PAPEL SEMENTE: ALTERNATIVA PARA O REAPROVEITAMENTO DO PAPEL E A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA CAMPO-ESTÁGIO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ambiental

Autores

Alves, T.L. (UEA) ; Eleutério, C.M.S. (UEA)

Resumo

Este estudo foi desenvolvido em uma escola pública localizada no município de Parintins-AM, onde professores, estagiários e alunos reaproveitaram o papel descartado na escola e produziram um Papel Semente. A partir desse produto foi possível abordar além das questões ambientais e sustentabilidade, conteúdos da Proposta Curricular. Para coletar os dados foram realizadas três oficinas onde foram envolvidos alunos do 1°, 2º e 3º ano do Ensino Médio e comunidade extra escolar. As espécies inseridas no papel foram: rúcula (Euca sativa), alface-crespa (Latuca sativa), coentro (Coriandrum sativum) e Moringa (Moringa oleífera). Os resultados foram satisfatórios, comprovando a eficiência da metodologia utilizada para a germinação de sementes e para a implantação da reciclagem de papel na escola.

Palavras chaves

Educação Ambiental; Papel Semente; Reciclagem de papel

Introdução

A proposta deste estudo surgiu da necessidade de se colocar em prática, no período destinado ao Estágio Supervisionado, os conhecimentos adquiridos no processo de formação inicial. Dessa forma, optou-se pela Abordagem Ambiental para sustentar a metodologia e as atividades desenvolvidas nas oficinas. A trajetória teórica foi amparada em leis que discorrem sobre as políticas ambientais como: Lei nº 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente; Lei nº 9.795/99 que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA); Lei nº 12.305/10 que destaca a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Química (2001). O Art. 2º da Lei nº 6.938/81, assegura o estudo da Educação Ambiental (EA) em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Da mesma forma, a Lei nº 9.795/99, define no Art. 1º que a EA deve se constituir em um processo de formação que possibilita o indivíduo e a coletividade construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial para qualidade de vida sadia e que garanta sua sustentabilidade. Em relação as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Química (2001), no item que trata da relação ao trabalho de investigação científica e produção/controle de qualidade, faz referência ao conhecimento da utilização de processos de manuseio e descarte de materiais e de rejeitos, tendo em vista a preservação da qualidade do ambiente. Este fragmento é corroborado pelo Art. 36. Da Lei nº 12.305/10 que atribui ao poder público municipal a responsabilidade do manejo de resíduos sólidos, elaboração de procedimentos para reaproveitar os resíduos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. Esta mesma Lei, no Art. 8º item VI, determina a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos. Partindo dessa perspectiva e pensando em atender os princípios da EA e fortalecer a prática docente foram realizadas três Oficinas de reciclagem do papel na escola campo-estágio. De acordo com a Food and Agricuture Oganization of the United Nations (2014), o Brasil é um grande produtor de celulose e papel no mundo. Nas últimas décadas esse processo tem aumentado significativamente, prova disso, é que nos anos 60 ele se apresentava como o 16º produtor mundial de papel e papelão e em 2014 ocupou o 9º lugar, com previsão de se tornar em 2019, o 2º maior produtor dessa matéria. Por conta desde aumento, a indústria papeleira gera um grande volume de resíduos prejudiciais ao meio ambiente. Considerando essas informações e em conformidade com a Lei nº 12.305/10 que no Art. 9º destaca a gestão, o gerenciamento de resíduos sólidos e observa a ordem de prioridade que inicia com a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Seguindo os níveis hierárquicos dispostos nessa Lei e com base nos estudos desenvolvidos por Schalch et al. (2002), a reciclagem pode ser considerada uma atividade econômica, que deve ser vista como um elemento dentro do conjunto de atividades integradas no gerenciamento dos resíduos em diferentes contextos, dentre eles a escola. A reciclagem não pode ser considerada a principal solução para o lixo, tendo em vista, que nem todos os materiais são técnica ou economicamente recicláveis. Porém, na escola ela pode se apresentar como uma alternativa viável para a solução de pequenos problemas como por exemplo, o descarte do papel. O produto das Oficinas de reciclagem foi denominado de Papel Semente, utilizado no plantio de sementes de diferentes espécies vegetais. Os resultados deste estudo foram apresentados nas aulas de regências e na Feira do Conhecimento da escola campo-estágio.

