A educação em tempos de pandemia: Uma pesquisa feita em torno da realidade dos alunos do ensino técnico concomitante/subsequente do campus Duque de Caxias do Instituto Federal do Rio de Janeiro
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ÁREA
Ensino de Química
Autores
Ramos, D.S. (IFRJ) ; de Oliveira, M.S.N. (IFRJ)
RESUMO
Devido a pandemia de covid-19, e o fechamento das escolas, profissionais da educação se viram desafiados a encontrar novos métodos de ensino-aprendizagem de crianças, jovens e adultos. (Instituto Rodrigo Mendes, 2021) As atividades educacionais se iniciaram de forma remota no ano de 2020 e as desigualdades foram acentuadas. Muitos educandos que já não tinham pleno acesso à educação ficaram desamparados. Com esse cenário, o objetivo deste trabalho foi avaliar as dificuldades e desafios do ensino remoto durante a pandemia de COVID-19 na disciplina de Química Geral do primeiro período (PGC311) do curso técnico concomitante/subsequente em Petróleo e Gás a partir de uma pesquisa de vulnerabilidade social.
Palavras Chaves
pandemia; remoto; química
Introdução
Com a crise pandêmica global, a quarentena foi instalada mundialmente e no Brasil não foi diferente. No mês de fevereiro de 2020, foi diagnosticado no Brasil o primeiro caso da COVID-19 e, em março daquele ano, o Ministério da Educação aprovou a substituição das aulas presenciais por aulas remotas emergenciais, através de meios digitais, devido às medidas de distanciamento social adotadas em diversos Estados do país. Nesse contexto, foi utilizada uma configuração do processo de ensino- aprendizagem denominada educação remota, isto é, práticas pedagógicas mediadas por plataformas digitais, como aplicativos com os conteúdos, tarefas, notificações e/ou plataformas síncronas e assíncronas como o Teams (Microsoft), Google Classroom, Google Meet, Zoom (GOMES, 2020). Dessa forma, a população brasileira, ao enfrentar a pandemia, esteve em estado de isolamento social e diversas instituições de ensino adotaram as aulas remotas como forma de ensino em caráter emergencial. Com todos esses fatos recorrentes da pandemia de COVID-19, houve a inquietação de serem analisadas as dificuldades e as estratégias para se lidar com as questões educacionais em tempos de afastamento social da forma mais adequada e eficaz possível dentro das condições estabelecidas. Neste contexto, parte-se da hipótese de que o cenário atual apresenta algumas situações de dificuldade e excepcionalidade que influenciam na aprendizagem através das novas tecnologias, principalmente quando tratamos de educandos em situação de vulnerabilidade social (FOGUEL, 2018).
Material e métodos
A presente pesquisa foi desenvolvida com base em abordagem semi-quantitativa. Os educandos da turma PGC311 responderam a um formulário desenvolvido no aplicativo Google Forms, onde perguntas avaliavam as dificuldades e os desafios enfrentados por esses educandos durante o ensino remoto. O formulário foi composto por 9 questões, sendo 4 de múltipla escolha e as demais de respostas curtas. Os resultados foram obtidos com base no percentual de respostas de cada aluno e divididas em positivas e negativas.
Resultado e discussão
A turma em análise possui 21 inscritos, porém apenas 17 educandos participam das
aulas e atividades avaliativas. As salas de aula virtuais dispõem de aplicativos
que podem ser instalados em dispositivos eletrônicos tais como: computador,
tablet, celular, etc.) Ao iniciar os encontros síncronos e ou/assíncronos
espera-se que os estudantes se comportem como se estivessem em uma sala de aula
real.
Em contrapartida, o acesso a esses aplicativos, exige aparelhos eletrônicos.
Segundo a pesquisa G1 Educação, “39% dos estudantes de escolas públicas urbanas
não têm computador ou tablet em casa”. (G1, 2019) Isso caracteriza uma grande
dificuldade no ensino remoto de química. Sem computadores, celulares, notebooks
ou até mesmo acesso a internet fica evidente a dificuldade que os alunos
enfrentam para acessar os conteúdos apresentados nas aulas remotas.
