• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DO LEITE INTEGRAL UHT

Autores

Souza de Lima, V. (UFPA) ; da Silva Picanço dos Santos, R.C. (UFPA) ; dos Santos Lucena, S.M. (UFPA) ; Frank e Silva, H. (UFPA) ; Costa da Silva, S. (UFPA) ; Siqueira Pantoja, S. (UFPA) ; da Silva Carneiro, A. (UFPA) ; Brito Negrão, C.A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)

Resumo

O leite é um dos alimentos mais importantes para o ser humano, sendo o primeiro que ele utiliza para se alimentar, ao nascer, apresentando elevado valor nutricional. O presente estudo objetivou realizar caracterização físico-química do leite de vaca UHT (Ultra High Temperature) e um estudo estatístico, com a finalidade de verificar a qualidade dos produtos comercializados. Foi realizado ensaios de caracterização físico-química e os resultados foram sobrepostos com a literatura existente e as normativas vigentes. O estudo concluiu que existem algumas inconsistências significativas entre os parâmetros preconizados e os observados no estudo, além do que apenas uma marca de leite consegue se distinguir totalmente das demais.

Palavras chaves

Leite de vaca; produto de origem animal; quimiometria

Introdução

O leite é reconhecido pela bromatologia como alimento de enorme valor nutricional, tendo em vista que é fonte de proteínas, e contém vitaminas e minerais. Ademais, se configura como uma das commodities agropecuárias mais importantes do planeta, sendo consumida por bilhões de pessoas todos os dias. No Brasil, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária, o leite movimentou cerca de 79 bilhões de reais no período de 2020 a 2021. Entre as diferentes apresentações comercializadas, o leite Ultra High Temperature (UHT) denota grande visibilidade tendo em vista o alto índice de consumo, esse tipo de leite é submetido a altas temperaturas, para eliminar microrganismos patogênicos e aumentar sua vida útil do produto. Considerando a saúde, o bem estar coletivo e a economia, o estudo objetivou realizar uma caracterização físico-química do leite (pH, condutividade elétrica (CE), umidade, densidade, viscosidade, sólidos solúveis totais (SST) e acidez titulável), com a finalidade de controle de qualidade dos produtos comercializados, além de empregar técnicas estatísticas multivariadas (análise de componentes principais, ACP, e análise hierárquica de agrupamentos, AHA) para comparar e discriminar as amostras de acordo com a marca.

Material e métodos

Foram coletadas 30 amostras de leite UHT, de 3 marcas diferentes, no comércio varejista do município de Belém do Pará. A escolha das marcas levou em consideração o custo de aquisição, sendo adquiridas 10 amostras do produto com menor custo (marca C), 10 amostras do produto com custo mediano (marca B) e 10 amostras do produto com o maior custo (marca A). As amostras foram transportadas para o Laboratório de Física Aplicada à Farmácia da Faculdade de Farmácia (UFPA), onde foram realizados os ensaios físico-químicos de: pH, usando um pHmetro (PHTEK), calibrado com solução tampão; CE realizado em condutivimetro portátil AKSO modelo AK51; SST, realizado com refratômetro Instrutherm, modelo RT-30ATC; densidade, pelo método do picnômetro; viscosidade, com viscosímetro do tipo copo Ford nº 3; acidez titulável, utilizando titulador Dornic e solução de NaOH 0,1 mol/L; e teor de umidade, pelo método gravimétrico (AOAC, 1992; FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010). Os resultados das análises foram tabulados no programa Microsoft Excel® e os resultados foram expressos em termos de média e desvio padrão. Por fim, foram realizados teste de ANOVA, teste de Tukey e análise multivariada (ACP e AHA), no software Minitab®, considerando dados padronizados, distâncias euclidianas e ligações simples.

