SILÍCIO (Si), FERRO (Fe) E ALUMÍNIO (Al) AO LONGO DO BAIXO RIO AMAZONAS EM DIFERENTES PERÍODOS SAZONAIS
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Ambiental
Autores
Silva, R.C. (UNIFAP) ; Diniz, J.E.M. (UNIFAP) ; Melo, S.S. (UEAP)
Resumo
Esta pesquisa objetivou conhecer fluxo de silício (Si), ferro (Fe) e alumínio (Al) influenciados pela sazonalidade ao longo do baixo rio Amazonas. As coletas de água para análise de Fe, Si e Al do baixo rio Amazonas foram realizadas entre os anos de 2014-2016 em um trecho de aproximadamente 800 km, usando técnicas analíticas da AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, para as análises de Fe, Si, e Al usou-se a combinação de cromatografia iônica, espectroscopia de emissão óptica com plasma acoplado. Os resultados obtidos mostraram predominância de Si, em relação aos demais elementos devido a origem argilosa e arenosa dos sedimentos, rico em silicato (SiO2) e pobre em ferro e alumínio, o Si apresentou maior concentração no período de cheia, o Fe e o Al com predominância na seca.
Palavras chaves
Amazonas; Sazonais; Hidrográfica
Introdução
A bacia hidrográfica do Amazonas é a mais extensa rede hidrográfica do globo terrestre, ramificando-se por todos os países do norte da América Latina, desde os sopés andinos até o Oceano Atlântico (EVA; HUBER, 2005), contando com 25.103 km de rios navegáveis em cerca de 7.106de km2, dos quais 3,8.106 estão no Brasil (VAL et al., 2010; IBGE, 2007). Portanto, esta bacia continental estende-se por quase todo o norte da América do Sul, concentrando aproximadamente 63 % de sua extensão em território brasileiro (KOHLHEPP, 2002). Dada a dimensão continental da bacia amazônica, sua escala hidrográfica exige normalmente uma abordagem complexa sobre os processos biogeoquímicos da água, bem como suas interações com a paisagem e a atmosfera. Esta pesquisa teve como objetivo conhecer a fluxo de silício (Si), ferro (Fe) e alumínio (Al)influenciados pela sazonalidade no canal principal ao longo do baixo rio Amazonas, além de complementar os estudos já realizados no médio e alto Rio Amazonas, aumentado assim a área de amostragem, abrangendo o trecho compreendido entre a cidade de Óbidos no oeste do Estado do Pará até a foz do Rio Amazonas entre os Estados do Amapá e Pará.
Material e métodos
As coletas de água e sedimentos para análise biogeoquímica e a medida do fluxo hidrodinâmico do Rio Amazonas foram realizadas durante os meses de maio e novembro de 2014, julho de 2015 e fevereiro de 2016, em um trecho de aproximadamente 800 km (figura 01). As técnicas analíticas utilizadas nas analises das amostragens de água coletadas ao longo do rio Amazonas foram técnicas da AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA, 1999). Sendo que foram realizadas 06 (seis) coletas de amostragens, 02 (duas) na margem direta, 02 (duas) na esquerda e 02 (duas) no centro do rio, sendo uma na superfície a aproximadamente, 50 centímetros do espelho d’agua e outra na profundidade (60% da profundidade total do canal) medida a partir da superfície. O perfil de profundidade do rio foi medido com o ecobatímetro Garmim GPS 420. As amostras de profundidade foram obtidas pela imersão de uma bomba peristáltica (SHURflo 1.5 GPM) e de profundidade com uma bomba coletora (Rule 360 GPH). As análises de, Si, Fe eAl foram feitas com uma combinação de cromatografia iônica (Dionex DX-500), espectroscopia de emissão óptica com plasma acoplado (ICP-OES, Jobin Yvon Horiba, ULTIMA2e colorimetria (Foss Tecator automatizado do sistema FIA, 5000 FIAStar.
Resultado e discussão
As características hidrodinâmicas do trecho de 800 Km correspondente ao
longo
do baixo Rio Amazonas entre a cidade de Óbidos, oeste do Estado do Pará e a
foz do Rio Amazonas em seus canais norte e sul entre os Estados do Amapá e
Pará podem apresentaram diferenças significativas quanto a sua pluviometria.
Distribuem-se em períodos distintos da região amazônica: inverno amazônico,
com enchente e cheia de janeiro a junho, com uma máxima de 450 mm em
março/abril e verão amazônico, com vazante e seca, nos meses restantes,
quando
ocorre uma redução significativa da pluviosidade na região, com um mínimo de
26 mm em setembro/outubro (KUHN et al., 2010; SOUZA; CUNHA, 2013; SOUZA et
al., 2009). O que pode alterar a concentração de Si, Fe e Al ao longo do
rio.Águas superficiais da bacia amazônica apresentam muitos metais pesados
em sua composição, entre eles o ferro (Fe), com maior teor em águas com
baixa turbidez e cor acentuada e que, apesar de não apresentartoxidade, o
ferro traz alguns problemas para o abastecimento público de água (COSTA;
SOUSA, 2007).
