ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE XAROPE DE JUCÁ

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

dos Reis Lima, J.P. (UFPA) ; Ferreira de Moraes Júnior, E. (UFPA) ; Nobre de Moura Júnior, J.M. (UFPA) ; Pinheiro do Rosário, A.A. (UFPA) ; Carvalho de Souza, E. (UFRA) ; dos Santos Neves, E.R. (UFPA) ; da Costa Barbosa, I.C. (UFRA) ; Magno Rocha, R. (LACEN) ; dos Santos Silva, A. (UFPA)

Resumo

Xaropes são formulações aquosas com alta viscosidade e altas concentrações de açúcares. Neste trabalho, 6 parâmetros físico-químicos foram investigados em xaropes elaborados com jucá, seguindo metodologias oficiais. O pH médio encontrado foi de 2,84 (meio ácido); condutividade de 0,23 mS/cm; viscosidade de 1.361,65 cSt; sólidos solúveis igual a 82,34º Brix; densidade de 1,30 g/mL e acidez de 4,29 %. A maioria dos resultados obtidos, quando comparados com os valores da literatura, mostraram-se compatíveis com outras formulações de xaropes já estudados.

Palavras chaves

Amazônia; Controle de qualidade; Produto vegetal

Introdução

A relação dos seres humanos com os recursos vegetais como principal insumo para práticas terapêuticas é um fato que acompanha sua história, e os registros dessas atividades são encontrados desde as primeiras civilizações até a América Pré-colombiana (ROCHA ET AL. 2015). O jucá (Caesalpinia ferrea Martius ex Tul var. ferrea) é uma árvore leguminosa nativa do Brasil, amplamente distribuída principalmente no Norte e Nordeste (BRAGANÇA, 1996; LORENZI, 2002). Tem sido relatado o uso dela na medicina popular para tratamento de afecções bronco-pulmonares, diabetes, reumatismo, câncer, distúrbios gastrintestinais, diarréia, inflamação e dor (BALBACH, 1972; BRAGANÇA, 1996; HASHIMOTO, 1996; NAKAMURA, 2002; FRASSON ET AL., 2003; GOMES, 2003). O xarope de jucá possui em sua constituição mel, gengibre, néctar de jucá, copaíba, alho, andiroba, limão, romã, calêndula, própolis, guaco, angico, hortelã, sucupira e óleo de pequi. De acordo com o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (2011), xarope é a forma farmacêutica aquosa caracterizada pela alta viscosidade, que apresenta, no mínimo, 45% (p/p) de sacarose ou outros açúcares na sua composição. Esse trabalho teve o intuito de analisar os parâmetros físico-químicos do xarope de jucá: pH, condutividade elétrica (CE), sólidos solúveis totais (SST), viscosidade, densidade e acidez, de maneira a contribuir com o controle de qualidade deste produto.

Material e métodos

Para a realização das análises, foram adquiridas 10 amostras de xarope de jucá, que foram adquiridas em Belém do Pará, no período de maio a junho de 2019. Estas amostras foram levadas ao Laboratório de Físico-Química da Faculdade de Farmácia da UFPA, onde foram armazenadas sob refrigeração (14º C), até o momento das análises. Foram analisados os seguintes parâmetros físico-químicos: condutividade elétrica, executada com o emprego de um condutivímetro portátil (Instrutherm, CD 880), previamente calibrado com solução padrão de condutividade 146,9 μS/cm; pH, determinado usando um pHmetro (PHTEK), previamente calibrado com solução tampão pH 4 e 7 (AOAC, 1992); densidade, determinada através da medida de massa de xarope contida em picnômetro de 25 mL (método picnométrico); acidez titulável, através de titulação com solução de NaOH 0,1 mol L-1, tendo a fenolftaleína como indicador (ADOLFO LUTZ, 2008); teor de sólidos solúveis totais (SST), determinado em um refratômetro portátil (Instrutherm, modelo ART 90) com escala de 0 a 65º Brix, e seus resultados corrigidos para 20° C (AOAC, 1992); e viscosidade, realizada através do escoamento do xarope através do orifício do viscosímetro tipo copo Ford 3, sendo o tempo de escoamento convertido para viscosidade pela equação do aparelho. Todas as determinações foram realizadas em triplicatas, exceto a acidez (duplicata), sendo que os resultados dos parâmetros obtidos foram apresentados como média e desvio padrão.

