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60º COngresso Brasileiro de Química

Ciência para a redução das desigualdades com o olhar para o desenvolvimento da Amazônia: QUIZ LÚDICO como instrumento de contextualização


ÁREA

Ensino de Química

Autores

Santos, R.F. (UEA) ; Tavares, I.S. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA) ; Assis Júnior, P.C. (UEA) ; Baraúna, F.S. (UEA) ; Sá, K.G. (UEA)

RESUMO

Esta pesquisa foi desenvolvida na disciplina de Didática vinculada ao Curso de Licenciatura em Química. Os resultados foram apresentados e contextualizados na XV Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) que defendia a temática “Ciência para a Redução das Desigualdades”. A SNCT visava mostrar as contribuições das Ciências Sociais e Humanas para a redução das desigualdades no Brasil, daí a importância de se refletir sobre essa temática com o olhar voltado para o contexto social local. Em decorrência desse fato, elegemos os Temas Transversais para subsidiar a elaboração e aplicação de um “Quiz lúdico”, fundamentado nos princípios da inter e a transdisciplinaridade que evidencia questões relacionadas com a temática proposta pela XV SNCT.

Palavras Chaves

Temas Transversais; QUIZ; XV SNCT

Introdução

A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) foi instituída pelo Decreto Presidencial de 09 de junho de 2004 (BRASIL, 2004), tomando por base o Art. 84, inciso II, da Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988). Neste documento consta que no mês de outubro de cada ano, a SNCT deverá ser realizada em todas as unidades federativas e atribui ao Ministério da Ciência e Tecnologia sua coordenação e às instituições de ensino e pesquisa, grupos sociais, associações, ONGs e outras esferas da sociedade, a realização de atividades que deverão subsidiar o evento. Para contextualizar o tema da SNCT de 2018 “Ciência para a redução das desigualdades”, situaremos a Amazônia, partindo das diretrizes do Plano Regional de Desenvolvimento da Amazônia (PRDA) (SUDAM, 2020) elaborado para o quadriênio 2020-2023 que visa alcançar o crescimento econômico sustentado, promover o bem-estar, a cidadania e a inclusão social, com foco na igualdade de oportunidades e no acesso a serviços públicos de qualidade, por meio da geração de renda e redução das desigualdades sociais e regionais, assegurando a sustentabilidade ambiental. Na perspectiva de Becker (2009), o modelo de desenvolvimento da Amazônia brasileira deve incluir a modernização dos setores econômicos tradicionais, evidenciando a sustentabilidade, a utilização da biotecnologia na criação de novos produtos e serviços, liberação de fomentos para o desenvolvimento de ações e atividades que possibilitem a manutenção da floresta. Compreender as concepções de desenvolvimento desenhadas para esta região, segundo Oliveira e Carleial (2013) tem se apresentado um grande desafio, uma vez que diversas visões e entendimentos, muitas vezes distorcidos e sem fundamentação técnica e/ou teórica, pautaram historicamente o desenvolvimento deste território tão diverso e com características próprias. Para Sá, Nascimento e Silva (2019) os resultados do modelo de desenvolvimento da Amazônia, têm contribuído com problemas socioambientais, associado a exploração da força de trabalho nos distintos processos produtivos. Os resultados desses processos vêm afetando a vida das populações que habitam a Amazônia. De acordo com Richter (2021), o vice- presidente da República, Hamilton Mourão, defende um modelo de desenvolvimento para a Amazônia que seja sustentado e fomentado pela pesquisa e inovação. Mas para isso, é preciso combater o desmatamento, mapear e expandir as cadeias produtivas, as cadeias de valor, possibilitando um adensamento da atividade industrial e, sobretudo, que sejam destinados recursos para o investimento em ciência, tecnologia e inovação. Se a proposta desenhada por Mourão se concretizar, as desigualdades sociais nessa região serão minimizadas. A desigualdade social é um fenômeno que afeta a todos nós e se consolida com o crescente índice de violência e criminalidade, com a fome e o desemprego, que nestes dois últimos anos cresceu significativamente em decorrência da pandemia. Além dessas, existem outras que precisam ser extirpadas do contexto social, relacionadas aos gêneros, crença religiosa, raça, região e educação. Esse fragmento é corroborado pelo Art. 3º da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que propõe a construção de uma sociedade livre, justa e solidária [...], a erradicação da pobreza e da marginalização, redução das desigualdades sociais e regionais; promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Em vista disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) surgem no contexto educacional com o propósito de atender as prerrogativas da Constituição Federal (BRASIL, 1988), estabelecendo seis eixos temáticos: ética, orientação sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, trabalho e consumo para serem contextualizados nas escolas de forma transversal e interdisciplinar com o intuito de erradicar do meio social estes tipos de práticas discriminatórias. Esse fragmento é corroborado também pelo PRDA (SUDAM, 2020) que objetiva promover uma educação na perspectiva do desenvolvimento sustentável, estimular o espírito crítico de cidadania, valorizar a diversidade e promover o combate a toda forma de preconceito étnico, social, de classe, gênero, cor, religião, orientação sexual ou deficiência. Esses documentos oficiais associados à temática da XV SNCT de 2018, possibilitou trazer para o contexto da disciplina de Didática, ofertada aos licenciandos do Curso de Licenciatura em Química da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o estudo dos temas transversais. Para apresentar os temas foi elaborado um material didático denominado “Quiz lúdico” para atender um dos objetivos da disciplina e da SNCT de 2018

