Carvão ativado de graviola como adsorvente para corante preto remazol B
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ÁREA
Química Inorgânica
Autores
Morandi, L. (UFRPE) ; Barros, I. (UFRPE) ; Hadassa, M. (UFRPE) ; de Almeida, R. (UFRPE) ; Ferreira, C. (UFRPE) ; de Melo, S. (UFRPE)
RESUMO
O descarte de resíduos gerados pelas indústrias têxteis pode causar grandes impactos ambientais, principalmente os corantes. Este estudo buscou minimizar esses impactos, utilizando a biomassa residual de graviola para produção e carvão ativado para fins de adsorção em meio aquoso. A biomassa foi caracterizada com um teor de umidade de 6,32%, teor de cinzas de 3,18%, e teor médio de materiais voláteis de 75,7%. O carvão ativado (CAG) foi obtido do resíduo de graviola, por meio da carbonização do resíduo e ativação com ZnCl2. O CAG foi caracterizado via DRX, FTIR e estudo do Ponto de Carga Zero (PCZ), além do ensaio de adsorção com corante preto remazol B. O valor de PCZ obtido foi de 5,04, sendo obtida uma remoção do corante de aproximadamente 55%, em pH=2.
Palavras Chaves
Carvão ativado; biomassa residual; catálise heterogênea
Introdução
Sabe-se que as indústrias têxteis descartam uma grande quantidade de resíduos poluentes nas águas. Os corantes são um dos principais agentes poluidores e podem gerar sérios problemas ambientais (FREIRE et al, p. 71- 76, 2017). Por isso, tem-se um aumento na atenção em relação a esses despejos, o que eleva a quantidade de estudos a respeito de processos de tratamento das águas. Os processos de adsorção são os principais estudados, e o carvão ativado, feito com biomassa residual, pode ser uma alternativa como adsorvente (DE COSTA et al, p. 1272-1285, 2015). Biomassa é definida como matéria orgânica de origem vegetal ou animal, e tem origem em diversas fontes, podendo ser derivada de resíduos agrícolas, alimentícios, dentre outros (TOSCANO, p. 312, 2018). Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a indústria alimentícia descarta cerca de um terço das partes comestíveis dos alimentos. Pela não utilização desses materiais, eles são chamados de “resíduos”, e o seu acúmulo pode trazer grandes consequências ambientais, o que torna importante o seu uso como biomassa (ARAÚJO, p. 44, 2017). A biomassa é composta essencialmente de celulose, hemicelulose e lignina (GABRIEL, p.122, 2019) (VIEIRA, p.102-212, 2014). Um dos adsorventes mais utilizados é o carvão ativado, pois possui uma grande área superficial, e é microporoso, aumentando sua capacidade de remoção de contaminantes (NEVES, 2015) (DE COSTA et al, p. 1272-1285, 2015). A forma como o carvão ativado pode ser obtido também o torna atrativo, através da calcinação da biomassa, seguida de ativação. (NEVES, 2015). Nesse contexto, este trabalho propõe o estudo do carvão ativado a partir da biomassa residual de graviola para aplicação na adsorção do corante preto remazol B em meio aquoso.
Material e métodos
Os resíduos das sementes de graviola foram primeiramente lavados, secos e triturados. Para determinação do teor de umidade, foi utilizada a norma D1762-84 (ASTM, 2013). As amostras foram aquecidas em forno mufla, resfriadas no dessecador, e foram pesadas. Após adição de amostra, foi levada a mufla, resfriada e pesada novamente. O teor de cinzas foi obtido através da calcinação da amostra em mufla. A determinação de materiais voláteis, teve como base a norma D1762-84 (ASTM, 2013). O procedimento foi feito com aquecimento e resfriamento da mufla, com colocação da amostra em um cadinho sobre a borda externa da mesma. O preparo do carvão ativado de biomassa de graviola (CAG) foi feito a partir da carbonização do resíduo da semente de graviola em forno mufla e ativação com ZnCl2 sendo agente ativante. A caracterização do carvão ativado foi feita utilizando as técnicas de Espectroscopia no Infravermelho (FTIR) e Difração de Raios-X (DRX), e o estudo do Ponto de Carga Zero (PCZ) do CAG. Para o estudo do PCZ do carvão ativado de semente de graviola, foi utilizado o método dos 11 pontos, com 11 pontos de pH para fazer a análise. Para a realização do ensaio de adsorção do carvão ativado com o corante preto remazol B, primeiramente foi feita uma curva de varredura para solução de 100 mg.L-1 do corante preto remazol. Então foi feita a curva analítica com soluções de 15, 25, 50, 100 e 125 mg.L-1, através de uma solução estoque de 250 mg.L-1. Para o ensaio de adsorção propriamente dito, foram utilizadas 3 soluções de 50 ml de 100 mg.L-1, com pH=2, 6 e 10, contendo CAG. As soluções foram postas em agitação constante, e de 30 em 30 minutos, retirada uma alíquota para medição da concentração de corante remanescente, até ser observado o equilíbrio do adsorvente com o corante.
