OTIMIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL UTILIZANDO MISTURA DE CATALISADORES BASEADOS EM ÓXIDOS METÁLICOS

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Tecnológica

Autores

Angilelli, K.B. (UEL) ; Silva, L.R.C. (UEL) ; Borsato, D. (UEL) ; Clemente, M.A.J. (UEL) ; Oliveira, T.F. (UEL) ; Savada, F.Y. (UEL) ; Chendynski, L.T. (UEL)

Resumo

Devido aos danos ambientais causados pelo uso de combustíveis fósseis, a busca por fontes de energia renováveis vem aumentando e neste contexto, o biodiesel se apresenta como um substituto para o diesel. Com o intuito de buscar novas possibilidades para sua produção, três catalisadores para a síntese de biodiesel foram produzidos a partir de óxidos metálicos. Foi utilizado o delineamento simplex-centroide para otimizar uma mistura entre os catalisadores que levasse a obtenção de biodiesel com os melhores resultados de teor de éster e rendimento de reação na transesterificação. A otimização multirresposta apresentou uma formulação de 25% de Cat1, 15% de Cat2 e 60% de Cat3, para que fosse possível produzir um biodiesel com teor de éster de 99,36% e rendimento de reação de 95,29%

Palavras chaves

Delineamento de mistura; teor de éster; transesterificação

Introdução

Tendo em vista a grande emissão de gases causados por veículos que utilizam combustíveis fósseis, as consequências de tais emissões, bem como poluição do ar e mudanças climáticas, existe a crescente busca por novas e mais sustentáveis fontes de energia, que substituam os derivados de petróleo, minimizando os seus impactos ambientais (GOMES et al., 2008; SAXENA et al., 2013). Há diversos anos, óleos vegetais vêm sendo estudados e utilizados como combustíveis, porém apresentam características não desejáveis para uso direto em motores a diesel como por exemplo a alta viscosidade. Uma alternativa para solucionar tais problemas é a reação de transesterificação de óleos, visando a produção de um novo biocombustível denominado biodiesel (GHESTI et al., 2012). Esse biocombustível possui uma alta aceitação na substituição de combustíveis fósseis devido a maior lubricidade, biodegradabilidade, baixa emissão de poluentes, ausência de compostos de enxofre e aromáticos, altos rendimentos de reação de produção, além da possibilidade de ser utilizado como aditivo ou ainda como substituto parcial de diesel (DI SERIO et al.,2008; CORDEIRO et al., 2011). O processo mais comum de obtenção de biodiesel, chamado de transesterificação, se processa por meio da reação de um triacilglicerídeo na presença de um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, e de um catalisador. Apesar da maior parte da produção de biodiesel ainda ocorrer por meio de catálise básica homogênea, é crescente a utilização de catalisadores heterogêneos, pois estes podem apresentar diversas vantagens tais como a possibilidade da sua recuperação ao final da reação, e a possibilidade de reutilização em um novo processo (CORDEIRO et al., 2011). Diversos tipos de catalisadores vêm sendo desenvolvidos nos últimos anos, como no estudo conduzido por Xie e colaboradores (2006), em que utilizaram zeólitas do tipo NaX como catalisadores de sítio básico, e no trabalho desenvolvido por Brito et al. (2012) que também utilizou zeólitas porém com diferentes teores de Al2O3. Os óxidos também são empregados como catalisadores heterogêneos na produção de biodiesel, como por exemplo TiO2, CuO, ZnO, dentre outros (SALINAS et al., 2010; FARIAS et al., 2015). Além desses exemplos, também podem ser utilizados na catálise heterogênea compostos de coordenação, resinas de troca iônica, líquidos iônicos e outros compostos (CORDEIRO et al., 2011). Tendo em vista as diversas possibilidades de produção de biodiesel, tanto em termos de matéria-prima como catalisadores, surge a possibilidade de se misturar componentes para se obter um produto otimizado de acordo com a qualidade desejada (ORIVES et al., 2014). Para isso, o delineamento de misturas é uma ferramenta que possibilita a formulação de um produto, por meio da mistura de dois ou mais componentes em diferentes proporções. O principal objetivo do trabalho foi sintetizar catalisadores heterogêneos a partir de óxidos metálicos para a produção de biodiesel, e aplicar o delineamento de misturas simplex-cetroide, a fim de se obter uma formulação otimizada que forneça os melhores resultados de teor de éster e rendimento de reação na produção do biodiesel.

