O PROJETO TEMÁTICO E A PRÁTICA DO PROFESSOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS NA PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA DE VYGOTSKY.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

de Jesus, J. (IFMA) ; Machado, M.C. (UFMA) ; Lopes, E.S. (IFMA) ; Monteiro, J.P.D. (IFMA) ; Vasconcelos, N.S.L.S. (IFMA)

Resumo

O estudo em questão propõe o ensino e a aprendizagem de Ciências por meio de um Projeto temático, que leva em consideração o aporte teórico do Construtivismo, como elemento importante para esse processo, tendo em vista a realidade do aluno e tê-lo como sujeito ativo é o ponto de partida para um ensino propriamente dito, satisfatório e prazeroso. Dessa forma, o trabalho parte de uma análise acerca do Construtivismo na perspectiva de Vygotsky, destacando sua aplicabilidade, em que se busca, por meio da práxis do professor, aproximar o aluno de sua realidade vivida através da observação, problematização e experimentação no ensino por projetos no ensino de Ciências.

Palavras chaves

Construtivismo; Ciências; Ensino-Aprendizagem

Introdução

A aprendizagem no ensino de Ciências nas séries iniciais muitas vezes é munida através do tradicionalismo, em que o professor é apenas um depositador de conhecimento, todavia, para a construção de uma aprendizagem significativa e que faça sentido para o aluno, é necessário que o professor possa dispor de diversas técnicas para que o ensino seja motivacional e principalmente compreensível, levando-a para a realidade do aluno. Porém, nem sempre acontece dessa maneira, visto que, algumas vezes, o professor não se vale de recursos e principalmente de concepções teóricas que fundamentem o processo ensino- aprendizagem. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais em Ciências Naturais – PCN’s (BRASIL, 2000, p. 39) os objetivos de Ciências Naturais no ensino fundamental repercutem no desenvolvimento do aluno em competências que lhe permitem compreender o mundo e atuar como indivíduo e cidadão, utilizando conhecimentos de natureza científica e tecnológica. Partindo desse princípio, o conhecimento deve ser concebido como oportunidade de encontro entre o aluno, o professor e o mundo. As aulas de Ciências devem proporcionar ao aluno uma visão diferenciada do mundo e dos fenômenos que acontecem ao seu redor. Para tanto, é necessário que o professor possa mediar e articular momentos de aprendizagens contínuas, levando o aluno a construir e reconstruir o conhecimento por intermédio da interação com o meio e sua realidade. Nesse contexto, o construtivismo torna-se um elemento fundamental em nortear a ação docente referente ao ensino e à aprendizagem em Ciências. Vale ressaltar que a sociedade sofre transformações constantes e cabe ao professor tomar nota dessas transformações e assim buscar alternativas que colaborem com a formação do indivíduo nos aspectos sociais, culturais e cognitivos. Partindo desse ponto de vista, o Construtivismo tem seu referencial em poder proporcionar uma relação mútua entre os agentes da aprendizagem (o professor e o aluno) e o objeto de conhecimento (MATUI, 1995) Pretende-se, então, a partir dessa pesquisa, propor um estudo e discussão acerca do construtivismo e sua importância para o processo ensino- aprendizagem de Ciências, tendo como alicerce o projeto temático e suas contribuições para a postura do professor em face da realidade do aluno nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Esse objetivo discorre do pressuposto de que é de extrema importância levar em consideração a aprendizagem do aluno, sobretudo nas seguintes questões, a saber: como ocorre essa aprendizagem? De que forma? Para que o ensino dito de qualidade seja propício no processo formativo do professor e consequentemente contribua na construção dos saberes em “Ciências”. A pesquisa parte da vertente da teoria construtivista na visão de Vygotsky como ponto de partida e norteadora do processo ensino-aprendizagem em que o professor tem o papel de mediador e o aluno o sujeito ativo na construção do conhecimento. Sendo assim, destaca-se o ensino por projeto para que a construção do conhecimento seja significativa e articuladora, levando em consideração os conhecimentos prévios do aluno ao que se pretende construir e reconstruir através da vivência e da assimilação de tais conhecimentos e habilidades propostos no projeto. Sendo assim, é válido dizer que o construtivismo não será uma cartilha, mas um meio em que o professor irá refletir e analisar para que o ensino não seja taxativo, monótono e desmotivado, mas que possibilite uma práxis problematizadora, resultando em uma relação/contextualização dos conteúdos de Ciências com a realidade do aluno do dia a dia e da sala de aula. Então, o professor apresenta um papel importante na construção de saberes em Ciências, não apenas os titulados nos livros didáticos, mas, instigados pelos alunos por meio da investigação científica e problematização decorrente da pesquisa e da experimentalização. Vygotsky em sua concepção sócio - interacionista enfatiza que o saber sem experiência não é realmente saber, é necessário haver um contato direto com o objeto de conhecimento, quer sejam aqueles já estabelecidos, quer sejam aos que ainda serão estruturados por intermédio da pesquisa e da investigação (VYGOTSKY, 2007).

