ANÁLISE DA ÁGUA DO RIO GRAJAÚ E SUA UTILIZAÇÃO PARA FINS DOMÉSTICOS NO ASSENTAMENTO SANTA TEREZINHA
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ambiental
Autores
Ferreira da Silveira, A.C. (UFMA) ; Gomes de Barros, C.F. (UFMA) ; dos Santos Sousa, L.M. (UFMA) ; Alves Sousa, I. (UFMA) ; Anunciação Conceição, Z.M. (UFMA) ; Alves de Araújo, I.M. (UFMA) ; Fontineles Soares, B.J. (UFMA) ; Santos Chaves, D. (UFMA) ; Barros de Faria, C. (UFMA) ; Gomes Passos, I.N. (UFMA)
Resumo
A água é um dos principais elementos responsáveis para a sobrevivência da vida humana na terra. Cerca de 97 % da água presente no planeta encontra-se inapropriada para consumo humano (MATOS, 2006; BRASIL, 2007; NOBREGA et. al., 2015). O presente trabalho trata sobre a análise da água do Rio Grajaú e os meios de utilização da mesma, pelos moradores do Assentamento Santa Terezinha. Para o desenvolvimento foram realizados testes laboratoriais para a análise da água do Rio Grajaú, como entrevistas com os moradores do assentamento, para e verificar as consequências deste uso, sem o devido tratamento. De acordo com os resultados obtidos a água do Rio Grajaú encontra-se inapropriada para consumo humano e segundo relatos dos moradores, é a única fonte disponível para consumo no assentamento.
Palavras chaves
Água ; Análise; Rio Grajaú
Introdução
A mesma quantidade de água que existia há 4 milhões de anos é a mesma encontrada nos anos atuais. Porém, cerca de 97 % desta fonte é inapropriado para consumo humano (MATOS, 2006; BRASIL, 2007; NOBREGA et. al., 2015). A consequência desta porcentagem se baseia no mau uso do ser humano, dos recursos naturais que resultam em poluição do mesmo. No Brasil é considerado um país privilegiado devido ao alto volume de recursos hídricos, devido abrigar 13,7% da água doce do mundo, sendo cerca de 73 % da água doce disponível na bacia Amazônica. (BRASIL, 2005) De acordo com as Nações Unidas (2003) o ser humano tem direito a água segura e com os parâmetros fisicamente aceitáveis para o uso pessoal e doméstico. No entanto, grande parte da população mundial ainda não tem acesso a água potável e devido a necessidade, são sujeitos ao uso de água sem nenhum tipo de tratamento e que prejudica a saúde de modo geral. Segundo dados do censo IBGE (2010), cerca de 9,8 milhões de domicílios no Brasil ainda não possuem acesso à rede de distribuição de água, e são providos por outras formas de abastecimento (cisternas, poços, carros-pipa, entre outras). Desse total, as regiões Norte e Nordeste detém 5,29 milhões de domicílios não ligados à rede geral, correspondendo a 53,9% do total de habitantes do país que utilizam abastecimentos de forma terceirizada. (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2017). O presente trabalho aborda sobre a análise da água do Rio de Grajaú/MA utilizada no consumo doméstico no Assentamento Santa Terezinha e as consequências deste uso, sem o devido tratamento, por meio de entrevistas com os moradores da localidade.
