Análise da eficiência do sabão líquido “ecológico” na remoção de chocolate em tecido de poliéster

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Verde

Autores

Araújo, L.P. (IFRN/CA) ; Souza, L.M.A. (IFRN/CA) ; Medeiros, M.E.S. (IFRN/CA) ; Badoró, A.D.S. (UFRN) ; Melo, J.C.S. (IFRN/CA) ; Costa, C.H.C. (IFRN/CA)

Resumo

Um resíduo produzido diariamente nos lares e estabelecimentos alimentícios é óleo de fritura, seu despejo incorreto provoca sérios danos ambientais, como entupimento dos canos das casas e, consequentemente, a poluição das águas. Entretanto, a reciclagem desse tipo de resíduo é essencial para diminuição dos prejuízos ambientais decorrentes do descarte incorreto. Devido ser um produto biodegradável, o sabão feito do óleo de fritura é uma alternativa simples, que aparece como solução dos impactos ambientais. Não é comum encontrar estudos que relatem o uso do sabão “ecológico” para lavagem de têxteis. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa é estudar a eficiência do sabão líquido “ecológico” para a lavagem do tecido de poliéster sujo com chocolate, a partir dos parâmetros colorimétricos CIELab.

Palavras chaves

reciclagem; poder de limpeza; poliéster

Introdução

O descarte inadequado no meio ambiente do óleo residual de fritura, produzido em lares e estabelecimentos, provoca uma série de danos ambientais, como o entupimento dos canos das redes de esgoto e, além disso, a poluição das águas, criando barreiras que dificultam a entrada da luz e oxigenação da água afetando o ecossistema aquático (FERNANDES et al., 2008; REQUE;KUNKEL, 2010). Sendo assim, a reciclagem desse tipo de resíduo é fundamental para diminuição dos prejuízos causados no meio ambiente, devido ao seu descarte incorreto. O óleo proveniente da fritura é visto como um resíduo possivelmente reciclável, podendo ser utilizado na fabricação de diversos produtos, como biodiesel, tintas, sabões, entre outros (WILDNER; HILLIG, 2012). Além de ser considerado uma das formas mais simples de reciclagem, o sabão feito de óleo de fritura é um produto biodegradável, que surge como uma alternativa para redução dos impactos provenientes do seu descarte incorreto. Oliveira et al. (2017) estudaram a elaboração do sabão líquido “ecológico” feito através do óleo residual de fritura com diferentes quantidades de álcool etílico a 70 °INPM, baseado nas propriedades físico-químicas de pH, alcalinidade livre e densidade, os autores concluíram que as melhores formulações obtidas foram com 375, 400 e 425 mL de álcool etílico, sendo possível a elaboração do sabão líquido, de baixo custo, através da reciclagem desse resíduo. De acordo com Leão et al. (2010), o surgimento de produtos químicos comercializados no mercado, usados para à remoção de manchas, vem crescendo, porém, o valor dos produtos é de alto custo para que famílias de baixa renda possam consumi-los. Na literatura foi possível encontrar alguns estudos que relatam o uso e eficiência do sabão líquido “ecológico” para lavagem de tecido de algodão. Souza et al. (2018a) realizaram um comparativo da eficiência do sabão líquido “ecológico” com o sabão comercial no tecido de algodão branqueado e alvejado sujos com maquiagem e maionese, no qual, através das coordenadas colorimétricas L*, a* e b* foi possível verificar o poder de limpeza (DE) do sabão líquido. Dessa forma, esta pesquisa busca estudar a eficiência do uso de sabão líquido “ecológico”, com 400mL álcool etílico, na lavagem de tecido de poliéster alvejado sujo com chocolate, comparado com um sabão comercial, avaliando as coordenadas L*, a* e b* para estabelecer seu poder de limpeza.

