O jogo “Organo-Trunfo” no Ensino de Química para Jovens e Adultos – Uma proposta a partir do estágio supervisionado
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ensino de Química
Autores
Gonçalves, J.A.S. (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS) ; Carvalho, J.C.Q. (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS)
Resumo
Neste trabalho discutiremos a proposta e utilização de um jogo como facilitador do processo de ensino e aprendizagem de Química Orgânica. O jogo proposto foi denominado “Organo-Trunfo”, adaptado da série “Super Trunfo”, da companhia de brinquedos GROW®, mantendo-se as regras originais, tratando-se de uma competição entre os jogadores, analisando as propriedades químicas e físicas dos compostos orgânicos em questão. A proposta é que os alunos, ao lerem as informações contidas nas cartas, em que constam o local aonde aquele composto pode ser utilizado ou encontrado, possam correlacionar os compostos ao cotidiano. Ao acompanhar a aplicação do jogo em sala de aula, concluímos que o lúdico e a interação durante a atividade foram fatores preponderantes para facilitar o processo de aprendizagem.
Palavras chaves
Atividades Lúdicas; Super Trunfo; Ensino de Química
Introdução
Os jogos e brinquedos sempre estiveram presentes no cotidiano do ser humano desde a antiguidade. No entanto, o conceito de lúdico implica em atividades que tenham caráter pedagógico, ou seja, o lúdico pode ser utilizado para desenvolvimento sócio educacional, desencadeando não somente processos internos de desenvolvimento cognitivo, como o fortalecimento das relações sociais do indivíduo. Em outras palavras, os jogos possuem o poder de estabelecer uma relação entre o mundo interno e o externo do indivíduo, o que possibilita experiências contextualizadas e interdisciplinares. A utilização de atividades lúdicas como estratégia de ensino pode despertar o interesse dos alunos quanto aos conteúdos ministrados em sala de aula, melhorando o seu desempenho e relacionamento dentro da escola, podendo então ser um facilitador do aprendizado. De acordo com Kishimoto (1998, 2002), o jogo educativo possui duas funções que devem estar em constante equilíbrio. Uma delas diz respeito à função lúdica, que está ligada a diversão, ao prazer e até o desprazer. A outra, a função educativa, que objetiva a ampliação dos conhecimentos dos educandos. Segundo a autora, os jogos educativos se dividem em jogos de entretenimento e jogos pedagógicos ou didáticos. No caso específico do Ensino de Química, existem dificuldades na abordagem dos conceitos em decorrência do fato de que esta disciplina trabalha com o mundo microscópico e com modelos que exigem abstração por parte dos alunos para uma melhor compreensão. O uso de jogos para abordar conceitos químicos surge como alternativa para minimizar tais dificuldades, pois o jogo pode atribuir sentidos a partir de uma atividade que envolve diversão, simulação do real e construção de significados (CAVALCANTI E SOARES, 2009).
Material e métodos
O trabalho possui uma abordagem qualitativa, em que o ambiente natural é a própria fonte de dados, sendo o pesquisador seu instrumento principal. A investigação com um caráter qualitativo, além de descritiva, denota um interesse maior pelo processo do que pelo produto final. (BOGDAN E BIKLEN, 1994) Adaptado da série de jogos “Super Trunfo” (GROW®), o jogo ora proposto, intitulado “Organo-Trunfo”, traz um comparativo entre as propriedades de alguns compostos orgânicos, como Massa Molar, Densidade, Ponto de Ebulição e Ponto de Fusão, finalizando com uma informação sobre onde encontrar ou utilizar o composto em questão. O Organo-Trunfo baseia-se na comparação de parâmetros entre jogadores. Vence a rodada, o jogador cuja propriedade escolhida tenha o menor ou maior valor (a critério do jogador), em comparação aos demais jogadores. O vencedor então recolhe as cartas dos demais jogadores, de modo que ganha a partida àquele que possuir todas ou o maior número de cartas ao término da partida. O jogo foi aplicado em duas turmas do 30 ano do Ensino Médio de um Centro Educacional para Jovens e Adultos de Goiânia (GO), totalizando 35 alunos. O intuito da atividade envolvendo o jogo, era de que os alunos pudessem relacionar os compostos ao dia-a-dia, de forma a dar significado ao que fora estudado na disciplina de química, mas especificamente ao conteúdo de funções orgânicas. Durante a partida, o professor assumiu o papel de facilitador no processo, esclarecendo dúvidas e incentivando a interação entre os alunos.
Resultado e discussão
Primeiramente a turma foi organizada em 7 grupos de 5 alunos, distribuindo-
se
20 cartas para cada grupo, o suficiente para 4 rodadas. A figura 1 mostra um
modelo representativo das cartas do jogo.
A atividade foi aplicada durante uma aula de 35 minutos, portanto, foram
necessárias rodadas menores. Após a separação dos grupos, foi realizada a
explicação das regras do jogo. A explicação das regras é uma maneira de
fazer
com que os alunos se aproximem de um esquema conhecido para melhorar a
jogabilidade. Assim, usar jogos que os alunos já conheçam facilita o
mecanismo
de assimilação tanto do jogo quanto do conceito (PIAGET, 1975).
Com o final da primeira etapa, foram separados dois novos grupos com os 7
integrantes vencedores, e iniciou-se a segunda etapa. O jogo, apenas como
diversão, estimulou os alunos, no entanto, ao acrescentar o fator “leitura
de
onde poderia ser encontrado ou usado os compostos”, garantiu o caráter
lúdico
da atividade, conforme Kishimoto (1998, 2002).
Ao acompanhar turmas de Jovens e adultos durante o estágio supervisionado,
foi
possível observar que a maior dificuldade dos alunos com a disciplina de
Química era por estar inteiramente ligada a um mundo microscópico,
necessitando uma maior abstração dos alunos. Por ser uma atividade física e
mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-neurológicas e os
processos mentais. O ser que brinca e joga é também um ser que age, sente,
pensa, aprende e se desenvolve intelectual e socialmente (CABRERA & SALVI,
2005).
Em sua estrutura básica, cada carta traz a classe do composto, suas fórmulas estrutural e molecular, nomenclatura IUPAC, além de outros parâmetros.
Conclusões
Dotado de regras simples, o jogo foi facilmente utilizado pelos alunos, havendo grande interação entre eles. Foi possível observar que além do “jogo pelo jogo”, que traz o instinto de competição, tivemos o lado lúdico, em que puderam relacionar os compostos estudados com o cotidiano. Ao ser aplicada corretamente, uma atividade lúdica traz facilita o processo de aprendizagem de conceitos científicos. Podemos inferir que o jogo atuou como elemento facilitador para a aprendizagem de Química Orgânica voltado ao ensino de Jovens e Adultos.
Agradecimentos
Referências
BOGDAN, R.; BIKLEN, S. - Características da investigação qualitativa. In: Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto, Porto Editora, 1994. p.47-51
CABRERA, W.B.; SALVI, R. A ludicidade no Ensino Médio: Aspirações de Pesquisa numa perspectiva construtivista. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 5. Atas , 2005.
CAVALCANTI, E. L. D. E SOARES, M. H. F. B. (2009). O uso do jogo de roles (roleplaying game) como estratégia de discussão e avaliação do conhecimento químico. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 8, 255-282.
KISHIMOTO, T.M. (1998). O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira.
KISHIMOTO, T.M. (2002). O Brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson Learning.
PIAGET, J. (1975) A EQUILIBRAÇÃO DAS ESTRUTURAS COGNITIVAS. RIO DE JANEIRO: ZAHAR EDITORES.