Peptplay: o Jogo sobre Peptídeos e Proteínas no auxílio do Ensino de Química
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ensino de Química
Autores
Mariz-silva, B. (UFPB) ; Lourenço, A. (UFPB) ; Lima, I.G.B. (UFPB) ; Cruz, L.E.G. (UFPB) ; Dutra, T.F. (UFPB)
Resumo
Nos recentes anos houve um aumento na utilização de jogos educativos graças à demanda de abordagens mais lúdicas, que intermediassem o processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, além de atrativos devem ser bem planejados de modo a promover a motivação dos alunos e torná-los protagonistas de seus conhecimentos bem como estimular a cooperação entre alunos. O presente trabalho teve o tema “aminoácidos, peptídeos e proteínas”, tema este demasiado presente na vida dos alunos, trabalhando a interdisciplinaridade através da aplicação do jogo Peptplay. A atividade foi realizada na Universidade Federal da Paraíba em uma turma da disciplina de Bioorgânica com alunos dos cursos de química (bacharelado e licenciatura) cujas impressões foram utilizadas como forma de avaliação do jogo lúdico.
Palavras chaves
Jogo Didático; Bioquímica; Ensino de Ciências
Introdução
Por muitos anos acreditou-se que a aprendizagem se baseava na memorização e repetição do que chegava até os alunos. O insucesso destes era atribuído à falta de esforço ou mesmo à má vontade dos estudantes. Atualmente, já se sabe que algumas dificuldades dos alunos quanto aos conteúdos escolares também podem ser consequência do trabalho desenvolvido pelo professor. Visando aprimorar a qualidade do ensino, diversas vertentes de pesquisa têm sido feitas e, neste contexto, as atividades lúdicas têm ganhado destaque (CUNHA, 2012).Segundo Piaget (1975), existe uma importância no uso dos jogos para o desenvolvimento intelectual da criança. Para ele, de acordo com o desenvolvimento do aluno se aumenta a aprendizagem intelectual. Vygotsky (1991) também fala que o papel do brinquedo ou da brincadeira é totalmente influenciado pelas experiências sociais e culturais da criança e afeta diretamente no seu desenvolvimento. É através da brincadeira que aprende–se de forma mais natural a interdependência entre os sujeitos de seu meio. Jogos fazem parte da vida humana desde muito cedo seja como ferramenta de entretenimento ou para a aprendizagem. Além disto, estão presentes no decorrer da história, desde a época de Platão (que já sugeria a importância do “aprender brincando”), Aristóteles, no império romano, entre egípcios e maias, na idade média, renascimento, durante revoluções, entre outros. Na sala de aula, os jogos podem ser utilizados como uma forma de favorecer uma aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. Sendo assim, o jogo precisa promover a diversão, mas, acima de tudo, deve servir como instrumento educativo, possuir uma finalidade de ensino para a aprendizagem de conceitos científicos.(CUNHA, 2012)Entretanto, não basta afirmar que o papel dos jogos é contribuir para a aprendizagem de conceitos científicos que promovam desenvolvimento. Um jogo didático deve ser bem planejado e obedecer uma série de critérios para ser viável pedagogicamente: deve motivar os alunos; incentivar a ação do aluno, torná-lo protagonista e independente; ser de fácil entendimento e ter uma proposta pedagógica bem estruturada; estimular a cooperação entre os demais alunos; incentivar os alunos a construir seus próprios esquemas de resolução de problemas; explorar as potencialidades de cada aluno; guiar o aluno ao entendimento dos seus erros e explicá-los, fazendo com que o próprio aluno venha a pensar em formas de aprender, partindo do seu erro; e criar um ambiente, que envolva os estudantes, sendo atrativo e desafiador, estimulando o pensamento crítico. A construção do conhecimento a partir de uma atividade lúdica, como um jogo, com propósitos educacionais permite que o conteúdo didático seja apresentado de modo não formal e o desafio de vencer os obstáculos possibilita ao aluno-jogador a fixação dos conceitos já aprendidos, a socialização, o trabalho de equipe e a interdisciplinaridade (CANESIN et al., 2012). Este último aspecto obtém um destaque no que se refere à troca de saberes e formação conjunta de aprendizado, o que torna o ensino mais sólido e contextualizado, promovendo uma visão mais articulada ao educando. Então aplicado ao lúdico do jogo didático a interdisciplinaridade permite o intercâmbio mútuo e interação de conhecimentos de forma recíproca e coordenada. O