O computador como mediador no processo de ensino e aprendizagem de Química para alunos com deficiência visual: Investigando a acessibilidade do Non Visual Desktop Acess (NVDA) à conteúdos de Química
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ensino de Química
Autores
Ribeiro, M.S.T. (PUC GOIÁS) ; Alessandra Sousa Gonçalves, J. (PUC GOIÁS) ; Cesar Queiroz de Carvalho, J. (PUC GOIÁS)
Resumo
Com o advento dos screen readers, tornou-se possível o acesso ao computador por pessoas com deficiência visual. No entanto, a linguagem matemática e/ou simbólica mostra-se desafiadora, pois sua sintaxe bidimensional restringe-a a uma “cultura de videntes”, oferecendo certas barreiras à acessibilidade. O objetivo do trabalho foi levantar os “pontos de tensão” de um screen reader, o NVDA, por seu caráter gratuito, para a leitura de conteúdos de Química disponibilizados em arquivos eletrônicos, à luz do referencial teórico de Vigotski, em que a linguagem tem um papel central tanto do ponto de vista do processo de mediação simbólica quanto no mecanismo de compensação sócio-psicológica de pessoas com deficiência visual.
Palavras chaves
Ensino de Química; NVDA; Deficiência Visual
Introdução
Vigotsky parte da ideia de que a relação do homem com a natureza não é direta, mas essencialmente mediada, caracterizada por meio de dois elementos: O instrumento, que regula as ações sobre os objetos, e o signo, que regula as ações sobre o intelecto das pessoas (OLIVEIRA, 2010; REGO, 2011). Na perspectiva das pessoas com deficiência visual, o conceito de que tais relações são essencialmente mediadas, seja por instrumentos, signos ou uma combinação desses dois elementos, fica bastante evidente, ganhando uma dimensão ainda maior. Para Vigotski (1997) a deficiência visual é mais que um fenômeno biológico, é um fenômeno social. O uso do computador por pessoas com deficiência visual só se tornou possível graças ao desenvolvimento de softwares de interface auditiva, que reconhecem todo texto exibido na tela do computador pelos mais diversos aplicativos, desde editores de texto, browsers, até ícones e links, e os transformam em voz, por meio do sistema OCR (Optical Character Recognition), que segundo Valente (1991 apud SONZA; SANTAROSA, 2003), para alunos com deficiência visual, o computador configura-se como uma valiosa ferramenta de ensino e aprendizagem ao propiciar a aquisição de conhecimento e superar as barreiras da deficiência. Dentre as ferramentas de interface auditiva mais utilizadas atualmente (Jaws, Virtual Vision, Dosvox, Orca e NVDA), por seu caráter gratuito e de código aberto, destacamos o NVDA, testado neste trabalho. O Non Visual Desktop Acess (NVDA), criado em 2006, pelo australiano Michael Curran, cuja motivação residia no fato de que os softwares licenciados, apesar de terem um alto rendimento traziam alguns problemas, como alto custo e licenças que não se adequavam às especificidades de cada usuário. (ULIANA, 2008; DOMINGUES et.al, 2010).
Material e métodos
Para entendermos o universo que envolve a problemática do Ensino de Química voltado aos alunos com deficiência visual, a questão da acessibilidade e o processo de inclusão escolar, é preciso um olhar mais de perto, buscando descrever e interpretar a realidade observada dentro do contexto ao qual está inserido. Neste sentido, o trabalho está estruturado sob as bases da “Pesquisa Qualitativa” ou “Interpretativa” (BAUER et.al, 2010). O presente trabalho é parte integrante de um projeto intitulado “Ensino de Química e o aluno com deficiência, rumo a uma Educação Inclusiva – O uso da linguagem LaTeX na inclusão de alunos com deficiência visual”, cujo objetivo central é investigar as possibilidades de se introduzir a linguagem LaTeX, associada a ferramentas de interface auditiva, na mediação de processos ativos de ensino e aprendizagem de Química para alunos com deficiência visual, por meio do computador. Para este trabalho, foi realizado um teste com o NVDA (versão 2019.1.1), com o intuito de levantar os “pontos de tensão”, ou seja, os elementos textuais e/ou gráficos que ofereçam algum tipo de barreira à leitura por parte do software, com o intuito foi avaliar a acessibilidade a conteúdos de Química, por meio de um computador associado à ferramenta NVDA.
