Aplicação de solventes verdes na extração de compostos bioativos da espécie Anacardium humile
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Produtos Naturais
Autores
Barbieri, H.B. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ) ; Silva, R.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ) ; Malaquias, K.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ) ; Silva, C.A. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ) ; Nebo, L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE JATAÍ)
Resumo
Esse trabalho teve como objetivo a preparação de diversos solventes naturais eutéticos profundos (NADES) para a extração de compostos fenólicos da espécie A. humile. Sendo realizado a análise de quantificação de compostos fenólicos totais através do método de reativo de Folin Ciocalteau e a avaliação de atividade antioxidante pelo método de complexação de fosfomolibdênio no intuito de comparar a efetividade dos NADES na extração dessa classe de metabólitos secundários. O maior teor de compostos fenólicos foi obtido com um extrato via NADES (6,99 mg EAQ/g amostra), bem como o maior percentual de atividade (33%). Esses resultados indicaram que os NADES apresentam maior efetividade na extração de compostos fenólicos quando comparado à extração com solvente etanol.
Palavras chaves
NADES; Anacardium humile; Atividade antioxidante
Introdução
Desde os primórdios da humanidade, as plantas são utilizadas como fonte de alimentos e medicamentos (Horst, 2018). A Anacardium humile, conhecida popularmente como cajuzinho-do-cerrado, é uma espécie do cerrado brasileiro que é amplamente utilizada para o tratamento de diarreia e como expectorante (Ferreira et al., 2012). Além disso, essa espécie apresenta atividade antifúngica, anti-rotavirus, antidiarreica, anti-inflamatória e hipoglicemiante (Rejane et al., 2008). Pesquisas em substâncias naturais com potencial antioxidante com baixa toxicidade são fundamentais no desenvolvimento de novos fármacos para prevenção e tratamento de doenças associadas ao estresse oxidativo, como doença de Alzheimer e doença de Parkinson (Lemes et al., 2018). Assim, o desenvolvimento de novos métodos de extração utilizando solventes verdes com baixa toxicidade e custo tem se tornado uma questão importante para a Química de Produtos Naturais e para a Química Verde, pois os solventes orgânicos convencionais apresentam alta toxicidade e contribuem para a poluição ambiental (Duan et al., 2016). Nesse sentido, os solventes naturais eutéticos profundos (NADES) tem surgido como um novo tipo de solvente verde e sustentável (Duan et al., 2016), principalmente, para a extração de compostos bioativos de espécies vegetais. Os NADESs são formados por materiais sólidos e/ou líquidos com altos pontos de fusão, gerando assim uma mistura eutética líquida à temperatura ambiente e com propriedades incomuns (Duan et al., 2016), como a capacidade de interagir com substâncias polares e apolares (Vanda et al., 2018). Portanto, esse trabalho teve como objetivo a preparação de diversos NADES e a realização da extração de compostos fenólicos da espécie A. humile, bem como a avaliação do seu potencial antioxidante.
Material e métodos
Para a preparação dos NADESs foram utilizadas 12 combinações com diferentes proporções de reagentes doadores de ligação de hidrogênio e aceptores de ligação de hidrogênio. Para isso, os NADESs foram preparados através da mistura de dois componentes e levados para aquecimento por aproximadamente 20 minutos, a 60°C. Para a extração de metabólitos, foi utilizado 200 mg de material vegetal triturado, 3,2 mL de NADES e 800 μL de água destilada. O material foi colocado em tubos e mantido em ultrassom por 90 min, a 40°C. Por fim, os tubos foram centrifugados por 40 min, a 6000 rpm. Para comparação, foi realizado a extração utilizando 100% e 80% etanol. Os extratos obtidos apresentaram uma concentração estimada de 50 mg de material vegetal seco/mL, sendo tal informação importante para a preparação das posteriores amostras. A análise de fenóis totais foi realizada em um espectrofotômetro de UV-VIS (760 nm). As amostras foram preparadas através da adição de 100 uL de solução do extrato (250 μg/mL), 500 μL de reativo de Folin Ciocalteau, 6,4 mL de água destilada e 2 mL de solução de Na2CO3 15%. As amostras foram mantidas em ambiente fechado e sem iluminação por duas horas. A quantificação de fenóis foi obtida através da absorbância dos extratos a partir de uma curva de calibração de ácido gálico (500-15 μg/mL). O teste antioxidante com complexação de fosfomolibdênio foi realizado através de amostras preparadas com a adição de 600 μL de extrato (0,20 mg/mL) e 6 mL de reativo (NaH2PO4 0,1 mol/L; (NH¬4)6Mo7O24 0,03 mol/L; H2SO4 3 mol/L). As amostras foram fechadas e levadas para o banho-maria por 90 min, a 95°C. A leitura foi realizada no comprimento de onda de 695 nm, utilizando como padrão uma solução de ácido ascórbico 0,20 mg e o NADES utilizado para extração como branco.