Nas coletas de amostragens de água do rio Amazonas o Fe variou ao longo de
trecho entre 0,597mg L-1 no canal sul Macapá no período de seca e 0,151 mg
L-1 no canal norte Macapá no período de cheia e média geral de 0,254 ±
0,1068 mg L-1. Ao longo do baixo Amazonas se reduziu do canal Óbidos ao
canal Almeirim e aumentou em direção aos canais de Macapá. As concentrações
de Fe analisadas no continuo do rio Amazonas formam inferiores aos
observados nos estudos de Pintoet al. (2003) no rio Negro e por Miranda et
al.(2009) no rio Tapajós.
O silício (Si) está presente ao longo do rioprincipalmente na forma de
silicatos cujo mais comum é o óxido de Silício ou Sílica (SiO2), sendo o
segundo elemento mais abundante da crosta terrestre. A Sílica está presente
como silicato na maioria das águas naturais, com concentrações quepodem
variar entre 1 e 30 mg L-1(BAUMGARTEM et al., 1996),é um elemento nutritivo
para algumas espécies pois entra na composição de frústulas, espículas e
outras estruturas de espécies planctônicas e não representa um poluente em
potencial (SIQUEIRA et al, 2003).
No continuo do rio Amazonas a concentração de Si variaram entre 4,552mg L-1
no canal norte Macapá no período de cheia e 3,025 mg L-1 no canal Almeirim
no período de vazante e média geral de 4,015 mg L-1. Aumentando da montante
em Óbidos a jusante nos canais de Macapá. Os valores de concentração de Si
ao longo do continuo de rio Amazonas de Óbidos aos canais de Macapá foram
inferiores aos observados por Teixeira (2012) nos rios como Madeira, Purus e
Solimões, mas superiores aos valores observados por Siqueiraet al. (2003) em
estudos realizados na foz e na plataforma continental do Amazonas e por
Cunha (2006) no rio Negro.
Outro metal com presença menos significativa nas águas da bacia amazônica é
o alumínio (Al), constituinte principal de grande número de componentes
atmosféricos, em particular de poeiras derivadas de solos e partículas
originadas da combustão de carvão (FIGUEIREDO, 2002). Na água, o alumínio é
complexado e influenciado pelo pH, temperatura, presença de íons fluoretos e
sulfatos, matéria orgânica e outros ligantes. Pouco solúvel em pH com
caráter ácido (5,5 e 6,0) podendo apresentar maiores concentrações em
profundidade em que o pH seja ainda mais acido (5,5 < pH), o que pode
favorecer organismo anaeróbio (CAMILLERI et al, 2003).
A concentração de Al variou entre 0,109 mg L-1 no canal norte Macapá no
período de e 0,039 mg L-1 no canal Óbidos e média geral no trecho de 0,061 ±
0,0326 mg L-1. O Al apresentou comportamento bem adverso nos canais com alta
na vazante e baixa na enchente em Óbidos, alta na enchente e baixa na
vazante em Almeirim, alta na seca e baixa na cheia nos canais norte e sul
Macapá. Se reduzindo do canal Óbidos ao canal Almeirim e aumentando em
direção aos canais de Macapá. Os níveis de Alumínio encontrados ao longo do
trecho estudado nos períodos de coletas foram inferiores ao encontrados em
estudos nos rios Pará (PEREIRA et al., 2012), Murucupi (PEREIRA et al.,
2007), Negro (MARMOS, 2009) e semelhante a estudo realizado anteriormente no
rio Xingu (PEREIRA, 2005). As concentrações de Fe, Si e Al (Figura 02).
Percurso de realização das amostragens de agua e sedimentos e fluxo hidrodinâmicos ao longo do baixo Rio Amazonas.
Concentração nos canais de Óbidos (OBDS), Almeirim (ALM), canal norte Macapá (MCPN) e canal sul Macapá (MCPS) em diferentes períodos sazonais.
Conclusões
Dentre os elementos analisados ao longo do baixo rio Amazonas, apresenta predominância silício (Si), em relação aos elementos ferro (Fe) e alumínio (Al), isso pode esta relacionado a grande presença de sedimentos de origem argilosa e arenosa, rico em silicato (SiO2) e pobre em ferro e alumínio colaborando assim com o predomínio de Si (Si > Fe > Al).
Agradecimentos
A Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Universidade Federal do Amapá(UNIFAP), Laboratório de Biogeoquímica Ambiental do Centro de Energia Nuclear em Agricultura(CENA).
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