo-se um composto organofuncionalizado, ou seja, um híbrido orgânico-inorgânico com a finalidade unir em um só material as propriedades químicas do organossilano imobilizado covalentemente ao suporte, com a resistência mecânica e estabilidade térmica do óxido, com as caracteristicas adosrventes do agente sililante. Uma grande aplicação destes materiais é em adsorção de corantes, o que contribui para a despoluição ambiental. Corantes em água são facilmente visíveis e podem ser tóxicos, além de prejudicial tanto na vida aquática quanto ao seres humanos (MICHAELSEN et al., 2019). Portanto, a remoção dos corantes das águas torna-se de importância fundamental para o meio ambiente. Por outro lado, a produção da matriz utilizada, a sílica, será obtida a partir da queima da casca de arroz, um subproduto da agricultra, contribuindo ainda mais com a preservação do meio ambiente. Nesta perspectiva, este trabalho tem como objetivo a obtenção, cracterização e modificação química da SiO2 obtida da casca de arroz e seu uso na remoção de corante alimentício, o amarelo de tartrazina, em um híbrido orgânico-inorgânico de sílica gel.

Material e métodos

2.1 - Obtenção da Sílica a partir do casca de arroz A sílica foi obtida por meio da calcinação da casca de arroz. Inicialmente, 20 g da casca de arroz passou por um pré-tratamento químico em solução básica de NaOH (2,0 mol.L-1) para a retirada de matéria orgânica e impurezas presentes na estrutura das cascas. Em seguida, a casca foi lavada com água destilada várias vezes para garantir sua limpeza e eliminação do excesso de NaOH. Finalmente, a casca de arroz foi calcinada em mufla à temperatura de 600 ºC/24 h e esse material denominado SiAr. 2.2 - Modificação da superfície da sílica Para modificação da SiAr foram aferidas 15,0 g de cinza, posteriormente levada para aquecimento à estufa na temperatura de 120OC por 24h, para retirar as moléculas de água de hidratação presente no material, afim de ativar os grupos Si-OH. Após o tratamento térmico, a SiAr foi suspensa em 50,0 mL de tolueno, com 10 mL de APTES. Esta suspensão ficou sob agitação magnética por 48 h, a 60oC sob refluxo. A solução resultante foi filtrada e lavada diversas vezes com etanol e água. O material obtido, foi denominado de SiArN, e foi seco em estufa a 900C por 12h. 2.3 - Caracterização das cinzas obtidas: SiAr e SiArN Para confirmar a formação da SiO2 na cinza da casca de arroz, analisar seu grau de cristalinidade, ligações químicas formadas e fases por ventura formadas utilizou-se as técnicas de difração de raios-X (DRX), espectroscopia na região infravermelho (FT-IR) e termogravimetria (TG). 2.4 - Adsorção dos corantes O processo de adsorção foi realizado em uma série de amostras, sendo estas na forma de pós, onde cerca de 50 mg das cinzas de SiAr e SiArN foram suspensas em 50,0 mL de solução aquosa contendo o corante AT. Estas soluções do corante tinham concentração da 30 ppm e permaneceram sob agitação constante a 25°C/12 h nesta batelada. A quantidade adsorvida do corante foi determinada na região do UV-visível, utilizando um espectrofotômetro BEL-Engineering modelo UV-M51, onde todas as amostras foram analisadas em triplicata. A porcentagem de remoção do corante foi calculada pela Equação 1 abaixo: Remoção (%) = Ci - Ce x 100 (1) Ci sendo: Ci e Ce são as concentrações iniciais e no equilíbrio do corante, respectivamente.

