Relação entre variações climatológicas, focos de queimadas, poluição atmosférica e internações nas unidades de saúde de Cuiabá e Várzea Grande - MT.

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Ambiental

Autores

Lima, D.F. (IFMT) ; Brito, M.C.C.P. (IFMT) ; Alkmim, L.F.F. (IFMT) ; Souza, J.S. (IFMT) ; Santos, O.A.C. (IFMT) ; Gomes, A.A. (IFMT) ; Santos, O.A.M. (IFMT)

Resumo

A poluição atmosférica pode ocorrer em diversos casos, os baixos índices de chuvas e umidade relativa do ar podem contribuir para a geração de focos de queimadas em períodos de estiagem. As queimadas liberam compostos químicos que quando ficam em suspensão na atmosfera prejudicam a saúde humana. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma relação entre dados meteorológicos, focos de queimadas e internações nas unidades de saúde nas cidades de Cuiabá e Várzea Grande – MT. O estudo realizado permitiu observar a interligação entre volumes pluviométricos, umidade do ar, geração de queimadas e a influência na saúde da população, sendo possível verificar que as variáveis climáticas possuem interferência na quantidade de internações no sistema de saúde.

Palavras chaves

Variações climáticas; Queimadas; Internações sistema saúde

Introdução

Dentre as maiores causas ambientais de doenças e mortes prematuras estão as causadas pela poluição, sendo responsável por gerar cerca de 9 milhões de mortes por ano. Das mortes no mundo 16 % tem como causa a poluição, ultrapassando índices de doenças como AIDS, malária e tuberculose (LANDRIGAN et al., 2019). A poluição atmosférica é composta por material particulado possuindo composições químicas e propriedades físicas, dentre essas composições encontram-se poluentes como poeira, fumaça e partículas em formas líquidas e sólidas. Quando os poluentes estão em altas concentrações na atmosfera, geram impacto a saúde humana (SANTIAGO, 2015). Problemas respiratórios e do sistema cardiovascular estão associados à poluição do ar. Podem ser encontrados na atmosfera poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx) monóxido de carbono (CO), óxidos de enxofre (SOx), ozônio (O3) e partículas de matérias (TORRES et al., 2018). As cidades de Cuiabá e Várzea Grande estão localizadas em uma região topográfica de depressão, dificultando a dispersão dos poluentes. Nos períodos de seca e estiagem que correspondem aos meses de junho a outubro, a região aponta clima quente e baixa umidade do ar, fazendo com que os poluentes atmosféricos permaneçam pela cidade, influenciando no surgimento de doenças na população (SANTIAGO, 2015). A fumaça gerada por incêndios florestais tem potencial para causar prejuízos a saúde, refletindo em consequências negativas, principalmente para grupos de risco. Crianças e idosos fazem parte do grupo mais afetado por doenças cardiorrespiratórias (BAKER et al, 2019; CARMO; HACON, 2013). A exposição de crianças à poluição atmosférica pode gerar diversos malefícios à saúde, como danos e prejuízo no crescimento dos pulmões, e propiciar o surgimento de doenças crônicas, asma, pneumonia e doenças pulmonares (LANDRIGAN et al., 2019). Diante da relação entre doenças e poluição atmosférica, dá-se a importância no acompanhamento de dados de satélite, para verificar as variações de focos de queimadas, umidade do ar, e pluviosidade. Sendo assim, o presente trabalho terá como objetivo a correlação entre variáveis climáticas como chuva, umidade do ar, focos de queimadas e número de internações no Sistema Único de Saúde de Cuiabá e Várzea Grande – MT.

