ESTUDO DAS VARIÁVEIS DE SÍNTESE DE UM CATALISADOR SÓLIDO MAGNÉTICO APLICADO À PRODUÇÃO DE BIODIESEL
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ÁREA
Química Computacional
Autores
Gonçalves, M.A.G. (UFPA) ; Correa, A.P.L. (UFPA) ; Santos, H.C.L. (UFPA) ; Souza, D.A.A. (UFPA) ; Santos, S.P. (UFPA) ; Ribeiro, M.V.O. (UFPA) ; Silva, P.M.M. (UFPA) ; Silva, J.A.A. (UFPA) ; Mares, E.K.L. (UFPA) ; Conceição, L.R.V. (UFPA)
RESUMO
Neste estudo, as variáveis de síntese do catalisador sólido ácido magnético MoO3/SrFe2O4, aplicado na transesterificação de óleo residual de fritura, foram estudadas. As variáveis dosagem de molibdênio, temperatura e tempo calcinação foram estudadas e avaliadas quanto ao percentual teor de éster no biodiesel produzido. O catalisador foi caracterizado por método de titulação ácido-base, a fim de determinar acidez superficial, difração de raios-X (DRX) e espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FT–IR). A avaliação do catalisador na síntese de biodiesel demonstrou um valor de 90,8% de conversão em ésteres para o catalisador sintetizado nas condições ótimas de 35% de molibdênio e calcinado a 450 °C por 2 h.
Palavras Chaves
Biodiesel; catalisador magnético; óleo de fritura
Introdução
O biodiesel vem sendo amplamente estudado como combustível alternativo, limpo e renovável, uma vez que se trata de um combustível comumente produzido pela reação de transesterificação de óleos vegetais e/ou gorduras animais com alcoóis de cadeias curtas na presença de catalisadores ácidos, básicos ou enzimáticos. O custo final de produção do biodiesel é impactado em cerca de 80% pelo preço da matéria prima utilizada e, por esse motivo diversos estudos têm avaliado matérias-primas residuais como fontes lipídicas para a produção de biodiesel, tais como: gorduras animais e óleos residuais devido as suas vantagens econômicas e ambientais (MOHEBBI et al, 2020). Nesse contexto, catalisadores ácidos sólidos têm recebido considerável atenção, uma vez que podem ser utilizados em reações de transesterificação utilizando matérias primas de baixa qualidade, sem proporcionar a formação de sabão e possibilitando a recuperação e reutilização do catalisador em outras reações. Dentre os diversos tipos de catalisadores ácidos heterogêneos, é comum o uso de sólidos metálicos ácidos impregnados em suportes catalíticos, tal como o trióxido de molibdênio (MoO3), devido a sua eficiência na produção de biodiesel (PINTO et al, 2019). Além disso, suportes magnéticos vêm despertando interesse, uma vez que facilitam a separação e reutilização do catalisador, por meio da aplicação de um campo magnético (SALIMI et al, 2019). Neste sentido, o presente estudo tem por objetivo o estudo das variáveis de síntese de catalisador magnético sólido ácido, constituído de MoO3 ancorado em suporte magnético de estrôncio, e aplicá-lo à produção de biodiesel, utilizando óleo residual de fritura e metanol.
