• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

INVESTIGAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DE FOLHAS DE NESPEREIRA COMO BIOSSORVENTE PARA Fe(II)

Autores

Borges, A.R. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS PALMAS) ; Giusti, E.D. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS PALMAS) ; Thomaz, J.C. (INSTITUTO FEDERAL DO PARANÁ, CAMPUS PALMAS)

Resumo

A poluição dos corpos hídricos por metais potencialmente tóxicos pode trazer grandes danos a fauna e a saúde humana. O processo de biossorção tem se mostrado como uma alternativa eficaz, sustentável e de baixo custo para a descontaminação de corpos hídricos. O presente trabalho tem por finalidade investigar a eficiência das folhas de Eriobotrya japônica como bioadorvente para íons de ferro+2. Foram realizados ensaios de adsorção para avaliação das seguintes variáveis: tempo de contato entre biomassa e solução contendo ferro (II), tamanho da partícula e ponto de carga zero. Os resultados foram obtidos através de espectrometria atômica por chama, demonstrando uma adsorção de 85% dos íons de ferro (II) pela biomassa.

Palavras chaves

Biossorção; ferro; Eriobotrya japônica

Introdução

Os resíduos provenientes do uso de agrotóxicos e fertilizantes na produção agrícola, por exemplo, contaminam o solo e os recursos hídricos ao serem carreados pela chuva, bem como a má gestão dos efluentes industriais e domésticos (BATISTA, 2021). Inclui-se nesses contaminantes os metais; alguns destes possuem funções biológicas conhecidas, como ferro, responsável pelas funções de transporte de oxigênio, síntese de DNA e metabolismo energético. Porém, em altas concentrações pode ocasionar a síntese de espécies reativas de oxigênio que são tóxicas e lesam proteínas, lipídeos e DNA (GROTTO, 2008). Os principais tratamentos utilizados para descontaminação de efluentes contendo metais, como troca iônica, osmose reversa e precipitação química apresentam desvantagens, relacionadas ao custo elevado de reagentes, alta demanda de energia e geração de produtos que necessitam de um tratamento posterior ou descarte apropriado, criando a necessidade de alternativas mais eficazes e sustentáveis (BATISTA, 2021). Nesse contexto, a biossorção se apresenta como uma alternativa a ser explorada, pois consiste na remoção e posterior recuperação de substâncias inorgânicas utilizando como base materiais biológicos, podendo ser utilizada na remoção de metais do meio aquoso (MELO, 2021). Isso ocorre devido aos grupos funcionais presentes na constituição do biossorvente, dentre os principais grupos estão as hidroxilas, carboxilas, fosfatos e amidas (PEREIRA, 2017). Portanto, esse trabalho tem como objetivo a investigação da eficácia das folhas de nespereira Eriobotrya japônica como bioadsorvente na remoção de Fe+2 de soluções aquosas.

Material e métodos

1.Preparo das biomassas Foram preparadas biomassas de folhas de nespereira (Eriobotrya japonica) coletadas do solo, em área residencial. A primeira etapa do preparo foi a lavagem das folhas com água destilada e água ultrapura, seguido por secagem em estufa por um período de 24 horas a 50°C. Após a secagem o material passou por moagem em moinho de facas e peneiramento em membranas de poliéster de 72 μm e 354 μm, a fim de avaliar a influência do tamanho de partícula na adsorção. 2.Investigação do Ponto de Carga Zero (PCZ) Para o estudo do Ponto de Carga Zero das folhas de nespereira, foram preparadas soluções de pH variado (1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11 e 12) utilizando HCl ou NaOH. Em 50 mL de cada solução foi acrescentado 50 mg de biomassa, o sistema ficou sob agitação durante 24 horas, sob temperatura ambiente 18C° - 22C°, após esse período foi aferido o pH. Para determinar o PCZ foi construído um gráfico do ΔpH (inicial –final) em função do pHinicial, sendo o que o pHpcz corresponde à faixa de pHfinal que se mantém constante, independente do pHinicial. 3.Investigação da influência do tempo de contato e tamanho de partícula Para análise da influência do tempo de contato, cada 50 mg de biomassa foi adicionado 50 mL de ferro 2,5 mg L-1. As soluções foram agitadas por 0,5 h, 1h, 3h, 9h, e 24h, após cada tempo as soluções foram filtradas a vácuo, as análises foram realizadas em espectrometria atômica de chama na Central de Análises da UTFPR – Campus Pato Branco – PR.