Material e métodos

Os dados foram obtidos a partir das plataformas de base de dados do DATASUS, INPE e INMET. A seguir é apresentado o objetivo de cada unidade. DATASUS: É o sistema de informática do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele coleta, processa e dissemina informações sobre a saúde no Brasil, além de trazer dados estatísticos sobre uma série de indicadores no país, ele também administra aplicativos e sistemas bastante utilizados por profissionais como o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde. INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, tem entre seus objetivos desenvolver tecnologias e aplicações com satélites artificiais e produtos relacionados ao tempo e clima. São utilizados todos os satélites que possuem sensores óticos operando na faixa termal-média de 4um e que o INPE consegue receber. São processadas operacionalmente, na Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais - DSA as imagens AVHRR/3 dos satélites polares NOAA-15, NOAA-18, NOAA-19 e METOP-B, as MODIS dos NASA TERRA e AQUA, as VIIRS do NPP-Suomi, e as imagens dos satélites geoestacionários, GOES-13 e MSG-3. Cada satélite de órbita polar produz pelo menos dois conjuntos de imagens por dia, e os geoestacionários geram várias imagens por hora, sendo que no total o INPE processa mais de 200 imagens por dia especificamente para detectar focos de queima da vegetação. Espera-se incluir a recepção das imagens dos satélites chineses polares Fenyun e geoestacionário NOAA-GOES-16. As recepções são feitas nas estações de Cachoeira Paulista, SP (próximo à divisa com o RJ) e de Cuiabá, MT. INMET: O Instituto Nacional de Meteorologia, é um órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seu objetivo é prover informações meteorológicas à sociedade brasileira e influir construtivamente no processo de tomada de decisão, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do País. São atribuições do INMET: elaborar e divulgar, diariamente, em nível nacional, a previsão do tempo, avisos e boletins meteorológicos especiais; promover a execução de estudos e levantamentos meteorológicos e climatológicos aplicados à agricultura e outras atividades correlatas; coordenar, elaborar e executar programas e projetos de pesquisas agras meteorológicas e de acompanhamento das modificações climáticas e ambientais; estabelecer, coordenar e operar as redes de observações meteorológicas e de transmissão de dados, inclusive aquelas integradas à rede internacional; propor a programação e acompanhar a implementação de capacitação e treinamento de recursos humanos, em atendimento a demandas técnicas específicas. Os dados coletados se referem aos anos de 2015 a 2018, e são referentes as cidades de Cuiabá e Várzea Grande, no estado de Mato Grosso.

Resultado e discussão

Foram relacionados os dados referentes as chuvas, queimadas, umidade relativa do ar e internações entre os anos de 2015 à 2018. Sendo possível observar que existe ligação entre doenças provocadas por poluição e alteração climática, como os focos de queimadas, períodos de pluviosidade e umidade do ar. Através da análise dos dados contidos no gráfico em 2015, é possível observar que as pluviosidades são reduzidas durante os meses de junho a outubro, desta forma o período de seca propicia a baixa umidade do ar e o surgimento dos focos de queimadas. A umidade do ar fica reduzida no mês de agosto com média de 35,37 %, ainda no mês de agosto é possível verificar que não houve ocorrência de chuvas na região. Com relação às queimadas os meses de junho a novembro tiveram quantidades de focos maiores que em outros meses, chegando ao seu ápice no mês de setembro, registrando 1.624 focos. As internações no sistema de saúde do recorrente ano mantiveram uma média aproximada, com exceção do mês de junho que registrou 451 internações, acredita-se que a elevação deste número corresponda à queda dos índices pluviais, a redução da umidade, e o início do período das queimadas. A presença de fumaça proveniente de queimadas e incêndios florestais pode conter partículas finas o que consequentemente aumenta o seu tempo de permanência no ambiente atmosférico. Os incêndios de vegetações provocam altas temperaturas, provocando a evaporação de minerais que compõem o solo, estes minerais se juntam aos óxidos presentes na atmosfera, e entram em contato com o organismo humano através da respiração (SANTIAGO, 2015). Ao verificar o gráfico que demonstra dados de 2016, observa-se que as chuvas sofrem redução nos meses de maio a agosto, considerando uma redução brusca do mês de abril (91,6 mm) para maio (5,4 mm). Os focos de queimadas e incêndios possuem aumento nos meses de julho a outubro, inversamente no mesmo período a umidade relativa do ar obteve redução. Grande parte dos incêndios são causados por ações antropogênicas, características como a baixa umidade do ar, ventos, altas temperaturas propiciam o processo de combustão e a propagação de queimadas (VIGANÓ et al., 2018). Com relação às internações em unidades de saúde do ano citado, obtiveram maiores índices de maio a novembro. Nas informações do ano de 2017, observa-se que as chuvas na região começam a reduzir em abril, retornando aos índices elevados apenas em dezembro. Mesmo com a redução das chuvas precoce no presente ano, as queimadas iniciaram-se apenas no mês de junho, acompanhando a baixa relativa do ar que ocorreu também em junho. Com relação às internações em unidades de saúde, estas obtiveram baixos índices nos meses de agosto e setembro, período no qual ocorreram a maior quantidade de focos de queimadas. Sendo assim, não foi possível observar a interligação das duas variáveis no presente ano. Grande parte das incidências dos focos de queimadas ocorrem entre os meses de agosto à setembro e estão relacionados à falta de chuva que antecede este período, fazendo com que o material particulado se mantenha em suspensão na atmosfera (SANTIAGO, 2015). Ao analisar o gráfico contendo dados de 2018 os índices de chuvas na região mantiveram-se baixos principalmente nos meses de abril a setembro, retornando a um valor considerável em novembro, no qual foi registrado no mês o volume pluviométrico de 490,6 mm. A umidade relativa do ar começou a declinar no mês de julho (53,2), retomando nível elevado em outubro (69,7). As internações tiveram maiores índices nos meses de junho e julho, período em que as chuvas obtiveram queda, e se iniciaram os focos de queimadas.