Material e métodos

As atividades foram desenvolvidas na Escola Estadual Senador João Bosco (escola campo-estágio) e que atende alunos do Ensino Médio, nos turnos matutino e vespertino. A referida escola está localizada no município de Parintins-AM. Nas atividades foram envolvidos alunos dos três níveis de ensino (1º, 2º e 3º ano) do turno vespertino, no período de julho a novembro de 2018. O procedimento metodológico foi amparado nos princípios epistemológicos da abordagem dialética e da pesquisa qualitativa, em consonância com a abordagem ambiental. O Método Dialético segundo Freisleben (2013), admite a hegemonia da matéria em relação às ideias, fornece as bases para uma interpretação dinâmica de totalidade da realidade, cujo objeto de estudo vem de um mundo concreto, construído pelas relações sociais, e que possui espaço e tempo em constante transformação. Neste sentido a dialética é importante instrumento para elucidar as questões ambientais atuais no sistema capitalista. Em relação à Pesquisa Qualitativa, segundo Minayo (2013), esta tem a intenção de responder a questões particulares, considera o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser quantificados e/reduzidos à operacionalização de variáveis. No que diz respeito à Abordagem Ambiental, esta não é uma especificidade do Ensino Médio nem do Ensino Superior. Porém, os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999), os PCN+ (BRASIL, 2002), as Orientações Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2006) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Química (2001), propõem que as questões ambientais não sejam negligenciadas em nenhum espaço social ou de formação escolar/acadêmica. Os papéis destinados à reciclagem foram coletados na secretaria e na sala pedagógica, pois, nas salas de aulas não existiam coletores de lixo em função do Projeto “Minha Escola Sustentável” que estimula a comunidade escolar a não gerar qualquer tipo de resíduo. Para coletar os dados foram aplicados questionários com questões abertas e fechadas, distribuídos entre alunos (aula de regência) e a comunidade em geral (Feira do Conhecimento), na escola campo-estágio. Para a realização das oficinas foram utilizados os seguintes materiais: papel picado, liquidificador, água, TNT (Tecido não tecido), tela de serigrafia (300 × 340 mm), cola branca, peneira, tecido de algodão, rodo de pia, esponja de limpeza e sementes (rúcula (Euca sativa), alface-crespa (Latuca sativa), coentro (Coriandrum sativum) e moringa (Moringa oleífera)). Após os procedimentos que envolviam a produção do papel semente e, com o intuito de relacionar e consolidar a prática educativa foi realizada em sala de aula (aula de regência) a contextualização de temáticas e de alguns conteúdos de química. Os resultados foram satisfatórios e apresentados para a comunidade escolar na Feira do Conhecimento.

