AS DROGAS COMO TEMÁTICA NO ENSINO DA QUÍMICA ORGÂNICA

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Queiroz, L.W.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Lima, A.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Berto, F.R. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Santos, G.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Silva, I.S.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Lima, J.P. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Lima, J.O. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Pereira, P.K.L. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Andrade, V.M. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE) ; Silva, A.S. (EEEFMJRO) ; Neto, M.H.L. (UFCG)

Resumo

O uso de temas cotidianos, além de tornar as aulas mais dinâmicas e atrativas, aproximam o cotidiano dos alunos aos conceitos estudados. A temática “drogas” tem o papel de evidenciar as consequências do uso das drogas contextualizando, interdisciplinarizando o saber e envolvendo questões sociais, morais e cidadãs. Este projeto foi destinado a alunos da 3ª série do Ensino Médio de uma escola estadual paraibana, na qual utilizou- se de instrumentos metodológicos como júri simulado, aulas experimentais e produções de audiovisuais na busca de uma aprendizagem significativa dos conceitos relacionados à Química Orgânica. O trabalho contribuiu para o desenvolvimento dos alunos ao longo de cada etapa, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico e despertando o interesse pela química.

Palavras chaves

Contextualização; Interdisciplinaridade; Experimentação

Introdução

O aprendizado de Química no ensino médio deve possibilitar ao aluno a compreensão tanto dos processos químicos em si quanto como da construção de um conhecimento científico em estreita relação com as aplicações tecnológicas e suas implicações ambientais, sociais, políticas e econômicas (BRASIL, 2002, p.87). É importante que os conteúdos de química sejam relacionados com o contexto social dos alunos com o objetivo de formar cidadãos críticos e autônomos em questões do dia-a-dia (SANTOS; MORTIMER, 2002, SANTOS; SCHNETZLER, 1996). Contudo, os alunos questionam o ensino de química, porque muitos professores não contextualizam os conhecimentos químicos com a realidade do aluno, pois as aulas são ditas como difíceis e angustiantes (RODRIGUES, et al. 2000). Por isso, é fundamental que os professores se atentem para um modelo construtivista em suas práticas de sala de aula para um melhor desenvolvimento e aprendizagem para o aluno, pois é papel da escola investigar e trabalhar os conceitos sociais em que o aluno vive, como está estabelecido. Neste contexto, a escola precisa cumprir o seu papel que “é o de investigar, problematizar e discutir os fatos, situações e acontecimentos presentes no dia-a-dia dos alunos de modo a lhes possibilitar novas formas de compreensão das realidades vividas, à luz e através do acesso ao saber estruturado, a ciência” (MALDANER & ARAÚJO, 1992, p. 20). Muitos alunos se mostram desmotivados durante as aulas, e isso pode ser atribuído a problemas sociais, familiares e até mesmo pelos tradicionais programas de ensino. Existe uma movimentação, por parte de alguns pesquisadores brasileiros, para tentar modificar essa realidade. Os próprios documentos curriculares brasileiros orientam para que o professor trabalhe os conteúdos disciplinares de maneira contextualizada, utilizando temas relacionados ao cotidiano dos alunos. Entretanto, muitas vezes essa mudança esbarra em obstáculos educacionais, como a falta de apoio de outros professores, que muitas vezes se recusam a desenvolver trabalhos mais dinâmicos. Portanto, os estudantes do ensino médio, independente da instituição que estudam, não demostra interesse pelas as disciplinas de ciências e, segundo Richetti & Filho (2009), os alunos sentem dificuldade em relacionar ou entender os assuntos passados, visto diariamente em sala de aula. Nesse sentido, este trabalho irá apresentar relatos de sala de aula de um projeto com a temática “drogas” relacionada aos conceitos de química orgânica. Tal projeto foi escolhido pela participação e desenvolvimento da aprendizagem dos alunos através dos questionamentos do conceito de drogas e por ser um tema bastante relevante na sociedade, relacionando o conteúdo de química com questões sociais e políticos. Tendo em vista a importância do tema “a química das drogas”, buscamos conscientizar os alunos sobre as consequências causadas pelo uso dessas substâncias, além de abordar os conceitos de química orgânica relacionados com o tema droga lícitas e ilícitas. Buscamos, ainda, estabelecer uma ligação entre o tema e a realidade dos alunos em torno dos fatores que influenciam o uso das drogas no seu município, com o intuito de tornar os assuntos de ciências, nesse caso a química, mas atrativos, oportunizando uma conscientização para a sociedade em formação, colaborando no desenvolvimento de pensadores críticos no seu dia a dia.