Material e métodos
Coleta dos dados As amostras foram coletadas em dois pontos do rio Grajaú, sendo registrados os dados geográficos, utilizando o GPS. As amostras da água para análise físico-química e microbiológica foram coletadas em dois recipientes devidamente esterilizados. Os testes foram realizados no laboratório de Química/Biologia da Universidade Federal do Maranhão, campus Grajaú. Para análise da água foram escolhidos dois pontos ao longo do rio Grajaú, situados no assentamento Santa Teresinha. A primeira coleta sendo realizada na parte acima do rio por ser considerado uma área que não tem tanta ocorrência de poluição, já a segundo sendo coletado abaixo do assentamento por se tratar de uma área apontada com riscos maiores de poluição. Análise da água do Rio Grajaú No que se refere a análise da água, foram executados dois procedimentos para a verificação da potabilidade e balneabilidade dos referidos pontos de análise do rio. O primeiro, físico-químico no qual observou-se os parâmetros da água e o segundo microbiológico que verificou a contagem de coliformes fecais e totais. Entrevistas Para aplicação da entrevista, o público-alvo da pesquisa foram os moradores do assentamento e o agente comunitário responsável pela localidade. De início foram aplicadas sete perguntas aos assentados com o objetivo de entender mais sobre suas rotinas com a água utilizada do rio e outras quatro sendo direcionadas para o agente comunitário de saúde, afim de investigar a assistência e o compromisso de Grajaú disponibilizado no assentamento.
Resultado e discussão
Análise Físico-química
Para a análise físico-química, foi utilizado o kit de potabilidade Alfakit®,
para análise dos seguintes itens: pH, Ferro, Amônia, Cloro, Oxigênio
consumido, cor e alcalinidade total (Tabela 1) e como metodologia, foi
utilizado o protocolo que acompanha o kit. Em seguida, para a verificação da
potabilidade da água do rio Grajaú, foram conferidos os resultados e
comparados com os parâmetros da Portaria do Ministério da Saúde nº
2.914/2011 (BRASIL, 2011 apud SOUSA et al., 2016).
No parâmetro químico alcalinidade total, expresso em mg/L-1 de carbonato de
cálcio (CaCO3), nenhum dos dois pontos de coleta no rio Grajaú apresentaram
valores acima de 500 mg/L de CaCO3, ficando na faixa de 320, acima do
assentamento, e 300 mg/L de CaCO3, abaixo do assentamento. As águas naturais
de superfície no Brasil apresentam alcalinidade inferior a 100 mg L-1 de
CaCO3, o que não ocorre na água analisada do Rio Grajaú. Em relação a
alcalinidade total da água analisada, não oferece nenhum risco sanitário, e
nem danos à saúde humana.
A partir da análise do parâmetro Cloreto, expresso em mg L-1 Cl-, os pontos
analisados alcançaram concentrações de cloreto de aproximadamente 80 mg L-1
Cl-. A respeito dos valores encontrados da dureza total, parâmetro químico e
expresso em mgL-1 CaCO3, a partir das análises feitas obteve-se os mesmos
valores nas duas amostras, 200 mgL-1 CaCO3, em ambas as análises.
Na análise química de nitrogênio na água do rio Grajaú, obtivemos os
seguintes valores de amônia (NH3), expressos em mg L-1 NH3, 0,1 para ambos
os pontos. Em relação ao parâmetro Cor, nos dois pontos de coleta, obteve-se
como resultado 3 mgL-1Pt/CO. A cor da água pode ser natural ou resultado de
uma fonte de contaminação, por exemplo, por corantes industriais e esgotos
domésticos se a cor for natural chama-se de aparente ou verdadeira.
Na análise do Cloro residual livre, expresso em mgL-1Cl2, ambos os pontos,
apresentaram 0,0 mgL-1Cl2. Segundo a portaria nº 2.914/2011 orienta que o
teor máximo de cloro residual livre em qualquer ponto do sistema de
abastecimento seja de 2,0 mg L-. O oxigênio consumido é um parâmetro
determinante na avaliação da matéria orgânica presente na água. O resultado
para o oxigênio consumido das amostras foi de 0,0 mg.L-1, estando assim,
dentro das normas exigidas pela portaria nº 2.914/2011, na qual, estabelece
o limite máximo de 3,0 mgL-1O2.