Material e métodos

O trabalho foi realizado com a finalidade de aplicar um projeto temático na vertente construtivista de Vygostky para o processo de Ensino e aprendizagem em Ciências, cuja clientela foram professores de Ciências e alunos do 05 ano do Ensino Fundamental na escola Municipal UEB São Jose de Itapera, em São Luís – MA. Assim, o trabalho foi desenvolvido em três momentos que se interligam: 1. Escolha planejamento da ação e execução do projeto temático partindo de situações cotidianas sobre meio ambiente e energia; 2. Problematização e diálogo acerca do meio ambiente levando os alunos a criar situações pertinentes aos conteúdos abordados; 3. Realização de experimentos que facilitaram e fomentaram o processo de ensino e aprendizagem. Após esse momento, o projeto temático cujo tema foi “Energia e Meio Ambiente”, foi realizado experimentos que consistiram em três temas “A avaliação do solo, Compostagem e Transformação de energia, todos seguindo os seguintes Critérios dimensionado a seguir: 1.Discussão inicial: analise previa sobre os temas abordados, levando em consideração a realidade do aluno e problematizando o conteúdo para busca de novos conhecimentos; 2. Aplicação experimental: instrumentalização dos conteúdos partindo de situações problemas que busquem novos olhares para o processo de ensino e aprendizagem. 3. Apropriação do conhecimento: ponto de partida, segundo Gasparin (2005) é a catarse, onde o conhecimento é gerado e construído através da socialização. Desta forma, o projeto temático foi realizado através da observação, experimentação e problematização conforme é abordado abaixo: 1. AVALIAÇÃO DOS SOLOS: a) discussão inicial: discussão a certa da barragem de Mariana, levando em consideração os seguintes argumentos, porquê? Como? E o que poderia evitar a tragédia? b) Aplicação experimental: descobrindo os tipos de solos, onde foram realizados uma análise e observação de 04 tipos de solos (arenosos, argiloso, humoso e calcário) destacando a permeabilidade cor, textura e consistência; c) Apropriação do conhecimento: análise visual para observação de diferentes características dos solos em estudo. 2. COMPOSTAGEM: a) Discussão Inicial: discussão a certa do lixo seus impactos e causas no meio Ambiente e para o homem; b) Aplicação Experimental: simulação de um lixão e de uma compostagem doméstica; c) Apropriação do conhecimento: diferenciar um lixão e uma composteira, destacando a característica de ambos. 3. TRANSFORMAÇÃO DE ENERGIA: a) discussão Inicial: a História da pilha: b) Aplicação Experimental: investigação científica nas transformações de energia química em elétrica, a pilha de limão; c) Apropriação do conhecimento: diálogo investigativo sobre a geração de energia, tipos de pilhas e uso químicos como energia, eletricidade, ânodo, cátodo e transformação de energia química em energia elétrica.