Resultado e discussão

Os resultados das Oficinas foram apresentados nas aulas de regência e na Feira de Conhecimento da escola campo-estágio. As atividades subsidiadas pela Abordagem Ambiental que de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), se configura como elemento indispensável para criar e aplicar formas cada vez mais sustentáveis, integrando sociedade e natureza. Nesse contexto fica evidente a importância de educar os alunos para que se comportem de modo responsável e com sensibilidade, conservando e mantendo o ambiente (escola) saudável. Esta abordagem suscita mudanças de comportamento pessoal, atitudes e valores de cidadania. Os conteúdos disciplinares foram evidenciados a partir da contextualização das seguintes temáticas: Impactos Ambientais, Sustentabilidade, Lixo e Reciclagem, Optou-se essa estratégia pedagógica por se apresentar de grande relevância no ensino e por colaborar com a construção de conceitos científicos, ajudando os alunos a integrar e relacionar informações, atribuindo significado aos conceitos que estão sendo estudados (CARABETTA JÚNIOR, 2013). As aulas de regência foram preparadas com base na Proposta Curricular de Química do Ensino Médio SEDUC-AM (2012) e nos livros didáticos utilizados pelos professores da escola campo-estágio. Foram ministradas três aulas expositivas e contextualizadas, onde foram apresentados os princípios da Educação Ambiental (EA), os impactos ambientais (diminuição dos mananciais, extinção de espécies, inundações, erosões, poluição, mudanças climáticas, destruição da camada de ozônio, chuva ácida, agravamento do efeito estufa e destruição de habitats etc.). A temática lixo possibilitou aos alunos o conhecimento sobre polímeros sintéticos evidenciando o polietileno (plástico utilizado na fabricação de garrafas PET, sacolas plásticas e outros objetos) e o poliestireno expandido (substância de alto impacto), usado na forma de placas ou blocos na confecção de lajes, dentro de embalagens para proteger equipamentos domésticos, em capacetes para proteção, como isolante elétrico ou térmico em casas e edifícios, como recipiente para bebidas e comidas quentes (caixas térmicas), isopor etc. Este conteúdo disciplinar, de acordo com a Proposta Curricular de Química (SEDUC-AM, 2012), está atrelado ao tópico Biomoléculas, sob eixo temático: Funções orgânicas características e propriedades, onde um dos seus objetivos é identificar o uso de alguns polímeros, tais como: celulose, polietileno, poliestireno, PVC, nylon e borrachas, considerando as consequências de seu descarte no ambiente, assim como a importância da reciclagem desses materiais. Nas aulas de regência foi mostrada a estrutura química da celulose conhecida como polímero natural obtido a partir da reação de esterificação, cujo monômero é a glicose (Figura 1), ligados entre si e está presente, em maior proporção, na composição química do papel. A celulose é classificada como polissacarídeo de cadeia longa e elevado peso molecular, com fórmula empírica (C6H10O5) n, principal constituinte da parede celular dos vegetais e não é digerível pelo homem, amplamente utilizada como matéria-prima nas indústrias de papel e de tecidos. Observando a estrutura química desse polímero, percebe-se que outros conteúdos disciplinares podem ser trabalhados em sala de aula, como por exemplo, os carboidratos. Além dos conteúdos disciplinares foi ressaltada a importância das políticas públicas destacando a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), que objetiva a definição de critérios e mecanismos de ação que devem ser tomados pelos governos para garantir a preservação do meio ambiente, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei nº 12.305/10) que estabelece padrões sustentáveis de produção e consumo para um gerenciamento ambiental adequado para resíduos sólidos, cujo principal objetivo é organizar a forma com que o Brasil lida com o lixo e exigir dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de seus resíduos. Esta Lei mostra a preocupação com a geração de resíduos, por isso, determina que sejam desenvolvidas tecnologias que possam aproveitar o lixo para geração de energia. O processo inicial de reciclagem do papel seguiu as orientações metodológicas proposta por Salles (2011). Ocorreu de forma simples e caseira, não necessitando de qualquer outro artifício químico. O produto final foi constituído de duas unidades de papel reciclado, uma folha simples fabricada previamente e a outra produzida, seguindo o exemplo da primeira folha, porém, com a inserção das sementes. Em uma das oficinas foi realizado o plantio de um papel que continha sementes de rúcula (Figura 2). Os alunos ficaram responsáveis pelo tratamento e cuidado. A germinação se deu em apenas 3 dias. Durante a Feira do Conhecimento realizada na escola campo-estágio, estagiários e alunos plantaram outros tipos de papéis sementes como: alface-crespa (Latuca sativa), coentro (Coriandrum sativum) e moringa (Moringa oleífera). A germinação foi rápida, a exemplo dos plantios anteriores, superando os prazos previstos em suas embalagens.

Figura 1 - Estrutura da celulose



Figura 2 - Processo de produção do papel semente



Conclusões

Este estudo deixou evidente que a ciência química não se fundamenta apenas em teorias, fórmulas e cálculos, nem em experiências de laboratório. É preciso enxergá-la com outras lentes. Quase sempre se relaciona os problemas ambientais com a Química, mesmo sabendo que ela não é a única responsável por essas problemáticas. É possível olhar com novas possibilidades, criando situações que favoreçam a aprendizagem e/ou a construção de novos conhecimentos através da troca de experiências. Dessa forma, foi possível observar que o aproveitamento do papel descartado na escola, estimulou buscar outras possibilidades de trabalho como, por exemplo, a confecção de um papel semente. Além do aprendizado, mostrou o real sentido da sustentabilidade.

Agradecimentos

A Escola Estadual Senador João Bosco

Referências

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