ANÁLISE DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS E MATRIZES CURRICULARES DOS CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA OFERTADO EM DUAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS NO ESTADO AMAZONAS

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Costa Júnior, J.R. (UEA) ; Almeida, J.G. (UEA) ; Souza, J.B. (UEA) ; Paes, R.B. (UEA) ; Sakamoto, M.N. (UEA) ; Costa, R.P. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA) ; Dutra, R.D.G. (UEA) ; Nascimento, D.P. (UEA) ; Pereira, P.M. (UEA)

Resumo

Este estudo foi desenvolvido com o intuito de atender as propostas das disciplinas Metodologia do Estudo, Filosofia da Ciência e Comunicação e Expressão que estão direcionadas para os métodos, técnicas de pesquisa e elaboração de trabalhos acadêmicos. O estudo consistia em analisar os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) de Química e as matrizes curriculares de duas universidades públicas no estado do Amazonas. A metodologia foi amparada pela pesquisa documental que contribuiu com a busca informações nos PPC’s e nas matrizes. Os resultados foram descritos considerando o ponto de vista dos pesquisadores, confirmando a importância de se ter conhecimento desses documentos, pois, toda a formação profissional se desenvolve e se efetiva a partir de suas orientações.

Palavras chaves

Currículo Lic. Química; Projetos Pedagógicos; Matrizes Curriculares

Introdução

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) para os Cursos de Química (BRASIL, 2001), instituídas no limiar do século XXI, mostram a necessidade de se criar um novo modelo de curso superior que esteja voltado para uma formação acadêmica mais ampla, que sejam contemplados temas que propiciem a reflexão sobre o desenvolvimento humano (caráter, ética, solidariedade, responsabilidade e cidadania), conhecimento, identidade e diversidade cultural. Orientam para que os conteúdos da química sejam integrados a outros componentes curriculares e promovam a contextualização e a interdisciplinaridade. De acordo com Brasil (2016, 2017), é importante se ter um olhar profundo sobre as diversas dimensões do currículo para que seja possível construir ou redesenhar uma nova proposta curricular no sentido de garantir uma formação que atenda aos interesses da academia e da escola. Esses documentos propõem que ao redesenhar os currículos sejam consideradas as especificidades locais e regionais. Essa expectação nos induziu a analisar as matrizes curriculares de dois cursos de licenciatura em Química de duas universidades públicas do estado do Amazonas e verificar a organização curricular e a oferta de disciplinas nos cursos que tratam da formação de professores, pois, entende-se que o processo de educativo é complexo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas e sociais, portanto, os currículos não podem ser analisados fora de interação dialógica entre escola, universidade e o contexto social, nem podem deixar de contemplar as especificidades locais e regionais. É preciso considerar o desenvolvimento humano, o conhecimento e a cultura.

Material e métodos

O procedimento metodológico deste estudo encontra amparo na pesquisa qualitativa que prioriza a interpretação e não a quantificação dos dados, dá ênfase à subjetividade, o processo de pesquisa é flexível e se interessa mais pelo processo do que pelos resultados. A coleta de dados foi subsidiada pela pesquisa documental que na perspectiva de Strauss e Corbin (2015), os dados coletados podem vir de várias fontes como entrevistas, observações, documentos, registros e gravações. A Análise Documental é uma importante técnica de pesquisa utilizada como instrumento de coleta de registros para um trabalho de pesquisa baseado na interpretação de documentos. O investigador segundo Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), deve interpretar os documentos, sintetizar as informações, determinar tendências e na medida do possível fazer a inferência. Para May (2004), os documentos não existem isoladamente, mais precisam ser situados em uma estrutura teórica para que o seu conteúdo se já compreendido. Neste estudo a pesquisa qualitativa possui característica interpretativa, pois os dados obtidos foram interpretados tendo como base os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura em Química da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ofertado pelo Instituto de Ciências Exatas (ICE), campus Manaus e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) oferecido no Centro de Estudos Superiores de Parintins – CESP. Ressalta-se que as matrizes curriculares desses cursos também se configuraram objeto de análise. Os resultados foram organizados a partir da leitura, interpretação e comparação das ementas das disciplinas.