Figura 1

Relação entre Chuvas x Queimadas x Umidade do ar x Internações nos anos de 2015 e 2016

Figura 2

Relação entre Chuvas x Queimadas x Umidade do ar x Internações nos anos de 2017 e 2018

Conclusões

Através do presente trabalho foi possível verificar a relação entre volume de chuvas, umidade do ar, focos de queimadas e quantidade de internações no sistema de saúde. De acordo com os dados analisados a região de Cuiabá e Várzea grande possui um período de estiagem que variam em média entre os meses de junho a outubro, os dados dos gráficos demonstraram que neste período os índices de pluviosidade são reduzidos, influenciando na queda da umidade relativa do ar, e propiciando a ocorrência de focos de queimadas. Com a redução das chuvas e da umidade do ar, bem como altos índices de incêndios na seca, o número de internações registrados em unidades de saúde possuem aumento na maioria dos anos analisados, demonstrando a relação entre todas as variáveis analisadas. As quedas das chuvas e umidade do ar tem relação com o aparecimento dos focos de queimadas, e estes influenciam diretamente na poluição atmosférica, liberando composições químicas que quando são inalados pelas vias respiratórias e entram em contato com o corpo humano provocam doenças. O tema em questão é de grande importância, sendo relevante a continuidade de estudos a respeito destas variáveis.

Agradecimentos

Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Cuiabá Bela Vista.

Referências

A ORIGEM DO INPE NA CORRIDA ESPACIAL. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponível em: <http://www.inpe.br/institucional/sobre_inpe/historia.php> Acesso em: 10 Ago. 2019.
BAKER K.R. et al. Characterizing grassland fire activity in the Flint Hills region and air quality using satellite and routine surface monitor data. Science of the Total Environment, v. 659, p.1555-1566, 2019.
CARMO, C. N.; HACON, S. S. Estudos de séries temporais de poluição atmosférica por queimadas e saúde humana. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, p.3245-3258, 2013
HISTÓRICO. Departamento de Informática do SUS. Disponível em: <http://datasus.saude.gov.br/datasus> Acesso em: 10 Ago. 2019.
LANDRIGAN, P. J. et al. Pollution and children's health. Science of the Total Environment, v. 650, p.2389- 2394, 2019.
SANTIAGO, A. et al. Caracterização do material particulado suspenso no ar de Cuiabá-MT no período de queimadas. Revista Matéria, v.20, n.1, p.273-283, 2015.
SOBRE O INMET. Instituto Nacional de meteorologia. Disponível em: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=sobre_inmet> Acesso em: 10 Ago. 2019.
TORRES, P. et al. Air pollution: A public health approach for Portugal. Science of the Total Environment, v. 643, p.1041-1053, 2018.
VIGANÓ, H. H. G. et al. Prediction and Modeling of Forest Fires in the Pantanal. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 33, n. 2, p. 306-316, 2018.

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