COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS DE DOIS ESPÉCIMES DE Hyptis crenata DA AMAZÔNIA
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Produtos Naturais
Autores
Santos, E.L. (UEPA) ; Gomes, K.L.S. (UEPA) ; Lima, A.M. (UEPA) ; Lima, M.N.N. (UEPA) ; Nunes, L.P. (UEPA) ; Santos, R.L. (UEPA) ; Lima, A.C. (UFPA) ; Andrade, E.H.A. (MPEG) ; Figueiredo, P.L.B. (UEPA)
Resumo
Os óleos essenciais de Hyptis crenata têm notável importância econômica e potencial farmacológico. Este trabalho avaliou a composição química dos óleos essenciais de dois espécimes de H. crenata com ocorrência na Amazônia. Os constituintes em maior teor nos óleos essenciais foram 1,8-Cineol (17,37 - 21,87%), α-Pineno (15,70 - 20,78%), β-Pineno (2,31 - 13,36%), Limoneno (3,37 - 8,51 %), Cânfora (1,97 - 4,45%), E-Cariofileno (2,58 - 4,29%) e 10-epi-γ- Eudesmol (0 - 4,65%). Há grande variabilidade química nos óleos essenciais de Hyptis crenata. O conhecimento desta variabilidade pode ajudar na quimiotaxonomia e no aproveitamento econômico desta espécie.
Palavras chaves
Salva-do-Marajó; Voláteis ; Hidrodestilação
Introdução
As plantas da família Lamiaceae são utilizadas nas indústrias de ervas condimentares, como fonte de óleo essencial (EL-GAZZAR; WATSON, 1970a,b). Havendo uma notável importância econômica e um potencial farmacológico dos óleos essenciais de espécies do gênero Hyptis (FALCÃO; MENEZES, 2003). Hyptis crenata Pohl. ex. Benth é uma erva anual com cerca de 69-80 cm de altura, cresce espontaneamente em solos arenosos perto de córregos da ilha do Marajó, Pará (MAIA; ZOGHBI; ANDRADE, 2001; ANDRADE et al.,2002). É conhecida popularmente como salva-do-marajó, hortelã-brava, salsa-do-marajó e malva-do-marajó (CORRÊA, 1984; HASHIMOTO, 1996). O chá de suas folhas é usado popularmente como sudorífico, tônico, estimulante, para tratar inflamação dos olhos e garganta, constipação e artrite (BERG, 2010). Além do chá, suas folhas são utilizadas como repelente de insetos quando o friccionadas sobre a pele (POTT; POTT, 1997). Tendo em vista o grande potencial farmacológico de Hyptis crenata, este trabalho avaliou os componentes voláteis de dois espécimes coletados em duas regiões do estado do Pará.
Material e métodos
As espécies H1 e H2 foram coletadas no estado do Pará nos municípios de Salvaterra (vila união, PA 154) e São Geraldo do Araguaia (Serra das Andorinhas e dos Martírios, respectivamente (Tabela 1). Cada espécime de Hyptis crenata foi separado para a preparação de exsicatas e extração do óleo essencial. O registro e depósito da exsicata foi feito no Herbário do Museu Paraense Emilio Goeldi. As folhas foram separadas, secas por ventilação constante em estufa (35ºC) durante 48 horas (2 dias), cortadas com tesouras do tipo inox e posteriormente foram levadas para o processo de extração. Os óleos essenciais foram extraídos por hidrodestilação em aparelho de Clevenger modificado (3h) de acordo com a metodologia descrita por Maia e Andrade (2009). A composição química foi analisada por Cromatografia gasosa acoplada a Espectrometria de Massas (CG-EM) com a injeção de 1 μL (Auto injetor AOC- 20i) em sistema Shimadzu QP 2010 ultra equipado com coluna capilar de sílica Rtx-5MS. A identificação dos componentes baseou-se no tempo e índice de retenção linear (série de n-alcanos C8-C40), comparação e interpretação dos seus espectros de massas, com espectros existentes nas bibliotecas Adams (2006), NIST (2012) e FFNSC 2 (MONDELLO, 2011).