No que diz respeito ao parâmetro potencial hidrogeniônico, ambas as amostras
apresentaram pH igual a 8. O pH destaca-se como um dos principais e mais
importantes parâmetros avaliados nos estudos de padrão de potabilidade da
água. Na análise da concentração do Ferro, expresso em mgL-1Fe, verificou-se
que o os níveis ficaram dentro do valor máximo determinado pela portaria nº
2.914/2011, que é de 0,3 mgL-1Fe. Nos dois pontos a concentração
estabeleceu-se em 0,25 mgL-1Fe.
Análise Microbiológica
Para a contagem de coliformes fecais e totais foi utilizado o método NMP, no
qual é calculado o número de microrganismo a partir da amostra da água,
utilizando tabelas de probabilidade.
A partir do primeiro teste realizado com concentração simples e dupla, foi
possível identificar os tubos que apresentaram contaminação, no qual é
possível identificar a contaminação dos tubos através da formação de
“bolhas” na superfície da amostra. A análise das duas amostras de água do
rio Grajaú, mostrou que houve a formação de “bolhas” (produção de gás nos
tubos de Durhan após 24-48 horas de incubação em estufa a 36°C). A tabela a
seguir, mostra os resultados das amostras analisadas. (Tabela 2)
Os resultados obtidos no teste presuntivo, mostraram contaminação em ambas
as amostras (A e B). De acordo com Silva (2002) para o teste de coliformes
fecais, “o meio de cultura utilizado é seletivo para microrganismos Gram
negativos em função da presença de sais biliares.” A partir da fermentação
da lactose na temperatura de incubação (44,5 – 45,5°C) é evidenciado a
presença de coliforme fecais (HAJDENWURCEL, 1998).
A partir desse resultado, nota-se que a água analisada não está em
conformidade com os padrões de potabilidade exigidos pela portaria n° 2914,
de dezembro de 2011, na qual afirma, em seu anexo I que deve haver ausência
de Unidades Formadores de Colônias (UFC) de coliforme fecais e totais em 100
mL.
Entrevistas
Com os resultados obtidos da análise fez-se necessário uma pesquisa de campo
através de uma entrevista com os moradores do Assentamento Santa Teresinha,
com o intuito de inteirar-se sobre o provimento da água, tratamento,
armazenamento, assim como a qualidade da água e saneamento básico.
No que se refere a entrevista, adquiriu-se os seguintes dados: 95% dos
entrevistados afirmaram que seu provimento de água vem diretamente das águas
do rio Grajaú, e apenas 5% compram água mineral na cidade. Também,
perguntou-se sobre o tratamento da água se é utilizado algum meio de modo
público, todos afirmaram que não.
Quanto ao tratamento caseiro, apenas um morador entre os seis que foram
entrevistados confirmou que possui filtro de barro em casa, os demais apenas
coam e a armazenam. Houveram divergências quanto aos modos de armazenamento,
dois afirmaram que guardam em garrafas pet, dois em galões e outros dois
possuem caixa d’água em suas residências.
Foi pedido a opinião pessoal de cada um sobre a qualidade da água, cinco dos
seis não a consideram potável para consumo, após foi questionado sobre o
tema doenças parasitárias, foi percebido que 2 dos entrevistados
apresentaram sintomas causados pela ingestão da mesma. Como último
questionamento, indagou-se sobre os descartes de dejetos e todos refutaram
que não possuem fossas sanitárias e optam por incineração do lixo por não
terem coleta no assentamento.
No que se refere a entrevista com o agente comunitário de saúde, responsável
pelo assentamento, foi indagado ao mesmo, se a Secretaria de Municipal de
Saúde, oferece algum tipo de tratamento utilizado pelos moradores, onde foi
destacado que é disponibilizado o cloro (Cl), entretanto não é feita a
distribuição com frequência. Na sequência, questionou-se se o órgão
competente (Governo Federal) já verificou a balneabilidade da mesma e como
resposta o agente destacou que até o momento nunca houve analise
microbiológica ou físico-química da água consumida pelos moradores. A partir
da quarta pergunta a respeito do descarte do lixo, foi enfatizado pelo mesmo
que não ocorre coleta de lixo doméstico dos respectivos lares e a forma de
descarte adotada pelos assentados é diretamente a “céu aberto” e através da
queima. Em relação à qualidade da água apenas houve uma única reclamação,
segundo relato do entrevistado.
