Avaliação da atividade antioxidante e hemolítica de extratos das folhas de Algrizea macrochlamys

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Silva, V.M.M.A. (UFPE) ; Silva Junior, R.A. (UFPE) ; Arruda, L.G. (UFPE) ; Veras, B.O. (UFPE) ; Oliveira, J.R.S. (UFPE) ; Cunha, R.X. (UFPE) ; Lima, V.L.M. (UFPE) ; Silva, M.V. (UFPE) ; Correia, M.T.S. (UFPE)

Resumo

No semiárido brasileiro, região pouco explorada botanicamente, são encontradas novas espécies com frequência, como é caso dos integrantes do gênero Algrizea, que possuem diversas atividades biológicas, o que torna essas espécies interessantes para fins medicinais e terapêuticos. A atividade antioxidante de Algrizea macrochlamys foi avaliada segundo a capacidade antioxidante total e sequestro de radicais DPPH, e a atividade hemolítica através da toxicidade às hemácias. Os extratos de A. macrochlamys se mostraram possuir relevante atividade antioxidante em ambos os testes, já em relação a atividade hemolítica, o extrato aquoso não se mostrou tóxico nas concentrações testadas. Portanto, os resultados indicam que os extratos são promissores para aplicações terapêuticas.

Palavras chaves

Antioxidante; Hemolítico; Algrizea

Introdução

O Brasil é considerado um dos países com a maior biodiversidade do planeta, apresentando, aproximadamente, 20% da totalidade de espécies de plantas ao redor do mundo, sendo 55.000 catalogadas e distribuídas em diferentes regiões do país (RIBEIRO et al., 2014). Entre os mais variados biomas do país encontra-se a Caatinga, domínio fitogeografico exclusivamente brasileiro que ocupa uma região de aproximadamente 850.000 km² (cerca de 10% do território nacional) e possui uma fauna e flora única, repleta de táxons endêmicos e raros (PEREIRA JUNIOR,2014). Por estar submetida a um clima semiárido, com escassez de recursos e alta incidência de radiação UV, sua vegetação torna-se propícia a apresentar em seu metabolismo secundário uma gama de compostos relacionados a defesa do vegetal, podendo apresentar importantes atividades biológicas em benefício a saúde, como ação antioxidante, anti-inflamatória, antienvelhecimento e fotoprotetora. (DA SILVA et al., 2013). A presença de compostos antioxidantes se destaca, pois são eles os responsáveis pela proteção contra substâncias oxidantes prejudiciais geradas termicamente pela luz (DE MORAES et al, 2006). No entanto, o ecossistema da Caatinga ainda é botanicamente desvalorizado e mal conhecido, o que permite a prospecção de novos bioativos. Os compostos biológicos ativos extraídos de plantas medicinais podem ser aplicados no desenvolvimento de diversas inovações nas indústrias farmacêuticas e cosméticas. O uso dessas plantas é realizado de forma experimental, advindos do conhecimento tradicional, através da preparação de infusos ou extratos, entre outras maneiras (FIRMO et. al., 2011). Este potencial tem atraído cada vez mais atenção para realização de pesquisas que possam identificar os compostos químicos presentes nos materiais vegetais (MORAIS et al., 1996). Assim, tornam-se cada vez mais uma alternativa aos compostos sintéticos, oferecendo eficácia semelhante com menores efeitos colaterais. Isso faz com que sejam desenvolvidas cada vez mais pesquisas que visem a utilização desses produtos oriundos da via metabólica secundária de plantas (SILVA et al., 2010). Atualmente, diversas espécies vegetais já foram avaliadas quanto às atividades biológicas de seus extratos, sendo muitas delas já conhecidas e difundidas através da medicina popular de diferentes partes do mundo. Na Caatinga, a medicina popular é amplamente disseminada pelas comunidades locais, possuindo uma vasta farmacopeia natural (GOMES et al, 2008), onde o estudo das plantas características deste bioma, muitas vezes já utilizada pela população, podem trazer resultados relevantes. A família Myrtaceae atinge cerca de 121 gêneros com um número de espécies entre 4800-5800 distribuídas no mundo, sendo uma das famílias mais importantes encontradas nas florestas tropicais. No Brasil é uma das principais famílias predominante na Mata Atlântica com plantas aromáticas que produzem frutos utilizados para manutenção da fauna local, ou para o consumo in natura por populações humanas, na produção de geleias e doces que tem grande aceitação do público. Apresentam atividades biológicas, especialmente antibacteriana e antifúngica, além de um potencial antioxidante e atividade larvicida (SILVA et al., 2015). Várias espécies dessa família, também são reconhecidas por possuírem folhas com glândulas produtoras de óleo empregadas na medicina popular como antidiarreico, antimicrobiano, entre outras aplicações, dentre estas podemos destacar o gênero Algrizea, possuindo apenas duas espécies catalogadas, Algrizea macrochlamys e Algrizea minor, ambas exclusivas do bioma caatinga (PROENÇA et al. 2006). Este trabalho tem como objetivo avaliar a atividade antioxidante e hemolítica de extratos metanólico e aquoso obtidos a partir de folhas de Algrizea macrochlamys, através da determinação da capacidade antioxidante total e da atividade sequestradora do radical DPPH.