Resultado e discussão
As amostras residuais de semente de graviola (annona muricata L.)
foram obtidas na Usina Experimental de Biodiesel de Caetés, unidade do
CETENE no estado de Pernambuco. O teor de umidade médio da semente de
graviola in natura, obtido foi de 6,32%, considerado baixo pela
literatura, se comparado com outros tipos de biomassa. O teor médio obtido
de cinzas foi de 3,18%, considerado relativamente baixo e pode levar ao
aumento na capacidade de adsorção do CAG. O valor médio obtido para o teor
de materiais voláteis foi de 75,7%, indicando que as sementes de graviola
são rapidamente carbonizadas. Resultados de DRX de CAG apresentou um halo de
difração em 2θ = 20º a 30º, evidenciando como material amorfo, apresentando
planos grafíticos desordenados (SANTOS, 2014) (FILHO, LOPES, p. 31-45,
2013). Espectros FTIR do CAG comparados aos CA’s comerciais, apresentaram
bandas largas do estiramento de grupos -OH de ácidos carboxílicos, por volta
de 3297 cm-1 e absorções em 2920 cm-1, que podem ser ditas como estiramentos
assimétricos e simétricos -CH, além das absorções próximas a 1025 cm-1
características de -CO de álcoois e fenóis. Outras, correspondentes a C≡C em
2103 cm-1 e C=C de aromáticos em 1575 (PEREIRA et al, p. 476-486, 2014). O
valor do PCZ foi de 5,04, que é o pH onde se tem carga igual a zero (PERILLI
et al, p. 264-271, 2014) (RODRIGUES et al, 2019). No ensaio de adsorção do
corante preto remazol B, em solução de pH=2 ocorreu remoção de 55%, enquanto
a solução de pH=6 e pH=10, 18% e 1%, respectivamente. Esses resultados estão
de acordo com o resultado do PCZ, já que para valores de pH abaixo de 5,04,
o esperado é que a adsorção seja mais efetiva do que para valores de pH
acima de 5,04.
Figura 1. Curva de remoção do corante remazol preto B em pH=2 Figura 2. Curva de remoção do corante remazol preto B em pH=6
Figura 1. Espetro de FTIR do carvão ativado da semente de graviola Figura 2. Espectros de DRX da semente de graviola e do seu carvão ativado.
Conclusões
A análise imediata da biomassa residual de graviola apresentou um baixo teor de cinzas, consistindo em candidata para preparação de materiais com propriedades de adsorção. Resultados de DRX e FTIR do carvão ativado da semente de graviola confirmaram a produção do carvão ativado com ZnCl2. O estudo do Ponto de Carga Zero do carvão ativado de biomassa de graviola confirmou a influência do PCZ na adsorção do corante preto remazol B, onde um valor de pH inferior ao PCZ (pH=2) removeu mais corante que um valor maior (pH=6 e 10).
Agradecimentos
A UFRPE, ao LAQUIMAT e ao CNPQ pelo apoio.
Referências
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ASTM Standard D1762-84. Standard Test Method for Chemical Analysis of Wood Charcoal. Philadelphia, USA: American Society for Testing and Materials, 2013
DE COSTA, Patrícia D.; FURMANSKI, Luana M.; DOMINGUINI, Lucas. Produção, caracterização e aplicação de carvão ativado de casca de nozes para adsorção de azul de metileno. Revista virtual de química, v. 7, n. 4, p. 1272-1285, 2015.
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