Material e métodos

O presente projeto foi realizado na região do curimataú paraibano, no município de Nova Floresta-PB, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio José Rolderick de Oliveira em uma turma de 3ª série do ensino médio compreendendo um total de 20 alunos. O projeto foi dividido em três etapas. Na primeira etapa, foi aplicado um questionário, o qual serviu para obter os conhecimentos prévios dos alunos. Logo após, as intervenções foram divididas em duas partes, abrangendo tanto drogas lícitas quanto ilícitas. Na segunda etapa, iniciamos o estudo sobre drogas ilícitas partindo de uma intervenção sobre alusões históricas, o uso de drogas ao longo da história, qual o primeiro alucinógeno e em qual região ele era encontrado. Logo após, foi pedido para os alunos estudarem e pesquisarem argumentos contra e a favor da legalização da maconha. Na aula seguinte, a turma se dividiu em dois grupos, um de frente para o outro, para um debate de opiniões. Em seguida, foi realizada uma pesquisa de campo com a comunidade local, na qual dividimos a turma em 6 grupos, onde cada grupo se direcionou para um bairro diferente da cidade para abordar a maior quantidade possível de pessoas, para saber se a população era a favor ou contra a legalização da maconha. Logos após a pesquisa de campo, os alunos fizeram o tratamento de dados e discutiram os resultados em sala de aula. Para reforçar o debate, foi organizado um júri simulado no qual formaram-se dois grupos sendo um com integrantes que mostraram-se favoráveis à legalização das drogas e outro com opinião contrária à legalização. Foram escolhidos dois alunos de cada equipe que mais se destacaram na etapa das discussões para serem os promotores e os advogados de defesa. Estes alunos montaram suas equipes de testemunhas e preparam suas pautas e argumentos para o júri. Os alunos indecisos optaram por compor a equipe de jurados. Para conduzir o julgamento, a professora foi a juíza. Na terceira etapa foi trabalhado as drogas lícitas, onde foram abordados os grupos funcionais orgânicos álcoois, fenóis, amina, amida e éteres. Para isto, foram utilizados textos e vídeos mostrando o efeito do álcool no corpo e sua consequência. Logo após, foi proposto aos alunos uma produção áudiovisual demostrando os efeitos do álcool e outro vídeo mostrando a função orgânica álcool. Feito isto, utilizou-se vídeos e textos para abordar os malefícios do cigarro à saúde, bem como as composições químicas presentes. Foi realizada uma roda de conversa para discussão do tema e, em seguida, realizamos um experimento simulador de um fumante.