Resultado e discussão

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Química (BRASIL, 2001), as instituições precisam avaliar seu papel social; redefinir e divulgar os projetos pedagógicos dos cursos para que os estudantes possam optar por aquele que lhes propicie, com qualidade, a formação desejada. Durante a análise dos documentos observou-se que o Curso de Licenciatura em Química da UFAM, os componentes curriculares estão distribuídos em três núcleos: Núcleo I que compreende as disciplinas: Introdução ao Estudo da Química, Gestão e Qualidade em Laboratórios de Química, Química Geral I e II, Química Geral Experimental, Química Inorgânica I e II, Inorgânica Experimental I, Química Analítica I e II, Química Analítica Experimental I, Físico-Química I e II, Físico-Química Experimental, Química Orgânica I, II e III, Química Orgânica Experimental I e Química Biológica. Além dessas, oferece disciplina da área da Matemática, Física e Estatística. O Núcleo II se sustenta em dois eixos estruturantes: I – Didático-psicopedagógico (Psicologia da Educação II, Didática Geral, Instrumentação para o Ensino de Química I e II, Prática Curricular I e II, Fundamentos da Educação, Legislação do Ensino Básico e Problemas Educacionais da Região Amazônica) e o eixo II que trata especificamente do Estágio Supervisionado (I, II, III e IV). O Núcleo de Formação Complementar se ampara em quatro eixos: I – Humanista, Cultural e Histórico (Informática no Ensino de Química, Química e Sociedade, História da Química e Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS); II – Práticas Investigativas (Metodologia da Pesquisa em Ensino de Química. Trabalho de Conclusão de Curso I e II); III – Temas para o Ensino Médio (Temas Atuais para o Ensino de Química I e II); IV – Integrador e de aprofundamento de conhecimentos (Disciplinas Eletivas). O Curso de Licenciatura em Química do CESP/UEA inclui disciplinas de formação básica; disciplinas de formação específica; disciplinas de formação profissional; atividades complementares e estágio supervisionado. O núcleo de formação básica envolve as disciplinas Comunicação e Expressão, Introdução à Computação, Matemática Elementar, Metodologia do Estudo, Filosofia da Ciência. As de formação específicas envolvem as áreas de Matemática, Física, Geociências e Ciências Biológicas. O Núcleo de Formação Profissional é constituído pelas disciplinas: Química Geral I e II, Química Orgânica I e II, Química Biológica, Química Inorgânica I e II, Química Analítica I e II, Físico-Química I e II, Psicologia da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino Básico e Didática. Estão vinculadas ao Estágio Supervisionado as disciplinas Educação Ambiental, Instrumentação para o Ensino de Ciências e Química e Prática de Ensino de Ciências e Química I e II. Por fim, as Atividades Complementares são integralizadas nesse currículo como estratégia de promoção e interação teórico-prática. Com base nessas informações foi constatado que o Curso de Licenciatura em Química da UFAM atende as orientações das DCN’s (BRASIL, 2001) quando advoga que em função das mudanças que envolvem o contexto social e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia a tendência hoje é incluir nos currículos de formação de professores ou de formação técnica (bacharelado) temas que propiciem a reflexão sobre caráter, ética, solidariedade, responsabilidade e cidadania. Ressalta-se que essas temáticas podem ser contextualizadas tomando como viés componentes curriculares que compõem os eixos Didático-Psicopedagógico e Estágio. Em relação as especificidades regionais que as DCN’s (BRASIL 2001) sugerem, o Currículo de Licenciatura em Química da UFAM oferece como componente curricular “Problemas Educacionais da Região Amazônica” que tem a finalidade de apresentar a região amazônica no cenário internacional e nacional (formação, ocupação e os impactos dos grandes projetos no contexto local). Pretende estimular o processo reflexivo sobre a educação e suas especificidades na Amazônia e o direito à educação, mostrar que os movimentos sociais tem relação com o processo educativo na região e que não é mais possível deixar de contemplar a diversidade sociocultural, as relações étnico-raciais, e o meio ambiente. A Proposta Curricular do Curso de Licenciatura em Química oferecido pela UEA se preocupa com a formação básica trazendo para o contexto do curso, disciplinas que estimulem o conhecimento da língua portuguesa para que mais adiante os acadêmicos saibam ler, produzir e interpretar textos. Além disso, possam ter habilidades com a informática e utilizá-la como instrumento didático nas aulas de Química. Embora este conhecimento seja de grande importância, acredita-se que a disciplina Introdução a Informática poderia ser substituída pela Informática Aplicada à Educação que se configura no PPC do curso como disciplina optativa. A disciplina optativa possibilita o diálogo entre Educação, Sociedade e Tecnologia, orienta sobre a construção Projetos em Ambientes Computacionais com o olhar voltado para a pedagogia de projetos e sobretudo, estimula o futuro professor a utilizar as novas tecnologias no contexto educacional. As disciplinas Matemática Elementar, Cálculo I e II, Física I e II atendem as propostas das DCN’s (BRASIL, 2001) quando sugerem que conteúdos básicos da Matemática e da Física façam parte do currículo da Licenciatura em Química. Foi observado que neste currículo há uma predominância de disciplinas da área de Ciências Biológicas e que na concepção dos acadêmicos do curso não há necessidade desse quantitativo pois, a legislação brasileira é clara e objetiva e não permite que os professores de química lecionem outras disciplinas que não esteja vinculada à área de conhecimento. Porém, asseguram que o licenciado em Química além de ter conhecimento dos conteúdos de diversos campos da Química, deve também estar preparado para tecer diálogo entre a química e outras áreas de conhecimento, o que não justifica um número excessivo de disciplinas da área biológica até porque a legislação dá abertura apenas para ensinar Ciências Naturais no 9º ano do Ensino Fundamental (conteúdos da Química e da Física). Geralmente essa disciplina é responsabilidade do professor de Ciências Naturais. Outra observação importante está relacionada com as disciplinas de Estágio Supervisionado que estão vinculas a outras disciplinas como Educação Ambiental, Instrumentação e Prática para o Ensino de Ciências e Química. Acredita-se que se o Estágio Supervisionado fosse desvinculado dessas disciplinas os acadêmicos teriam uma formação bem mais abrangente e sólida. O estagiário precisa conhecer a realidade educacional para no período do estágio ou em outro momento colocar em prática o conhecimento adquirido durante o processo de formação. Pimenta e Lima (2012, p.29) afirmam que “considerar o estágio como campo de conhecimento significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supere sua tradicional redução à atividade prática instrumental”. Durante a análise observou-se que disciplinas Química Ambiental, Cálculo Estequiométrico, Informática Aplicada à Educação, Inglês Instrumental, Introdução à Filosofia, Introdução à Sociologia, História da Educação não deveriam ser oferecidas como disciplinas optativas. A disciplina Educação Ambiental poderia, por exemplo, ser substituída por Química Ambiental pois além de tratar das questões ambientais (história, legislação, abordagens pedagógicas, relação entre sociedade, ambiente e educação) poderia discutir sobre a Química e o Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Processos de Tratamento de Águas, Solos e Efluentes, Gerenciamento de resíduos e outros. A Educação Ambiental de acordo com a legislação se configura Tema Transversal podendo ser trabalhada em conjunto com outras disciplinas do currículo. De modo geral, um curso cuja essência é a Licenciatura não pode deixar de lado o conhecimento específico nem as questões pedagógicas, todo conhecimento é válido e tem sua importância na formação profissional.

