Bioprospecção Fitoquímica da Parkia Platycephala (Fava de Bolota)

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Produtos Naturais

Autores

Dias, T.S.S. (UFT) ; Silva, R.M. (UFT) ; Fernandes, R.M.N. (UFT) ; Scapin, E. (UFT)

Resumo

A Parkia platycephala conhecida popularmente como Fava de Bolota é definida pela lei n° 915/1997 como árvore símbolo do Estado do Tocantins. Ao estudarmos as plantas com finalidades terapêuticas constatamos que os primeiros relatos datam de 3.000 anos A.C na China (GOGTAY et al., 2002). O Brasil possui um catálogo de mais de 55.000 mil espécies vegetais registradas como plantas medicinais (MACIEL et al, 2002). Destaca-se a importância de se incentivar estudos etnobotânicos e etnofarmacológicos para aumentar o conjunto de informações sobre essas plantas. O presente trabalho buscou identificar através do estudo fitoquímico preliminar a presença de metabólitos secundários da casca, flor e semente da Parkia platycephala. A extração à quente (Soxhlet) evidenciou metabólitos secundários como Flavonoides, Taninos, Alcaloides, Saponina e Glicosídeos.

Palavras chaves

Parkia platycephala Benth; Fitoquímica; Metabólitos

Introdução

No Brasil a utilização dos recursos naturais com finalidade terapêutica e de forma tradicional, acontece pronunciadamente nas diversas comunidades ao longo da evolução histórica, social e política, uma vez que a biodiversidade contemplada na flora brasileira representa aproximadamente 20% da flora mundial, possuindo um catálogo de mais de 55.000 mil espécies vegetais registradas. Ainda hoje nas regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes cidades brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em feiras livres, mercados populares e encontradas em quintais residenciais (MACIEL et al, 2002). Neste sentido, é extremamente importante que sejam feitas pesquisas para confirmar os verdadeiros efeitos das plantas no organismo, visto que, além de ajudarem no tratamento de várias enfermidades podem causar efeitos maléficos. Também é importante incentivar estudos etnobotânicos e etnofarmacológicos para aumentar o conjunto de informações sobre plantas medicinais, e ainda incentivar o uso sustentável dessa biodiversidade (FIRMO et al., 2011). Os metabolitos secundários são substâncias responsáveis por diversas funções, que vão desde a adaptação ao meio ambiente, defesa contra o ataque de predadores, e atração de agentes polinizadores (TAIZ; ZEIGER, 2009). A obtenção de fármacos a partir de metabólitos secundários de origem vegetal, bem como o desenvolvimento de fitofármacos, vem despertando grande interesse não só por parte dos pesquisadores em produtos naturais, mas principalmente de pequenas e grandes indústrias farmacêuticas. Este fato requer uma triagem dos compostos bioativos presentes em extratos de plantas através de procedimentos simples, rápidos e de baixo custo para que possam ser executados nos laboratórios de fitoquímica (MONTANHER; PIZZOLATTI; BRIGHENTE, 2003; BESSA et al, 2013). Definida como um dos símbolos da natureza do Estado do Tocantins a Fava de Bolota (Parkia platycephala) de acordo com a Lei N°915, DE 16 DE JULHO DE 1997 é a árvore símbolo do estado. Muito utilizada como agente paisagístico, principalmente em Palmas, a Capital do Tocantins, graças as suas características marcantes como: sua copa frondosa, flores vermelha-escuro que são sustentadas por longos pêndulos, vagens castanho-escuras que contêm sementes e seu grande porte, podendo chegar a alturas de 30m. A espécie Parkia platycephala, conhecida popularmente como faveira, faveira- de-bolota, fava-de-bolota, visgueiro, fava-de-boi e sabiú, entre outros, ocorre na Região Nordeste do país, transição do Cerrado ou da mata Atlântica para a Caatinga, em regiões elevadas de até 900 m de altitude e também nas campinas da região Amazônica (LORENZI, 2002). É uma planta arbórea, da família Fabaceae, subfamília Mimosoideae, que também é usada na suplementação alimentar de ruminantes (SILVA et al., 2012). De acordo com a literatura, a familia é particularmente rica em flavonoides e compostos biogeneticamente relacionados como rotenóides e isoflavonoides. Alcaloides, terpenoides e esteróides são exemplos de outras classes presentes em muitos representantes da família. Os taninos, todavia, têm frequência muito baixa se comparada aos flavonoides (HEGNAUER; BARKMEIJER, 1993; ZARUCCHI, 1994). Os testes das folhas de P. platycephala revelaram a presença de taninos hidrolisados nos extratos acéticos e extrato butanólico, e saponinas nos extratos acéticos, extratos butanólicos e extratos aquosos (BEZERRA & CHAVES, 2014), apresentou também, lectinas, encontradas nas sementes de Parkia platycephala que foram capazes de liberar histamina de mastócitos de ratos Wistar de maneira dependente de concentração (LOPES et al, 2005). De acordo com Oliveira Júnior (2010), pesquisas realizadas em comunidade no interior do Maranhão através da Universidade Estadual do Maranhão, após analises de conhecimentos populares várias espécies vegetais foram catalogadas de acordo com espécies/família, nome popular, indicação para enfermidades, modo de preparo, dosagem e hora de coleta da amostra para realização do remédio. Umas das espécies citadas em uso popular se destaca a Parkia platycephala Benth que tem para fins fitoterapêuticos como a dentição, reumatismo, adstringente, por meio de chá. Este trabalho visou realizar o estudo fitoquímico da casca, flor e semente da Parkia platycephala Benth. O estudo fitoquímico teve como objetivo identificar componentes químicos como alcalóides, terpenos, flavonóides, cumarinas, benzenóides, quinonas, xantonas, lactonas, lectinas e esteroides, dentre outros. Com esses resultados foi possível relacionar o uso medicinal popular com as classes de compostos identificados e analisar possíveis atividades biológicas.