Resultado e discussão

O uso de projeto temático parte do papel construtivista do ensino através de temáticas pertinentes ao cotidiano do aluno. Sendo assim, a construção de uma aprendizagem significativa na visão de Moreira e Massini (2003) repercute na significação, na integração e no conhecimento. Visto que, o ensino por projetos proporciona esta três dimensões, onde o professor através de temas geradores, favorecerá ao aluno um significado, a interação à estes e o desenvolvimento do conhecimento partindo da relação com o meio através da experimentação e investigação. Desta forma, o Projeto temático Energia e Meio Ambiente possibilitou tanto para o professor quanto para os alunos a relação entre a teoria e a prática, onde foram desenvolvidas as capacidades de argumentação e investigação pertinentes aos conteúdos de Ciências e sua aplicabilidade em um mundo globalizado. 1. Avaliação dos Solos: Nesta temática, buscou-se relacionar o conhecimento empírico e o cientifico, proporcionando aos alunos, a princípio, o desenvolvimento das capacidades argumentativas e investigativas dos acontecimentos ambientais e os impactos causados ao meio ambiente pela ação do homem e pelos fenômenos naturais. Para Gil Perez Castro (apud ZÔMERO e LABURÚ, 2011, p. 74), o ensino por investigação deve compreender as seguintes características, a saber, apresentar aos alunos situações problemáticas abertas, favorecendo a reflexão dos alunos sobre a relevância das situações problemas apresentadas emitindo hipóteses como atividades indispensáveis à investigação científica; elaborar um planejamento da atividade experimental proporcionando momentos para comunicação do debate das atividades desenvolvidas a dimensão coletiva do trabalho científico. A investigação cientifica é parte inerente para uma aprendizagem significativa, sendo assim, o professor deve dinamizar o ambiente escolar propício para que o aluno construa o conhecimento através de significados já adquiridos e estabelecidos. Neste contexto estabelecendo uma zona proximal do conhecimento. Na temática avaliação de solos, foi levantado em debate a tragédia ocorrida na cidade de Mariana, região central de Minas Gerais, levando em consideração os seguintes tópicos: os impactos ambientais ocorridos; as causas e alternativas para se evitar os impactos ambientais, principalmente nos solos. Partindo destas problemáticas levou-se os alunos a refletir sobre a ação do homem e a influência da tecnologia e da globalização para o Meio Ambiente, onde o aluno pôde destacar que a principal causa do rompimento de da barragens na cidade de Mariana foi a falta de planejamento dos solos tendo como consequência a poluição dos rios e a improdutividade do solo devido ao excesso de substancias tóxicas causados pela barragem. Após o debate foi levantado um estudo sobre avaliação dos solos em relação a permeabilidade e composição dos solos (suposição de substancias que podem estar no solo através da cor), o debate e discussão foi o ponto de partida para que pudesse buscar os conhecimentos prévios sobre o solo, a permeabilidade, os tipos, exemplos de solos e onde podem ser encontrados. A partir destes conhecimentos prévios buscou-se relacionar o conteúdo abordado à realidade e ao meio e a experimentação realizada na sala sobre os tipos de solos (Figura 01). Para Vasconcelos (1999) a construção do conhecimento acontece através da interação entre o sujeito e o objeto do conhecimento, onde estes estão relacionados na mediação do professor em contextualizar e mobilizar o conhecimento para a realidade do aluno. Neste contexto, Zômpero (2011) enfatiza que é na participação ativa dos alunos e na construção do conhecimento que se pode aprender os conceitos científicos, apoiando os alunos na reconstrução do conhecimento, com o intuito de se tornar possível uma aprendizagem significativa e duradoura. 2. Compostagem: A temática em estudo propôs aos alunos a sensibilização e a reutilização dos resíduos orgânicos produzidos na própria escola. A princípio, foi realizado um debate dialógico acerca do lixo, os impactos causados ao meio ambiente e ao homem. Assim, durante o debate foi instigado ao aluno questionar sobre o destino dos resíduos sólidos, como ocorre a coleta e o usos desses resíduos orgânicos na escola e em suas casas. A Educação Ambiental é um processo participativo, e o professor assume o papel de mediador e articulador no processo de ensino e aprendizagem, todavia, esta participação está ativamente relacionada nos diagnósticos dos problemas ambientais e na busca de possíveis soluções. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a principal finalidade de trabalhos que focam na temática meio ambiente é em contribuir para a formação de cidadãos conscientes e críticos, onde podem intervir e atuar frente às realidades sócio-ambientais e assim serem comprometidos com o bem estar, a vida e o Meio Ambiente. A temática abordada sobre a compostagem foi direcionada e contextualizada através de conceitos elaborados pelos próprios alunos após leitura e pesquisa sobre o assunto em estudo. Após os dados conceituais, buscou-se fazer uma relação entre a compostagem e o lixão, a partir dos conceitos prévios que tinham sobre o lixão. Através da experimentação, da observação e da pesquisa, fez-se com que os alunos reconstruíssem seus conceitos sobre a temática em estudo, levando-os a associar os conhecimentos prévios, as informações adquiridas através da pesquisa e da observação experimental, fazendo com que se integrassem e se socializassem durante a construção do conhecimento durante a experimentação. O experimento além de favorecer o aluno na reconstrução do saber em Ciências, proporcionou no desenvolvimento de uma postura mais crítica e consciente em relação a Educação Ambiental e nas atitudes mais simples de separar o lixo para facilitar a reciclagem e também na produção de uma composteira caseira na reutilização do lixo orgânico como adubo em plantações. 3. Energia Alternativa: Partindo da análise conceitual e do termo geral Energia, a temática Energia Alternativa teve como finalidade conduzir aos alunos a compreender a terminologia energia no seu sentido epistemológico e o processo de geração de energia partindo de um pilha de limão e vinagre. Em primeira instância, foi despertado nos alunos o caráter investigativo, levando-os a questionar acerca do uso da pilha, seu funcionamento e como ocorre o processo de geração de energia. Sendo assim, foi discutido e estudado sobre a história das pilhas, tendo como referência a Pilha de Daniel. Durante o experimento, os alunos foram construindo conceitos relacionando com a pesquisa e a experimentação, onde durante a ministração e execução da prática experimental alguns questionamentos e hipóteses foram levantados para que os alunos viessem assimilar e associar o que foi observado na pratica e os conceitos discutidos através da pesquisa e leitura do texto proposto em sala de aula (figura 02). Nas respostas dadas por cada grupo, percebe-se que a observação experimental e a pesquisa investigativa assumem um papel relevante na construção do saber em ciências, e que o ensino por experimentação faz com que haja uma ponte entre o conhecimento já adquirido e aquele que se pretende construir. Segundo Chassot (2016), a possibilidade de se fazer uma pesquisa- ação, através da experimentação, inserindo a realidade física e social vivenciada pelos alunos e analisando com eles os diferentes significados atribuídos ao conhecimento e as diferentes formas de construção deste conhecimento, sendo estes atividades oportunas para o lançamento de desafios e ideias que beneficiam o desenvolvimento integral do alunos nos aspectos cognitivos, afetivos, culturais e sociais.

