QUÍMICA FORENSE: UMA ABORDAGEM EM CTS COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Andrade, V.M. (UFCG) ; Berto, F.R. (UFCG) ; Lima, J.P. (UFCG) ; Lima, J.O. (UFCG) ; Pereira, P.K.L. (UFCG) ; Queiros, L.W.P. (UFCG) ; Santos, G.L. (UFCG) ; Silva, I.S.O. (UFCG) ; Silva, A.S. (UFCG) ; Neto, M.H.L. (UFCG)

Resumo

O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma abordagem metodológica tendo a ciência forense como objeto de conhecimento para o ensino-aprendizagem da Química. O público alvo foram 23 alunos de uma turma de 1ª Série do Ensino Médio de uma escola Estadual da Paraíba. Os alunos receberam uma cena de crime fictícia intitulada “Quem matou Sarah Parker?”. Foi entregue um roteiro investigativo com informações sobre a vítima, os suspeitos, as evidências e as etapas de investigação. Após experimentos, análise de amostras e anotações, os alunos compartilharam suas conclusões e, depois, foi revelado a eles como, de fato, ocorreu o crime. Observamos que o caráter científico-investigativo proporcionou-lhes uma aprendizagem significativa tornando-os agentes ativos e colaborativos da sua aprendizagem.

Palavras chaves

Contextualização; Interdisciplinaridade; Investigações

Introdução

Uma das dificuldades dos professores de Química no processo de ensino e aprendizagem é encontrar meios que correlacionem o conteúdo teórico, o conhecimento prévio do educando e o contexto social por ele vivenciado. Entende-se que o ensino de Química não se deve resumir à mera transmissão de conteúdos, tendo o professor como conhecedor de toda abordagem e os alunos como expectadores. Tampouco conseguiremos cidadãos críticos, conhecedores e sujeitos da própria aprendizagem, capazes de agir e refletir sobre o mundo, com o objetivo de transformá-lo, se tentarmos moldá-los, ajustá-los, submetendo-os a padrões avaliativos que mais punem do que preparam. Neste aspecto, a ciência forense abrange uma série de conhecimentos que têm se tornado instrumentos metodológicos importantes nas abordagens do cotidiano escolar, em especial, na disciplina de Química. A ciência forense pode ser descrita como uma atividade que dá suporte às investigações que se referem a crimes, tendo como foco principal excluir, um suspeito envolvido ou não em um crime, assim, livrando um inocente por algo não cometido. Por outro lado, a ciência forense também é capaz de apontar o envolvimento de um suspeito, que possa apresentar perigo a sociedade. Para isso, a ciência forense usa dos conhecimentos de física, biologia, química, matemática, antropologia, entomologia e várias outras ciências que possam ter utilidade nas investigações (SEBASTIANY et al, 2011). Este trabalho foi desenvolvido por alunos-bolsistas Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do subprojeto Química da UFCG, campus Cuité-PB, com uma turma de 1ª Série do Ensino Médio de uma escola estadual da Paraíba. O objetivo deste trabalho foi apresentar uma proposta de ensino que procura contextualizar a Química através do tema investigação criminal, buscando contribuir para a compreensão de conceitos científicos de Química por parte dos estudantes do ensino médio. Para isso, optou-se por trabalhar com uma proposta didática alternativa ao ensino tradicional. Essas metodologias foram empregadas com o propósito colocar o aluno como sujeito ativo na construção do seu conhecimento, com intuito de tornar possível o aumento do interesse dos estudantes por temas científicos, motivando-os assim para a construção de seu conhecimento.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido com 23 alunos de uma turma da 1ª Série do Ensino Médio da Escola Estadual José Rolderick de Oliveira, no município de Nova Floresta – PB. Os espaços utilizados foram a sala de aula, o laboratório de ciências, a biblioteca e o laboratório de informática da referida escola. Iniciamos esta abordagem por meio de aulas teóricas, leituras de textos e debates sobre o tema ministrados na forma de oficinas temáticas compreendendo os estudos sobre o DNA (Biologia), balística (Física), análise de manchas de sangue na cena do crime (Química), entre outros, tornando a inclusão do caráter interdisciplinar indispensável nesta proposta pedagógica. Após esta etapa, os alunos receberam uma cena de crime fictícia que foi intitulada “Quem matou Sarah Parker?”. Foi entregue aos alunos um roteiro investigativo e os bolsistas do Pibid, junto com a professora orientadora, apresentaram slides contendo informações sobre a vítima, os suspeitos, as evidências e quais as etapas de investigação os alunos deveriam seguir para desvendar o crime. Os alunos realizaram experimentos, análise de amostras e anotações e foi solicitado que eles formulassem um resumo completo explicitando detalhes de como a personagem foi morta e quem a matou. Ao fim do prazo estabelecido, os alunos compartilharam suas conclusões e, em seguida, foi revelado a eles como, de fato, ocorreu o crime. Ao fim da etapa científico-investigativa, foi realizada uma etapa sociocultural envolvendo os problemas relacionados à violência na sociedade. Contamos com a colaboração de dois professores da área de Ciências Humanas, apresentando discussões sobre a violência no Brasil e no Estado da Paraíba. Assim, contribuíram para o momento de informação e debates o qual contemplou atividades como dinâmicas, leitura, interpretação e discussão de textos e na apresentação cultural realizada em seguida, por meio de uma peça teatral envolvendo cordéis, músicas e poesia. Para fins de análise qualitativa do projeto, aplicamos um questionário ao final das atividades.

