Avaliação do potencial antioxidante do extrato aquoso, alcoólico e hidroalcoólico de [i]Eugenia dysenterica[/i] (Cagaita)

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Tameirão, I. (CEFET/MG) ; Gonzaga, E. (CEFET/MG) ; Lima, A. (CEFET/MG) ; Padua, B. (CEFET/MG)

Resumo

Desde os tempos mais remotos, as plantas têm sido utilizadas para diversos problemas de saúde. Isso faz com que o consumo dessas plantas medicinais aumentem a cada ano. Estudos da composição química de várias espécies vegetais demonstraram a presença de uma grande quantidade de compostos fenólicos capazes de proteger o organismo contra os radicais livres. Diante disso, o projeto teve como objetivo avaliar a capacidade antioxidante de diferentes extratos da planta Eugenia dysenterica (cagaita). A planta foi colocada em contato com diferentes solventes. Após a filtração foi determinada a capacidade antioxidante pelo método do DPPH. A análise mostrou que o extrato alcoólico, nas concentrações de 1% e 0,5%, apresentou um maior percentual de inibição do DPPH de 84% e 63%, respectivame

Palavras chaves

Cagaita; Antioxidante; Radicais Livres

Introdução

O oxigênio é uma molécula fundamental para os organismos aeróbios, utilizada tanto na produção de energia através da cadeia transportadora de elétrons na mitocôndria dos eucariotos, como na membrana celular de muitas bactérias, e em inúmeras vias metabólicas fundamentais (Halliwell e Gutteridge, 2007). A ideia de que o oxigênio pode causar danos ao organismo não é recente, trabalhos pioneiros que atribuíram toxicidade ao oxigênio foram realizados por John Bean e Paul Bert há mais de meio século (Bean, 1945; Bert, 1943). Em 1956, Denham Harman sugeriu que radicais livres estariam envolvidos em diversos eventos fisiológicos, particularmente, no processo de envelhecimento (Harman,1956). Esta hipótese inspirou numerosos estudos que contribuíram para o conhecimento atual sobre radicais livres e espécies reativas de oxigênio (ERO). Embora os radicais livres já sejam conhecidos há várias décadas, indiscutivelmente, nos últimos anos, eles têm ganhado notoriedade nas diversas áreas do conhecimento médico, em função de sua efetiva associação com diversos processos fisiopatológicos de grande importância. De fato, devido à sua alta reatividade química as espécies reativas podem atuar modificando os componentes celulares como lípidos, ácidos nucléicos, proteínas e carboidratos. Além disto, a elevada produção de ERO associado a uma falha das defesas antioxidantes pode gerar um quadro conhecido como estresse oxidativo, que é definido como um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas e a capacidade de ação dos sistemas de defesa antioxidante para neutralizá-las e prevenir seus efeitos deletérios (Mayne, 2003). Esses danos oxidativos podem desempenhar um significativo papel patológico em diversas doenças humanas, tais como, na malária, na infecção pelo HIV, doenças cardíacas, arteriosclerose, diabetes, câncer, úlcera gástrica, dentre outras (Elmastas, 2006). Nesse contexto, muitas plantas utilizadas na medicina popular vêm sendo estudadas, uma vez que os seus compostos naturais, por apresentarem ação antioxidante, podem proteger o corpo humano dos radicais livres (Lai et al., 2001; Rahman, et al., 2006). Dentre essas plantas está Eugenia dysenterica, uma árvore frutífera nativa do cerrado e popularmente conhecida como “cagaita” ou “cagaiteira”. A cagaiteira é considerada uma espécie de interesse econômico, principalmente por causa do aproveitamento de seus frutos na culinária. Além do consumo in natura, são inúmeras as receitas de doces e bebidas que levam o sabor de sua polpa. Apresentam ainda propriedades medicinais, sendo utilizadas na medicina popular como antidiarréicas, para problemas do coração (Brandão, 1991) e também no tratamento de diabetes e icterícia (Silva, 1999). Costa et al. (2000) verificaram alta atividade antifúngica no óleo hidrolisado de folhas de cagaiteira no controle de Cryptococcus neoformans. Muito dos efeitos biológicos atribuídos a cagaita estão relacionados a sua composição química. De fato, estudos mostram que a polpa desta fruta possui uma grande quantidade de vitamina C e compostos fenólicos (Cardoso et al., 2011). Estes compostos, por apresentarem ação antioxidante, podem proteger o corpo humano dos radicais livres e retardar a progressão de muitas doenças crônicas (Kinsella et al., 1993; Lai et al., 2001; Rahman, et al., 2006). Diante disso e do crescimento do uso de plantas medicinais e fitoterápicos nas últimas décadas em todo o mundo, o presente estudo teve como objetivo determinar a capacidade antioxidante de diferentes extratos (alcoólico, hidroalcoólico e aquoso) de Eugenia dysenterica, uma planta nativa do cerrado conhecida popularmente como cagaita.