Resultado e discussão
Os rendimentos em óleo dos dois espécimes de Hyptis crenata foram de 3,48%
(H1) e 0,23% (H2). Foram identificados 67 constituintes, que compreendem de
88,99 a 96,90% do conteúdo total dos óleos. Os constituintes com teores
maiores que 1,0% estão listados na Tabela 2 em ordem crescente de seus
respectivos índices de retenção.
Os compostos em maior teor nos óleos essenciais de Hyptis crenata foram os
monoterpenos hidrocarbonetos: α-Pineno (15,70 - 20,78%), β-Pineno (2,31 -
13,36%) e Limoneno (3,37 - 8,51%); seguidos dos monoterpenos oxigenados:
1,8-Cineol (17,37 - 21,87%) e Cânfora (1,97 - 4,45%), do sesquiterpeno
hidrocarboneto E-Cariofileno (2,58 - 4,29%); e do sesquiterpenos oxigenado
10-epi-γ-Eudesmol (0 - 4,65%).
Deste modo, os teores dos constituintes majoritários identificados neste
trabalho α-Pineno (15,70 - 20,78%) e 1,8-Cineol (17,37 - 21,87%) foram
próximos nos dois espécimes estudados. Contudo, o teor de β-Pineno foi de
2,31% no espécime H2, cinco vezes menor que no espécime H1 (13,36%).
A variabilidade química dos óleos essenciais de quatro espécimes (A - C) de
Hyptis crenata coletados na Amazônia é descrita por Zoghbi et al. (2001), os
espécimes mostraram como constituintes majoritários Terpinoleno (37,8%) e E-
Cariofileno (9,9%) (espécime A, Tocantins); 1,8-Cineol (23,9%), Borneol
(21,8%) e E-Cariofileno (18,8%) (espécime B, Pará); α-Pineno (51,1 - 14,5%),
1,8-Cineol (16,5 - 36,7%), Limoneno (15,0% − 0) e β-Pineno (10,3 – 7,9%)
(espécime C e D, Ilha do Marajó). Desta forma, o perfil químico do espécime
H1 deste trabalho com teores de α-Pineno (15,70%), β-Pineno (13,36%),
Limoneno (8,51%) e 1,8-Cineol (17,37%) se assemelha a composição dos
espécimes C e D descritos pelos autores, todos coletados na ilha do Marajó.
Outrossim, Rebelo et al. (2009) relatam a composição química das partes
aéreas in natura e secas de Hyptis crenata, os constituintes majoritários
identificados foram α-Pineno (22,0 - 19,5%), 1,8-Cineol (17,6 – 23,2%), β-
Pineno (17,0 - 13,8%), Cânfora (4,7 - 11,6%), Limoneno (5,4 - 4,4%) e γ-
Terpineno (3,5 - 2,4%).
Por outro lado, os monoterpenos oxigenados Bomeol (17,8%), 1,8-Cineol
(15,6%) e p-Cimeno (7,9%) foram os constituintes majoritário identificados
no óleo essencial das partes aéreas de Hyptis crenata de um espécime
coletado no Cerrado Brasileiro, estado do Mato grosso (VIOLANTE et al.,
2012).
Conclusões
O espécime H1 deste trabalho com teores de α-Pineno, β-Pineno, Limoneno e 1,8- Cineol demonstrou um perfil químico com semelhança as amostras coletadas na região do Marajó. Há grande variabilidade química nos óleos essenciais de Hyptis crenata. O conhecimento desta variabilidade pode ajudar na quimiotaxonomia e no aproveitamento econômico desta espécie.
Agradecimentos
CNPQ, CAPES, UEPA, MPEG
Referências
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