Aplicativos para educação em Química: análise da percepção de professores e alunos

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ensino de Química

Autores

Paiva, F.M. (IFB) ; Barbalho, D.S.T. (IFB)

Resumo

Este estudo teve por objetivo analisar a adequabilidade dos dez melhores apps voltados ao estudo da Química, tomando-se por base a percepção de professores e alunos. Inicialmente, a pesquisa dirigiu seu foco para a seleção de aplicações móveis, quando então foram selecionados os apps Elementos Químicos, Fórmulas Químicas, Química, Química 3D, Química Completa, Tabela Periódica, Ligações Químicas, Curso de Química, Geometria Molecular e Moléculas. Na sequência, examinou-se, por meio de questionário, em que medida os apps selecionados podem contribuir para o aprendizado em Química. Como resultado, verificou-se que algumas características dessas ferramentas podem ser melhoradas, o que possibilitará a construção de softwares mais adequados às necessidades educacionais de discentes e docentes.

Palavras chaves

Aplicativos; Ensino; Química

Introdução

A mobilidade e a ubiquidade proporcionadas pelos smartphones e tablets, aliadas à possibilidade de utilização de aplicações móveis (apps) gratuitas e de fácil instalação, oferecem inúmeras oportunidades aos alunos, num contexto em que o processo de ensino-aprendizagem se torna mais significativo. Locatelli, Zoch e Trentin (2015) defendem que a Química é uma ciência experimental com conteúdo abstrato e de difícil entendimento e visualização. Assim, a utilização das tecnologias computacionais pode auxiliar na compreensão e aprendizagem dos alunos. Dentro das ferramentas tecnológicas disponíveis, o uso de dispositivos móveis e aplicativos (apps) permite uma possibilidade a mais, um meio de aprendizagem com interação entre os estudantes, que podem incrementar o ensino dentro e fora da sala de aula, por meio de jogos, exercícios, vídeos e e-books (NICHELE e SCHLEMMER, 2014). Os dispositivos móveis e os aplicativos educacionais têm a potencialidade de se destacar no processo de ensino e aprendizagem da Química por proporcionarem melhores simulações e modelos, permitindo, por exemplo, a visualização e a manipulação virtual de estruturas químicas e o acesso a uma infinidade de tabelas de dados químicos, entre outras possibilidades. Desse modo, o desenvolvimento das tecnologias digitais e a proliferação das redes interativas tendem a colocar o ensino da Química diante de um caminho sem volta (BENITE, 2011). Existem centenas de apps voltados ao estudo da Química. O estudo “Seleção e análise de aplicativos para o ensino de Química” (PAIVA, 2019) selecionou, com base em critérios técnico-operacionais e didático-pedagógicos, os dez melhores apps direcionados a este ramo da ciência disponíveis na Play Store. Dando continuidade a essa pesquisa, buscou-se neste trabalho analisar a percepção de professores e alunos do ensino médio quanto à adequabilidade - no que se refere à usabilidade, design e didática - dos aplicativos selecionados. Com base nos resultados obtidos - sobretudo a partir das críticas, comentários e sugestões dos usuários - pretende-se, na próxima fase do estudo, desenvolver apps que contemplem as melhores características dos softwares examinados. A enorme potencialidade educacional oferecida pelos dispositivos móveis e seus aplicativos evidenciam a relevância desta pesquisa. Os resultados deste trabalho são especialmente importantes para a educação em Química de crianças e adolescentes, por analisar – com base em critérios científicos – se os aplicativos direcionados a este ramo da Ciência estão em conformidade com as expectativas e necessidades de professores e alunos do ensino médio.