Material e métodos

Essa pesquisa é de natureza aplicada do tipo qualitativa que sustenta a produção de estudos que envolvem problemas sociais, de aprendizagens e/ou de interesses locais. Esta abordagem não se preocupa com o uso e a descrição de métodos e técnicas estatísticas; considera aspectos da realidade social que não podem ser quantificados, mas compreendidos e explicados a partir das relações sociais (GERHARDT e SILVEIRA, 2009). As atividades desenvolvidas tinham o intuito de atender alguns objetivos da disciplina Didática que envolviam conteúdos e métodos, planejamento de ensino, avaliação e prática docente. Em vista disso, foi elaborado um material didático intitulado “Quiz lúdico” com o propósito de sustentar a linha de pesquisa “Educação Lúdica” apresentada no Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química (PPC, 2019). Esta linha possibilita um novo olhar sobre a utilização do lúdico como instrumento didático no ensino de Química. Esse recurso quando utilizado para esse fim, estimula a criatividade e amplia o horizonte dos licenciandos e contribui com a aprendizagem dos alunos da educação básica. A atividade foi estruturada em quatro momentos distintos: 1°) estudo e análise dos temas transversais; 2º) elaboração do material didático “Quiz lúdico” nas aulas de Didática; 3º) aperfeiçoamento do material (regras, formatação, definição das questões, respostas e cartelas) e 4º) apresentação e contextualização do material na XV SNCT. O material lúdico (roleta) foi confeccionado em placa de metal, usando imãs, quadros brancos (20 x 30cm), apagadores e pincéis, utilizados para escrever as respostas das perguntas. Os resultados foram apresentados nas aulas de Didática e na XV SNCT.

