• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE CERVEJAS ARTESANAIS DE FRUTAS REGIONAIS DO ESTADO DO PARÁ

Autores

Farias Botelho, B. (UFPA) ; Soares Menezes, M.A.M. (UFPA) ; Lobato Carvalho, J. (UFPA) ; Batista dos Santos, G.G. (UFPA) ; Siqueira Pantoja, S. (UFPA) ; Nobre de Moura Júnior, J.M. (UFPA) ; Magno Rocha, R. (LACEN-PA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)

Resumo

Amplamente consumida ao redor do mundo há séculos, a cerveja ainda se renova, sendo produzida em novos sabores, através adição de novos componentes, como frutas. Desta forma, na Amazônia, onde abundam diversas frutas, não podia ser diferente. O objetivo deste trabalho foi realizar uma caracterização físico- química básica de cerveja de açaí e de bacuri, além de aplicar técnicas multivariadas na discriminação das amostras. Os resultados encontrados, como o pH (4,82 para açaí e 4,53 para bacuri) e a acidez que foi de 1,07% (bacuri) e 3,80% (açaí), concordam com valores existentes na literatura para cervejas de outros sabores. Também as técnicas empregadas foram eficientes na discriminação dos produtos. Os resultados encontrados podem ser uteis no controle de qualidade dessas cervejas.

Palavras chaves

bebidas alcoólicas; Amazônia; Frutas

Introdução

A cerveja é uma bebida com amplo histórico de utilização pelo homem, onde evidências arqueológicas apontam que o início de seu consumo se deu por volta de 3000 a.C., entre os sumérios (WANG et al., 2016). E pelo fato desse produto ser tão antigo e tão apreciado pelas pessoas, foi surgindo a necessidade de inovar o sabor da cerveja, fugindo do sabor convencional, então iniciou-se a produção de cervejas artesanais. Essas, em sua maioria, possuem adição de frutas como adjuntos para introdução de cores, sabores e aromas únicos (SOUZA et al., 2022). Verificou-se na bibliografia atual que estudos (principalmente, de caráter físico-químico) sobre esses produtos ainda são escassos, por isso, esta pesquisa teve o intuito de contribuir para a difusão do conhecimento de cervejas com incorporação de frutas típicas da região norte do país. Sendo assim, objetivou-se fazer análises físico-químicas (pH, condutividade elétrica (CE), densidade, teor alcoólico (TA), sólidos solúveis totais (SST), viscosidade, resíduo seco (RS), acidez e turbidez) de cervejas artesanais de sabor açaí (Euterpia oleraceae) e bacuri (Platonia insignis), produzidas no município de Belém, com a finalidade de obter seu controle de qualidade, além de aplicação de duas técnicas multivariadas (análise de componentes principais (ACP) e análise hierárquica de agrupamentos (AHA)) com a intenção de discriminar as amostras de acordo com o seu sabor.

