• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICO-QUÍMICA DE AGUARDENTES DE MANDIOCA (Manihot esculenta C.) - TIQUIRA, COMERCIALIZADA NO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS - MARANHÃO

Autores

Mouchrek, C.N. (UFMA) ; Fiaros, E.V.M. (UFMA) ; Mouchrek Filho, V.E. (UFMA)

Resumo

Dentre as bebidas alcoólicas produzidas no Nordeste, as cachaças produzidas do caldo de cana têm lugar comum sendo amplamente distribuída no Brasil. No Maranhão, porém, destaca-se uma bebida destilada de origem indígena, a Tiquira, com alto teor de álcool etílico sendo produzida artesanalmente a partir da mandioca, em cerca de 13 municípios do Estado do Maranhão. O objetivo deste trabalho foi caracterizar quimicamente e físico-quimicamente aguardentes de mandioca (Tiquira), comercializadas em São Luís. As amostras foram adquiridas no comércio do mercado das Tulhas e foram levadas ao Laboratório de Físico-Química de Alimentos do Programa de Controle de Qualidade de Alimentos e Água da Universidade Federal do Maranhão (PCQA – UFMA) onde foram efetuadas as análises químicas.

Palavras chaves

Mandioca; Tiquira; Analises químicas

Introdução

A tiquira é uma bebida alcoólica destilada (ALMEIDA et al., 2010) de origem indígena e típica do estado do Maranhão, sendo produzida artesanalmente, em cerca de 13 municípios e cuja matéria prima é a mandioca (MARQUES et al, 2001). A tiquira é produzida a partir da fermentação alcoólica de beijus da mandioca. Há relatos de cronistas do século XVI de que os indígenas tomavam uma bebida fermentada feita com mandioca e para sua produção era necessária uma prévia mastigação das raízes de mandioca cozidas, provocando a sacarificação, para ativar a fermentação. Não se sabe da origem desta bebida, mas a fabricação estendia-se das tribos do litoral até o sertão, seguindo o mesmo processo de produção. Existem também relatos do final do século XIX, de uma bebida de origem indígena feita de mandioca muito difundida no Amazonas produzida por destilação, denominada na língua tupi de “tykir” cujo significado é líquido que cai gota a gota (ALMEIDA et al., 2010; FERRAREZO, 2011; SOUZA, 2014). Existe, portanto, uma semelhança muito grande com os nomes populares da aguardente atribuída por razões semelhantes. A Legislação brasileira, através da instituição normativa n° 15, de 31 de março de 2011, que trata o Regulamento Técnico para a Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Tiquira do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), classifica a tiquira como uma bebida de graduação alcoólica de trinta e seis a cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida de destilado alcoólico simples de mandioca, ou pela destilação de seu mosto fermentado (BRASIL, 2011).

Material e métodos

As amostras de tiquiras violetas e incolores foram obtidas de formas aleatórias em diferentes barracas localizadas no Mercado das Tulhas na Praia Grande, no município de São Luís no mês de março de 2021 no Estado do Maranhão, totalizando 6 amostras. As amostras de tiquiras foram produzidas no município de Santa Quitéria. Foram mantidas ao abrigo da luz, utilizando-se papel alumínio para preservar seus componentes. Após identificações todas foram armazenadas à temperatura ambiente em caixas térmicas e em seguida transportadas para os Laboratório de Físico-Química de Alimentos do Programa de Controle de Qualidade de Alimentos da Universidade Federal do Maranhão, onde foram analisadas conforme metodologia proposta. As amostras foram analisadas seguindo as metodologias descritas pelo Instituto Adolf Lutz (IAL, 2008) e pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, conforme Art.117, da lei nº 8.918 de14 de julho de 1994, alterada pela Instrução Normativa Nº 20 de 19 de julho de 2010. As determinações físico-química foram realizadas em triplicatas, de acordo com a Instrução Normativa Nº 15 de 31 de março de 2011 para tiquira. Cada amostra teve a quantificação de grau alcoólico, acidez volátil, densidade e pH. Salienta-se que de acordo com o MAPA, não existe padrões para pH e densidade, porém o INMETRO (2012) estipula que a densidade das cachaças seja de 0,94445 ± 0,00032 g/cm3 a 20°C. As determinações químicas também foram realizadas em triplicatas, de acordo com a Instrução Normativa Nº 15 de 31 de março de 2011 para tiquira. Cada amostra teve a quantificação de ácido cianídrico, ésteres, metanol e cobre. Para o ácido cianídrico, este foi determinado por meio da metodologia descrita no Manual de Métodos de Análises de Bebidas e Vinagres (BRASIL, 2017).