tema utilizado para construção do jogo foi o da formação de proteínas e peptídeos a partir de um conjunto de aminoácidos . Pois, estas são macromoléculas de extrema importância para a vida e encontram – se presente nos mais diversos tipos de tecidos e estruturas que formam os animais e plantas. Além disto, outro atrativo do tema foi a possibilidade de trabalhar com a interdisciplinaridade entre a química e a biologia já que as proteínas, peptídeos e aminoácidos estão presentes em membranas (glicoproteínas), enzimas, são precursores dos ácidos nucleicos, hormônios, respostas imunológicas, recuperação de células, entre outros. Desta forma, apresentar aos alunos as características, funções, estruturas e relevância por meio de formas lúdicas, pode elucidar os conhecimentos adquiridos em sala. Assim, compreender a importância da inserção de novas metodologias no ensino de química e, em face às dificuldades enfrentadas tanto pelos professores que não conseguem desvencilhar suas metodologias com o ensino tradicional, como também pelos alunos que por muitas das vezes não conseguem se apropriar do conteúdo químico obtendo uma aprendizagem defasada, se torna necessário entender e buscar reverter tal cenário, tornando o processo de ensino- aprendizagem mais democrático, permitindo que alunos e professor explorem a disciplina de forma contextualizada e interdisciplinar, especificamente, o conteúdo de Bioquímica. Nessa perspectiva, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a utilização do jogo didático intitulado “Peptiplay” como uma estratégia metodológica e alternativa de ensino que impulsione o interesse dos alunos em aprender o conteúdo de aminoácidos, peptídeos e proteínas.
Material e métodos
O estudo foi realizado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) na disciplina Bioorgânica, um componente obrigatório da grade do curso de química nas habilitações bacharelado e licenciatura com 60 horas. Visto que trabalhar a interdisciplinaridade é um dos facilitadores que promove um melhor entendimento dos conteúdos optou-se por trabalhar com o conteúdo de “aminoácidos, peptídeos e proteínas” através de um jogo lúdico. Foram utilizadas duas aulas de uma hora para a explicação e aplicação do jogo que consistia na análise de fragmentos de peptídeos para agrupá-los na sequência correta. Os materiais do jogo foram uma roleta com três níveis de perguntas e perguntas-desafio, tabelas com regras de quebra de ligações peptídicas e tabelas com as estruturas dos 20 aminoácidos existentes. O nível 1 contendo sequências de peptídeos com 6 aminoácidos, o nível 2 contendo sequências de 8 aminoácidos e o nível 3, com sequências de 12 aminoácidos. Já as questões-desafio consistiam em perguntas sobre a estrutura, funções e relevância de aminoácidos, peptídeos e proteínas. As perguntas utilizadas apresentavam as quebras realizadas por reagente de Edman, carboxipeptidase A, tripsina e químiotripsina e os fragmentos ocasionados por cada uma destes como ilustrado no Exemplo 1: Exemplo 1: 1. Reagente de Edman – Remove aminoácido N-terminal 2. Carboxipeptidase A – Remove aminoácido C-terminal 3. Tratamento com tripsina (hidrólise lado C do Arg e Lys) 4. Tratamento com quimiotripsina (hidrólise lado C da Phe, Tyr e Trp) 5. BrCN (hidrólise lado C do Met) Nível 1: 6 aminoácidos 1. Lys 2. Glu 3. Lys / Tyr, Ala, Phe, Glu, Val 4. Glu. Val / Phe, Ala / Tyr, Lys A sala foi dividida em grupos de quatro ou cinco alunos aos quais foram distribuídos os cartões contendo as estruturas, nomes e simbologias dos 20 aminoácidos encontrados na natureza e o guia com informações sobre reagentes que realizavam a quebra dos peptídeos. Foram feitas todas as explicações e foi realizada uma rodada de teste para que os alunos se familiarizassem com as regras antes de o jogo em si ser iniciado. Um dos componentes do grupo devia rodar a roleta e, então, escolher uma questão dentre os cartões dos três diferentes níveis ou nos cartões com questões-desafio. Após todos os grupos receberem uma pergunta a depender do que a roleta indicou, iniciava – se uma disputa e o grupo que apresentasse a sequência correta mais rapidamente recebia pontos: o nível 1 rendia 1 ponto, o nível 2, 2 pontos e o nível 3, 3 pontos. O objetivo do jogo é acertar a maior quantidade de sequências e questões-desafio coletando a maior pontuação possível. Ao grupo vencedor, é concedido um troféu comestível feito de balas de goma organizadas em formato de proteína.