Material e métodos

As partes aéreas (mistura de folhas e galhos) de A. macrochlamys foram coletados no Parque Nacional da Chapada Diamantina (Bahia, Brasil). O material vegetal foi acondicionado em sacos de papel, devidamente etiquetados e levados ao Laboratório de Produtos Naturais, no Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco onde foram processados conforme as técnicas taxonômicas. As folhas e galhos de A. macrochlamys foram secas em estufa de circulação forçada de ar, a 45°C, por 72 horas. Após secos, foram triturados em moinhos para produção de um pó. O material vegetal foi submetido à extração com água destilada e metanol baseado no método de extração por solvente a frio. Foram produzidos extratos aquosos da folha (EAFAm) utilizando como solvente água destilada e extratos metanólicos da folha (EMFAm) empregando como solvente metanol. Foi utilizado a proporção de 10g do material vegetal para 100 ml dos solventes. Em seguida, os extratos aquosos foram concentrados por meio de liofilização e os extratos metanólicos em evaporador rotatório a 80°C. A atividade de sequestro de radical livre foi medida por meio de doação de hidrogênio usando o radical estável DPPH, de acordo com Brand-Williams, Cuvelier e Berset (1995). Uma solução de DPPH (60mM) foi posto em contato com o óleo essencial em diferentes (1000, 500, 250, 125, 62,5, 31,25 µg/mL) sendo homogeneizados e após 30 min de incubação ao abrigo da luz, as absorbâncias foram lidas. A porcentagem da atividade antioxidante (AA%) foi calculada utilizando a seguinte equação: AA% = [(Abs0 - Abs1)/Abs0] X 100, na qual Abs0 é a absorbância do controle e Abs1 é a absorbância na presença do óleo essencial. O ensaio para determinar a capacidade antioxidante total por fosfomolibdênio (%CAT) foi realizado de acordo com Prieto, Pineta e Aguilar (1999). Uma alíquota de 0,1 ml do óleo essencial na concentração de 1000µg/mL foi combinado com 1,0 ml de solução de reagente (ácido sulfúrico a 600 mM, 28 mM de fosfato de sódio e molibdato de amônio a 4 mM). Os tubos foram incubados em banho-maria a uma temperatura de 90°C durante 90 min. A absorbância foi medida a 695 nm contra o branco (1,0 mL de reagente e 0,1 ml de solvente) e a capacidade antioxidante das amostras foi expressa em relação ao Ácido Ascórbico (1000 μg/mL) utilizado como padrão, cuja atividade antioxidante de referência foi considerada igual a 100%. O teste hemolítico, utilizado para avaliar a toxicidade in vitro (Singh e Kaur, 2007), foi realizado diluindo eritrócitos provenientes de sangue de camundongo em tampão fosfato salina que recebem diferentes concentrações do extrato e purificados. Após 1 hora, foi avaliado por espectrofotometria a liberação de hemoglobina (hemólise). PBS foi o controle 0% de hemólise e trolox X 100 o controle 100%. Amostras de macrófagos e fibroblastos também foram submetidas à diversas concentrações do extrato e purificados para avaliação do potencial tóxico.