Material e métodos

A – Coleta e preparo do material botânico Antes dessa etapa do projeto, realizou-se a revisão de literatura e pesquisas em artigos científicos a respeito da planta estudada. Posteriormente, realizou-se a coleta do material botânico. A coleta das partes aéreas da planta foi realizada no dia 30 de junho de 2018 na cidade de Monjolos, Minas Gerais, Brasil. As folhas foram lavadas com hipoclorito de sódio e logo após secadas e trituradas. B - Preparação dos extratos As partes da planta, já secas e trituradas, foram colocadas em contato com diferentes solventes. Na obtenção do extrato hidroalcoólico cerca de 15g da planta foram submetidos à extração com 50 ml de água destilada e 50 ml de álcool 70% durante 24 h. O preparo do extrato aquoso deu-se utilizando 15g da planta e 100 ml de água destilada. Já o preparo do extrato alcoólico utilizou-se 15g da planta e 100 ml de álcool 70%, obtido pela mistura de 63,3 ml de álcool 95,1% e 36,7 ml de água destilada. C - Capacidade em sequestrar o Radical DPPH A atividade dos diferentes extratos (alcoólico, hidroalcoólico e aquoso) de Eugenia dysenterica em sequestrar o radical DPPH• (1,1- difenil-2-picrilhidrazil) foi medida de acordo com o procedimento descrito por BRAND-WILLIAMS, (1995), com algumas modificações. Este método baseia-se na transferência de elétrons de um composto antioxidante para o radical DPPH• (2,2-difenil-1- picril-hidrazil) em solução de metanol. A habilidade da amostra em reduzir a absorbância do DPPH• é indicativa de sua capacidade de neutralizar radicais livres. Este é um dos métodos químicos mais utilizados para determinar a capacidade antioxidante de um composto por ser considerado prático, rápido e estável (ESPIN ET AL., 2000). Resumidamente, 100μL dos diferentes extratos (alcoólico, hidroalcoólico e aquoso) de Eugenia dysenterica foram adicionados a 3,9 mL de metanol 80% contendo o radical DPPH• (60mM). Essa mistura foi agitada vigorosamente e deixada em repouso no escuro em temperatura ambiente por 30 min. A redução dos radicais DPPH• foi medida em um espectofotômetro a 515 nm. A atividade de sequestro do radical foi avaliada pela diminuição da absorbância do DPPH• e a porcentagem de inibição calculada usando a seguinte equação: Atividade% Limpeza = (1 – A Sample 515 / A Control515) x 100