Resultado e discussão
A contribuição pedagógica do jogo didático apresentado neste trabalho foi
analisada por meio de questionários de avaliação dos discentes, nos quais os
alunos expressaram suas opiniões em relação à experiência com o jogo. No
entanto, esse reconhecimento da potencialidade do estudante só é possível se
a atividade tiver conceitos científicos para que, durante o jogo, o
estudante seja capaz de pensar e responder. Ou seja, o jogo deve lhe exigir
mais do que ele poderia fazer sozinho, mas que poderia realizar em grupo e
com o professor. (VIGOTSKI, 2009).
Em um primeiro momento na sala de aula da turma foi apresentado aos alunos,
o objetivo do trabalho, tal como toda a proposta pedagógica do jogo em
questão, explicando suas regras. Inicialmente, foi realizada uma exposição
do conteúdo químico do jogo alternando com incluindo diálogos, o intuito foi
de fazer um levantamento prévio sobre o conhecimento que os alunos possuíam
sobre assuntos como: Aminoácidos, Peptídeos e Proteínas. Inicialmente, os
alunos apresentaram muitas dúvidas sobre o assunto e, por isso, durante o
desen¬volvimento do jogo, os conceitos foram sendo revisados. É importante
ressaltar que esse fato já era esperado, por esse motivo foram distribuídos
cartões com as informações necessárias para a consulta de alguns conceitos e
estruturas químicas do conteúdo abordado no jogo.
Ao término do jogo, teve início um segundo momento, foi entregue os
questionários aos alunos contendo quatro questões abertas, com o objetivo de
compreender a visão dos alunos para com a metodologia utilizada, bem como a
experiência de participar do jogo e aprimoramento do jogo pelas críticas
Quando questionados se conseguiam relacionar as questões do jogo aos
conteúdos vistos em sala, os alunos foram enfáticos ao afirmarem que sim.
Com isso percebeu-se que o jogo foi bem elaborado e se preocupou em atender
ao que era abordado em sala de aula, contribuindo no alinhamento da forma de
ensinar e divertir, sendo reconhecido na seguinte resposta de um aluno “Sim,
as perguntas do jogo foram bastante pertinentes com o conteúdo, e o jogo
levou a uma maior assimilação e aplicação dos conhecimentos teóricos
adquiridos em aula”.
Outro questionamento foi saber a importância do jogo como metodologia
alternativa na construção do conhecimento sobre os conteúdos abordados,
diferentes respostas foram obtidas, mas destacamos a seguinte: “O jogo foi
importante para treinar meus conhecimentos e fixar melhor os questionamentos
que poderiam ser feitos posteriormente em avaliações. Além disso, o cérebro
responde de forma diferente frente a desafios que não remetem a uma
avaliação direta, portanto, o jogo é uma forma de treinamento do
conhecimento sem a pressão do recebimento de uma avaliação quantitativa”.
Essa resposta demostra um sentimento comum aos alunos que participaram do
jogo, que é a preocupação com escassez da diversificação das formas do
ensino.
Dentre os aspectos mais interessantes do jogo os alunos destacaram: A
dinâmica de como as perguntas eram colocadas para cada grupo, a forma mais
direta que as respostas tinham e como os membros do grupo podiam cooperar
simultaneamente na resolução das questões.