A partir dos resultados obtidos durante a avaliação do formulário foi notório
que, dentre os 11 educandos que se sentiram à vontade para responder a pesquisa,
6 se encontravam razoavelmente satisfeitos, 4 muito satisfeitos e 1 pouco
satisfeito com as aplicações de aula e materiais nas plataformas utilizadas para
o ensino à distância como mostra o gráfico:
Em relação à ferramenta utilizada para as aulas, o smartphones foi citado por
45,5% dos educandos e os 54,6% ficaram divididos entre notebook e computador de
mesa. Essa diferença acontece por causa de uma desigualdade de acesso. Seguindo
a pesquisa notamos que cerca de 40% dos educandos compartilham o dispositivo que
usa para as aulas com outras pessoas da sua residência. Observou-se também que
apenas 30% dos alunos concordam que a educação a distância tem sido eficaz.
A partir disso, podemos afirmar que, se atualmente a única forma de acesso à
educação é por meios virtuais, o direito ao acesso à educação passa diretamente
pelo direito ao acesso às tecnologias necessárias para isso, mas a realidade tem
trazido desafios. Se por um lado, a educação remota tem sido uma forma de
garantir a educação de muitos educandos resguardando a saúde da população, por
outro lado a educação via virtual pode segregar uma parcela de alunos,
desfavorecidos economicamente (BOTO, 2020).
O Instituto Federal do Rio de Janeiro oferece aos educandos em vulnerabilidade
social o auxílio-conectividade, onde os alunos recebem tablets e chips para
melhor acompanhar suas aulas. Na turma em análise apenas 27,3% dos educandos
solicitaram o auxílio em voga. Percebeu-se que 80% dos educandos que responderam
o questionário só conseguem dedicar, no máximo, 3 horas de seu dia para estudo
durante o ensino remoto. A maior parte dos educandos, no cenário atual,
trabalham e/ou realizam outras atividades, como faculdade, cuidados com filhos e
a casa, o que influencia significativamente em seus estudos.
Satisfação dos alunos com as aplicações de aula e materiais nas plataformas utilizadas para o ensino à distância
Conclusões
O presente trabalho apresenta um contexto complexo e importante, sendo de extrema importância repensar os rumos da educação por via remota. Tornando evidentes as desigualdades e seus desafios, a pandemia evidenciou que o ensino remoto emergencial, acaba não considerando as múltiplas realidades brasileiras que precisam ser melhor planejadas, priorizando questões ligadas à realidade da escola e os perfis dos estudantes. Em pesquisa, diversos educandos revelaram suas dificuldades no acesso e no acompanhamento dos conteúdos postados pelos docentes. MOYSÉS (1995, p. 10) evidencia isso ao afirmar que “um dos problemas mais graves da nossa escola em todos os níveis é o baixo nível de aproveitamento dos alunos; a aprendizagem dos conteúdos escolares é algo que envolve os processos mentais superiores e se dá no interior de um ser social e historicamente contextualizado”. A partir disso, é importante acrescentar que a esse período deve-se desconstruir conceitos relacionados à cultura do ensino presencial até então não vivenciados. O propósito não é ir contra o ensino remoto (essencial no período pandêmico), mas revelar parte da realidade educacional e social agravada pela pandemia, provocando reflexões acerca da necessidade de uma sociedade mais igualitária, tendo assim melhorias na formação docente e novos projetos que garantam o direito à educação com igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola tendo garantia de padrão de qualidade do ensino.
Agradecimentos
Referências
BOTO, Carlota. A educação e a escola em tempos de coronavírus. Jornal da USP, ano 2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/artigos/a-educacao-e-a-escola-em-tempos-de-coronavirus/. Acesso em: 20 set. 2021.
FOGUEL, D., et al. Educação Técnico-Científica no Ensino Médio. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2018
GOMES, Helton. Como o Google quer fazer você esquecer do Zoom para videoconferências. Uol. Publicado em 29 de abril de 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/04/29/como-o-google-quer-fazer-voce-esquecer-do-zoom-para-fazer-videoconferencias.htm. Acesso em: 20 set. 2021.
MOYSÉS, L. M. O desafio de saber ensinar. 2ª ed., Campina: Papirus; Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1995.
OLIVEIRA, Elida. Quase 40% dos alunos de escolas públicas não têm computador
ou tablete em casa. G1 Educação. Estudo Educação G1, 09 jun. 2020. Disponível
em:https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/06/09/quase-40percent-dos-alunosde-escolas-publicas-nao-tem-computador-ou-tablet-em-casa-aponta-estudo.ghtml.
Acesso em: 28 set. 2021.
Você conhece a seção DIVERSA na pandemia?. São Paulo, SP: Beatriz Vichessi, 29 jun. 2021. ORGANIZAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS (São Paulo). Instituto Rodrigo Mendes. Disponível em: https://institutorodrigomendes.org.br/secao-diversa-na-pandemia/. Acesso em: 19 set. 2021.