PROJETO SABÃO ECOLÓGICO: UMA OFICINA TEMÁTICA PARA DINAMIZAR O DEBATE SOBRE SUSTENTABILIADE COM A COMUNIDADE ESCOLAR
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ensino de Química
Autores
Sampaio Godinho, A. (IFMA/CAMPUS MONTE CASTELO) ; Sardinha Moraes, A. (IFMA/CAMPUS MONTE CASTELO) ; Campos Carvalho, E. (CE ESTADO DE ALAGOAS) ; Sirley Brandão Cavalcante, K. (IFMA/CAMPUS MONTE CASTELO)
Resumo
O presente trabalho aborda uma experiência pedagógica, sustentável e ecológica que visa o reaproveitamento de óleo de cozinha usado da escola e comunidade circunvizinha para produção de sabão. Uma oficina temática que contou com a participação de pibidianos do curso de licenciatura em Química do IFMA/campus São Luís/Monte Castelo, além de profissionais e estudantes do 2º ano do ensino médio da escola CE Estado de Alagoas, em São Luís – MA. Oportunizar a participação ativa favoreceu um ambiente de aprendizagem por descoberta aos alunos e um espaço de formação aos futuros professores. A comunidade escolar foi beneficiada com o produto final da oficina, conscientizada sobre o descarte inadequado do óleo usado e orientada sobre a possibilidade de uma fonte de renda extra.
Palavras chaves
Reaproveitamento; Óleo de cozinha; Oficina
Introdução
O uso do sabão feito a partir do óleo usado é uma ação bastante ecológica, e a discussão sobre o seu aproveitamento nas escolas contribui para a conscientização do seu despejo em local inadequado, como rede de esgoto e o solo. Uma estratégia importante é viabilizar ideias sustentáveis dentro das instituições de ensino, pois os alunos desde cedo aprendem a trabalhar métodos sustentáveis o que significa um passo interessante para se alcançar uma sociedade sustentável. Mas para adentar ao tema sustentabilidade faz-se necessário aprender sobre a mesma. O termo sustentabilidade vem sendo disseminado de forma demasiada na sociedade hodierna. Seu conceito abrange especificamente o uso de novos métodos que não agridem ao meio ambiente sem deixar de seguir os novos segmentos da sociedade atual. Entra em foco nessa assertiva a utilização de métodos de preservação capazes de minimizar a poluição de rios, mares, atmosfera, entre outros. Além do aproveitamento do óleo usado para produção de sabão, outros métodos sustentáveis como a produção de biodiesel e seu aproveitamento em resinas para tintas e massa de vidraceiro, também estão sendo usualmente empregados (BIBLIOTECA, 2016). No Brasil, estima-se que a população produz cerca de 44 milhões de toneladas de lixo, sendo que 60% dos resíduos urbanos coletados não recebem a destinação correta (BALDASSO, PARADELA e HUSSAR, 2010). O óleo de fritura é um lixo orgânico difícil de ser descartado, onde não tem destinação correta e nem tratamento. Se despejado na pia, o óleo por ser uma substância apolar e menos densa que a água, forma uma película sobre a mesma, impedindo a filtração da água, retendo sólidos e causando entupimentos das tubulações. Para o não descarte na natureza, faz-se necessário a reciclagem do mesmo, evitando a grande quantidade de óleo despejado no meio ambiente. Uma situação agravante é a elevada produção diária de óleo de frituras por empresas, como os restaurantes, o que acarreta no despejo de litros e litros do óleo no solo. O que muitos não sabem é que esta substância no solo entra em decomposição emitindo gás metano para atmosfera. Este gás é um dos principais contribuintes para o efeito estufa que corrobora no aquecimento da terra (LOPES; BANDIN, 2009). A partir dessas considerações, o presente trabalho relata uma experiência vivenciada, no âmbito do PIBID, através de uma oficina sobre produção de sabão ecológico de óleo vegetal usado em fritura pela escola e comunidade circunvizinha.