Material e métodos

Foram usadas amostras de tecido de poliéster alvejado que possuíam 13x13 cm, gramatura de 210 g/m² e peso médio de 3,55g por amostra. As amostras estudadas foram sujas com chocolate e apresentaram um diâmetro de 24 mm. A lavagem foi realizada 24 horas após as amostras serem sujas. As análises foram realizadas em triplicatas. A metodologia para a fabricação dos sabões líquidos, foram realizadas de acordo com Oliveira et al. (2017), mediante as seguintes etapas: foram transferidos 500 mL de óleo residual de fritura a um recipiente plástico; em seguida, adicionou-se ao óleo 85 g de hidróxido de sódio em forma de escama. Posteriormente, foram adicionados 400 mL de álcool, em seguida 500 mL de água. Por fim, mistura foi agitada até que a mesma apresente uma fina camada sólida de sabão na superfície da mistura. Após descansar por 24 horas, foi acrescentado mais 2,5 litros de água ao recipiente em que se encontrava o sabão líquido “ecológico”. O equipamento usado para lavagem das amostras foi o Aparelho Wash Tester modelo WT-B da Mathis com 12 canecas de aço inox de 500 mL. A lavagem se deu em temperatura ambiente de 25°C e com rotação de 40 rpm, durante 30 minutos. A relação de banho (proporção entre o peso do material e volume de água) utilizado foi de 1 g de tecido para 76,5 mL de banho, desta forma utilizou- se 333 mL de banho para cada amostra. Para cada sabão líquido foi utilizado a receita de 10 g de sabão por litro de banho, utilizando assim 3,33 g de sabão para cada experimento. Os parâmetros de cor foram medidos no Espectrofotômetro CM-3600A, no comprimento de onda de 360 a 740 nm, com intervalo de ondas de 10 nm, variação de refletância de 0 a 200% com resolução de 0,01%, fonte de luz utilizada D65 padrão, observador de 10°, repetição de feixo de luz por leitura de 3 vezes. Todas as amostras foram lidas tendo como padrão a amostra com sujidade sem lavar e a amostra sem sujidade (branco), numeradas de acordo com o sabão utilizado. As análises dos parâmetros de cor foram feitas de acordo com as coordenadas L*, a* e b* do método CIELab color space, onde L* representa luminosidade, a* intensidade de verde (-a*) ao vermelho (+a*) e o eixo b* intensidade de azul (-b*) ao amarelo (+b*). Ainda, através dessas coordenadas, foi possível determinar o poder de limpeza (∆E) das amostras através da seguinte equação (MINOLTA, 2007): ∆E*= √((∆L*)^2+(∆a*)^2+(∆b*)^2 ) Onde: ∆E* = poder de limpeza ∆L* = diferença entre os valores de luminosidade da amostra e do padrão ∆a* = diferença entre os valores de a* da amostra e do padrão ∆b* = diferença entre os valores de b* da amostra e do padrão

Resultado e discussão

Na tabela 1 observa-se os valores dos parâmetros CIELab (L*, a* e b*) do tecido de poliéster alvejado sujo com chocolate, após a lavagem com um sabão líquido comercial (amostra 1) e um sabão líquido “ecológico” (amostra 2). Com base na tabela 1, nota-se que o índice de luminosidade (L*) do tecido lavado com sabão líquido “ecológico” (L*= 84,71) foi superior ao valor de luminosidade apresentado pela amostra lavada com o sabão comercial (L*=81,10). Giacomini et al. (2015) comparando as coordenadas de cor das amostras de tecidos de lã e seda, obtidas após as diferentes lavagens dos tecidos tingidos com corantes de casca de cebola, observaram que as amostras lavadas com os detergentes alcalinos se apresentaram mais claras (maior luminosidade L*). Verifica-se também na tabela 1, que os valores das coordenadas a* e b*, das amostras 1 e 2 , em comparação com o padrão (a* = 13,66 e b*= 21,38), se tornaram menos vermelhas (a*= -0,09 e a*=-0,14) e menos amarelas (b* = 4,96 e b*=1,57), respectivamente. Em relação a cor, é visível que a amostra 2 (sabão “ecológico”) apresentou-se mais clara em relação a amostra 1 (sabão comercial). Souza et al. (2018b), ao comparar as coordenadas de cor das amostras de tecido de algodão alvejado e branqueado, sujas com ketchup, lavadas com sabão líquido “ecológico” e comercial, concluíram que o sabão líquido “ecológico” apresentou maior luminosidade (L*), menor intensidade de vermelho e amarelo (a* e b*), podendo ser utilizada na limpeza de tecidos de algodão alvejado e branqueado. Na figura 1, pode-se observar o poder de limpeza (DE) das amostras de tecido de poliéster alvejado, sujo com chocolate, após lavagem com sabões líquidos comercial (amostra 1) e “ecológico” (amostra 2). A partir dos resultados verificados na figura 1 acima, percebe-se que as amostras 1 e 2 apresentaram potencial de limpeza (DE) próximos ao tecido branco, sem sujidade. A amostra 1 (sabão comercial) apresentou poder de limpeza igual a 42,97, enquanto, a amostra 2 (sabão “ecológico”) apresentou DE=45,05, próximos ao valor encontrado para a amostra em branco (DE = 52, 29). Souza et al. (2018a) ao compararem a eficiência dos sabões líquidos “ecológicos” e comercial no tecido de algodão branqueado e alvejado sujo com maquiagem, observou que, após a lavagem, as amostras lavadas com o sabão líquido “ecológico” apresentaram maior poder de limpeza (DE) quando comparado com as demais amostras.