Resultado e discussão

Em relação aos ensaios biológicos, a avaliação da atividade antioxidante com o uso do radical DPPH é quantificada ao monitorar o consumo destes radicais livres, podendo ser observada por meio da redução de intensidade da cor apresentada mediante uma leitura da absorbância em espectrofotômetro. Assim, quanto maior a concentração da amostra e menor a absorbância, maior o consumo de DPPH e consequentemente, maior é a atividade antioxidante.Em ambos os extratos as porcentagens de sequestro do radical DPPH foram semelhantes, com exceção da menor concentração (0,065 mg mL-1) do extrato metanólico, que foi inferior. Isso mostra que tanto o extrato aquoso como o metanólico possuem atividade antioxidante semelhantes, e que é necessário a utilização de baixas concentrações para se obter o mesmo potencial vistos nas concentrações mais elevadas. Trata-se de uma vantagem para o meio industrial, requerindo pouca matéria prima para se obter uma elevada atividade antioxidante. No ensaio da capacidade antioxidante total por redução do complexo fosfomolibdênio, que se trata também de uma técnica colorimétrica, sua cor amarela torna-se verde à medida em que é reduzida por substâncias antioxidantes, dessa forma, quanto mais intensa for a coloração verde, maior é a capacidade antioxidante da substância testada. Sendo assim, essa alteração de cor é monitorada através da leitura da absorbância, gerando dados os quais permitem a quantificação do poder antioxidante das amostras. A capacidade antioxidante total das amostras na concentração de 1 mg mL-1 apresentou valor de 27,2 ± 0,04 %CAT para o extrato metanólico e 81,7 ± 0,21 %CAT para o extrato aquoso. O valor encontrado para o extrato aquoso se mostrou bastante alto, ultrapassando os 80% do ácido ascórbico, que segundo Youngson (1996), trata-se do antioxidante mais eficaz e conhecido. Comparado aos valores encontrados no trabalho de Negri, Possamai e Nakashima (2009), a atividade antioxidante do EAfAm é bastante superior à da Maytenus ilicifolia, que em suas variações de temperatura não ultrapassam os 40% do ácido ascórbico. No estudo de Balestrin (2008), as diferentes frações de Dorstenia multiformis apresentaram percentuais entre 8 e 35% de ácido ascórbico, sendo bem inferiores aos apresentados no extrato aquoso de A. macrochlamys. Quanto à atividade hemolítica, foi testado apenas o extrato aquoso, pois o metanólico se mostrou insolúvel em água e salina, além da fração aquosa se mostrar mais promissora quanto a atividade antioxidante. Na maior concentração testada (2 mg mL-1), o percentual de hemólise foi inferior a 1,5% como visto na Figura 1, sendo um valor bastante interessante, o que sugere uma possível viabilidade para administração em organismos vivos, sem que haja lesão às hemácias. Comparado a resultados da família Myrtaceae encontrados na literatura, como o apresentado por Desoti et al (2011), que obteve 25% de hemólise na concentração de 0,250 mg/mL com o extrato de Campomanecia xanthocarpa, os valores encontrados para A. macrochlamys são expressivamente menores. Entretanto Arruda (2013), encontrou valores semelhante para Campomanesia guazumifolia, onde não houve hemólise significativa nas concentrações inferiores a 1 mg mL-1.

Figura 1

Percentagem de hemólise em função das concentrações de EAfAm testadas.

Tabela 1

Resultados da atividade antioxidante pelo método do radical DPPH e a capacidade antioxidante total do EMfAm.

Conclusões

Derivados vegetais tornam-se uma demanda cada vez maior para aplicações industriais, sejam elas farmacêuticas, cosméticas, alimentícia, entre outras. Plantas do semiárido brasileiro são propícias a apresentarem propriedades interessantes em seu metabolismo secundário, por estarem expostas a diversos tipos de estreses. Algrizea macrochlamys se destaca por possuir elevada atividade antioxidante de frações realizadas a partir das suas folhas, tendo valores próximos a substância de referência, o ácido ascórbico. Aliado a isso, o extrato aquoso se mostrou não tóxico às células sanguíneas, o que permite que outros estudos sejam conduzidos para se avaliar atividades biológicas in vivo. A combinação dessas duas propriedades propicia que A. macrochlamys tenha a possibilidade de se tornar um produto interessante para o meio industrial, sendo necessária a avaliação de outros testes que confirmem a segurança de seu uso.

Agradecimentos

Ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal de Pernambuco e aos Laboratórios de Produtos Naturais e de Metabolismo de Lipídios e Doenças Prevalentes e Negligenciadas. Ao CNPq pelo apoio financeiro à pesquisa.

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