Conclusões

Este estudo demonstrou a importância de se conhecer os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Licenciatura em Química e as Propostas Curriculares pois, é com base nesses documentos que toda a formação profissional se desenvolve e se efetiva. Deixam evidente a necessidade de não se valorizar apenas os conhecimentos clássicos e formais das disciplinas de química, mas, orientam para a valorização dos conhecimentos adquiridos no contexto do acadêmico, da diversidade cultural que envolve distintos saberes. Os Projetos Pedagógicos dos Cursos devem possibilitar a leitura de mundo, para que o profissional da química tenha a oportunidade de questionar certas situações, sistematizar problemas e buscar criativamente soluções. De acordo com DCN’s para os cursos de Química, este profissional precisa saber onde e como buscar soluções para minimizar problemas relacionados com a sua profissão, deve saber como "construir" o conhecimento necessário a cada situação. Esses conhecimentos deverão se configurar ponto de partida e fortalecimento de uma formação inclusiva e de aprendizagens significativas. É importante romper com os limites do "já-dito", do "já-conhecido", respondendo com criatividade e eficácia aos desafios da sociedade moderna.

Agradecimentos

A Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado Amazonas.

Referências

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Química. Parecer CNE/CES 1.303/2001. Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25.
BRASIL. Programa Ensino Médio Inovador - Documento Orientador - Elaboração de Propostas de Redesenho Curricular. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Currículos e Educação Integral, Coordenação Geral de Ensino Médio. Brasília: DF, 2016-2017.
MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processo. Porto Alegre, Artmed, 2004.
PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. 8. ed., revista, atualizada e ampliada, São Paulo: Cortez, 2012.
Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química. Universidade do Estado do Amazonas, Centro de Estudos Superiores de Parintins. Manaus-AM, 2005.
Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química. Universidade Federal do Amazonas, Instituto de Ciências Exatas, Curso de Licenciatura em Química Manaus-AM, 2016.
SÁ-SILVA, J. R.; ALMEIDA, C. D.; GUINDANI, J. F. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais – RBHCS. v.1, n.1, jan-jun, 2009.
STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of Qualitative Research: Techniques and Procedures for Developing Grounded Theory. 4. ed. Thousand Oaks: Sage, 2015.

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