Material e métodos
O nitrato de estrôncio (Sr(NO3)2) e o metil heptadecanoato (99%) foram comprados da Sigma-Aldrich, cloreto de ferro III (FeCl3) foi comprado da Isofar, ácido clorídrico (37%), álcool etílico (99,8%) e álcool metílitico (99,8%) foram adquiridos da Vetec. O heptamolibdato de amônio ((NH4)6Mo7O24 4⋅H2O) e o hidróxido de sódio (97,0%) foram comprados da Dinâmica. Além disso, heptano foi comprado da Exodus. O óleo residual de fritura utilizado (acidez de 4,1 mg KOH g-1) foi coletado junto ao restaurante da Universidade Federal do Pará (UFPA). No processo de síntese do catalisador, primeiramente a ferrita de estrôncio foi preparada pelo método de co-precipitação. Inicialmente, FeCl3 foi dissolvido em água sob agitação mecânica. Em seguida, a massa de Sr(NO3)2 foi adicionada à mistura na proporção mássica de 2:3 de Sr/Fe. Após, adicionou-se lentamente solução de NaOH (4,0 mol L–1) até que a mistura atingisse pH=12, seguida de agitação mecânica por 4 h/25 °C. Em seguida, o precipitado marrom formado foi lavado com água até pH=7, filtrado, seco em estufa à 70 °C/12 h e calcinado a 600 °C/3 h, a fim de obter a SrFe2O4. Na síntese do catalisador, utilizou-se o método de impregnação via úmida. Primeiramente, uma determinada massa de SrFe2O4 foi dispersada em um béquer contendo água destilada, ao qual adicionou-se heptamolibdato de amônio ((NH₄)₆Mo₇O₂₄ 4.H₂O), na quantidade que permitisse obter concentrações de 20, 25, 30, 35 e40% do metal molibdênio na composição final do catalisador. Em seguida, a mistura foi mantida sob agitação mecânica por 2 h/25 °C, seco em estufa a 70 °C/10 h, seguida de calcinação nas temperaturas de 300, 350, 400, 450 e 500 °C por tempos de 2, 3, 4, 5 e 6 h. Na realização das reações de transesterificação utilizou-se um reator PARR 5000 Multireactor com controle de temperatura e agitação fixa em 700 RPM. O catalisador sintetizado nas condições ótimas de síntese foi caracterizado, quanto à sua acidez superficial, por meio de titulação ácido-base, em que 0,1 g do catalisador MoO3/SrFe2O4 foi colocado em 20 mL de solução padrão de NaOH (0,1 mol L–1) e agitado por 4 h à temperatura ambiente. Após, a amostra foi centrifugada e o sobrenadante foi titulado com solução padrão de HCl (0,1 mol L–1) utilizando fenolftaleína como indicador. O catalisador MoO3/SrFe2O4, a ferrita SrFe2O4 e o MoO3 também foram caracterizados por difratogramas de raios-X (DRX) pelo método do pó em um difratômetro da PANalytical, modelo EMPYREAN. A radiação empregada e o intervalo de escaneamento foram de Cu Kα (1.541874 Å) à 40 KV e 30 mA e 8°<2θ<90°. Além disso, o catalisador MoO3/SrFe2O4, a ferrita SrFe2O4 e o MoO3 foram caracterizados pela técnica de espectroscopia no infravermelho com Transformada de Fourier (FT–IR), por meio de um equipamento FTIR Shimadzu modelo IR Prestige-21 na faixa de 400 a 2000 cm–1.
Resultado e discussão
A influência da dosagem do metal molibdênio na composição final do
catalisador, bem como a temperatura e o tempo de calcinação adotados na
preparação do catalisador MoO3/SrFe2O4 foram avaliados em relação ao teor de
éster dos biodieseis sintetizados, como mostra as Figuras 1 (a), (b) e (c).
Vale ressaltar que nesta etapa de testes catalíticos, todas as reações de
transesterificação foram realizadas em condições reacionais não otimizadas,
considerando a temperatura reacional de 150 °C, razão molar álcool:óleo de
30:1, dosagem de catalisador de 5,0% e o tempo reacional de 3 h. O teor de
éster do biodiesel sintetizado sem o emprego do catalisador (teste em
branco) foi de 4,5%. Assim, a magnitude dos valores de teores de ésteres dos
biodieseis sintetizados está relacionada diretamente com a atividade
catalítica de cada material estudado. O valor ótimo da dosagem de molibdênio
foi determinado a partir da comparação dos valores de teores de ésteres dos
biodieseis obtidos nas reações de transesterificação utilizando
catalisadores com diferentes concentrações de molibdênio, tais como 20, 25,
30, 35 e 40%. A partir da análise dos dados apresentados na Figura 1 (a),
percebe-se que os valores de teor de éster dos biodieseis aumentam à medida
que se proporciona uma elevação do percentual de Mo nos catalisadores,
alcançado o valor máximo de teor de éster de 91,5% para o biodiesel
sintetizado empregando o catalisador com concentração de Mo de 35%.
