ANÁLISE FITOQUÍMICA E FOTOPROTETORA DO EXTRATO ETANÓLICO DA CASCA DA Momordica charantia L. DA CIDADE DE CATARINA-CE
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Produtos Naturais
Autores
Alcântara, O.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Mendonça, L.R.O. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Furtado, M.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Montes, R.A. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Filho, G.V.L. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Nascimento, B.N. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ) ; Liberato, M.C.T.C. (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ)
Resumo
A biodiversidade nordestina é sem dúvidas um acervo que se destaca pelas suas espécies adaptadas para sobreviver, exóticas e incógnitas. Uma destas espécies é a planta do Melão-São-Caetano (Momordica charantia L.) que surpreende por seu uso na medicina e na agroindústria, porém ainda sendo uma espécie de propriedades desconhecidas. Desta forma, este trabalho se prontifica a realizar um estudo sobre as propriedades Fitoquímicas e Fotoprotetora da espécie a partir de extração etanólica de segmentos da casca (endocarpo). No teste fitoquímico o extrato apresentou-se positivo para alguns metabólitos que afetam a atividade fotoprotetora da planta. O teste de Fotoproteção apresentou resultado abaixo do mínimo estabelecido pela ANVISA.
Palavras chaves
Momordica charantia L.; Fotoproteção; Fitoquímico
Introdução
Os raios ultravioletas (UV) emitidos pelo sol são os responsáveis pela maioria das mudanças fotocutâneas provocadas na pele (KHURY E SOUSA, 2010). As lesões ocasionadas pela radiação UV na pele, podem ser reduzidas através do uso de filtros solares e outros métodos para minimizar os efeitos à exposição solar (SIMIS E SIMIS, 2006). Segundo Gonzáles et al. (2008), a fotoproteção é um elemento profilático e terapêutico frente aos efeitos danosos da radiação UV. A espécie Momordica charantia L. pertence à família Cucurbitaceae. No Brasil é conhecida popularmente como melão de São Caetano, sendo classificada como monóica; é uma planta trepadeira, que possui flores amarelas isoladas (ROBINSON E DECKER-WALTERS, 1997). Esta espécie se destaca por um elevado grau de mutabilidade, permitindo assim sua adaptação em diversas regiões e tornando propício o solo ao seu desenvolvimento (GOMES- COSTA E ALVES, 2016). É um grande produto usado na medicina caseira brasileira, servindo como afrodisíaco natural masculino, tratamento de reumatismo, tratamento de disenterias, tratamento de diabetes, vermicida, alívio de dores abdominais, cicatrizante (RODRIGUES et al., 2010) Já do ponto de vista agroeconômico, os extratos do melão São-Caetano são usados como agentes fungicidas (CELOTO et al., 2008) e vermicidas (DIAS et al., 2000). São poucos os trabalhos científicos investigativos a respeito da espécie. Assim, até mesmo em função de enriquecer as informações sobre a espécie, este trabalho objetivou caracterizar a espécie nativa da região de Catarina-CE de modo a apresentar uma análise sobre seu potencial fitoquímico e fotoprotetor, partindo do extrato etanólico da casca, já que a mesma é rica em nutrientes da espécie (VARELA et al., 2005) e fonte de vitaminas.
Material e métodos
As cascas do fruto da Momordica charantia L. foram obtidas na cidade de Catarina- CE. Após a coleta foram encaminhadas para o laboratório de Química dos Produtos Naturais na Universidade Estadual do Ceará onde foram congeladas, liofilizadas, pesadas e submergidas em etanol 99,5% (v/v) durante 11 dias. Após isso, foi filtrado e colocado em um rotaevaporador a vácuo para retirar o solvente e obter o extrato. A prospecção fitoquímicos foi realizada seguindo a metodologia citada por Matos (1997), onde ele detecta qualitativamente a presença de fenóis, taninos, antocianinas, antocianidinas, flavonoides, leucoantocianidinas, catequinas, flavonóis, flavanonas, flavanonóis, xantonas, esteroides, triterpenóides, saponinas e alcaloides, através da mudança de coloração. Para o teste de fotoproteção foram preparadas soluções de extrato etanólico nas concentrações de 25, 50, 100 e 250 ppm (partes por milhão). As amostras foram submetidas a uma análise de absorção de ondas eletromagnéticas de comprimento variando de 290 a 320 nm com intervalos de 5 em 5nm em um espectrofotômetro Ultravioleta-Visível. Foram usadas cubetas de quartzo para esse teste e o etanol foi usado como branco. O fator de proteção solar foi calculado seguindo a fórmula de Mansur et al. (1986).
Resultado e discussão
Na prospecção fitoquímica feita com o extrato etanólico da casca da
Momordica charantia L., este apresentou-se positivo para alcaloide,
esteroides e fenóis, embora o último com pouca intensidade.
Um dos fatores que determinam a eficácia de um produto fotoprotetor
são suas composições químicas e consequentemente a sua capacidade de
absorver no espectro ultravioleta, além do coeficiente de extinção molar e
solubilidade (BOBIN et al., 1994).
Os alcaloides são metabolitos com núcleos aromáticos que atuam como
absorvedores da radiação ultravioleta (HENRIQUES et al., 2000).
A avaliação da atividade fotoprotetora do extrato obtido através da
leitura no espectrofotômetro pode ser observada no Gráfico 1, onde pode-se
observar que o FPS deu maior na concentração de 250 ppm igual a 2,94. Essa
baixa absorção está diretamente relacionada à baixa intensidade de coloração
observada no teste fitoquímico para compostos fenólicos.
Segundo a legislação brasileira, RDC N° 30 de 01/06/2012 (BRASIL, 2012) um
produto para ser utilizado em cosmético fotoprotetor deve apresentar no
mínimo FPS 6. Para a Anvisa (2012) o fator mínimo de fotoproteção é de FPS
6. Desta maneira o extrato não pode ser utilizado isolado para as
formulações.
Para Violante et al. (2009), FPS baixo pode ocorrer devido a poucas
concentrações de moléculas com capacidade de absorver a radiação UV e a
dificuldade da determinação da absorção máxima dos extratos vegetais, por
serem uma mistura complexa de moléculas ativas e menos ativas.
Fator de proteção solar da casca da Momordica charantia L.
Conclusões
O extrato etanólico do melão-de-São-Caetano mostrou no teste fitoquímico possuir propriedades que apresentava um potencial fotoprotetor. Porem ao fazer o teste para verificação do FPS mostrou um valor abaixo do estabelecido para cosméticos com ação fotoprotetora, assim o extrato não pode ser usado de forma isolada para formulações. Mesmo apresentando um FPS baixo, o extrato pode ser utilizado na preparação de protetores como adjuvantes, associados aos filtros sintéticos.
Agradecimentos
A Universidade Estadual do Ceará e ao Laboratório de Química dos Produtos Naturais- LQPN
Referências
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