Tabela 1: Valores de L*, a* e b* após a lavagem do tecido de poliéster



Figura 1: Poder de limpeza (DE) das amostras de sabões.



Conclusões

Através da análise dos resultados obtidos após a lavagem dos tecidos sujos com chocolate, pode-se afirmar que a amostra 2, sabão líquido “ecológico”, apresentou, seja de forma numérica e visual, eficiência tão boa quanto o sabão comercial. Sendo assim, o sabão “ecológico” produzido com 400 mL de álcool pode ser utilizado como um eficiente substituto dos sabões líquidos presentes no mercado, quando usado para lavagem de tecidos de poliéster alvejado.

Agradecimentos

Ao CNPq e ao IFRN/CA pelas bolsas concedidas.

Referências

FERNANDES, R. K. M.; PINTO, J. M. B.; MEDEIROS, O. M.; PEREIRA, C. A. Biodiesel a partir de óleo residual de fritura: alternativa energética e desenvolvimento sócio-ambiental. In: Encontro Nacional De Engenharia De Produção, 28., 2008, Rio de Janeiro – RJ.

LEÃO, A. P.; LIMA, K. M. S.; SOUZA, M. M. B.; SILVA, E. A. A.; ALVES, S. R. Investigação e análise do método economicamente viável para a remoção de manchas. In: Colóquio de moda, 6., 2010, Morumbi - SP., 2010.

MINOLTA, K. Comunicação precisa da cor. Konica Minolta Sensing Americas, 2007.

OLIVEIRA, R.G.M.; MELO, J.C.S.; COSTA, C.H.C.; BADARÓ, A.D.S. Sabões líquidos obtidos através do óleo de fritura com diferentes quantidades de álcool etílico. In: Congresso Brasileiro de Química (CBQ), 57., 2017, Gramado-RS. Anais eletrônicos [...] Gramado: UFRGS, 2017. ISBN 978-85-85905-21-7.

REQUE, P. T.; KUNKEL, N. Quantificação do óleo residual de fritura gerado no município de Santa Maria-RS. Disciplinarum Scientia, v. 11 (2010), 50–63.

SOUZA, L. M. A.; BADARÓ, A. D. S.; MELO, J. C. S.; COSTA, C. H. C.; ARAÚJO, R. C. Comparativo de remoção da sujidade do tecido de algodão alvejado com diferentes tipos de sabões líquido “ecológicos” e comercial. In: Congresso Norte-Nordeste De Pesquisa E Inovação (CONNEPI), 12., 2018, Recife – PE.

SOUZA, L. M. A.; BADARÓ, A. D. S.; MELO, J. C. S.; COSTA, C. H. C.; ARAÚJO, R. C. Remoção do substrato de ketchup em tecido de algodão utilizando sabão líquido “ecológico” e comercial. In: Semana de ciência, tecnologia e extensão do IFRN (SECITEX), 4., 2018, Natal – RN.

WILDNER, L. B. A.; HILLIG, C. Reciclagem de óleo comestível e fabricação de sabão como instrumentos de educação ambiental. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental REGET/UFSM, v. 5, n°5, 813 - 824, 2012.

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