Resultado e discussão

As análises químicas, as amostras de tiquira de coloração violeta e incolor mostraram-se dentro do limite aceitável para o parâmetro de ácido cianídrico, com valores médios de 3,167 e 3,244 mg/100 mL de álcool anidro, respectivamente, que tem como o padrão o valor máximo de 5 mg/100 mL de álcool anidro. O íon cianeto (CN-), é altamente tóxico pois tem a capacidade de inibir a respiração celular atuando em enzimas que possuem ferro (catalase, oxidade, citocromo), fazendo com que ocorra uma impossibilidade do consumo de oxigênio (DUARTE, 2017). Ponce (2004) cita que a dose letal por ingestão varia de 0,5 a 3,5 mg/kg (cianeto/massa corpórea). O teor total de ésteres, expressos em acetato de etila, permitido pela legislação é de no máximo 200 mg/100 mL de álcool anidro, tanto para cachaça como para tiquira. Os valores médios encontrados nas tiquiras violetas e incolores avaliadas foram de 0,165 e 0,175 mg/100 mL, respectivamente, apresentando valores que dentro do limite padrão. A concentração de ésteres tende de ser maior com o tempo de envelhecimento, como observa Moraes (2004). O teor médio de metanol presente nas amostras de tiquira violeta e incolor foram de 3,65 e 4,68 mg/100 mL, respectivamente. O metanol é indesejável e, caso ocorra, não deve ultrapassar o limite de 20 mg/100 mL de álcool anidro. (MAPA, 2011). O teor de médio de cobre nas amostras de tiquira violeta e incolor foram de 1,90 e 2,10 mg/L, respectivamente, sendo o valor máximo admitido pela IN nº 15/2011 de 5 mg/L. O cobre é um metal classificado como intermediário, sendo um nutriente essencial, porém apresentando efeitos toxicológicos quando em excesso (NEVES, 2004). Os valores médios para a graduação alcoólica das amostras de tiquiras violeta e incolor analisadas, foram de 40% e 42% em volume a 20ºC.

Conclusões

Diante dos parâmetros químicos e físico-químicos analisados contatou-se que tanto a tiquira violeta quanto a incolor, ambas produzida no município de Santa Quitéria no Estado do Maranhão apresentaram 100% de conformidade com o padrão estabelecido pela Instrução Normativa MAPA n° 15/2011. O teor de cobre detectados nas amostras analisadas das tiquiras violeta e incolor não inviabiliza a qualidade da bebida, nem compromete a saúde dos apreciadores destas bebidas, entretanto recomenda-se o consumo com moderação.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Maranhão e ao Laboratório do Programa de Controle de Qualidade de Águas e Alimentos (PCQA).

Referências

ALMEIDA, Katilayne Vieira de et al. Avaliação Físico-Química da Aguardente de
Mandioca. In: CONGRESSO QUÍMICO DO BRASIL, 1., 2010, João Pessoa. S. I.: 2010. p.1 - 4.
DUARTE, C. M. Avaliação da influência de enzimas na produção e composição
química e físicoquímica da aguardente de mandioca. Curso Química Industrial.
Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luís - MA, 2017.
FERRAREZZO, Eliane Maria. Desenvolvimento de mandioca chips, moldada e frita.
2011. 190 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências da Engenharia de Alimentos, Faculdade de Zootecnia, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2011.
INMETRO. Material de referência certificado (MRC) de cachaça – contaminantes
orgânicos (butanol, 2-butanol, isobutanol, metanol e propanol). 8653 . De 24.
maio.2012.Disponível em: www.inmetro.gov.br/metcientifica/MRC/8653_cachaca.pdf.
Acesso em: 02.maio.2018.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas, métodos químicos e físicos para
análises de alimentos. 4ª ed. 1ª ed. Digital, São Paulo, 2008. 1020p.
MARQUES, A. L.B.; BEZERRA, C.W.B.; MARQUES, E.P.; NUNES, G.S.; SANTOS, T.C.R.;
NASCIMENTO, A.R.; FERREIRA, M.G.A.B.; MOUCHREK FILHO, V.E.; Relatório final de
Projeto de Pesquisa, financiado pelo BASA: Apoio técnico-científico ao setor
agroindustrial (processamento de alimentos e bebidas destiladas), através de
estudos, caracterização química e controle de qualidade. UFMA, São Luís, (Março de2001).
NEVES, E. O. Composição de minerais em caldo de cana-de-açúcar e em vinho tinto
artesanal de mesa. Universidade Federal de Viçosa - UFV. 2004. 70 p. Dissertação
(Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos).
SOUZA, Igor Albuquerque de. Produção de aguardente de mandioca utilizando o fungo Aspergillus Oryzae para liquefação e sacarificação do amido. 2014. 45 f. TCC (Graduação) - Curso de Farmácia, Universidade de Brasília, Brasília, 2014.
SIEBALD, H. G. L.; CANUTO, M. H.; LIMA, G. M.; SILVA, J. B. B. Alguns aspectos
toxicológicos da cachaça. Informe Agropecuário, v.30, p. 55, 2009.
PONCE, M. J. S. G. Determinação cinética de cianeto livre pelo monitoramento
espectrofotométrico da reação de o-dinitrobenzeno com p-nitrobenzaldeído.
Campinas, 2004, 109 p. Tese (Doutor em Ciências), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Patrocinador Ouro

Conselho Federal de Química
ACS

Patrocinador Prata

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Patrocinador Bronze

LF Editorial
Elsevier
Royal Society of Chemistry
Elite Rio de Janeiro

Apoio

Federación Latinoamericana de Asociaciones Químicas Conselho Regional de Química 3ª Região (RJ) Instituto Federal Rio de Janeiro Colégio Pedro II Sociedade Brasileira de Química Olimpíada Nacional de Ciências Olimpíada Brasileira de Química Rio Convention & Visitors Bureau