O efeito dos tempos de calcinação de 2, 3, 4, 5 e 6 h foram investigados e
os resultados estão demonstrados na Figura 1 (b). Em relação à influência do
tempo de calcinação nos teores de ésteres dos biodieseis obtidos, percebe-se
que os maiores valores são alcançados ao processarem as reações de
transesterificação utilizando os catalisadores calcinados nos tempos de 2, 3
e 4 h, com teores de ésteres de 91,0%, 89,4% e 91,5%, respectivamente.
Assim, o catalisador calcinado à 2 h, ou seja, o menos oneroso ao processo,
foi selecionado dentre os demais, uma vez que os biodieseis sintetizados não
demonstraram diferenças significativas nas magnitudes dos teores de ésteres
analisados.
A influência da temperatura de calcinação sobre o teor de éster dos
biodieseis foi investigada analisando as temperaturas de 300, 350, 400, 450
e 500 °C, e os resultados estão presentes na Figura 1 (c). Observa-se que
ocorre um aumento do valor de teor de éster à medida que se aumenta a
temperatura de calcinação, devido provavelmente ao fato de que a
cristalinidade do MoO3 é importante no processo de transesterificação e é
influenciada quando submetida à diferentes temperaturas (PINTO et al, 2019).
Os catalisadores calcinados nas temperaturas de 450 °C e 500 °C
proporcionaram para os biodieseis produzidos os maiores valores de teores de
ésteres de 90,8% e 91,0%, respectivamente. Este fato, sugere não haver
diferenças significativas entre ambas as temperaturas de calcinação
estudadas, conferindo ao catalisador calcinado a 450 °C o selecionado como o
que apresentou maior desempenho em relação aos demais. Nesse sentido, o
catalisador sintetizado com dosagem de 35% de Mo na composição e calcinado
na temperatura e tempo de 450 °C e 2 h, respectivamente, foi selecionado
devido apresentar elevado desempenho catalítico na reação de
transesterificação, resultando em um biodiesel com elevado teor de éster,
aproximadamente 91,0%.
A determinação da acidez superficial do catalisador foi realizada por meio
de titulação com NaOH, a fim de identificar os sítios ácidos de Brönsted. O
catalisador MoO3/SrFe2O4 apresentou um valor de 7,12 mmol H+ g–1, valor
cerca de três vezes superior ao valor da acidez superficial do suporte
SrFe2O4 (2,46 mmol H+ g–1), este fato comprova a presença de MoO3 no
catalisador, uma vez que o aumento da acidez indica a presença de sítios
ácidos, decorrentes da acidez de Brönsted referente ao MoO3 impregnado no
suporte.
O padrão de difração de raios-X para o MoO3, SrFe2O4 e catalisador
MoO3/SrFe2O4 são mostrados na Figura 2 (a). Os picos de difração
majoritários da estrutura do MoO3 (Linha azul) referentes à fase hexagonal
(h-MoO3) estão dispostos em 25,7°, 29,7°, 33,7°, 45,8° e 46,3° e à fase
ortorrômbica (α-MoO3) em 12,7°, 22,9°, 27,3°, 33,1°, 35,5°, 39°, 49,2°,
55,2° e 58,8° (THANGASAMY et al, 2018). No difratograma relativo à SrFe2O4
(Linha vermelha), uma série de picos característicos da SrFe2O4 são
observados em 29,8°, 35,6°, 32,2°, 37°, 44,6°, 47° e 58,3° (PARDESHI et al,
2011). Além disso, os picos presentes em 25°, 33°, 35°, 49,8°, 54,1°, 62,5°
e 64,1° são característicos da estrutura Fe2O3 (BAIG et al, 2019). No
difratograma do catalisador MoO3/SrFe2O4 (Linha preta), são observados os
picos em 22,9°, 27,3° e 55,2° relacionados ao MoO3, o que confirma o êxito
do processo adotado para a impregnação do MoO3 à ferrita SrFe2O4. Além
disso, a baixa intensidade dos picos referentes ao MoO3 no difratograma do
catalisador MoO3/SrFe2O4, pode ser explicado pela dispersão desse material
no suporte.