Material e métodos

Nesta fase da pesquisa, um questionário composto por _ perguntas foi enviado a professores e alunos da rede de ensino médio do Distrito Federal. O instrumento metodológico, estruturado conforme demonstrado no Quadro 1, foi gerado a partir da ferramenta Google Docs e enviado ao público-alvo por e-mail internet. O universo avaliado foi de 9 professores e 200 estudantes, sendo a amostra desejada de no mínimo 20% de cada segmento. O instrumento metodológico foi dividido em duas seções. A primeira, contendo levantamento de características demográficas e a segunda, com questões abertas e fechadas visando buscar a percepção do público-alvo quanto à adequabilidade das aplicações móveis voltadas ao ensino da Química. Na primeira seção, optou-se por inserir poucos itens relativos a dados de identificação, a fim de preservar o anonimato dos respondentes. O cuidado com o sigilo, nesse caso, mostrou-se importante para que os operadores se sentissem livres para emitir suas respostas, tornando-os mais participativos e disponíveis e, por conseguinte, gerando avaliação mais fidedigna. Na segunda seção, para as perguntas fechadas, utilizou-se uma escala de respostas do tipo Likert de cinco pontos: (1) discordo plenamente, (2) discordo, (3) não sei, (4) concordo e (5) concordo plenamente. Na questão aberta, buscou-se estimular a cooperação dos operadores para a melhoria dos aplicativos selecionados pela pesquisadora. Submeteu-se a primeira versão do instrumento metodológico a 10 graduandos do curso de Licenciatura de Química do IFB, com o propósito de apurar eventuais falhas na elaboração das questões. De modo geral, os pareceres indicaram que o questionário era adequado aos objetivos propostos. Segundo os avaliadores, o formato da escala de respostas e a formulação dos itens constituíram elementos facilitadores para a compreensão das questões. Ademais, algumas críticas e sugestões mostraram- se importantes para o aperfeiçoamento do instrumento metodológico. Como último passo, com o objetivo de verificar como a ferramenta se comportava em uma situação real, decidiu-se fazer um estudo-piloto envolvendo dois professores e quatro alunos do ensino médio do IFB, quando então foram seguidos todos os procedimentos de coleta de dados a serem aplicados no estudo definitivo. Os resultados mostraram que o questionário estava pronto para ser enviado para o público-alvo selecionado pela pesquisa. Quadro 1 Tipo de questão Fator avaliado Múltipla escolha Segmento ao qual pertence o respondente Múltipla escolha Percepção quanto à usabilidade do app Múltipla escolha Percepção quanto ao design do app o Múltipla escolha Percepção quanto à didático utilizada pelo app Aberta Comentários, críticas e sugestões para a melhoria do app