Aavaliação dos solos

Aplicação experimental dos solos quanto a permeabilidade, cor e consistência.

Pilhas de Daniel

Aplicação Experimental da Pilha de Daniel usando limões.

Conclusões

A aplicação de projetos temáticos no ensino de Ciências trouxe um novo olhar para a prática docente, visto que o ensino por projeto repercute na interação e na interdisciplinaridade nos contextos sociais e culturais dos alunos, onde pode-se perceber a intervenção destes na construção do saber em Ciências. As atividades experimentais realizadas pelos eixos temáticos abordados no projeto oportunizaram a imersão de uma metodologia diferenciada indo além de quadro paredes e levando os alunos a organizar seus conhecimentos a partir da argumentação, observação e investigação. Neste contexto, pode-se dizer que o processo de ensino-aprendizagem no ensino de Ciências acontece principalmente na interação que o aluno tem com a realidade em que vivem, o que torna os conteúdos de ciências mais próxima do aluno, e este é o principal objetivo do ensino partindo da problematização, tornar o conhecimento mais próximo do aluno, da sua realidade e necessidade, ou seja, o conteúdo ensinado adquire sentido. Ao se enfatizar que o conhecimento não é algo acabado e que seu processo de mediação não é predestinado, estamos abordando que a construção do saber em qualquer área da Ciência/ do ensino acontece de fato através da relação entre o sujeito e o objeto, e caso não haja essa aproximação, difícil se torna o processo de construção. No entanto, o professor ao se dispor de metodologias pedagógicas relevantes que considerem, principalmente, a realidade do aluno, está de certa forma, estabelecendo um elo entre ambos. Desta forma, o ensino por experimentação repercute na relação entre teoria- pratica e a interação entre o aluno como sujeito ativo com o conhecimento a ser construído por ele partindo da análise de ideias e questionamentos que os experimentos lhes apresentarem e lhe forem significativos na construção da aprendizagem em Ciências.

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia e os Docentes da escola Municipal U.E.B. São José de Itapera pelo apoio e dedicação na construção do Projeto de Extensão.

Referências

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais/Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998.
________________ Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais/Secretaria de Educação Fundamental – 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. 7ª edição – Ijuí: Ed. Inijuí, 2016.
GASPARIN, J. L. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 3a ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. (coleção educação contemporânea).
MATUI, Jiron, Construtivismo: Teoria Construtivista Sócio-Histórica aplicada ao ensino. São Paulo: Moderma, 1995;
MOREIRA, M.A. e MASINI, E.A.F.S. . Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo, Editora Moraes, 2003.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo, Libertad, 1999.
VYGOTSKY, L. S. A formação Social da Mente. Martins Fontes. São Paulo, 2007.
ZÔMPERO, A. F.; LABURÚ, C. E. Atividades investigativas no ensino de ciências: Aspectos históricos e diferentes abordagens. Revista Ensaio, v. 13, n. 3, p. 67-80, 2011.

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