Resultado e discussão
Das 12 combinações, apenas três combinações forneceram misturas eutéticas,
possibilitando a sua utilização na extração. Essas combinações foram:
etilenoglicol/acetato de sódio 3:1 (NADES 7), ácido cítrico/cloreto de
colina 1:1 + 90% água destilada (NADES 11) e glicerina/cloreto de colina 1:1
+ 20% água destilada (NADES 12). Através da análise dos extratos das folhas
de A. humile (AHF) obtidos via NADES foi possível obter o teor de compostos
fenólicos em mg de equivalente de ácido gálico (EAG)/g de amostra (Tabela
1). Os compostos fenólicos são correlacionados as propriedades antioxidantes
apresentadas por espécies vegetais. Portanto, é interessante a análise
quantitativa desses compostos. Os extratos utilizando NADES como solvente
extrator apresentaram um teor de compostos fenólicos maior que os teores
apresentados pelos extratos obtidos com etanol, pois os NADESs apresentam
capacidade de interagir com substâncias polares e apolares (Vanda et al.,
2018). Além disso, foi observado um teor considerável de compostos
fenólicos, o que condiz com as informações obtidas na literatura. Através da
análise antioxidante dos extratos de A. humile foi possível obter o
percentual de atividade antioxidante (AA%) (Tabela 2). Assim, observou-se
que os extratos de A. humile apresentaram uma atividade antioxidante
moderada em comparação ao ácido ascórbico, que possui um alto poder
antioxidante. Tal resultado se relaciona com a atividade antioxidante
apresentada por essa espécie na literatura. Além disso, os extratos obtidos
com a utilização de NADES como solvente extrator apresentaram maior
atividade antioxidante quando comparado aos extratos obtidos com etanol 80 e
100%, resultado que era esperado visto que esses extratos também
apresentaram maior teor de compostos fenólicos.
Teor de compostos fenólicos presentes nos extratos obtidos através do método de Folin Ciocalteau.
Absorbâncias obtidas para os extratos analisados em 695 nm e suas respectivas atividades antioxidantes percentuais (AA%).
Conclusões
Em comparação com o modo convencional de extração, os extratos obtidos via NADES apresentaram maior efetividade para a extração de compostos fenólicos. E através da análise dos resultados obtidos, concluiu-se que os extratos de A. humile apresentaram moderado teor de compostos fenólicos e potencial antioxidante. Trabalho desenvolvido no âmbito das bolsas do PIBIC na Universidade Federal de Jataí/Universidade Federal de Goiás.
Agradecimentos
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Universidade Federal de Jataí/Universidade Federal de Goiás.
Referências
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FERREIRA, P. R. B.; MENDES, C. S. O.; RODRIGUES, C. G.; ROCHA, J. C. M.; ROYO, V. A.; VALÉRIO, H. M.; OLIVEIRA, D. A. Antibacterial activity tannin-rich fraction from leaves of Anacardium humile. Revista Ciência Rural, v. 42, n° 10, 1861-1864, 2012.
HORST, F. F. Estudo fitoquímico, atividades biológicas e propriedades antioxidantes da espécie vegetal Chusquea pinifolia NESS (NESS) (Poaceae). 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
LEMES, E. O.; FERNANDES, M. M. C.; ROSA, V. P.; NASCIMENTO, A. H. Levantamento da utilização do pequi (Caryocar brasiliense camb.) como agente antioxidante na prevenção de doenças neurodegenerativas. Revista Uniciências, v. 21, n° 2, 110-114, 2018.
REJANE, K.; PORTO, D. A.; ROEL, A. R.; MARLENE, M.; COELHO, R. M.; JUSTINA, E.; SCHELEDER, D.; JELLER, H. Atividade larvicida do óleo de Anacardium humile Saint Hill sobre Aedes aegypti. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 41, n° 6, 586-589, 2008.
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