Resultado e discussão

O pH influencia diretamente o processo de adsorção, favorecendo a interação entre adsorvente e adsorbato. O ponto de carga zero é caracterizado pela neutralidade na superfície da biomassa. Com o pH sendo superior ao PCZ a superfície da biomassa se encontra carregada negativamente, favorecendo a adsorção de cátions metálicos (SOUZA, OLIVEIRA, 2022; NASCIMENTO, 2021). Segundo o gráfico 1, o PCZ da biomassa de nespereira foi identificado no pH 6,3, portanto, utilizar pH 8 possibilita a desprotonação dos sítios ativos, deixando a superfície carregada negativamente (SILVA, 2019). Os estudos na biossorção de íons metálicos usando folhas de nespereira (ISMAIL e KHALILI, 2021) obtiveram maior taxa de adsorção com pH 4,0 para íons de Nd (III) e Ce (III), já análises com a biomassa modificada para íons de Pb (II) (ALI et al, 2019) tiveram melhor resultado com o pH 6,0. Conforme o gráfico 2, o maior percentual de biossorção ocorreu no tempo reacional de 0,5 h para partículas de 72 µm e 1 h para 354 µm entre biomassa e a solução de Fe (II), corroborado pelos estudos de adsorção de Cr (VI) utilizando microalgas (MORCELLI, 2021), que obteve o melhor resultado com 1 h. a adsorção pode ser física, ligações fracas, ou química com ligações fortes, o fato de os melhores resultados serem em tempos inferiores está relacionado a ocorrência de ligações fracas entre os íons metálicos e o biossorvente, com a maior medida de tempo a dessorção dos íons metálicos ocorre segundo (DAL MAGRO et at, 2013). De acordo com o gráfico 3, não houve mudança significativa na taxa de biossorção referente ao tamanho de partícula, apoiados pelos estudos de adsorção de Pb pelo bagaço de malte que não demonstraram variações significativas na taxa de adsorção em diferentes granulometrias (FONTANA et al, 2016).

Gráficos 1 e 2

Ponto de Carga Zero (gráfico 1) e taxa de biossorção de Fe (II) (gráfico 2)

Gráfico 3

Concentração de Fe (II) em função do tempo (gráfico 3)

Conclusões

As folhas de Eriobotrya japônica se demonstram eficazes como biomassa na adsorção de íons de ferro (II). O ponto de carga zero das folhas foi aferido no pH 6,3. Análise do tempo de contato para cada tamanho de partícula demonstrou que os tempos inferiores foram mais satisfatórios para as partículas de 72 µm com o tempo de 0,5 h que apresentou uma taxa de adsorção de 82,06% e para a partículas de 354 µm em 1 h foi de 85,08%, em uma solução de sulfato de ferro contendo 2,5 mg L-1, não houve mudança significativa na de adsorção referente ao tamanho de partícula durante o processo.

Agradecimentos



Referências

BATISTA, C. M. Avaliação do potencial biotecnológico da biomassa Sargassum vulgare C. Agardh para remoção de metais pesados de efluentes sintéticos. Dissertação (Mestrado em Biotecnologia e Meio Ambiente) - Universidade Católica de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento de Processos Ambientais, Recife, PE, 2021.
DAL MAGRO, C. et al. Biossorção passiva de cromo (VI) através da microalga Spirulina platensis. Química Nova, v. 36, p. 1139-1145, 2013.
FONTANA, K. B., et al. Biosorption and Diffusion Modeling of Pb (II) by Malt Bagasse. International Journal of Chemical Engineering, v. 2016, p. 11, 2016.
GROTTO, H. Z. Metabolismo do ferro: uma revisão sobre os principais mecanismos envolvidos em sua homeostase. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. v. 30, p. 390 – 397, 2008.
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MELO, V. S. R. Avaliação das diferentes frações da Moringa oleifera na remoção de metais potencialmente tóxicos em água. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental) Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, Uberaba, MG, 2021.
MORCELLI, A. V. Aplicação de tecnologias de extração de clorofilas e carotenoides de microalgas e uso da biomassa microalgal na adsorção de metais pesados. Tese (Doutorado em Engenharia Química) Universidade do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Engenharia Química, Porto Alegre, RS, 2021.
NASCIMENTO, L. A. Estudo do desempenho da Eichhornia crassipes na biossorção de óleos minerais em wetlands construidos. Tese (Douturado em Engenharia Química) Universidade Federal de Pernambuco, Programa de Pós-graduação em Engenharia Química, Recife, PE, 2021
PEREIRA, J. E. S. Biossorção de cobre em solução aquosa utilizando os pós das folhas do cajueiro (Anacardium occidentale L.) e da carnaúba (Copernicia prunifera). Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-graduação em Engenharia Química, Natal, RN, 2017.
SALMAN, S. M., et al. Detoxification of lead (II) ions in aqueous solutions using chemically modified Ziziphus jojoba and Eriobotrya japonica leaves: thermodynamic and kinetics considerations. Desalin Water Treat, v. 166, p. 53-61, 2019.
SILVA, D. L. Biossorção dos metais chumbo (Pb), cádmio (Cd), ferro (Fe), zinco (Zn) e cobre (Cu) pelas algas Ulva Lactuca e Chlorella vulgaris: uma revisão. (Trabalho de Conclusão de Curso) Universidade Federal de Integração Latino-Americana – UNILA, Foz do Iguaçu, PR, 2022.
SOUSA, H. S.; OLIVEIRA, J. D. Biossorção de metais potencialmente tóxicos pela casca do Pequi in natura em coluna de leito fixo Biosorption of potentially toxic metals by the bark of Pequi in natura in a fixed bed column. Brazilian Journal of Development, v. 8, n. 2, p. 12112-12127, 2022.

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