Resultado e discussão

Os resultados do questionário aplicado ao início do projeto mostraram que o conhecimento dos alunos em relação às drogas limitava-se ao conhecimento adquirido a partir de experiências, vivências e observações do mundo tendo pouco ou nenhum embasamento científico na construção das suas respostas. Na primeira questão foi perguntado “quais as consequências do uso das drogas”. Seis alunos disseram que em doenças, nove em dependência e cinco não sabiam ou não quiseram responder. Tais respostas nos ajudaram a sabermos onde devíamos trabalhar em quais pontos podíamos enfatizar a questão das drogas. A segunda questão procurava saber: “você conhece alguma função orgânica presente nas drogas?”, os vinte alunos responderam que não sabiam, o que evidenciou que assuntos sociais, ou do cotidiano do aluno não têm sido vistos e nem trabalhados em sala de aula, fazendo-se pouca relação entre eles. E, visto que a educação é um dos primeiros métodos para a prevenção de problemas como drogas na sociedade, o conhecimento do cotidiano agrupado com o conhecimento científico é imprescindível. Na terceira questão, foi perguntado: “Você acha que a escola deveria orientar os alunos sobre as consequências do uso das drogas?”. Todos os 20 alunos disseram que sim, o que também está relacionado à quarta pergunta do questionário de diz: “Você acha que a disciplina de química pode abordar a temática droga?” e todos os alunos marcaram que sim, ou seja, isso informa que os discentes sentem a necessidade e a curiosidade de saber informações sobre coisas do seu dia a dia, que está dentro da sociedade que o aluno vive e, principalmente, como a escola pode trazer e relacionar esse contexto social para os alunos em sala de aula, já que a escola é o grande momento de prevenção do uso de drogas e muitas são as formas de ações (LEONARDO, 2006/2007, p 144). No decorrer da segunda etapa, os alunos começaram a despertar o interesse pela temática do trabalho por meio dos vídeos, textos e conversas realizadas. Na pesquisa solicitada sobre a legalização da maconha, um grupo havia estudado argumentos e propostas que defendiam a legalização da maconha no país, o outro, argumentos contra a legalização. A aula foi uma troca de informações conhecimentos, na qual foi superada toda as expectativas, pois os alunos trouxeram argumentos de países subdesenvolvidos e desenvolvidos que está implementado a legalização da maconha e os efeitos causados. Em relação à pesquisa de campo, os alunos observaram que a maioria das pessoas entrevistadas era contra a legalização da maconha. Diante das discussões realizadas, os alunos relataram que muitas pessoas apresentavam grande aversão à temática e relacionaram isto à falta de conhecimento científico relacionada às contribuições medicinais desta planta. No entanto, observaram que as pessoas apresentam-se receosas à legalização em virtude da forte relação das drogas à violência no nosso país. Assim, observamos que os alunos se desempenharam bastante nessa atividade de pesquisa de campo, mostrando que tinham domínio do assunto aprendido nas aulas de química e o conhecimento nas pesquisas e textos. Estes conhecimentos foram evidenciados na etapa de júri simulado, no qual os alunos reuniram argumentos extremamente relevantes à discussão. Evidenciou-se o respeito às opiniões contrárias que eram rebatidas com fundamentos claramente relacionados a uma profunda pesquisa e estudos. No fim, os advogados de defesa à legalização da maconha foram mais convincentes ao longo do julgamento, vencendo o caso (Figura 1). Em relação à produção de vídeos os alunos se saíram muito bem, abordando situações e fatos que ocorrem quando se ingere uma quantidade excessiva de álcool no organismo. Abordaram assuntos de questões sociais e de cidadania mostrando questões como “o álcool e a direção”, “os Jovens em festa bebendo”, entre outros. Foi observado que os alunos compreenderam a relação entre a função orgânica álcool e os aspectos cotidianos e, principalmente, informaram-se sobre os riscos oferecidos pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas o que está em consonância ao que diz Bernardelli (2004) de que o professor deve relacionar os conhecimentos às necessidades básicas do ser humano como: alimentação, vestuário, moradia, transporte e outros, nos quais os conceitos químicos estão implícitos." Na abordagem relacionada à outra droga lícita, o cigarro, os alunos apresentaram diversos questionamentos como, por exemplo, se a nicotina ficava presa na garganta, quanto de nicotina poderia causar a morte de uma pessoa, se a amina está presente no cigarro, etc. Estas discussões resultaram num grande interesse dos alunos em realizar a etapa experimental que consistiu na construção de um simulador de um fumante com materiais de baixo custo (figura 2). Esta atividade foi muito interessante, pois os alunos se sentiram incomodados com o mau cheiro do cigarro usado no experimento, bem como com o resultado final do experimento. É importante ressaltar que alguns alunos da turma eram fumantes e sugiram muitas indagações destes em relação ao fato de não sentirem o mau cheiro enquanto fumam. Os alunos ainda ficaram surpresos com a quantidade de nicotina presente no cigarro, o que mostra a importância do trabalho experimental, se adaptando à realidade do aluno. Segundo Fonseca (2001) o trabalho experimental deve estimular o desenvolvimento conceitual, fazendo com que os estudantes explorem, elaborem e supervisionem suas ideias, comparando-as com a ideia científica, pois só assim elas terão papel importante no desenvolvimento cognitivo.