Resultado e discussão

Questionamos os alunos como eles classificaram a investigação do caso fictício do assassinato de Sarah Parker e obtivemos respostas como: • “Muito boa, pois nela conseguimos ter a experiência parecida de um investigador criminal e isso é muito legal para nos dar conhecimento.” • “Foi ótima, mesmo causando bastante conflitos com nós mesmos. Foi um meio extraordinário de nós conseguirmos defender as nossas ideias.” • “Porque foi praticamente como se fosse algo real usando sua lógica, seu raciocínio; muito bom!” Observamos que esta atividade atingiu positivamente 100% dos alunos envolvidos e, diante das justificativas, notamos que o caráter científico- investigativo caracterizou-se como um processo de aprendizagem dinâmico e que proporcionou aos alunos uma aprendizagem significativa tornando-os agentes ativos e colaborativos no processo de ensino-aprendizagem. Ao longo das investigações, foi possível notar a curiosidade e o empenho dos alunos em desvendar o crime, ansiosos por mais pistas e promovendo discussões. Os alunos participaram ativamente colhendo as evidências, analisando-as, fazendo anotações a cada novidade sobre o caso (Figura 1) e realizando os experimentos de análise propostos ao longo da investigação. Destacamos que os experimentos utilizados para a análise de evidências foram baseados na proposta de materiais de baixo custo devido à falta de reagentes disponíveis na escola. No entanto, este não foi e, de modo nenhum, pode ser visto como fator de impedimento para a realização de atividades como esta. Isto comprova o que apontam Schwahn e Oaigen (2009) de que, para obter êxito em sua execução, a experimentação não deve estar associada apenas a um aparato experimental sofisticado, mas sim à sua organização, discussão e análise, o que possibilita interpretação dos fenômenos químicos e a troca de informações entre o grupo que está realizando o experimento. Após a realização das análises, os alunos socializaram suas conclusões e doze alunos acertaram quem havia sido o assassino e como ocorreu o crime, alguns acertando detalhes do ocorrido, o que evidenciou o cumprimento de um dos nossos objetivos que foi o desenvolvimento do caráter investigativo, da observação e interpretação de resultados, bem como da associação aos conhecimentos teóricos. Na segunda parte do projeto (figura 2), pudemos atingir o objetivo de melhorar a capacidade cognitiva dos alunos e aprimorar competências de relacionamento pessoal e comunicação, por meio das discussões e do desenvolvimento da opinião crítica. Através desta etapa, evidenciou-se a importância de tratar de assuntos concernentes às problemáticas socioculturais vivenciadas na escola dando ênfase à violência. Este resultado pode ser observado mediante às respostas apresentadas pelos alunos em relação a esta atividade: • “Projetos como esses tocam bastante, mesmo quem não deseja ser tocado. Para mim foi uma gratidão enorme, além de ter sido tratado um tema mais que importante, o trabalho em grupo, quando trabalhado de verdade, sem brincadeiras e criancices, finaliza do jeito que foi finalizado.” • “Nos ajudou muito a entender que nossas diferenças não nos faz ser pior que alguém, pelo contrário, ficou bem claro na peça que todos somos iguais independentemente do modo que somos.” • “Sim, fez muita diferença entre os alunos da minha sala; eles pararam de mexer mais com o pessoal.” Foi visível o desenvolvimento do protagonismo dos alunos dos envolvidos os quais estavam preocupados em passar o problema da violência de forma séria e envolvente aos demais alunos que, por sua vez, mostraram envolvimento e participação, além do fato de refletirem e compreenderem valores morais e humanos e princípios de extrema importância para seu convívio social por meio da retratação de situações cotidianas de desrespeito às desigualdades sociais e étnicas. Houve aqui, ainda, uma superação de limites, pois alguns alunos que participaram da peça eram introspectivos, tímidos e falavam pouco nas outras atividades e, no entanto, se destacaram em suas apresentações.

Figura 1

Alunos realizando a investigação das evidências encontradas.

Figura 2

Apresentação cultural da segunda etapa do subprojeto "CSI" discutindo o respeito às diferenças e o combate à violência.

Conclusões

A presente proposta abrangeu aspectos científicos-investigativos e socioculturais que apresentaram um diferencial significativo e positivo na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, além do caráter crítico na discussão de temas tão relevantes como a violência causada pelo desrespeito às diferenças étnicas e sociais. Os resultados sugerem que a implementação dessas atividades obteve grande sucesso, além de um maior engajamento dos alunos e uma notória mudança da rotina de sala de aula. Assim, uma vez que toda esta proposta priorizou conceitos de grande importância para o cotidiano dos alunos podendo, a presente pesquisa foi satisfatória na promoção de uma aprendizagem mais significativa. Além disso, foi possível superar a fragmentação de saberes que normalmente é visto nas aulas de Química, uma vez que foram contempladas as contribuições de outras disciplinas na construção do conhecimento da abordagem utilizada. Assim, o material veio a contribuir e favorecer a aprendizagem destes devido sua inserção numa agência colaborativa, preocupada em apresentar o significado real que o conhecimento terá para o aluno, tornando-o protagonista de sua aprendizagem.

Agradecimentos

PIBID/CAPES/UFCG

Referências

SCHWAHN, M. C. A.; OAIGEN, E. R. Objetivos Para o Uso da Experimentação no Ensino de Química: A Visão de Um Grupo de Licenciandos. VII ENPEC, 2009.

SEBASTIANY, A. P; et al. A utilização da Ciência Forense e da Investigação Criminal como estratégia didática na compreensão de conceitos científicos. Educ.quím, México, v. 24, n. 1, p. 49-56, 2011.

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