Silagem ácida de resíduos de filetagem de Piramutaba e Dourada para utilização em ração animal
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ÁREA
Química de Alimentos
Autores
Oliveira, J.S. (IFPA) ; Amaral Ribeiro, S. (UEPA) ; Tavares de Paula, M. (UEPA) ; Barros dos Santos, M.A. (UEPA)
RESUMO
O estudo teve como objetivo processar e caracterizar silagem ácida de resíduos de duas espécies de pescados amazônicos piramutaba, (Brachyplatystoma vaillantii) e dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), em quatro tempos de armazenamento, com vista à utilização em alimentação animal. As análises físico-químicas (umidade, cinzas, proteínas e lipídios) das silagens úmidas e das farinhas desengorduradas foram executadas em triplicata considerando quatro tempos de armazenamento. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA). As farinhas desengorduradas de dourada e piramutaba apresentaram valores proteicos de 66,78% e 66,64%, respectivamente. A utilização de resíduos de dourada e piramutaba apresentaram excelente potencial nutricional para utilização em ração animal.
Palavras Chaves
Ensilado Proteico; Aproveitamento de subprod; Meio ambiente
Introdução
Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura de 2016, a produção de pesca e aquicultura no Brasil deve crescer mais de 100% até 2025 (BRASIL, 2016). Em 2011, a produção pesqueira de peixes continentais foi de 243.820,7 t, representando 97,7% do total capturado. Entre as espécies que apresentaram os maiores volumes de desembarque em 2011 a espécie de piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) está em segundo lugar com 24.789,3 t e a espécie de dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) em quarto com 14.486,1 t (BRABO et al, 2016), evidenciando a importância dessas espécies para a economia do país, assim como no contexto social pelo envolvimento dos pescadores de comunidades ribeirinhas da região amazônica, além de atravessadores, comerciantes e consumidores do mercado interno e externo. A indústria, para atender todo esse mercado, realiza uma atividade pesqueira intensiva que compromete o meio ambiente, desde a captura de espécimes abaixo do tamanho mínimo para industrialização e descarte daqueles que não têm valor comercial, até o processamento como filetagem, o que gera de 60 a 70% de resíduos, que geralmente não são aproveitados, tornando-se um problema ambiental (VALENTE et al, 2018). Na piscicultura intensiva, as rações representam cerca de 70% dos custos de toda produção. A adequada nutrição é fundamental para otimizar o ganho de peso e a saúde dos peixes criados em cativeiros(SANTOS, et al, 2015). Alimentos alternativos que não interfiram no desempenho dos peixes criados em cativeiro e que ao mesmo tempo reduzam o custo de produção são desejados. O estudo teve como objetivo processar e caracterizar silagem ácida de resíduos de duas espécies de pescados amazônicos, com vista à utilização em alimentação animal.
Material e métodos
Para a elaboração e caracterização da silagem ácida foram utilizados resíduos de filetagem da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii – Valenciennes, 1840), doados por (Outeiro Indústria e Comercio de Pescados Ltda - Brasil), localizada na Ilha de Outeiro, próximo ao Distrito de Icoaraci, Belém, Estado do Pará e de dourada (Brachyplatystoma rousseauxii – Castelnau, 1855), doado por um beneficiador artesanal de filé de peixe de uma feira em Belém do Pará. Os resíduos foram embalados em sacos plásticos de polietileno, armazenados em caixa térmica com camadas de gelo triturados e levados ao Laboratório de Alimento do Centro de Ciência da Natureza e Tecnologia (CCNT) da Universidade do Estado do Pará (UEPA). O material residual foi cortado em pedaços menores e lavado para moagem, para obtenção de uma massa homogênea. A massa moída foi colocada em dois baldes de polietileno, em que cada um correspondia a um ensaio. Acrescentou-se em todos os ensaios 0,1% de sorbato de potássio usado como antifúngico e 0,1% de ácido cítrico como antioxidante (RIBEIRO et al, 2015). O ácido acético glacial P.A foi usado como agente acidificante. Constatou-se que a concentração a 17% (v/p) de ácido acético para as silagens de dourada e piramutaba apresentou melhor resultado, pois regulou o pH durante os 20 dias de experimento em valores iguais ou menores que 4,5 (JUNIOR e SALES, 2013). Todas as análises foram executadas em triplicata considerando quatro tempos de silagem: após a adição do ácido acético (T0), no sétimo dia de silagem (T7), no décimo quinto dia (T15) e por fim no vigésimo dia (T20). Os resultados obtidos para as silagens e as farinhas desengorduradas (p > 0,05) foram normalizados através do teste de Shapiro-Wilk e submetidos à ANOVA e ao teste de comparação de Tukey(α = 0,05).
