Utilização de mix de solventes para extração de compostos fenólicos bioativos de folhas de Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata): Otimização e bioatividades.
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Produtos Naturais
Autores
Cruz, T.M. (PPGQA/UEPG) ; Santos, J.S. (PPGCTA/UEPG) ; Granato, D. (PPGCTA/UEPG) ; Marques, M.B. (PPGQA/UEPG)
Resumo
O objetivo do trabalho foi otimizar a extração de compostos fenólicos bioativos de folhas de ora-pro-nóbis, utilizando mix de solventes. O solvente extrator foi otimizado com um delineamento simplex-centroide com três componentes - água, etanol e acetona, em relação ao teor de compostos fenólicos, clorofila, captura de radical DPPH, inibição de peroxidação lipídica e hemólise hipotônica. Os extratos apresentam alto teor fenólico (26-65 mg AGE/g), teores variados de clorofila (0-5 mg/g), significativo potencial antioxidante (11-39 mg AAE/g) e anti-hemolítico (H50 = 0,325-0,380%), além de inibir peroxidação lipídica (14-35%). O solvente ótimo obtido foi uma combinação água-etanol 60:40. Conclui-se que um mix de solventes é mais eficiente para extrair compostos bioativos que solventes puros.
Palavras chaves
Atividade antioxidante; Peroxidação Lipídica; Hemólise Hipotônica
Introdução
Pereskia aculeata é uma planta alimentícia não-convencional (PANC) popularmente conhecida como ora-pro-nóbis (OPN), muito comum no Brasil, em especial da Bahia até o Rio Grande do Sul (SOUZA et al., 2016). Esta PANC é também conhecida como “carne dos pobres” devido ao seu elevado valor nutritivo, evidenciado pelo seu alto teor de proteínas, ferro, ácido ascórbico, ácido fólico e vitamina E (TAKEITI et al, 2009). Estudos de composição fenólica das folhas desta planta indicaram a presença de compostos como quercetina, kaempferol, ácido caftárico e alguns derivados glicosilados (GARCIA et al, 2019). Na literatura, são encontrados estudos acerca de sua capacidade antioxidante, antimicrobiana, antifúngica (SOUZA et al., 2016), antinociceptiva (PINTO et. al., 2015) e anti- inflamatória tópica (PINTO et al., 2015). Apesar disto, ainda são necessários estudos mais aprofundados da composição fenólica destas folhas, além de avaliar outras bioatividades in vitro. É válido ressaltar que não há na literatura estudos que avaliem a utilização de mix de solventes na extração de compostos fenólicos de P. aculeata. Com isto, o objetivo deste trabalho foi otimizar a extração de compostos fenólicos utilizando mix de solventes e avaliar a composição química, atividade antioxidante, inibição de peroxidação lipídica e atividade anti-hemolítica.
Material e métodos
Amostras de folhas foram coletadas em Palmeira, PR. As folhas foram secas até massa constante e, então, moídas. As extrações foram realizadas em 45 ºC com proporção massa de folha-solvente de 1:20. A otimização do solvente para extração (Figura 1) foi realizada com um modelo de mistura simplex-centroide com três componentes (água, etanol e acetona), de forma a avaliar os efeitos isolados, binários e ternários sobre o teor de compostos fenólicos totais (CFT), teor de clorofila total (CT), inibição do radical 2,2-difenil-2-picrilhidrazil (DPPH), inibição de peroxidação lipídica (IPL) e atividade anti-hemolítica em condições hipotônicas. O mix de solventes ótimo foi calculado pela função de desejabilidade proposta por Derringer e Suich (1980). O teor de CFT foi quantificado segundo Margraf et al (2015), com curva analítica de 0-120 mg/L, R² = 0,9987 e os resultados expressos em mg de ácido gálico equivalente (AGE)/g de extrato. O teor de CT foi determinado através do método de Parniakov et al (2015) e resultados expressos em mg/g. A capacidade antioxidante frente ao radical DPPH foi determinada segundo Brand-Williams, Cuvelier e Berset (1995), com faixa de trabalho de 0-25 mg/L, R² = 0,9988 e resultados expressos em ácido ascórbico equivalente (AAE)/g de extrato. O potencial de inibição de peroxidação lipídica foi determinado conforme Margraf et al (2016), com resultados expressos em porcentagem de inibição (%inibição) e a atividade anti-hemolítica foi avaliada segundo Zhang e colaboradores (2019). A homocedasticidade dos resultados foi avaliada utilizando o teste de Brown-Forsythe. As respostas foram comparadas com análise de variância unidimensional. Os testes foram realizados no Software Statistica v. 13.2 e o nível de significância aplicado foi de 0,05.