Resultado e discussão

A temática desta pesquisa nos mostrou que os Temas Transversais são eixos que podem transitar por diversas áreas de conhecimentos. De acordo com Amorim, Sousa e Sarmento (2018), no ensino de Química a transversalidade fornece informações que possibilitam ler o mundo com outras lentes. Além disso, os eixos temáticos ajudam a refletir sobre as competências que podem ser desenvolvidas para melhorar a sociedade em que vivemos, a pensar em uma prática docente que vá além da escola e que permita ultrapassar as fronteiras disciplinares, que fragmentam os saberes e suscitam o reducionismo do conhecimento. O PRDA 2020-2023 (SUDAM, 2020) pautado na premissa da sustentabilidade, visa compatibilizar o desenvolvimento econômico da Região Amazônica, minimizar as desigualdades sociais respeitando o meio ambiente. Alinhado a estratégia da nova política regional brasileira, trata a sustentabilidade como elemento transversal do desenvolvimento regional. Na figura 1 são evidenciadas as temáticas contempladas no Quiz lúdico e os possíveis assuntos que podem ser abordados de forma inter e transdisciplinar. A temática “desigualdades sociais” nesta pesquisa foi amparada nos estudos desenvolvidos por Pires (2020) que com base na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, 2017), destaca o entrelaçamento do eixo de desigualdades econômicas (classes de renda) com os eixos de desigualdades de gênero, étnico- raciais, territoriais e derivadas de idade ou etapa do ciclo de vida das pessoas, como estruturantes de um processo de produção e reprodução de relações sociais desiguais e experiências pessoais marcadas pela acumulação histórica de exclusões. Essas formas e mecanismos de discriminação também se baseiam em estereótipos, que priorizam e desqualificam as pessoas certos grupos sociais com base em seu sexo, etnia, raça ou cor de pele, orientação sexual, status socioeconômico ou outra condição, que está presente em diversos campos da vida social e que, assim como a discriminação, permeiam as próprias instituições e por elas são reproduzidas (CEPAL, 2016). A reflexão sobre essas complexas desigualdades sociais nos permite um olhar mais detido aos processos de implementação de políticas públicas por aqueles que governam os estados localizados na Amazônia brasileira. De acordo com o PRDA (SUDAM, 2020), para reduzir as desigualdades nesta Região é necessário elaborar estratégias, com foco na utilização econômica e racional da biodiversidade, considerada como diferencial para o desenvolvimento produtivo e inclusivo, integrando e diversificando sua base produtiva, com agregação de valor. A temática “Ciência para a redução das desigualdades com o olhar para o desenvolvimento da Amazônia” é corroborada pelo PRDA (SUDAM, 2020) que sustenta o novo paradigma de desenvolvimento para a Amazônia brasileira elegendo como eixo central “Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)”. No entanto, esse fato, requer o fortalecimento do Sistema Regional de CT&I e de seus pilares fundamentais que incluem: pesquisa, infraestrutura, financiamento, recursos humanos e inovação. Ao fortalecer algumas dessas áreas, busca-se o direcionamento desse sistema para a criação de processos, produtos e serviços mais densos em conhecimentos voltados para a solução de problemas que assolam a região e com grande capacidade de geração de riquezas conforme o seu potencial regional (BRASIL, 2013). Para que as desigualdades sociais sejam minimizadas na Região Amazônica, é preciso que o conhecimento sobre a Região venha subsidiar as políticas públicas pensadas para a Amazônia, sendo um instrumento eficaz para a intervenção no território visando o seu desenvolvimento (ARAGÓN, 2015). Esta pesquisa mostrou a possibilidade de trazer para o curso da formação de professores de Química na Amazônia, os Temas Transversais contextualizados através de um instrumento lúdico (Figura 2). As pesquisas na área da educação têm chamado a atenção para as formas como os conteúdos de Química vem sendo abordados na escola e na universidade. Estes conteúdos há anos vêm sendo reproduzidos em sala de aula de forma fragmentada, sem contextualização com a realidade dos alunos. Essa dinâmica acaba impactando a formação dos professores e a aprendizagem dos alunos. A Química de modo geral pode se configurar um instrumento de formação humana, com possibilidades de ampliação de horizontes culturais locais e promoção da cidadania. A partir do momento que o conhecimento químico for reconhecido como uma das formas de interpretar o mundo e intervir na realidade, se for apresentado como ciência, com seus conceitos, métodos e linguagens próprios, como construção histórica, relacionada ao desenvolvimento tecnológico e aos muitos aspectos da vida em sociedade, estará colaborando com o processo de valorização dos conhecimentos tratados por essa ciência nos espaços formais e não formais de aprendizagem (BRASIL, 2006).

FIGURA 1

temáticas contempladas no Quiz lúdico e os possíveis assuntos que podem ser abordados de forma inter e transdisciplinar

Figura 2

Registros da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT)

Conclusões

Essa pesquisa demonstrou a necessidade de abordar esse tema nas escolas e nas universidades, nos centros comunitários e nas associações, nas comunidades rurais, nos centros urbanos e outros espaços da sociedade para que juntos possamos desenvolver estratégias de aperfeiçoamento e ampliação de dinâmicas bem sucedidas, principalmente as que utilizam os produtos da biodiversidade Amazônica. As desigualdades inter e intrarregionais são visíveis nesta Região pois, as oportunidades de trabalho e o acesso aos serviços de saúde e educação de qualidade estão concentrados em áreas mais desenvolvidas e aos grandes centros urbanos locais. Para a redução dessas desigualdades, dentre outros fatores, é preciso que o nosso olhar esteja voltado para o uso sustentável de recursos naturais, para a restauração da floresta desmatada, zoneamento econômico e ambiental e para as comunidades tradicionais (índios, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, seringueiros, pescadores, ceramistas e outras populações) que com seus saberes ajudam na preservação e conservação do espaço social geográfico. A XV SNCT de 2018 que defendia o papel da Ciência para redução das desigualdades sociais, mostrou que através da contextualização de conhecimentos diversos, contribuem significativamente para a valorização e a conservação dos recursos naturais da Amazônia e de seu patrimônio cultural.

Agradecimentos

Agradecemos especialmente aos professores da disciplina de didática pela proposta de elaboração desse artigo. Aos integrantes do grupo que, mesmo com dificuldades e pouco tempo, se empenharam na realização das atividades.

Referências

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