ESTUDO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ÓLEO ESSENCIAL DAS FOLHAS DE Virola Surinamensis

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Carvalho Lobato, C. (UNIFAP/UFPA) ; Luis Belém dos Santos, K. (UNIFAP/UFPA) ; Eduarda da Silva, N. (UNIFAP) ; Marques de Oliveira, H. (ABQ-AP/SEED-AP) ; Paula da Silva Freire, A. (SEED-AP) ; Crisley da Conceição Silva, T. (UNIFAP) ; Pinheiro da Silva Júnior, C. (UNIFAP)

Resumo

Virola surinamensis, popularmente conhecida como ucuúba, é uma espécie tipicamente amazônica, apresentando grande importância na cultura popular pois sua gordura é utilizada na fabricação de sabão, velas e remédios caseiros. O principal objetivo deste estudo foi analisar a composição química do óleo essencial extraído de folhas desta espécie. O óleo essencial foi obtido, a partir das folhas secas, por hidrodestilação e, sua composição química foi analisada por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas. Os monoterpenos representaram 75,36% de compostos voláteis totais e os sesquiterpenos representaram 23,67%. Os compostos majoritários identificados no óleo foram: alfa-pineno (46,97%), beta-pineno (20,37%), germacreno D (7,35%) e biciclogermacreno (4,74%).

Palavras chaves

Virola Surinamensis; Óleo Essencial; Produtos Naturais

Introdução

A Virola surinamensis, pertencente à família Myristicaeae, conhecida como virola, ucuúba, bicuíba ou árvore de sebo é uma espécie considerada tipicamente amazônica, habitando áreas de várzeas, igapós, locais pantanosos e matas de terra firme. É uma espécie de grande importância na cultura popular por possuir gordura de boa qualidade nas sementes utilizada na fabricação de sabão, velas e remédios caseiros (GALUPPO; CARVALHO, 2001; LEITE; LLERAS, 1993). Barata et al (1978) verificaram que o extrato hexânico das folhas de V. surinamensis tem ação protetora contra a infecção por Schistosoma mansoni. O extrato diclorometânico dos galhos de virola surinamensis apresentou significativa atividade in vitro contra a forma tripomastigota de tripanosoma cruzi (LOPES, NORBERTO PEPORINE et al., 1998). Também foram observadas atividades antifúngicas dos constituintes das raízes desta espécie (LOPES, NORBERTO P.; KATO; YOSHIDA, 1999). As propriedades antinociceptiva e antiinflamatória da neolignana, grandisina, isolada de Virola surinamensis foram investigadas por Carvalho et al (2010). Um estudo do óleo essencial das folhas de virola surinamensis, coletadas em diferentes estações do ano e horas do dia, foi realizado por Lopes et al (1997). Os resultados mostraram variações sazonal e circadiana de seus constituintes, sendo observada a prevalência de sesquiterpenos no período de chuva. (LOPES, NORBERTO PEPORINE et al., 1997). O objetivo principal deste estudo foi realizar uma análise da composição química do óleo essencial extraído de folhas de virola surinamensis, extraído por hidrodestilação, por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas.

Material e métodos

Folhas de Virola surinamensis (Myristicaceae) foram coletadas no dia 11 de setembro de 2018 às 11h no campus pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (01° 27’ 3” S; 48° 26’ 42” O), na cidade de Belém, estado do Pará, Brasil. A umidade e temperatura registrados no momento da coleta foram de 60,4% e 26,1º C respectivamente. As folhas foram secas em sala climatizada por 48 horas. O óleo essencial foi obtido a partir de 60,27 g de folhas secas. A extração do óleo essencial foi realizada no Laboratório de Fitoquímica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), por hidrodestilação, utilizando sistemas de vidros do tipo Clevenger modificado, acoplado a um sistema de refrigeração para manutenção da água de condensação entre 10-15º C, durante 3 horas. O óleo, após a extração, foi centrifugado durante 5 min a 3000 rpm, desidratado com sulfato de sódio anidro e novamente centrifugado nas mesmas condições. A porcentagem de água nas amostras estudadas foi determinada através do analisador de umidade por infravermelho. A composição química dos constituintes voláteis do óleo essencial foi analisada no laboratório Adolpho Ducke (LAD), do MPEG, por cromatografia em fase gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG/EM), em sistema Shimatzu QP Plus-2010 equipado com coluna capilar de sílica DB-5MS (30 m x 0,25 mm; 0,25 µm de espessura do filme) A identificação dos componentes voláteis foi baseada no índice de retenção linear (IR) calculado em relação aos tempos de retenção de uma série homóloga de n-alcanos injetados nas mesmas condições das análises, e no padrão de fragmentação observados nos espectros de massas, por comparação destes com amostras autenticas existentes nas bibliotecas do sistema de dados e da literatura (ADAMS, 2007)