Os espectros FT–IR para o MoO3, SrFe2O4 e catalisador MoO3/SrFe2O4 são
mostrados na Figura 2 (b). No espectro referente ao MoO3 (Linha azul), as
bandas identificadas em 445 cm–1 e 977 cm–1 são características da fase
hexagonal h-MoO3 e são referentes aos modos normais de vibração (MNV) de
estiramento assimétrico e simétrico, associado à ligação Mo–O–Mo e Mo=O,
respectivamente. A banda presente em 536 cm–1 é característica da fase
ortorrômbica (α-MoO3) e faz referência ao MNV da interação entre o átomo de
oxigênio com três átomos do metal. Além disso, as bandas presentes em 812
cm–1 e 840 cm–1 são características da fase α-MoO3 e referem-se ao MNV de
estiramento assimétrico associados as ligações Mo–O–Mo (CHITHAMBARARAJ et
al, 2011).
No espectro referente ao SrFe2O4 (Linha vermelha) as bandas presentes em 433
cm–1 e 516 cm–1 são características das ferritas de tipo espinélio e são
atribuídas ao MNV associado às ligações entre o metal (Sr e Fe) e o oxigênio
presentes nos sítios tetraédrico e octaédrico, respectivamente (PARDESHI et
al., 2011). Além disso, as bandas presentes em 854 cm–1 e 1452 cm–1 devem-se
ao MNV associado à ligação Fe–O e a deformação angular da ligação O‒H devido
à presença do grupo –OH na ferrita, respectivamente (SINGH et al, 2017). No
espectro referente ao catalisador MoO3/SrFe2O4 (Linha preta), as
bandas presentes em 433 cm–1 e 516 cm–1 são características das ferritas de
tipo espinélio e são atribuídas ao MNV associado às ligações entre o metal
(Sr e Fe) e o oxigênio presentes nos sítios tetraédrico e octaédrico. Além
disso, a banda presente em 798 cm–1 e 958 cm–1 devem-se, respectivamente, ao
MNV de estiramento simétrico e assimétrico referente às ligações Mo=O e Mo–
O–Mo. (SINGH et al, 2017). Além disso, o catalisador foi separado dos
produtos da reação de transesterificação por meio da aplicação de um campo
magnético, o que evidencia o caráter magnético desse material, como mostrado
na Figura 2 (c).
Influência da (a) dosagem de molibdênio, (b) tempo de calcinação e (c) temperatura de calcinação.
(a) DRX do MoO3, SrFe2O4 e MoO3/SrFe2O4; (b) FTIR do MoO3, SrFe2O4 e MoO3/SrFe2O4; (c) separação do catalisador por meio de um campo magnético.
Conclusões
Por meio do estudo das variáveis de síntese, o catalisador impregnado com 35% de molibdênio e calcinado a 450 °C por 2 h foi o que apresentou melhor desempenho catalítico. Além disso, a reação de transesterificação na qual foi empregado o catalisador sintetizado nas condições ótimas, apresentou teor de éster de aproximadamente 91%, bem como foi mostrado o caráter magnético do catalisador por meio da sua separação quando submetido a um campo magnético.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Laboratório de Catálise e Oleoquímica (LCO), Laboratório de Pesquisa e Análise de Combustíveis (LAPAC) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Referências
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CHITHAMBARARAJ, A. BOSE, A. C. Hydrothermal synthesis of hexagonal and orthorhombic MoO3 nanoparticles. Journal of Alloys and Compounds, v. 509, p. 8105¬ 8110, 2011.
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