• Rio de Janeiro Brasil
  • 14-18 Novembro 2022

Atividade moluscicida de 3-aril-2-hidróxi-1,4-naftoquinonas

Autores

Silva, N.A.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Martins, D.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE) ; Xavier, R.F. (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ) ; Rangel, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE)

Resumo

A esquistossomose é uma doença parasitária causada por espécies de vermes do gênero Shistosoma e que apresenta como hospedeiro intermediário caramujos, como o Biomphalaria glabrata. Essa é a espécie mais associada à disseminação da esquistossomose no Brasil e que precisa ser combatida através do emprego de moluscicidas. Neste trabalho, foram preparadas naftoquinonas moluscicidas através do acoplamento de Suzuki catalisado por paládio.

Palavras chaves

Biomphalaria glabrata; Suzuki; Esquistossomose

Introdução

A esquistossomose é a segunda doença parasitária que mais acomete indivíduos a nível mundial, abaixo apenas da malária (CHITSULO, 2000). Esta doença é causada por helmintos do gênero Schistosoma. No Brasil, a espécie mais comum deste gênero é o Schistosoma mansoni (NELWAN, 2019). Para que ocorra o ciclo de transmissão da doença, o parasita utiliza como hospedeiro intermediário caramujos do gênero Biomphalaria; sendo o Biomphalaria glabrata a principal espécie associada à transmissão da esquistossomose no Brasil (ZANARDI, 2019). O controle e erradicação do B. glabrata está diretamente relacionado com a interrupção do ciclo de transmissão da doença. Para isso, no entanto, apenas a niclosamida (1) é utilizada em larga escala como pesticida (COELHO, 2016). Face ao exposto, a pesquisa e desenvolvimento de novas substâncias com atividade moluscicida que sejam seguras, de baixo custo e seletivas é de grande importância para o controle da Esquistossomose. Quinonas são substâncias naturais amplamente distribuídas na natureza, podendo ser encontradas em plantas, fungos, bactérias, algas, vírus, insetos, entre outros. As quinonas são constituídas de uma cadeia carbônica fechada e insaturada contendo duas carbonilas adjacentes aos grupamentos vinílicos. Os grupamentos carbonílicos podem estar em posições orto ou para entre si (DA SILVA, 2013). No presente trabalho, foram sintetizadas 3-aril-2-hidróxi-1,4- naftoquinonas através do emprego da reação de Suzuki entre ácidos arilborônicos e a 3-iodo-2-hidróxi-1,4-naftoquinona. As substâncias obtidas tiveram sua atividade moluscicida avaliada frente ao B. glabrata (MARTINS, 2022).

Material e métodos

Inicialmente foi preparado o complexo 1 para iodação da naftoquinona. Para isto, utilizou-se KI (280 mmol),I2 (100 mmol) e morfolina (100 mmol) em água. Na sequência, a lausona 2 (30 mmol), K2CO3 (90 mmol) e o complexo morfolino-iodo (37,5 mmol) foram submetidos à agitação magnética em meio aquoso (30 min). Após acidificação da mistura de reação, obteve-se a 2-hidróxi-3-iodo-1,4- naftoquinona 3 (3-iodolausona). A 3-iodolausona 3 foi empregada em reações de acoplamento C-C junto à diferentes ácidos fenilborônicos. Para isto, as reações foram submetidas, por 10 minutos, à irradiação de micro-ondas à 100°C. No tubo de reação,foram adicionados 2-hidróxi-3-iodo-1,4-natoquinona 3 (0,5 mmol), K2CO3 (2,5 mmol), ácido arilborônico (0,75 mmol), Pd(OAc)2 (1% mol) como catalisador e água destilada como solvente. Os produtos obtidos foram caracterizados por 1H e 13C- RMN e espectroscopia na região do IV e seus pontos de fusão capilares não corrigidos foram determinados.

Resultado e discussão

Foram preparadas diferentes 3-aril-2-hidróxi-1,4-naftoquinonas através de reação de Suzuki (Esquema 1).A concentração letal das naftoquinonas foi determinada pela exposição do B. glabrata aos compostos por 48 horas (Figura 1). AN-12, 13, 15 e 16 foram as mais potentes, o que parece indicar que a presença de substituintes polares no anel fenílico leva a melhores atividades. Observou-se que substâncias que apresentaram melhor atividade moluscicida possuem substituintes retiradores de elétrons no anel benzênico, que são as substâncias AN-15 e AN-16. AN-15 apresentou os melhores resultados (CL90 0,98ppm) (Figura1). Os estudos in sílico demostraram menor toxicidade ambiental para AN-15, quando comparado com a niclosamida.

Tabela 1- Concentração letal no B. glabrata e Figura 1- Atividade molu

Concentração letal (CL90) de arilnaftoquinonas frente ao B. glabrata

Esquema 1 – 3-Aril-2-hidróxi-1,4-naftoquinonas sintetizadas

Reação de Suzuki para obtenção de 3-Aril-2-hidróxi-1,4-naftoquinonas

Conclusões

A molécula sintética AN-15 apresentou boa atividade moluscicida frente ao B. glabrata com potência superior à niclosamida, o moluscicida aprovado pela OMS. O potencial do AN-15 no combate do caramujo hospedeiro sugere que a classe das naftoquinonas pode ser promissora no desenvolvimento de agentes moluscicidas de importância no combate à esquistossomose.

Agradecimentos

Os autores agradecem à CNPq (Processo n° 308755/2018-9), FAPERJ (Processo N° E- 26/203.246/2017 e Processo N° E-26/211.025/2019) e CAPES.

Referências

CHITSULO, L. et al. The global status of schistosomiasis and its control. Acta Tropica, v.77, 41-51, 2000.
COELHO, P. M. Z., Caldeira, R.L. Critical analysis of molluscicide application in schistosomiasis control programs in Brazil. Infectious Diseases of Poverty, v. 5, 56-6, 2016.
DA SILVA, M. N. et al. Um panorama atual da química e da farmacologia de naftoquinonas, com ênfase na beta-lapachona e derivados. Química Nova, v. 26, 407-416, 2013.
MARTINS, D. L. et al. Molluskicidal activity of 3-aryl-2-hydroxy-1,4-naphthoquinones against Biomphalaria glabrata. Acta Tropica, v. 231,106414-106427, 2022.
NELWAN, M. Schistosomiasis: Life Cycle, Diagnosis, and Control. Current Therapeutic Research, Clinical and Experimental, v. 91, 5-9, 2019.
ZANARDI, V. S. et al. Prevalence of Infection of Biomphalaria glabrata by Schistosoma mansoni and the risk of urban Schistosomiasis mansoni in Salvador, Bahia, Brazil, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 52:e20190171, 1-9, 2019.

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