Material e métodos

Foram adquiridas 10 amostras de cerveja de bacuri e 10 de açaí, todas levadas ao Laboratório de Física Aplicada a Farmácia (LAFFA) da Faculdade de Farmácia (UFPA) e analisadas em triplicatas. A densidade foi determinada via método picnométrico (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). O TA foi determinado por um densímetro de três escalas, com uma das escalas dando o percentual de álcool diretamente na escala do aparelho. O pH foi obtido a partir da introdução de um eletrodo de pHmetro (PHTEK) calibrado com soluções tampão 4 e 7 nas amostras. A CE foi determinada via emprego de um condutivímetro portátil, previamente calibrado. O SST foi obtido a partir de um refratômetro portátil, gotejando as amostras no prisma e lido em escala de graus Brix (AOAC, 1992). Caracterizou-se a viscosidade com a utilização do copo Ford 3, contando o tempo de escoamento da amostra pelo orifício do copo e tempo (segundos) convertido para viscosidade via emprego de equação fornecida pelo fabricante. A acidez foi encontrada através do método titulométrico, usando-se fenolftaleína como indicador e solução de NaOH 0,01 mol L-1. A turbidez foi determinada a partir de um turbidímetro T1000. O RS foi encontrado utilizando cadinhos de porcelana previamente pesados e adicionando cerca de 1 g de amostra neles, levando-os à estufa a 105° C por 24 h e resfriados em dessecador, seguindo-se pesagem na balança analítica e resultado expresso em porcentagem (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). A semelhança das médias entre os dois grupos de amostras para cada variável foi checada via teste t de Student e a possibilidade de discriminação das amostras conforme seu sabor foi avaliada através das técnicas de ACP e de AHA, com 95 % de significância e emprego do programa MINITAB 17.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos estão na Tabela 1. O pH encontrado foi de 4,82 (cerveja de açaí), valor menor do que 5,19 encontrado por Souza et al. (2019) para licor a base de açaí. Já para a cerveja de bacuri, foi encontrado um pH de 4,53, que é igual ao encontrado por Souza et al. (2022) para cerveja artesanal de cupuaçu. Para os SST se obteve 7,10° Brix (açaí) e 7,03° Brix (bacuri), valores esses maiores do que os encontrados por Goiana et al. (2016), em cervejas artesanais de Fortaleza (5,92° Brix). Os valores de TA para as cervejas de açaí e bacuri foram 4% e 5,6 %, respectivamente. Tais valores estão de acordo com a classificação de bebidas alcoólicas estabelecidos pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2009). Para a densidade, os dados obtidos apontam o valor médio de 1,13 g/mL para ambas cervejas analisadas, valor maior que 1,02 g/mL obtidos por Pereira e Leitão (2016). Para os valores de acidez se achou os valores de 1,07% (bacuri) e 3,80% (açaí), que são valores foram maiores que 0,578%, achado por Silva et al. (2018). Para a CE, se encontrou um valor médio de 3,30 mS/cm para ambas cervejas, que são valores maiores que 1,67 mS/cm encontrado por Araújo et al. (2019) ao estudar cervejas vendidas em Teresina. Para turbidez se achou um valor de 68,76 NTU (açaí) e 19,52 NTU (bacuri), que são valores maiores que o encontrado por Souza et al. (2022) ao estudar cerveja de cupuaçu. Para o RS se achou o valor de 42,01% (açaí) e 93,18% (bacuri), que são valores maiores que 5,44% encontrado por Sousa (2019). As variáveis densidade e RS não se mostraram significativamente diferentes entre os dois tipos de cerveja e as técnicas de ACP e AHA conseguiram discriminar as amostras em dos grupos distintos (Figura 1), formados por amostras de mesmo sabor.

Tabela 1. Resultados obtidos para as variáveis físico-químicas

Amostras A = cerveja de açaí; Amostras B = cerveja de bacuri. * significa que as médias das variáveis dos dois grupos são significativamente diferente

Figura 1. Gráficos de ACP e dendrograma (AHA)

Acima: gráfico da ACP; abaixo: dendrograma.

Conclusões

Os parâmetros físico-químicos analisados nos dos tipos de cervejas artesanais paraenses se mostraram semelhantes aos encontrados na literatura e obedecem aos limites legais. Desta forma são produtos de qualidade aceitável. A aplicação das técnicas multivariadas foi eficiente na discriminação das cervejas conforme seu sabor, desta forma elas podem ser usadas no controle de qualidade desses produtos.

Agradecimentos



Referências

AOAC: Association of Official Analytical Chemistry. Official Methods of Analysis of AOAC International, 11 ed. Washington: AOAC, 1992.

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SOUSA, V. M.; FOGAÇA, L. C. S. Perfil Físico-Químico de Cervejas Artesanais e Industriais e Adequação dos Rótulos Quanto à sua Graduação Alcoólica. ID on line. Revista de psicologia, v. 13, n. 43, p. 440-447, 2019.

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SOUZA, A. M. B; MORAE, J. L; MOTA, A. V. Influência do tempo de infusão com duas fontes alcoólicas diferentes na elaboração e caracterização físico-química do licor de açaí. 2019.

WANG, J; LIU, L; BALL, T; YU, L; LI, Y; XING, F. Revealing a 5,000-y-old beer recipe in China. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 113, n. 23, p. 6444-6448, 2016.

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