Resultado e discussão
Para o teste, trechos de Solomons (1999), foram submetidos à leitura
sistemática por parte do NVDA. Os dados consistiram na transcrição de
leitura e
posteriormente categorizados e organizados no quadro 1.
Para o caso de letras gregas, foi constatado que a leitura por parte do NVDA
está condicionada a uma seleção, dentre as opções presentes em sua
biblioteca,
durante a configuração do mesmo.
Um fato importante, é que o ledor possui o suporte para os símbolos advindos
da
tabela ASCII (American Standard Code for Information Interchange), contudo,
não
possui suporte para os símbolos do Word® (versão 2016), fato este porque, na
Fig. 1c, a seta não foi lida. O ledor também não possui suporte para leitura
de
figuras, mesmo com texto (Fig. 1a e 1b).
No caso de reações químicas geradas sem uso de editores de fórmulas
químicas,
Fig.1(c), leu parcialmente, pois, deixou de ler os produtos da reação,
ligações
e o – do íon OH, além de ter lido o + duas vezes, independente de ser um
sobrescrito.
O ledor leu parcialmente subscritos e sobrescritos. O mesmo leu os dois
casos,
porém, como no exemplo da Fig. 1(c), o {Na}^+{OH}^-, no caso do + o leitor
lê
++ e não se leu o -.
Teste com o NVDA para a leitura de diferentes elementos de um texto de Química Orgânica.
Imagens com texto inserido (a) e sem texto inserido (b) e uma reação química editada manualmente (c)
Conclusões
Os pontos de tensão levantados com esta pesquisa, convergem a um problema comum: O conflito entre a linguagem científica convencional, bastante simbólica, predominantemente visual e a dinâmica de leitura dos softwares de interface auditiva. Não basta apenas disponibilizar textos em formato eletrônico, é preciso adequar sua linguagem ao padrão de leitura dos ledores de tela. Dessa forma o computador se tornará um instrumento mais eficiente no processo de mediação entre o Ensino de Química e o aluno com deficiência visual, contribuindo de forma mais efetiva para a construção de sua autonomia.
Agradecimentos
Referências
BAUER. M. W.; GASKEL, G.; ALLUM, N. C. Qualidade, quantidade e interesses do conhecimento: evitando confusões. In: BAUER, M. W.; GASKEL, G. (Org.) Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som, 8. Ed, Petrópolis: Ed. Vozes, 2010, p. 17-36.
DOMINGUES, C. A., SÁ, E. D., CARVALHO, S. H. R., ARRUDA, S. M. C. P., SIMÃO, V. S., A educação especial na perspectiva da inclusão escolar: Os alunos com deficiência visual - baixa visão e cegueira. Brasília: MEC/SEE, v.3, 2010.
OLIVEIRA, MARTA K. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 5ª ed. São Paulo: Scipione, 2010. (Coleção Pensamento e ação na sala de aula).
SONZA, A. P.; SANTAROSA, L. M. C. Ambientes digitais virtuais: acessibilidade aos deficientes visuais. Novas tecnologias da educação, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2003.
ULIANA, C. C. NVDA: Leitor de tela livre para Windows. Disponível em: http://www.acessibilidadelegal.com/33-nvda.php Acesso em: 2 fev. 2013.
Solomons, TW Graham, and Craig B. Fryhle. Química orgânica. No. QD251. 2. S64 1979.. Limusa, 1999