Resultado e discussão

Os resultados obtidos se encontram na Tabela 1, já a Tabela 2 traz valores para esses parâmetros constantes na literatura. Este xarope não está presente na Farmacopeia Brasileira. Os resultados obtidos para a acidez tiveram uma média geral de 4,29 % e os valores de pH obtidos foram em média de 2,84, logo um pH ácido, sendo que o valor encontrado na literatura foi de um pH mais básico, maior que 4,3 (BRANDÃO, 2001). O pH influencia na palatabilidade, no desenvolvimento de microrganismos, na escolha da temperatura de esterilização, na escolha de aditivos entre outros (CHAVES et al., 2004). Quanto a viscosidade para xaropes comuns é de 190 cSt (BRANDÃO, 2001), e as amostras do xarope analisado apresentam um resultado muito acima do encontrado na literatura. A densidade variou entre 1,17 g/mL e 1,34 g/mL, possuindo um valor médio de 1,30 g/mL e segundo a literatura, em temperatura ambiente (15˚ a 20˚C), para xaropes sem princípio ativo, a densidade deve ter a variação entre 1,20 g/mL a 1,32 g/mL (BRANDÃO, 2001), logo, as amostras apresentaram valor de acordo ao da literatura. Em relação a condutividade elétrica, as amostras apresentaram média de 0,23 mS/cm, valor abaixo do encontrado no xarope de cupim, que foi de 0,42 mS/cm (RODRIGUES et al., 2018). Segundo Chaves et al.(2004), Sólidos Solúveis Totais (SST) são representados como todos os constituintes da matéria-prima alimentícia que não a água e substâncias que vaporizem a temperaturas inferiores ou iguais a 105 ºC, essa medida é utilizada nas indústrias para intensificar o controle de qualidade de produtos e é constituída em maior parte de açúcares. Os valores encontrados de sólidos solutos totais foram em média de 82,34º Brix, números acima dos relatados por Rodrigues et. al. (2018), que foram de 21,26 º Brix.

Tabela 1. resultados dos parâmetros físico-químicos



Tabela 2. Valores encontrados na literatura



Conclusões

O xarope de jucá, de acordo com os resultados analisados, possui uma alta viscosidade e acidez e um baixo pH. Este xarope, apresentou parâmetros divergentes (CE, SST, pH e viscosidade) com àqueles conhecidos na literatura (Tabela 2), referentes ao xarope de cupim e comum. Apresentando uma convergência de valores apenas na densidade. Os resultados obtidos nesse trabalho não desaprovam a eficiência terapêutica desse insumo, sendo assim, essas analises visaram contribuir para o controle de qualidade desse xarope.

Agradecimentos

UFRA, UFPA, LACEN

Referências

ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo, 2008, v.1.

Association of Official Analytical Chemistry. Official Methods of Analysis of AOAC International, 11 ed. Washington: AOAC, 1992.

BALBACH, A. As plantas curam. São Paulo: Três, 1972. p.302-3.

BRAGANÇA, L.A.R. Plantas medicinais antidiabéticas. Niterói: EDUFF, 1996. 300p

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NAKAMURA, E.S. Cancer chemopreventive effects of Caesalpinia ferrea and related compounds. Cancer Letters, v.177, n.2, p.119-24, 2002
Rocha FAG, Araújo MFF, Costa NDL, Silva RP. 2015. O uso terapêutico da floral na história mundial. Holos. 31 (1): 49-61.

RODRIGUES, A. P. F.; BARBOSA, M. E. O.; KOBAYASHI, N. H. C.; FARIAS, S. V.; BARBOSA, I. C. C; SOUZA, E. C.; SILVA, A. S. Caracterização fisico-quimica do xarope de cupim. Disponível em: <http://abq.org.br/cbq/2018/trabalhos/7/855-26342.html> Acesso em: 09 de ago de 2019.

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