A participação das mulheres na ciência na perspectiva de estudantes do ensino médio e das séries finais do ensino fundamental em escolas públicas do município de Viçosa – MG
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ensino de Química
Autores
Neves, L.S. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Paula, V.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Rubinger, M.M.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA) ; Simão, R.C.B. (ESCOLA ESTADUAL DR. RAIMUNDO ALVES TORRES) ; Rezende, J.L. (ESCOLA ESTADUAL EFFIE ROLFS)
Resumo
A participação de mulheres nas Ciências Exatas é menor que a de homens. Este trabalho buscou analisar a visão de estudantes do Ensino Médio (EM) e Fundamental (EF) sobre mulheres na ciência. Foram aplicados questionários a 1031 alunos de escolas públicas de Viçosa-MG. Os dados mostram menor interesse das meninas por ciências em comparação aos meninos. O desinteresse se acentua no EM. Alguns fatores influenciadores identificados: poucas referências femininas na área e estereótipos culturais de adequação profissional ao gênero. A inclusão tardia da Química e da Física no currículo contribui para o desinteresse pelas Exatas, em comparação com a área Biológica. Propõe-se um ensino mais dinâmico e a inclusão de referenciais femininos relevantes para a Ciência e Tecnologia nas aulas de ciências.
Palavras chaves
Mulheres na Ciência; Interesse por Ciência; Ensino de Ciências
Introdução
As mulheres são maioria no Ensino Superior (INEP, 2016). Entretanto, embora a participação feminina venha crescendo nas Ciências Exatas e Engenharias, ainda são minoria nessas áreas (ELSEVIER, 2017). Entre 1901 e 2018, dos 390 cientistas agraciados com os prêmios Nobel de Física e Química, apenas 8 são mulheres. O menor número de mulheres em evidência em Ciência e Tecnologia (CT) deve-se, em parte, à abertura tardia de oportunidades para elas tanto na academia, como em empresas. De um modo geral, o interesse de estudantes do EM por carreiras científicas é baixo no Brasil, sendo esse desinteresse mais pronunciado, em média, quando se consideram as meninas (CUNHA et al., 2014). Um estudo realizado em doze países europeus mostrou que as meninas se interessam por CT pouco antes dos 12 anos de idade, em média, mas perdem o interesse por volta dos 15-16 anos (BAUER, 2017). Este potencial de meninas que poderiam se tornar pesquisadoras brilhantes e acabam por perder o interesse por ciência, tecnologia e engenharia representa uma grande perda para a sociedade. Esta pesquisa foi desenvolvida dentro do projeto de extensão “Químicas, Físicas e Engenheiras em Ação: Construindo Conhecimento” da Universidade Federal de Viçosa (UFV), com o apoio do CNPq/MCTIC/MEC. Com vistas a subsidiar a construção de uma estratégia didática capaz de despertar o interesse das meninas por ciências exatas, este trabalho visou verificar na população participante do projeto (Escolas públicas de Viçosa e região, MG) o grau de interesse de estudantes do EM e dos dois últimos anos do EF por ciências exatas, se há diferença de resultados quando se consideram os gêneros e o nível escolar, e levantar a opinião dos estudantes sobre a participação das mulheres na ciência e tecnologia.
Material e métodos
A metodologia utilizada foi a aplicação de questionários anônimos em duas escolas estaduais do município de Viçosa, Minas Gerais. Os questionários foram aplicados a um total 312 estudantes das séries finais do EF (8º e 9º ano) e 719 anos dos três anos do EM, incluindo meninos e meninas. Os alunos responderam a 10 questões objetivas que diziam respeito a suas disciplinas preferidas, disciplinas que consideram mais difíceis e profissões de interesse. Além disto, informaram se assistem canais com conteúdos científicos, se já visitaram museus de ciências e se já foram incentivados a seguirem carreiras científicas. Outro ponto questionado foi se consideram que mulheres podem ser boas cientistas ou boas engenheiras. Ainda, marcaram, entre 19 alternativas, itens que consideram estar relacionados a cientistas ou a carreiras científicas. Complementarmente, os questionários continham uma questão discursiva onde os alunos foram instigados a argumentar sobre os motivos que levam à menor participação das mulheres na ciência. Todas as questões poderiam ser deixadas em branco caso não soubessem ou não se sentissem confortáveis em responder. Os dados coletados foram tabulados e analisados por categorias. Para análise em separado por gênero ou por faixa etária, os questionários foram organizados em 4 grupos: Grupo 1 – Meninos do EF, Grupo 2 – Meninas do EF, Grupo 3 – Meninos do EM e Grupo 4 – Meninas do EM.