Por fim, foi questionado sobre quais foram as maiores dificuldades
encontradas no jogo, entre as respostas dos alunos a mais recorrente era o
tempo necessário para identificar os peptídeos mais complexos. Isto é
natural, sabendo que logicamente se aumentarmos a quantidade de aminoácidos
presente em uma estrutura, maior será a quantidade de possibilidades que
podem formar determinadas sequências peptídicas.
Nardin (2007) considera que é possível observar uma melhora de resultados
quando se aplica os jogos após a apresentação de um assunto, pelo fato do
jogo possuir aspecto estimulante, facilitando a aprendizagem e melhorando o
aproveitamento das aulas. Analisando os resultados obtidos por meio do
questionário, percebemos que os alunos gostaram do jogo, aprenderam sobre o
tema e foram estimulados pelo jogo, pois durante a aplicação com a turma,
verificamos entusiasmo e interesse em participar.
Roleta contendo os três níveis de questões e questões-desafio, cartão contendo estruturas, nomes e simbologias de aminoácidos e o guia com reagentes.
Conclusões
Podemos concluir que o jogo Peptplay não foi um “construtor do saber” se tratado isoladamente, mas é possível garantir que o seu uso abriu um leque de oportunidades, fortalecendo o conhecimento dos alunos e sendo mais uma alternativa de recurso de aprendizagem para o participante e ensino para o professor. O jogo Peptplay foi preparado com uma dependência pedagógica, para que o objetivo principal da realização jogo fosse alcançado com êxito, que é conseguir diversificar o ensino e aprendizagem. Sendo assim, percebe-se que de uma forma instigante e divertida os alunos compreendiam e fixavam melhor o conteúdo. Outra constatação interessante foi a notória participação dos estudantes. Diante dos relatos/opiniões dos alunos através do questionário aplicado na segunda parte, podemos concluir que com o peptplay foi possível reforçar o que já era conhecido sobre os assuntos proposto, Aminoácidos, Peptídeos e Proteínas através de um jogo eu foge das metodologias tradicionais de ensino e aprendizagem. O jogo Peptplay apresentou potencial como um recurso útil para reforçar o conhecimento, corrigir erros conceituais, fortalecer as relações interpessoais, contribuir no aprendizado dos alunos sobre o conteúdo proposto. A principal dificuldade observada ao longo da aplicação do jogo, foi a duração do tempo de resposta, considerando que quanto maior o nível (1, 2 e 3), a resposta necessitava de um pouco mais de atenção, pois a sequência de aminoácidos era maior. Os jogos lúdicos têm sido utilizados como uma estratégia de recurso para construção do conhecimento. Esse recurso não pode ser visto como a solução para o aprendizado dentro da sala de aula. É um recurso didático, que auxilia na formação do aprendizado, apresenta curta duração e que fortalece valores sociais como o respeito, responsabilidade e solidariedade. Estimulando de uma forma saudável a competição, interação e cooperação de todos os participantes.
Agradecimentos
Agradecemos à Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em pessoa do Prof. Dr. Sávio Moita Pinheiro por disponibilizar o tempo de sua aula para aplicação do jogo, bem como por suas contribuições para o trabalho.
Referências
CANESIN, F. P.; LATINI, R. M.; SANTOS, M. B. P.; COUTINHO, L. R.; BERNEDO, A. V. B. As abordagens dos conteúdos de Química no jogo didático denominado “Jogo das Águas”. Ensino, Saúde e Ambiente, v. 5, n. 2, p. 246-257, 2012.
CUNHA, M. B., Jogos no Ensino de Química: Considerações Teóricas para sua Utilização em Sala de Aula. Revista Química Nova na Escola, vol. 34, n. 2, p. 92-98, 2012.
NARDIN, I. C. B. Brincando aprende-se química. Dia a dia educação, 688-4, 2008.
PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975
VYGOTSKY, L. S. O papel do brinquedo no desenvolvimento. In: ______. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.