Resultado e discussão

Após a preparação dos extratos aquoso, alcoólico e hidroalcoólico, foi possível observar colorações distintas dos extratos. É provável que esta distinção esteja relacionada a solubilidades dos compostos químicos da planta nos diferentes solventes, porém, isso não nos permite inferir que o extrato alcoólico, por apresentar uma cor mais intensa, apresente uma maior quantidade destes compostos. A atividade antioxidante de cada um dos extratos foi medida através do radical do DPPH• e o resultado expresso pela porcentagem de inibição deste radical frente aos compostos químicos encontrados em cada uma dos extratos. Para cada um dos extratos testou-se as concentração de 0,5% e 1% nos tempos de 15, 30 e 45 minutos. Em relação ao extrato aquoso observamos que ambas concentrações foram capazes de reduzir o radical DPPG nos diferentes tempos testados. O percentual de inibição foi maior no extrato de 1% e aumentou gradativamente nos tempos de 30 e 45 minutos. Em seguida, realizou-se a análise da atividade antioxidante do extrato alcoólico. Os resultados obtidos também mostraram uma significativa capacidade do extrato neutralizar o radical DPPH em ambas as concentrações. A elevada quantidade de compostos antioxidantes no extrato de concentração 1% fez com que grande parte do radical DPPH fosse neutralizado nos primeiros 15 min, essa saturação fez com que não houvesse variação no percentual de inibição nos tempos de 30 e 45 minutos. O extrato na concentração de 0,5% apresentou uma progressiva capacidade antioxidante nos tempos analisados. O último extrato a ser analisado foi o hidroalcoólico, o qual esperava-se encontrar maiores taxas de inibição de radical DPPH devido apresentar compostos solúveis em água e álcool. A análise gráfica nos permite concluir que ambas as concentrações testadas do extrato apresentaram uma progressiva capacidade antioxidante nos tempos analisados. Ao analisar o percentual de inibição do radical DPPH• de cada um dos extratos e concentrações testadas, constatamos um atividade antioxidantes dos três extratos, aquoso, alcoólico e hidroalcoólico e que essa atividade foi progressiva em cada um dos tempos analisados e maior nos extratos na concentração de 1%. Porém, ao fazermos uma análise comparativa dos extratos testados, foi possível ver que o aquoso apresentou uma menor capacidade em reduzir o radical DPPH•. Esse menor percentual de inibição pode estar relacionado à baixa solubilidade dos compostos químicos da cagaiga em meio aquoso. O extrato alcoólico, diferentemente do aquoso, foi o que apresentou uma maior capacidade antioxidante em todas as concentrações testadas. Isso nos permite inferir que a utilização de solventes com propriedade polares e apolares foi capaz de extrair uma maior quantidade de compostos químicos com função antioxidante, o que resultou em um maior percentual de inibição do radical DPPH• por esse extrato.

Figura 1

Coloração do extrato aquoso, hidroalcoólico e alcoólico.

Figura 2

Porcentagem de inibição do radical DPPH• em diferentes tempos pelos extratos aquoso, alcoólico e hidroalcoólico

Conclusões

Concluímos após a execução deste projeto que os diferentes extratos de Eugenia dysenterica (aquoso, alcoólico e hidroalcoólico) foram capazes de neutralizar o radical DPPH. Essa propriedade nos permite inferir que os três extratos testados apresentam compostos químicos que exercem importante atividade antioxidante, sendo o extrato alcoólico o mais efetivo nesta função. Este efeito antioxidante, atribuído aos compostos fenólicos, justifica o uso de E. dysenterica pela medicina popular. Além disso, diversos estudos com diferentes plantas medicinais atribuem aos compostos fenólicos a capacidade de proteger o nosso corpo dos radicais livres que estão envolvidos na progressão de inúmeras patologias, tais como diabetes, câncer e doenças cardíacas. Essa propriedade torna os extratos de E. dysenterica potenciais candidatos a fármacos capazes de proteger o nosso corpo contra os danos causados pelos radicais livres. Como perspectiva, analisaremos a capacidades desses extratos contra o crescimento do fungo fitopatógeno Fusarium solani, em um projeto a ser desenvolvido no ano de 2018 e 2019.

Agradecimentos

Essa pesquisa foi apoiada pelo Centro Federal de Educação Tecnológico de Minas Gerais (CEFET-MG), Conselho Nacional de Desenvolvimentos Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG).

Referências

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