Resultado e discussão
Observou-se no EF um interesse pela disciplina de Ciências 13% maior entre
os meninos (52,9% para o Grupo 1 e 39,8% para o Grupo 2). É preciso
considerar que, na maior parte do EF, os temas estudados na disciplina de
Ciências se relacionam mais à área biológica que às exatas. No EM ocorre uma
divisão formal entre as áreas científicas e o interesse por ciências cai,
especialmente pelas exatas. A disciplina de Química é interessante para
apenas 14,7% dos meninos (Grupo 3) e 17,2% das meninas (Grupo 4). Para a
Física, o resultado é semelhante para o Grupo 3 (15,0%) e inferior para o
Grupo 4 (9,5%). Quando se considera o acesso a conteúdos não formais
(programas científicos em canais de TV ou internet), o interesse aumenta em
relação à sala de aula. Mas, mesmo nesse caso, há uma redução de interesse
do EF para o EM (Gráfico 1). Esses canais são mais atrativos para os
meninos. A intenção em seguir carreiras na área de CT é pequena, sendo o
percentual de interessados do Grupo 1 (13,2%) ligeiramente superior ao do
Grupo 2 (10,2%). No EM a diferença aumenta: 19,1% para o Grupo 3 e 9,0% para
o Grupo 4. Estes dados reforçam a perda mais acentuada de interesse das
meninas pela ciência à medida que avançam nos anos escolares. O Gráfico 2
mostra objetos e características atribuídas à ciência e aos cientistas pelos
entrevistados. A imagem não é completamente irrealista, pois estereótipos
como solidão, fama e loucura foram pouco mencionados. Em relação ao maior
número de homens nas áreas de CT, destacaram-se explicações mencionando a
existência de preconceito e a falta de oportunidade para as mulheres. Em
algumas respostas (de meninos e meninas) notou-se a argumentação de que os
homens teriam maior capacidade e um interesse naturalmente maior para áreas
de exatas.
Conclusões
A influência de estereótipos de gênero explica, em parte, o menor interesse das meninas por CT. Na sala de aula a ciência parece pertencer mais ao “mundo masculino”, uma vez que as leis e modelos frequentemente foram propostos por cientistas homens. Propõe-se evidenciar a participação de mulheres na CT através de filmes, notícias e outras atividades na escola. Também é preciso tornar o ensino de Química e Física mais dinâmico e atrativo para os alunos. Observa-se que o momento ideal de interferência neste processo é o EF, pois no EM o nível de interesse por ciências já está muito baixo.
Agradecimentos
Ao CNPq, MCTIC e MEC por bolsas e apoio financeiro (Processo: 442259/2018-2); Às Escolas Estaduais Dr. Raimundo Alves Torres e Effie Rolfs, seus estudantes e professores pela colaboração e disponibilidade.
Referências
BAUER, M.W. Why Europe’s girls aren’t studying STEM. Relatório da MICROSOFT, 2017. Disponível em: <https://news.microsoft.com/uploads/2017/03/ms_stem_whitepaper.pdf> Acesso em 11/08/2019.
CUNHA, M. B.; PERES, O. M. R.; GIORDAN, M.; BERTOLDO, R. R.; MARQUES, G. Q.; DUNCKE, A. C. As Mulheres na Ciência: O Interesse das Estudantes Brasileiras pela Carreira Científica. Educación Química. v. 25, no 4, 407-417, 2014.
ELSEVIER, Gender in the Global Research Landscape - Analysis of research performance through a gender lens across 20 years, 12 geographies, and 27 subject areas. Elsevier report, 2017. Disponível em: < https://www.elsevier.com/research-intelligence/campaigns/gender-17> Acesso em 11/08/2019.
INEP, Censo da Educação Superior - Resumos Técnicos 2016. Dados disponíveis em: < http://portal.inep.gov.br/web/guest/resumos-tecnicos1> Acesso em 11/08/2019.
UNESCO. Mulheres e meninas na ciência. Página Institucional UNESCO. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/science-technology-and-innovation/women-and-girls-in-science> Acesso em 11/08/2019.