Material e métodos

Síntese dos catalisadores: Para a síntese dos catalisadores, foram utilizados três óxidos metálicos diferentes, óxido de magnésio, dióxido de cério e dióxido de titânio, aos quais foram adicionados hidróxido de potássio em proporção de 20 %. A mistura foi homogeneizada com água destilada e em seguida levada a estufa por 16 horas a 120 °C para secagem. Após esse tempo, os catalisadores foram calcinados em forno mufla durante 5 horas a 500 °C e embalados a vácuo até o momento do uso. Produção do biodiesel: Foram pesados 50 g de óleo de soja, ao qual foram adicionados 4 g dos catalisadores obtidos e 25 mL de metanol P.A. (Anidrol: 99,8 %), mantidos sob agitação e refluxo por 2 horas a 65 °C. Após a transesterificação, os produtos foram levados a um funil de separação, formando três fases, uma contendo biodiesel, a segunda de glicerina e a última fase, os catalisadores. O biodiesel obtido foi desumidificado com sulfato de sódio anidro (Dinâmica: P.A.). Teor de éster: O perfil e a quantificação de éster foram realizados por cromatografia a gás, com um equipamento CG-Shimadzu-GC2010-plus acoplado a um espectrômetro de massas MS-QP2010-Ultra também da marca Shimadzu. Foi utilizada uma coluna da marca Restek modelo RT-2560 com 100 metros de comprimento e 0,25 milímetros de diâmetro interno e 0,25 micrômetro de espessura de filme. A injeção foi realizada manualmente, com temperatura do injetor a 240 °C. A temperatura inicial da coluna foi de 190 °C durante 1 minuto, elevando para 200 °C com uma taxa de 1,5 °C/min e mantendo a 200 °C por 2 minutos, e em seguida elevou-se a temperatura para 230 °C também em uma taxa de 1,5 °C, mantendo em 230 °C por 12 minutos. O tempo total da corrida foi de 41,67 minutos, com gás de arraste Hélio 5.0, pressão total da coluna de 110 kPa, fluxo total de 18,7 mL/min, 0,31 mL/min de fluxo da coluna. As condições do detector de massas foram temperaturas da fonte de íons e de interface de 200 e 230 °C respectivamente, voltagem do detector relativa ao tunning do método (0,73), com tempo de varredura do scanner de íons de 18,00 a 41,67 minutos e faixa de leitura do scanner 35 a 500 (razão massa/carga). Para o preparo da amostra, foi utilizado 40 mg de biodiesel, 500 µL de padrão interno C23 e 1mL de heptano. Rendimento de reação: O cálculo do rendimento de reação foi realizado por meio da estequiometria da reação de transesterificação, considerando a massa da matéria-prima utilizada e do biodiesel obtido, tomando como base de cálculo a massa molar do ácido oleico.