Resultado e discussão

Neste estudo, a quantidade óleo extraída foi de 0,6 mL, correspondendo a um rendimento de 1,08 %. A análise do óleo por cromatografia gasosa e espectrometria de massas resultou na identificação de 40 substâncias. Constatou-se que os monoterpenos foram os constituintes majoritários do óleo, seguidos dos sesquiterpenos (Tabela 1). O nível de monoterpenos foi de 75,36%, sendo o principal componente identificado como alfa pineno. O nível de sesquiterpenos foi de 23,67%, sendo o principal componente identificado como germacreno D. A figura 1 mostra o perfil cromatográfico do óleo estudado com os picos dos compostos majoritários e seus tempos de retenção. Podemos observar no cromatograma que os compostos mais importantes são: alfa-pineno, beta- pineno, Limoneno, beta-elemeno, gama-elemeno, germacrene D, Byciclogermacrene, delta-amorphene, germacrene B e alfa-cadinol. O composto majoritário identificado foi o alfa-pineno, 46,97%, um monoterpeno constituinte de vários óleos essenciais, e em alguns casos, corresponde ao constituinte majoritário. Este constituinte já teve atividade antiedamatogenica, antinoceptiva, antimicrobiana e antifúngica comprovada (BAKKALI et al., 2008). O segundo composto mais abundante no óleo foi o beta-pineno, 20,37%, um monoterpeno presente em óleos essenciais de algumas plantas medicinais. Dentre seus efeitos farmacológicos, as atividades antibacteriana, hipotensora, miorrelaxante e anticonvulsivante, já foram descritas na literatura (SILVA et al., 2012)

Tabela 1 - Variação da Composição do óleo essencial de Virola surinamensis, área relativa do pico (%)


Figura 1. Cromatograma do óleo essencial de virola surinamensis analisado por cromatografia gasosa com detector de massa.

Conclusões

O rendimento de óleo essencial obtido por hidrodestilação das folhas secas está dentro do padrão esperado. A utilização da cromatografia a gás acoplada a espectrometria de massas possibilitou a caracterização e determinação de 40 constituintes do óleo essencial, mostrando o potencial da virola surinamensis como fonte de terpenos. Os monoterpenos representaram 75,36% de compostos voláteis totais e os sesquiterpenos representaram 23,67%. Foram considerados majoritários o alfa-pineno, beta-pineno, germacreno D e biciclogermacreno.

Agradecimentos

A Prof. Dra. Eloísa Andrade, docente da disciplina e aos laboratórios de Fitoquímica e Adolpho Ducke pelo espaço e equipamentos, ambos do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).

Referências

ADAMS, R. P. Identification of essential oil components by gas chromatography mass spectrometry. 4. ed. Carol Stream: Allured Publishing Corporation, 2007. 469p

BAKKALI, F. et al. Biological effects of essential oils – A review. Food and Chemical Toxicology, v. 46, n. 2, p. 446-475, 2008.

BARATA, L. E. S. et al. Neolignans of Virola surinamensis. Phytochemistry, v. 17, n. 4, p. 783-786, 1978.

CARVALHO, A. A. V. et al. Antinociceptive and antiinflammatory activities of grandisin extracted from Virola surinamensis. Phytotherapy Research, v. 24, n. 1, p. 113-118, 2010.

GALUPPO, S. C.; CARVALHO, J. O. P. Ecologia, manejo e utilização da Virola surinamensis Rol. (Warb.). Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2001. 38p

LEITE, A. M. C.; LLERAS, E. Áreas prioritárias na Amazônia para conservação dos recursos genéticos de espécies florestais nativas: fase preliminar. Acta Botanica Brasilica, v. 7, p. 61-94, 1993.

LOPES, N. P. et al. Flavonoids and Lignans from Virola surinamensis Twigs and their in vitro Activity against Trypanosoma cruzi. Planta Med, v. 64, n. 07, p. 667-669, 1998.

LOPES, N. P. et al. Circadian and seasonal variation in the essential oil from Virola surinamensis leaves. Phytochemistry, v. 46, n. 4, p. 689-693, 1997.

LOPES, N. P.; KATO, M. J.; YOSHIDA, M. Antifungal constituents from roots of Virolasurinamensis. Phytochemistry, v. 51, n. 1, p. 29-33, 1999.

SILVA, A. C. R. D. et al. Biological Activities of a-Pinene and β-Pinene Enantiomers. Molecules, v. 17, n. 6, p. 6305, 2012.