Média dos Parâmetros Físico-Químicos de dois pontos do rio Grajaú, nas localidades do Assentamento Santa Terezinha, no período de junho de 2019.
Número mais provável, para série de três tubos.
Conclusões
A partir de uma visão geral das avaliações, dos parâmetros físico-químico e microbiológico, tanto da coleta feita na parte acima do assentamento Santa Terezinha, por se tratar de uma área intitulada menos poluída e da parte mais abaixo do rio qualificada com riscos maiores de poluição. No que se refere à potabilidade, nos parâmetros microbiológicos da água para consumo humano não está devidamente nos padrões para consumo requerendo assim ainda medidas interventivas para adequação dos parâmetros legais, entretanto de acordo com os parâmetros físico-químico e com base nos testes realizados foi possível verificar que água do rio, encontra-se adequada para balneabilidade. Através da realização da entrevista, nota-se a falta de conhecimento por parte dos moradores do assentamento, sobre os riscos do consumo desta água sem tratamento e a ausência no que se refere a assistência dos órgãos públicos responsáveis em garantir a saúde dos moradores. Com isso espera-se também conscientizar a população dos riscos que água provoca a saúde humana através do consumo improprio, por meio de atividades de educação sanitária a população entre outras práticas que evitem a contaminação do leito do rio.
Agradecimentos
Primeiramente a Deus por nos acompanhar a cada momento e conquistas, a nossa instituição (UFMA) em especial aos técnicos do nosso Laboratório de Biologia e Química, Gleidy Costa e Afonso Ângelo pela assistência e orientações.
Referências
BRASIL. Manual de saneamento. 3a ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2007.
BRASIL. Portaria 2914 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Ministério da Saúde. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Brasília, DF, 2011. 213p.
BRASIL. Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/ IDEC, 2005.
BRASIL. Portaria nº 2914 de 12 de dezembro de 2011. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
HAJDENWURCEL, J.R. Atlas de microbiologia de alimentos. São Paulo: Comunicações e Editora, p. 66, 1998.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2010. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv49230.pdf>. Acesso em 11 jun. 2019.
INSTITUTO TRATA BRASIL. Acesso à água nas regiões Norte e Nordeste: desafios e perspectivas. São Paulo: Instituto Trata Brasil, 2017.
MATOS, M. I. S. Água: o desafio da saúde no século XXI. Pastoral das comunicações- Boletim Diocesano [online]. 2006 [acesso 2013 Agosto 31]; 9 (131). Disponível em: http://www.diocesefranca.org.br/boletim/out2006/bdnotpsaude.html.
NÓBREGA, M. D. A. C. et. al. Análise físico-química e bacteriológica da água de abastecimento da cidade de São Domingos-PB. INTESA (Pombal - PB - Brasil) v.9, n. 1, p. 10 - 14, 2015 Acesso em 15 de julho de 2019. Disponível em: https://www.gvaa.com.br/revista/index.php/INTESA/article/download/3195/2725.
SILVA, M. C. da. Avaliação da qualidade microbiológica de alimentos com a utilização de metodologias convencionais e do sistema SimPlate. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Dissertação (mestrado), p.75, 2002.
SOUSA, S. S. et al. Análise físico-química e microbiológica da água do rio Grajaú, na cidade de Grajaú – MA. Ciência e Natura, v.38 n.3, p. 1615 – 1625, 2016.
UNITED NATIONS – UN. Committee on Economic, Social and Cultural Rights. General Comment 15: The right to water (Twenty-ninth session, 2003). Geneva, 2003.