Material e métodos

A coleta da casca, da flor e da semente da Parkia platycephala ocorreu dentro da Universidade Federal do Tocantins-campus Palmas, entre as coordenadas 10°10’55”S e 48°21’45”W. Após a coleta, o material vegetal foi seco em estufa a 60°C pelo período de 48 horas, triturado com o auxílio do moinho tipo Willye com granulometria abaixo do Mesh 20 e armazenado em recipiente de vidro livre de contaminação, preservando-a de umidade. Para a obtenção do extrato utilizou-se o método extrativo à quente em sistema fechado por meio do equipamento soxhlet. Para a extração usou a proporção de 5 g do pó do material vegetal e mediu-se 200 mL de solvente. A extração ocorreu de duas formas, a primeira utilizou-se solvente hidroetanolico (70%), para obtenção de extrato bruto, e a segunda, separadamente, utilizou-se de solventes com polaridade crescente, Hexano – Metanol – Etanol 70%, totalizando três extrações. A amostra só foi retirada do equipamento após seu esgotamento, quando visualmente se percebia uma constância na coloração do solvente em contato com o cartucho (MACIEL et al, 2002, SIMÕES et al., 2017). Os extratos foram rotaevaporados para a recuperação dos solventes utilizados. Em seguida os extratos foram congelados a -70º C e depois liofilizados no Liofilizador de bancada L101 da LIOTOP. Os extratos secos foram submetidos a testes fitoquímicos preliminares conforme Simões et al. (2001), Mouco et al. (2003), Akisue (2002) e Risi (1986). Nessa análise a caracterização dos principais grupos de metabólitos secundários foi realizada por ensaios baseados em reações químicas que resultaram no aparecimento de cor e/ou precipitado. Os testes fitoquímicos qualitativos consistiram em: - Foram feitos dois testes para a análise de flavonoides: usando Hidróxido de Sódio a 5% (NaOH 5%) e outro com Cloreto Férrico a 2% (FeCl3 2%); -Foram feitos quatro testes para a análise de taninos: um com Acetato de Cobre a 5% (Cu(CH3COO)2); um com Acetato Neutro de Chumbo a 10%; e outro com Acetato Neutro de Chumbo e Ácido Acético Glacial a 10%, ambos buscando a formação de precipitado; por último usando Cloreto Férrico a 2% (FeCl3 2%) buscando a formação de um precipitado ou mudança de coloração; -Para análise de alcalóides: utilizou-se o reagente Dragendorff buscando o aparecimento de um precipitado com coloração. -Para análise de Glicosídeos Antraquinônicos: usou-se o reagente Hidróxido de Sódio a 0,5% (NaOH 0,5%) na amostra em pó das partes de estudo, buscando a observar o aparecimento da cor amarelada. -Para análise de saponinas: utilizou-se o teste qualitativo de espuma a partir do pó das partes de estudo.

