Como o cego aprende: A compreensão da linguagem química para apropriação da aprendizagem de estudantes com deficiência visual.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Alves de Araujo, S. (UESB) ; Oliveira França, M. (UESB) ; Elça Rocha, M. (UESB)

Resumo

A educação inclusiva pode ser entendida como processo de inserção de alunos com necessidades educacionais especiais, em todos os seus níveis, na rede comum de ensino, por isso não pode ser tratada como um mero programa político, não sendo o termo “inclusão” dito em vão. Inerente a este contexto, o presente trabalho tem por objetivo favorecer a aprendizagem de química para estudantes com deficiência visual, levando em conta que este componente curricular apresenta símbolos e linguagem específica, o que ocasiona maior dificuldade de compreensão. Essa proposta se destacou por contribuir no desenvolvimento de matriais que auxiliaram a fomentar a aprendizagem de conteúdos específicos, bem como na apropriação de um clima harmônico e desenvolvimento de competências socioemocionais.

Palavras chaves

Ensino; Aprendizagem; Inclusão

Introdução

O ensino de química para deficientes visuais despontam como um grande desafio na contemporaneidade. Sabe-se que os indivíduos com algum tipo de deficiência devem usufruir da igualdade de direito, acesso e oportunidades, seja em um espaço formal de ensino ou não. Logo, “um processo de preparação do professor que considera as diferenças e as dificuldades dos alunos na aprendizagem escolar como fontes de conhecimento sobre como ensinar e como aperfeiçoar as condições de trabalho nas salas de aula”(BRASIL, 1995). Em relação ao ensino de química, um dos maiores obstáculos para alunos com deficiência visual é que as asserções educacionais se baseiam no referencial perceptual da visão e são acompanhadas da ausência de estímulos, da falta de acessibilidade nos laboratórios, de recursos didáticos ineficazes e pela escassez de informações que acentuam a passividade desses alunos nas aulas, necessitando que seja quebrado o paradigma de ter que “ver para aprender” (MANTOAN, 2003). Diante deste cenário, e levando em consideração que a química possui linguagem específica, que usa de representações simbólicas para expressar seus conceitos e procedimentos, e a química orgânica que caracteriza como uma área da química de compreensão meramente visual, é que nasceu do desejo de refletir: Como o cego aprende? A compreensão da linguagem química para apropriação da aprendizagem de estudantes com deficiência visual. Assegurando nessa premissa, que as leis que regulamentam o direito deste público, seja algo efetivo no trabalho docente, fazendo com que, estudantes com deficiência, tenham direito pleno de aprender química suscitando o desejo de contribuir para que tenhamos escolas inclusivas e direitos holísticos de aprendizagem, defendendo uma escola que não discrimine e não segregue.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido em uma turma da 3ª série do ensino médio, do Colégio Estadual de Planalto-BA. Levando em consideração todo o percalço vivenciado por uma estudante com deficiência visual e que ao longo do seu processo formativo, teve seus direitos violados, fazendo com que ela se adequasse à maioria dos estudantes. Essa proposta sensibilizou todos os estudantes ao vivenciarem os desafios de uma estudante com deficiência visual, seus principais enfretamentos na compreensão de química orgânica, e como produzir materiais que possam auxiliar no processo de aprendizagem em química. Em consonância com o Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP), onde afirma que se pensando na inovação da prática pedagógica, tem objetivo principal o de articular as várias formas de planejamento de trabalho da escola, de forma coletiva, visando o sucesso e permanência do aluno na escola. Procura exercer com autonomia e responsabilidade o seu papel na construção de uma educação que ofereça plenas condições de integração pessoal e profissional dos estudantes na sociedade contemporânea. Inerente a este contexto, o proposta foi iniciada com a sensibilização, a partir do Poema “E se todo mundo fosse cego?” de Fábio Brazza. Posteriormente, os estudantes tiveram seus olhos vendados, e foram convidados a assistirem uma aula sobre as funções orgânicas. Ao término, quando retiraram as vendas, puderam relatar em forma de memória de aula todas as sensações vividas naquele momento. Diante dos resultados obtidos, foi realizado um plano de ação que consistiu no desenvolvimento de materiais que auxiliasse na aprendizagem dos conteúdos, usando materiais como (EVA, esmalte, chapa de raio-x, strass, miçangas). Avaliação da eficácia do material foi feita pela estudante.

Resultado e discussão

A execução do projeto proporcionou um momento de grande reflexão na turma, e as memórias de aula apresentaram relatos que foram importantes para mudar a realidade que outrora vigorava entre a estudante cega e os demais alunos (figura 01). Ao utilizar materiais como isopor para representação de cadeias carbônicas, a estudante analisou que o uso constante deste material, dificultou a identificação dos elementos representados, ainda que utilizadas bolinhas em diferentes tamanhos e texturas (areia, esponja de aço, tinta...), tornou difícil a identificação, por conta do degaste do material ao longo do tempo. Ainda na utilização de outros materiais como esmalte e tinta em alto relevo, a estudante avaliou como umas das principais desvantagens foi o fato de serem utilizadas diferentes representações para um mesmo grupo orgânico, o que ocorreu devido ao traço proporcionado pelo uso da tinta. Quanto ao uso de EVA, a estudante informou que pequenas alterações na representação de uma estrutura, pode dificultar a compreensão e sugeriu criar um código específico para representar os grupos hidroxilados, carbonilados e carboxilados, bem como as funções nitrogenadas. Ao término da proposta foram produzidos materiais diversos para representação dos compostos orgânicos que além de colaborar para a aprendizagem da estudante cega, proporcionou um clima de harmonia e sensibilidade em toda a turma. (Figura 02)

Figura 02.

Materiais desenvolvidos pelos estudantes e avaliados pela aluna com deficiência visual.

Figura 01.

Sensibilização da proposta.

Conclusões

Por meio no desenvolvimento dessa proposta, foi possível observar que algumas pessoas criam barreiras para realizarem trabalhos com estudantes que apresentam algum tipo de necessidade educacional especial, fazendo com que estes apenas sejam ouvintes com pouca ou nenhuma participação no processo de ensino e de aprendizagem. Observou-se também o quanto precisamos fazer valer o que emana a Constituição Federal “A Educação é de Todos e para Todos”, e criar possibilidades que possam contribuir para eliminar a desigualdades que ainda vigora nos espaços escolares.

Agradecimentos

Agradecimento especial ao PROFQUI (Mestrado Profissional em Química) que nos permite enxergar a educação com maiores possibilidades de mudanças na nossa prática docente. Aos orientadores pelo apoio e suporte constantes.

Referências

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. O processo de integração escolar dos alunos portadores de necessidades educativas especiais no sistema educacional brasileiro. Séries diretrizes nº 11. Brasília: Secretaria de Educação Especial (SEESP), 1995.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão Escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

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