Resultado e discussão
O teor de CFT dos extratos variou entre 26-66 mg AGE/g. Estes valores são
superiores aos encontrados para os extratos etério, clorofórmico e metanólico
(5-15 mg AGE/g) (SOUZA et al., 2016). Esta superioridade pode ser explicada pela
maior polaridade dos solventes e pela temperatura de extração mais elevada. Nos
extratos E1 e E8 não foi detectada a presença de clorofila. Nos demais extratos,
o teor de CT variou entre 1,2-5,3 mg/g. É interessante que o teor de CT seja
reduzido porque, apesar de apresentar atividade antioxidante (DABBOU et al.,
2010), a clorofila atua como pró-oxidante na presença de oxigênio e luz (USUKI;
ENDO; KANEDA, 1984). Os valores de inibição do radical DPPH obtidos estão entre
11-39 mg AAE/g. A eficiência de extratos de OPN está de acordo a literatura
(SOUZA et al., 2016; GARCIA, et al., 2019). A taxa de IPL apresentada pelos
extratos a 200 mg/L variou entre 14-35%. Foram necessários 25 mg/L de quercetina
para promover 87% de IPL. Apesar da sua menor eficiência, mesmo em concentração
8 vezes maior que a quercetina, é possível afirmar que os extratos apresentam
eficiência moderada, uma vez que a comparação é com um antioxidante isolado. Os
extratos de OPN foram, ainda, eficientes na proteção à hemólise hipotônica. O
H50, concentração de NaCl em que ocorre 50% de hemólise, foi o parâmetro
utilizado para avaliar a eficiência dos extratos e apenas o extrato E10 não o
reduziu significativamente quando comparado com o controle, na ausência do
extrato (H50 = 0,383%). O mix de solvente ótimo determinado foi 60% água, 40%
etanol, 0% acetona. As análises supracitadas foram realizadas também com o
extrato otimizado (OP), que demonstrou eficiência em todos os testes, e os
valores foram comparados com os resultados esperados de acordo com o modelo
matemático.
(A) Teor de CFT, (B) Clorofila Total, (C) Inibição do Radical DPPH, (D) Inibição de Peroxidação Lipídica e (E) Atividade Anti-Hemolítica.
Diferentes letras na mesma coluna indicam valores estatisticamente diferentes (p≤0,05). ND = não detectado; NA = não aplicável.
Conclusões
A partir destes resultados, é possível concluir que as folhas de OPN são ricas em compostos fenólicos bioativos. Estes compostos são melhor extraídos por um mix de solventes do que por solventes puros. Os extratos obtidos apresentam alto teor fenólico, atividade antioxidante significativa, inibem peroxidação lipídica e hemólise em condições hipotônicas. O extrato otimizado é obtido em 60% água, 40% etanol e 0% acetona e os testes realizados com este extrato demonstraram valores próximos aos esperados.
Agradecimentos
Às agências de fomento de pesquisa (CAPES e CNPq) e à UEPG, c-LABMU e GDEM pela estrutura, equipamentos e análises. À equipe do LAQUA e do grupo de Química de Alimentos da UEPG pelo auxílio e apoio.
Referências
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