Resultado e discussão

Os extratos obtidos através dos materiais vegetais da planta Parkia platycephala indicaram a presença de distintos grupos de metabólitos secundários, sugerindo biodisponibilidade de alcaloides, flavonoides, taninos e saponinas na maioria das amostras como demonstrado na tabela abaixo.A prospecção fitoquímica permitiu evidenciar a presença de alguns compostos metabolitos já descrito em literatura em outras espécies da família Fabaceae, como taninos, flavonoides e glicosídeos antraquinônicos (MARTINS et. al, 2007; SIMÕES et. Al, 2015). De acordo com a Tabela 1, os extratos obtidos a partir da casca apresentaram metabólitos como flavonoides, taninos, saponina e alcaloides, este último presente apenas nos extratos EE. Com exceção do grupo saponina, os mesmos metabólitos se observam para os extratos obtidos a partir da flor, embora os alcaloides também foram detectados no EB. Nos extratos 2M e 2EE detectou-se a presença de glicosídeos. Quanto ao extrato da semente os mesmos metabólitos dos extratos anteriores foram detectados, destacando-se que nesse extrato o metabólito alcaloide somente estar presente no EB. Os flavonóides possuem várias atividades biológicas, como ação anti- inflamatória, antiviral, antibacteriana, antialérgica e vasodilatadora, e estão associados à prevenção de doenças crônicas, como o câncer e as doenças cardiovasculares (OLIVEIRA et al., 2006). Em relação à atividade anti- inflamatória, os flavonoides atuam inibindo a proliferação de linfócitos T, inibindo a produção de citocinas próinflamatórias, modulando a atividade das enzimas da via do ácido araquidônico, tais como fosfolipase A2, ciclo- oxigenase e lipo-oxigenase, além de modularem a enzima formadora de óxido nítrico (COUTINHO et al., 2009). Os taninos são conhecidos por suas atividades bactericidas e fungicidas que ocorrem por três características gerais comuns aos dois grupos de taninos: complexação com íons metálicos; atividade antioxidante e seqüestradora de radicais livres; habilidade de complexar com outras moléculas, principalmente proteínas e polissacarídeos. Apresentam também efeitos cicatrizantes devido a formação de uma camada protetora sobre os tecidos lesionados (MELLO; SANTOS, 2001). São indicados para o tratamento de várias doenças degenerativas (câncer, esclerose múltipla, arteroesclerose, etc.) e o processo de envelhecimento devido a captação de radicais, interceptando o oxigênio ativo formando radicais estáveis. Os compostos glicosídeos e seus derivados apresentam resistência à hidrólise ácida e enzimática, o que confere a eles a possibilidade de serem estudados como fármacos estáveis. Além dos C-glicosídeos estarem envolvidos em muitos processos de reconhecimento biológicos, como por exemplo, comunicação entre células, transdução de sinal, adesão bacteriana e viral, e respostas do sistema imune, cujo comportamento vem alavancando estudos sobre vacinas antitumorais. Possuem características nanoestruturadas que incluem a capacidade de formar gel (LIMA et al., 2018). Há relatos na literatura que comprovam que o potencial citotóxico de uma determinada espécie de planta está relacionado a presença de alcaloides. De acordo com Pelletier (2001) os alcaloides são compostos orgânicos cíclicos contendo nitrogênio em um estado de oxidação negativo e de distribuição limitada entre os seres vivos, apresentam propriedades farmacológicas, principalmente antineoplásica, medidas terapêuticas mais adotadas para o controle e tratamento do câncer (MARQUES; LOPES, 2015). As saponinas mostraram-se ausentes nas partes de estudo da planta, com exceção da casca que apresentou a espuma no teste (RISI, 1986). Os resultados são compatíveis com a literatura, uma vez que em estudos utilizados como base a família Fabaceae não apontou a presença de saponina ou obteve baixo resultado (MARTINS, 2007; SIMÕES, 2015). As saponinas possuem a característica de em solução aquosa formam espuma persistente e abundante. Essas atividades provem do fato de apresentarem em sua estrutura uma parte lipofílica denominada aglicona ou sapogenina e uma parte hidrofílica constituída por um ou mais açúcares (SCHENKEL et al., 2001). A espuma formada é estável à ação de ácidos minerais diluídos, diferenciando-se dos sabões comuns. Apresentam a capacidade de se complexar com esteróides, motivo pelo qual apresenta ação antifúngica e hipocolesterolmiante (CUNHA & ROQUE, 2005). Destaca-se que todos os extratos deram resultado negativo para o teste que detecta taninos usando Acetato Neutro de Chumbo e Ácido Acético Glacial a 10%.

Triagem Fitoquímica dos extratos da Parkia Platycephala

Tabela 1 -Resultados das reações indicativas da presença ou ausência de grupo de metabólito secundário

Conclusões

Podemos concluir então que para o desenvolvimento do estudo, todos os materiais vegetais foram de extrema relevância para a caracterização fitoquímica da espécie, buscando indicar quais destes metabolitos se faz necessário aprofundar nas pesquisas. Por meio do estudo preliminar realizado na espécie Parkia platycephala pode ser identificado a presença dos metabólitos secundários, como: Flavonoides, Taninos e Alcaloides. Pode-se destacar a importância desta obra, visto que os compostos encontrados são destacados pela literatura possuindo grande atividade antioxidante, o que sugere indicações para a indústria de cosméticos e farmacêutica. Devido a presença de flavonoides em todos os materiais vegetais, a planta sugere um alto potencial de atividades biológicas para a espécie, como anti- inflamatória, antiviral, antibacteriana, antialérgica. Assim como a presença de taninos para algumas amostras indica atividade antibacteriana e antifúngica. Destacam-se os flavonoides e taninos, como os principais compostos presentes na p. Platycephala. Podemos ainda afirmar que a flor e a casca possuíram um maior êxito na retirada de metabólitos, sendo estas indicadas para estudos mais aprofundados, caracterizando os compostos presentes, evidenciando suas bioatividades e as incorporando de acordo com o seu possível uso na farmacologia. Podemos dizer ser irrelevante a semente para estudos direcionados a indústria farmacêutica.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil e a Universidade Federal do Tocantins.

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