Resultado e discussão

Para este trabalho foram selecionados o óxido de magnésio, dióxido de cério e dióxido de titânio, para serem utilizados como catalisadores na obtenção de biodiesel. Os três óxidos foram, inicialmente, testados puros, e não foram eficientes para catalisar a reação de transesterificação nas condições desejadas de 60 °C, pressão normal com agitação por 2 horas. Em função dos resultados apresentados pelos testes preliminares, foram realizadas modificações nestes catalisadores seguindo a metodologia proposta por Ilgen e Akin (2009), em que sítios básicos são gerados na estrutura dos óxidos a partir de tratamento com KOH, permitindo que a reação ocorresse nas condições determinadas, possibilitando a recuperação do catalisador e levando a formação de produtos com pH neutro, que dispensa as etapas de lavagem. Os catalisadores heterogêneos sintetizados foram denominados Cat1 (MgO/KOH), Cat2 (CeO2/KOH) e Cat3 (TiO2/KOH), que foram aplicados no delineamento experimental simplex-centroide, composto por 7 experimentos, com ensaios dos catalisadores utilizados separadamente, em misturas binárias e no ponto central em misturas ternárias, realizado em triplicata. A Tabela 1 apresenta o teor total de ésteres, o rendimento de reação e o período de indução, para cada ensaio estabelecido pelo delineamento simplex-centroide (BORSATO et al, 2010). Os biodiesel obtidos são constituídos por ésteres metílicos variando de C14 até C23, nos quais os ésteres metílicos dos ácidos graxos C18:2 (24,86% a 48,25) constituem a maior proporção nas amostras, por serem produzidos a partir do óleo de soja, que apresentam, majoritariamente, ácidos esteárico, oleico, linoleico, linolênico (COSTA et al., 1999). A norma EN 14103 (2003) determina um teor mínimo de éster de 96,5 %. Pode-se observar na Tabela 1 que apenas o biodiesel produzido com os catalisadores Cat2 e Cat3 não atingiu essa porcentagem, apresentando um valor de 96,11 %. Foram determinados os rendimentos de reação para cada ensaio, mostrados na Tabela 1. O maior resultado foi de 98,7 % obtido para o biodiesel produzido apenas com o catalisador Cat3. O segundo valor mais alto de 96,2 %, para uma mistura de Cat2 e Cat3 e o menor rendimento para o ensaio com Cat2, de 92,3%. O delineamento experimental foi utilizado para avaliar o efeito dos catalisadores Cat1 (x1), Cat2 (x2) e Cat3 (x3) na produção de biodiesel, buscando-se obter melhores resultados em relação ao teor de éster total (Y1), rendimento de reação (Y2). A Figura 1 apresenta os gráficos de curvas de nível referente ao teor de éster (a) e rendimento de reação (b). Quanto ao teor de éster, pode-se observar que os maiores valores são obtidos quando se utiliza uma misturados catalisadores Cat1 e Cat3, com maiores proporções de catalisador Cat1, ou também para o catalisador Cat2 utilizado isoladamente. Os resultados mais baixos são obtidos em biodiesel produzido com uma mistura dos catalisadores Cat2 e Cat3. Estudos realizados por Salinas et al. (2010), mostraram que um biodiesel produzido com TiO2 suportado em potássio a 70 °C e pressão ambiente apresentou 98 % de teor de éster. Kawashima et al. (2008), verificou que apenas 89% de ésteres foram formados na transesterificação à 60 °C e condições normais de pressão, utilizando como catalisador CaO-CeO2. O valor obtido de 98%, utilizando o teste t para amostra simples, não difere significativamente (p=0,2122) da média dos valores apresentados na tabela 1. Já o valor de 89 % difere significativamente com p=1,6x10-7. Os valores obtidos nesse trabalho são superiores ou semelhantes aos encontrados na literatura especializada (SALINAS et al., 2010; KAWASHIMA et al., 2008). O gráfico de curvas de nível para o rendimento de reação (Figura 1b), mostra que o maior valor do rendimento foi obtido para biodiesel produzido apenas com o catalisador Cat3. Além disso, os piores resultados são para a mistura dos catalisadores Cat1 e Cat3, que influencia de forma negativa no modelo ou para o Cat2 utilizado isoladamente. As melhores respostas para a variável rendimento de reação são observadas para o Cat3, isolado ou em mistura com Cat2. Essa região, apesar de apresentar bom rendimento reacional, também é aquela em que se observou menores teores de éster no combustível produzido. A fim de se obter uma mistura ótima de catalisadores que produzisse biodiesel com o maior teor de éster e maior rendimento possível, foi realizada a otimização multirresposta da mistura. A otimização foi realizada a fim de se maximizar as respostas de rendimento de reação e teor de éster, e utilizando limite inferior de teor de éster em 96,5% que é o mínimo exigido pela legislação. A otimização multirresposta indicou que a mistura ótima teria na formulação 25 % de Cat1, 15 % de Cat2 e 60% de Cat3, resultando em um biodiesel com teor de éster de 99,36 % e rendimento de reação de 95,29 %.

Tabela 1

Teor total de ésteres e rendimento de reação para os ensaios do delineamento experimental.

Figura 1

Curvas de nível para o (a) teor de éster e para o (b) rendimento de reação da transesterificação.

Conclusões

O delineamento de mistura se mostrou uma eficiente ferramenta para a produção de biodiesel com óleo de soja, utilizando três diferentes catalisadores heterogêneos, para que se obtivesse melhores respostas quanto ao teor de éster e rendimento de reação. A otimização multirresposta apresentou uma formulação de 25% de Cat1, 15% de Cat2 e 60% de Cat3, para que fosse possível produzir um biodiesel com teor de éster de 99,36 % e rendimento de reação de 95,29%.

Agradecimentos

Referências

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