Figura 1: Pesquisa de campo e júri simulado

Fonte: Autoria própria, 2019.

Figura 2: Experimento simulador de um fumante

Fonte: Autoria própria, 2019.

Conclusões

Com o presente trabalho que utilizou-se de métodos de ensino e aprendizagem pedagógicos construtivistas, obtivemos uma resposta positiva dos alunos, com uma participação mais ativa a medida em que os conteúdos foram sendo ministrados e abordados em sala de aula. A temática drogas, relacionada com a química orgânica, gerou uma maior interação, uma vez que os assuntos citados estão relacionados ao seu dia a dia. Observamos que, sendo este um assunto considerado tabu para a sociedade, despertou bastante a curiosidade e questionamentos, fazendo com que os alunos buscassem na pesquisa e nas discussões em sala de aula respostas para os seus questionamentos tornando-se, assim , agentes ativos da sua aprendizagem. Deste, modo, constatamos que os objetivos propostos pelo presente projeto foram alcançados.

Agradecimentos

Ao PIBID/UFCG/CAPES que nos proporcionou a realização desse trabalho e à supervisora Aline, que foi fundamental para a realização desse projeto.

Referências

BERNARDELLI, M. S. Encantar para Ensinar - um procedimento alternativo para o ensino de química. In: Convenção Latino Americana, Congresso Brasileiro e encontro paranaense de psicoterapias corporais. Foz do Iguaçu. Anais. Centro Reichiano, 2004.

BRASIL, Secretaria Nacional Antidrogas. Política Nacional Antidrogas. Brasília: Presidência da República, Secretaria Nacional Antidrogas, 2002.

FONSECA, M. Química Geral. São Paulo: FDT, 2001.

LEONARDO, J. B. Drogas: perguntas e respostas. 4 ed. Lions Clube: Maringá, 2007.

MALDANER, O. A.; ARAÚJO, M. C. P. A participação do professor na construção do currículo escolar em ciências. Espaços da Escola, Ijuí: UNIJUI, V.1, n.3, p. 18-28, jan/mar. 1992.

RODRIGUES, J. R, et al. Uma abordagem para o ensino da função álcool. Química Nova na Escola, [S.I.], n. 12, p. 20-23, 2000.

RICHETTI, G. P; FILHO, J. P. A. Automedicação: um tema social para o Ensino de Química na perspectiva da Alfabetização Científica e Tecnológica. Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.2, n.1, p. 85-108, mar. 2009.

SANTOS, W. P.; MORTIMER, E. F. Uma Análise de Pressupostos Teóricos da Abordagem CT-S (Ciência - Tecnologia - Sociedade) no Contexto da Educação Brasileira. Ensaio - Pesquisa
em Educação em Ciências. v. 2, n. 2, dez. 2002.

SANTOS, W. L. P.; SCHNETZIER, R. P. Função social: o que significa ensino de química para formar o cidadão? Química Nova na Escola, n. 4, Pesquisa no Ensino de Química, novembro, p. 28-34, 1996.

Patrocinadores

Capes Capes CFQ CRQ-PB FAPESQPB LF Editorial

Apoio

UFPB UFPB

Realização

ABQ