Resultado e discussão

Na Tabela 1 estão expostos os resultados obtidos. Para a viscosidade se observou que as marcas A (32,93 cSt) e B (32,94 cSt) são similares, e a marca C (34,0 cSt) possui uma viscosidade mais elevada, provavelmente, devido a maior quantidade de gordura total (8 g/200 mL) em comparação a A (6 g/200 mL) e B (6,4 g/200 mL), conforme informações que constam nos rótulos. A densidade média observada nas 3 marcas (1,66 g/cm³) evidenciou serem os leites analisados mais densos que o estudado por Machado et al. (2014), com valor de 1,027 g/cm³. O pH médio (6,66) foi similar para as marcas A e B, porém a C (6,68) se mostrou levemente mais alcalina. Todas as amostras se encontram em pH quase neutro e em conformidade com Oliveira (2005) que aponta normalidade de pH em 6,60 a 6,75. A CE (5,26 mS/cm) do leite foi semelhante em A e B, e levemente mais baixa em C (5,09 mS/cm). Segundo Nielen et al. (1992), a condutividade é influenciada principalmente pela presença de íons, sódio, potássio e cloretos. Os SST apresentaram similitude em B e C (12° Brix) e levemente mais elevada em A (13° Brix), todavia os ensaios apresentaram valores aproximados dos visualizados por Lima et. al. (2009) (13-15° Brix). A acidez titulável expressa em graus Dornic (° D) apresentou similitude em A e B (26,40° D), e variação em C (22,77° D), entretanto os dados apontam que o leite analisado, independente da amostra, está fora dos limites (14 e 18° D) da IN nº 146/1996 (BRASIL, 1996). Os teores de umidade encontrados foram similares e superiores a 80 %, assim como o observado por Lima et. al. (2009). Em termos multivariados, as amostras de leite das marcas A e B não conseguiram ser separadas entre si, apenas em relação às da marca C (Figura 1). Assim, apenas a marca mais barata (C) se distingue das demais.

Tabela 1. Resultados obtidos



Figura 1. Gráficos de ACP e dendrograma (AHA)

Acima gráfico dos dois primeiros componentes principais (ACP) e abaixo dendrograma (AHA).

Conclusões

Os resultados obtidos apontam uma importante divergência no parâmetro de acidez titulável, que se encontra fora dos padrões definidos na instrução normativa do governo federal brasileiro, sendo os demais compatíveis com a literatura. As marcas de leite de médio e mais alto valor apresentaram um comportamento multivariado similar, o que as fez se apresentar em um só grupo, distinto daquele formado pela marca de menor preço, indicando que, no geral, apenas esta marca seria, em termos físico-químicos, distinta das demais.

Agradecimentos

As universidades UFPA e UFRA.

Referências

AOAC: Association of Official Analytical Chemistry. Official Methods of Analysis of AOAC International, 11 ed. Washington: AOAC, 1992.

BRASIL. Instrução Normativa nº 62 de 29 de dezembro de 2011. Aprova o Regulamento Técnico de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Cru Refrigerado, o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Leite Pasteurizado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial da União, Brasília, 30 dez. 2011. Seção 1, p.1-24.

BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Portaria nº 146, de 07 de março de 1996. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Leite UAT (UHT). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 11 mar. 1996. Seção 1, p. 3977.

FARMACOPÉIA BRASILEIRA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília, 5º ed., v. 1, 2010.

OLIVEIRA, A. B. Características de composição do leite e métodos de análise. In: CURSO
SOBRE QUALIDADE DO LEITE, 2, 16f. 2005. Goiânia: Escola Veterinária/Universidade de Goiás. Goiânia, 2005. (Mimeografada)

LIMA, F. M. et al. Qualidade de leite UHT integral e desnatado, comercializado na cidade de São Joaquim da Barra, SP. Nucleus Animalium, v. 1, n. 1, p. 1-9, 2009.

MACHADO, A. R. T. et al. Características físico-químicas e sensoriais de três marcas de leite de vaca pasteurizado e comercializado na cidade de Alfenas-MG. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v. 12, n. 2, p. 93-99, 2014.

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