Resultado e discussão

A amostra obtida na aplicação do questionário foi de 89 respondentes, o que representa 42,58% do universo escolhido, sendo atingido um grau de confiabilidade de 95%, com margem de erro de 5,7%, conforme cálculo proposto por Cochran (1965). As duas primeiras questões identificaram que 2,39% dos questionários foram preenchidos por professores e 97,60% por alunos. Com relação ao app “Elementos Químicos”, 90% acreditam que o aplicativo é de fácil utilização, 85,71% consideram que as aulas ficariam mais interessantes com o seu uso e 95% creem que o app pode ser utilizado para despertar o interesse dos alunos pelo assunto. Como ponto negativo, apenas 46,25% consideram agradáveis as cores e botões utilizadas pelo aplicativo. Algumas respostas à questão 18 - que versava sobre comentários, críticas e sugestões para a melhoria do app - merecem ser destacadas: “Excelente para quem quer decorar nomes e símbolos; entretanto, poderia trazer mais informações sobre cada elemento, como, por exemplo, massa atômica, calor específico e eletronegatividade” e “Adorei! Me ajudou bastante a gravar a tabela periódica, o que tinha muita dificuldade!” Sobre o aplicativo “Ligações Químicas”, 87,5% relatam entender com facilidade as palavras, nomenclaturas e ícones do app; 95,83% consideram que as aulas ficariam mais interessantes com seu uso; e 91,66% acreditam que o app proporcionaria maior domínio das atividades realizadas em sala de aula. Como ponto negativo, 43,75% avaliam que os botões e informações não permitem visualização adequada do conteúdo. Sobre a pergunta 18, destacam-se os seguintes comentários: “Seria interessante apresentar textos mais resumidos” e “App prático e organizado, queria que apresentasse outros conteúdos”. Em relação ao app “Geometria Molecular”, 83,33% relatam que conseguem navegar bem por todas as telas. Nesse, os pontos negativos são que apenas 37,5% acham que com o aplicativo o nível de aprendizagem aumentaria, o que foi acompanhado de 41,67% que consideram que o app pode ser utilizado para despertar o interesse dos alunos pelo assunto. Em relação a pergunta 18, pode-se citar as seguintes respostas: “É importante variar o tamanho dos átomos, além de acrescentar outras partículas” e “É um bom aplicativo, porém, muito específico, sendo usado poucas vezes.” O aplicativo “Química 3D” apresentou 62,5% que acreditam que o nível de aprendizagem aumentaria com seu uso. Apresentou vários pontos negativos, porém, os mais significantes são em relação a facilidade de navegação com 32% e, apenas, 12,5% consideraram as cores e botões agradáveis. Sobre a opinião: “As cores, até para fazer o cadastro do aplicativo é ruim, não foi intuitivo encontrar o esquema de moléculas 3D. Os conteúdos são muito simplistas.” Já o “Química Completa” apresentou 87,5% que acham que o uso aumentaria seu nível de aprendizagem e 83,33% acham o aplicativo fácil de usar. Porém, 56,25% consideram que o app pode ser utilizado para despertar o interesse dos alunos pelo assunto. A principal crítica ao app: “Achei ele com uma cara não muito chamativa, não dá vontade de usar, se fosse mais lúdico talvez fosse melhor. Quanto ao conteúdo achei interessante.” Já o “Quiz Tabela Periódica” apresentou uma das melhores avaliações, 98% afirmam que com seu uso teria maior domínio sobre as atividades em sala e 97% consideram o app claro e objetivo. E 79,6% consideram que o app pode ser utilizado para despertar o interesse dos alunos pelo assunto. Sobre a opinião: “É simples, mas cumpre o que promete”, “Muito bom, o problema é o pouco tempo para realizar os jogos” e “Poderia ter alguma teoria além dos jogos”. Sobre o aplicativo “Química”, 89,9% consideram o aplicativo útil para melhorar o aprendizado e 87,5% acham que as aulas ficariam mais interessantes com o uso. Mas, 50% consideram o aplicativo claro e objetivo e 48,3 conseguem visualizar bem todos os botões dentro do aplicativo. Em relação a pergunta 18: “Melhorar a interface do aplicativo” e “Não tem algumas reações simples, acho que prefiro pesquisar na internet”. Em relação ao app “Fórmulas - Química”, 89,60% acham que com o aplicativo teria maior domínio sobre as atividades em sala, 81,25% acham que com o aplicativo o nível de aprendizagem amentaria e 87,50% consideram o app claro e objetivo. Como ponto negativo, 45,83% concordam que aplicativo aborda o assunto proposto adequadamente. Com relação à opinião dos respondentes, a que mais se destacou foi: “Na hora de responder as questões já deveria mostrar se acertou ou errou a resposta, para que pudéssemos pensar sobre o que foi errado para corrigir em uma próxima questão”. Já o app “Curso de Química” também teve boa avaliação, 89,6% consideram os símbolos, imagens e ícones utilizados no aplicativo são intuitivos e de fácil reconhecimento, 91,66% acham que com o aplicativo teria maior domínio sobre as atividades em sala e 90% consideram que o app pode ser utilizado para despertar o interesse dos alunos pelo assunto. Como ponto negativo, 70,83% consideram que o app permite acesso rápido às informações. Com relação à pergunta 18: “Achei bastante legal por ter teoria e exercícios, mas poderia ter as respostas”. Em relação ao app “Moléculas”, 90% acham que com o aplicativo o nível de aprendizagem aumentaria. Como pontos negativos, 41,66% conseguem navegar bem por todas as telas do aplicativo e 43,75% consideram o aplicativo fácil de usar. Comentários importantes: “Bastante útil, porém, tive dificuldade de tocar os ícones, são muito pequenos e próximos”, “Senti falta de alguns compostos” e “Achei bastante didático”.

Ícones dos aplicativos avaliados

Ícones dos aplicativos avaliados.

Excerto do questionário aplicado

Excerto do questionário aplicado.

Conclusões

O presente estudo teve por objetivo analisar a adequabilidade (nos campos do design, usabilidade e didática) dos dez melhores apps voltados ao estudo da Química disponíveis na Play Store, tomando-se por base a percepção de professores e alunos do ensino básico do Distrito Federal. Dentre as principais contribuições advindas deste estudo, pode-se destacar a constatação de que existe um número considerável de aplicativos gratuitos com potencialidades para uso no ensino da Química. No entanto, o levantamento dos pontos positivos e negativos - ou seja, das principais vantagens e desvantagens - de cada um dos dez apps pesquisados, permitiu identificar que algumas características dos aplicativos testados podem ser melhoradas, o que possibilitará a construção de softwares mais adequados às necessidades educacionais de discentes e docentes. A título de parecer final, pode-se afirmar que o objetivo da pesquisa foi alcançado, posto que os dados obtidos - à luz da fundamentação teórica e da percepção de professores e alunos - levaram à conclusão de que as aplicações móveis disponíveis na internet podem contribuir para o processo ensino- aprendizagem da Química, carecendo de ajustes para atender adequadamente à elevada perspectiva de crescimento do uso das tecnologias móveis em sala de aula. Nesse diapasão, recomenda-se que estudos futuros busquem soluções para adequar o desenvolvimento dos apps voltados ao ensino da Química à percepção daqueles que estão diretamente envolvidos no processo ensino-aprendizagem deste ramo da Ciência.

Agradecimentos

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