Resultado e discussão

O teor de sílica presente na casca de arroz depende de vários fatores, dentre eles o tipo do solo. Quanto maior a acidez do solo, maior é o teor de sílica bio-acumulada nos tecidos vegetais. Nas cascas analisadas tivemos um rendimento de cerca de 34% em peso na queima das cinzas, na Figura 2 tem-se as imagens da matéria prima (Figuara 2a) e a sílica produzida após a calcinação a temperatura de 600°/24h . Foram empregadas as técnicas de difratometria de raios-X (DRX), termogravimetria (TG)e espectroscopia no infravermelho (FT-IR), para análise estrutural e de composição das cinzas obtidas pela queima da casca do arroz e dos pós híbridos obtidos após sua posterior sililação. No difratograma de raios- X apresentado, pode-se observar a presença de um halo característico de material amorfo, entre os ângulos de 15,00 e 35,00, para a casca de arroz tratada na condição de 600ºC/24h, com máximo do halo em 22,50 de 2θ (LIMA et al., 2011). Para a obtenção da amostra de SiArN, a sílica ativada termicamente ficou em reação a temperatura de refluxo com o APTES, afim de incorporar na sua superfície grupos amino (-NH3) básicos, possibilitada pela substituição dos grupos OH existentes na superfície da sílica. Os espectros de infravermelho, indicam o sucesso da reação de funcionalização realizada neste processo. Observando os espectros obtidos de SiAr e SiArN, em ambos espectros tem-se a presença dos picos característicos da estrutura da sílica, tais como: i) uma banda larga entre 3750 a 3000 cm-1, a qual é atribuída ao estiramento O-H dos grupos silanois e, também, à água remanescente adsorvida; ii) dois picos intensos relacionado aos estiramentos assimétricos dos grupos siloxanos (as Si- O-Si) em 1200 e 1100 cm-1; iii) uma banda relacionada ao estiramento silanol Si- OH em 900 cm-1; iv) uma banda em 920 cm-1, atribuída ao estiramento simétrico dos grupos siloxanos (s Si-O-Si); v) um pico relacionado à vibração ( O-Si-O) em 480 cm-1, sendo possível observar na região entre 400-800 cm-1, as bandas atribuídas às ligações metal-oxigênio (O-Si-O), e em vi) uma banda em torno de 1650 cm-1, atribuída às vibrações angulares das moléculas de água. No entanto, a sílica SiArN apresenta um pico característico em 2950 cm-1, relacionado ao estiramento C-H de carbono tetraédrico, o qual confirma o ancoramento da molécula de APTES na superfície da SiAr (FARIA et al, 2008). Os espectros de infravermelho corroboram com o dado obtido por DRX, evidenciando a formação da sílica, porém, em forma amorfa. O comportamento temogravimétrico das cinzas de SiAr e SiArN apresenta para amostra de SiAr duas pequenas pedas de massa, a primeira equivalente a 1% de massa que ocorre entre 27oC a 150,3oC, atribuída a evaporação de água fisicamente adsorvida na superfície da sílica e a outra correspondente a 2,3% entre 239 oC a 607 oC, esta perda é referente a condensação dos grupos silanóis. Na curva TG da SiArN , percebe-se uma perda de massa mais acentuada, que também ocorre em dois estágios, a primeira equivlente a 3%, entre 30oC a 126oC, relacionada a perda de água como já mencionada e a segunda entre 310oC e 579oC, equivalente a aproximadamente 4% de perda de massa, relacionada a decomposição dos gurpos orgânicos presentes (que evidenciam a eficiência da sililação) e às condensação dos grupos silanóis. Os ensaios de adsorção realizados em batelada, foram realizados com os dois materiais, a SiAr e a SiArN, com um tempo máximo de 12 horas em agitação constante, em temperatura ambiente e pH neutro. Os resultados das adsorções dos materiais com o corante amarelo de tartrazina, nas Figuras 1 (a e c) temos as absorbâncias em relação ao tempo de agitação das amostras e nos gráficos (b e d) temos os rendimentos em porcentagem das adsorções pelo tempo de reação. A amostra de SiArA (Figura 1 a e b) não apresentou muita eficiência na adsorção do corante, onde apenas cerca de 16 % deste foi adsorvida pela cinza em 12 horas de reação (Figura b). Já para a SiArN (Figura 1 c e d), teve-se um grau de remoção de 94,2 % do corante, para o mesmo tempo em reação de adsorção (Figura 1 d). Esta diferença na adsorção se deve à modificação química da sílica com a incorporação do grupo amino, que melhora a capacidade de adsorção do material.

Figura 1

Espectros de UV-Vis e porcentagem de adsorções para o SiAr (a/b) e para o SiArN(c/d), com o corante amarelo de tartrazina.

Conclusões

Neste projeto, foi possível sintetizar a sílica amorfa a partit da casca de arroz, o difratograma de raios-X característico de material amorfo comprova a obtenção da mesma. A de sililação foi capaz de promover a incorporaç~o dos grupos amino na superfície da mesma, conforme análises de FTIR e TG. Esta modificação química em sua estrutura mostrou -se bastante eficiente em estudos de adsorção para o corante alimentício amarelo de tartrazina. O máximo de remoção do corante chegou a 94,2% em 12 horas de reação. Vale lembrar, que os resultados obtidos são satisfatórios, principalmente se levarmos em consideração que foi utilizado um subproduto da agricultura como matriz para obtenção da sílica, contribuindo assim para a presevação do meio ambiente, e a diminuição dos resíduos agrícolas.

Agradecimentos

Programa de apoio à produtividade em pesquisa (PROAPP -Edital nº 12/2020) Núcleo de Pesquisa NuQMMA

Referências

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ALCANTARA, E. F. C. ; FARIA, E. A.; RODRIGUES D. V. ; EVANGELISTA, S. M.; DEOLIVEIRA, E.; ZARA, L. F.; RABELO, D.; PRADO, A. G. S. Modification of silica gel by attachment of 2-mercaptobenzimidazole for use in removing Hg(II) from aqueous media: A thermodynamic approach. J. of Coll. and Interface Science, v. 311, p. 1-7, 2007.

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