Material e métodos
A oficina Sabão Ecológico é oriunda do projeto “O lixo nosso de cada dia”, presente no calendário escolar do CE Estado de Alagoas, escola conveniada do subprojeto do PIBID-Química do IFMA, campus São Luís/Monte Castelo. Ela foi organizada em três fases pedagógicas: Planejamento, Desenvolvimento e Aplicação. Na primeira fase, três pibidianos do curso de Licenciatura em Química planejaram a oficina, como a campanha do óleo sustentável, a coleta do óleo, os testes prévios no laboratório de química e organização da oficina. O desenvolvimento da oficina consistiu inicialmente na escola com a campanha do óleo de cozinha, o qual foi recolhido em diferentes pontos de coleta, como casas, comércios e restaurantes próximo a escola. No laboratório de química do IFMA, os pibidianos realizaram 3 testes. O primeiro teste, usando Fórmula 1, que consistiu em produzir o sabão sólido: 15g de hidróxido de sódio foi dissolvido em 20 ml água, acrescentado lentamente a solução em 50g de óleo, sob agitação magnética até obter consistência. Em seguida, foi adicionado 1g de açúcar e 3g de carbonato de cálcio e agitado por mais 5 minutos. O produto final foi distribuído em frascos de 50 mL. No segundo teste, foi preparado um sabão liquido a partir da Fórmula 2, no qual 50 g de hidróxido de sódio foram dissolvidos em 55 mL de água morna, acrescentando posteriormente a solução em 100 mL de óleo morno. Após isso, foi acrescentado 200 mL de água à mistura. Para o terceiro teste foi preparado outro sabão sólido, porém usando a Fórmula 3, onde 150 g de hidróxido de sódio foram pesados e dissolvidos em 160 mL de água morna. A solução foi acrescenta lentamente em 1L de óleo morno dentro de uma garrafa pet. A mistura foi agitada por 3 minutos. Após o término, foi adicionado à solução restante e adicionado 10 mL de álcool comum. Agitou-se manualmente por 20 minutos sem parar e por fim distribuídos em formas pequenas. Todos os produtos foram mantidos em processo de maturação por 7 dias e avaliado o pH. A oficina foi planejada entre os pibidianos e a professora da disciplina de Química, com base na análise dos produtos finais obtidos nos testes prévios. Foi desenvolvido um roteiro experimental com base na Fórmula 3 e considerando as quantidades maiores proporcionais para a uma oficina adequados para uma turma de 17 alunos do 2º ano da escola, sob a supervisão dos bolsistas. A oficina iniciou com uma breve introdução sobre reações químicas de produção do sabão. Os mesmos tiraram dúvidas e frisaram a importância de utilizar os equipamentos de segurança para prevenção de acidentes, uma vez que a reação química de saponificação produz gases tóxicos. Assim deu-se início ao experimento.
Resultado e discussão
Os produtos da saponificação do óleo de fritura foram analisados conforme o
pH e procedimento de preparo. O sabão sólido obtido pela Fórmula 1 (Figura
1a) apresentou boa aparência, porém com pH 12, o que significa uma
alcalinidade bastante elevada, que pode levar a riscos à saúde da pele. Além
disso, emprega sistema de agitação magnética, dificultando o seu
procedimento na escola devido a inexistência deste equipamento na escola. O
sabão líquido (Figura 1b) apresentou espuma, cheiro desagradável e pH 13, ou
seja, inadequado para o consumo. O último sabão sólido (Figura 1c) preparado
pela fórmula 3 apresentou pH 10, considerado adequado de acordo com a
Resolução n° 1/1978 da ANVISA (ANVISA, 1978), que limita o pH do sabão
sólido menor que 11,5. Um método alternativo que emprega uma garra pet,
permitindo a homogeneização dos componentes pelos próprios alunos da escola
de forma segura e sustentável.
O início da oficina sobre Sabão Ecológico foi marcado pelas discussões sobre
sustentabilidade, resíduo zero e reciclagem, e sobretudo pelas Regras
Básicas de Segurança, uma vez que a reação de saponificação é exotérmica. A
hidrólise alcalina, durante o contato do hidróxido de sódio com a água,
libera calor podendo causar queimaduras e/ou fundir recipientes de
plásticos. Durante a oficina foi permitido que os alunos realizassem apenas
as medições dos reagentes, a agitação da garrafa pet e a distribuição do
produto final nas formas. O sabão, após o tempo de maturação, apresentou pH
10. Em seguida, os alunos fizeram uma exposição dos produtos na Feira de
Ciências da escola, uma forma de divulgar e disseminar a estratégia
sustentável proposta.
Sabão sólido - fórmula 1
Sabão sólido - fórmula 3
Conclusões
A oficina temática sobre Sabão Ecológico propiciou mecanismos intrínsecos para que alunos, futuros professores e comunidade acadêmica refletissem sobre Sustentabilidade. A metodologia permitiu a execução do experimento com materiais de baixo custo e a identificação de concepções e discussão de conceitos como sustentabilidade, resíduo zero e reciclagem. Dessa forma, faz- se necessário não somente ficar preso a este trabalho desenvolvido pela escola e comunidade mais trabalhar constantemente assuntos que circundam ao tema educação sustentável. A educação dos alunos também é de grande importância, pois os mesmos podem influenciar seus pais em atitudes mais sustentáveis e a possibilidade de uma fonte de renda extra.
Agradecimentos
Ao IFMA pelo apoio e incentivo, ao PIBID-Química e a escola CE Estado de Alagoas pela oportunidade dada aos estudantes de licenciatura em Química.
Referências
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução normativa nº 1/78. Norma sobre detergentes e seus congêneres. 1978. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/anvisalegis/resol/01_78.htm. Acesso em: 24/08/2019
BALDASSO, E; PARADELA, A.L; HUSSAR, G.J. Reaproveitamento do óleo de fritura na fabricação de sabão. Revista Engenharia Ambiental: pesquisa e tecnologia, v 7, n. 1, p. 216-228, jan./mar, 2010.
BIBLIOTECA. Reciclagem: óleo de cozinha. 2016. Disponível em: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/meio-ambiente/reciclagem-oleo-de-cozinha.php. Acesso em: 24 ago. 2019
LOPES, R.C; BALDIN, N. Educação ambiental para a reutilização do óleo de cozinha na produção de sabão – Projeto “Ecolimpo”. In: IX CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCEREE E III ENCONTRO SUL BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, 2009, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2009. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2009/2078_1012.pdf. Acesso em: 24 ago. 2019