Resultado e discussão
Após a adição do ácido acético glacial (17% v/p) nas duas silagens
experimentais todos os valores de pH se mantiveram igual ou abaixo de 4,3,
garantindo a qualidade das silagens. A caracterização físico-química da
silagem ácida úmida de dourada e piramutaba em função dos quatro tempos de
armazenamento apresentada na figura 1, mostra resultados estatísticos com
diferenças significativas nos teores de umidade, lipídios e proteínas das
silagens em relação ao tempo de armazenamento para cada espécie e entre as
duas espécies. Considerando os teores de proteínas presentes nas silagens
úmidas, verificou-se diferença estatística nas médias aritméticas calculadas
em relação ao tempo para as duas silagens. A maior média para o ensilado
úmido de dourada foi obtida no 5º dia com valor de 13,10%, e para a
piramutaba, no 15º dia, com 12,86%. (figura 1).No 7º e 15º dias, foram
identificados as maiores médias de proteína e não foi visualizada diferença
estatística significativa entre esses valores tanto para a silagem de
dourada quanto para a silagem de piramutaba, indicando esses dois momentos
como os mais adequados para produção de farinha de silagem. Para a farinha
desengordurada, os resultados da caracterização química apresentados na
figura 2, mostram médias dos teores de umidade, cinzas e lipídios diferentes
estatisticamente para as duas farinhas. O destaque maior foi para as altas
médias nos teores de proteínas encontrados nas farinhas desengorduradas de
dourada e piramutaba: 66,78% e 66,64%, respectivamente.De acordo com o
RIISPOA (BRASIL, 1980), farinhas de pescado com no mínimo 60% de proteínas,
máximos de 10% de umidade e 8% de lipídios, são classificadas como de 1ª
qualidade. Portanto, pode-se considerar as duas farinhas desengorduradas
deste estudo como de 1ª qualidade.
Caracterização físico-química das silagens ácidas úmidas de dourada e piramutaba em função do tempo de armazenamento
Caracterização físico-química da farinha desengordurada obtida por silagem ácida dos resíduos de dourada e piramutaba.
Conclusões
A utilização de resíduos de dourada e piramutaba em silagem ácida, além de diminuir os impactos negativos provocados pelo descarte inadequado deste material no meio ambiente, também apresentaram excelente potencial para utilização como alimentação animal, pois mostraram valor nutricional que as classificaram como de primeira qualidade.
Agradecimentos
Referências
BRABO, M.F et al. Cenário atual da produção de pescado no mundo, no Brasil e no estado do Pará: ênfase na aquicultura. Acta of Fisheries and Aquatic Resources, v. 4, n. 2, p. 50-58, 2016. BRASIL. Ministério da Agricultura. R.I.I.S.P.O.A. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Aprovado pelo decreto n0 30690, de 20.03.52, alterado pelo decreto no 1255, de 25.06.52). Brasília. 1980. JUNIOR, W.M.M; SALES, R. Propriedades funcionais da obtenção da silagem ácida e biológica de resíduos de pescado. Uma revisão. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal, v. 7, n. 2, p. 126-156, 2013.SANTOS, E. L.; BEZERRA, K. S.; SOARES, E. C. S.; SILVA T. J.; FERREIRA, C. H. L. H.; SANTOS, C. C. S.; SILVA, C. F. Performance of nile tilapia fingerlings fed dehydrated cassava leaf in the diet. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia 2015, 67,1421. Relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Disponível em: < http://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/pt/c/423722/>. Acesso em: 11 de abril 2020.RIBEIRO, I, A.; RIBEIRO, S. C. A.; CASTRO, J. S. O.; MEDEIROS, G. K. C. Q. Obtenção e caracterização da farinha a partir de silagem ácida do resíduo da filetagem do tambaqui cultivado. Revista Enciclopédia Biosfera 2015, 11, 2304. VALENTE, B.S et al. Composting in residues management of freshwater fish. Boletim do Instituto de Pesca, [S.l.], v. 40, n. 1, p. 95-103, 2018. ISSN 1678-2305.