ANÁLISE ELEMENTAR POR FRX DE CERÂMICAS ARQUEOLÓGICAS DO LITORAL PIAUIENSE

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Química Analítica

Autores

Farias Filho, B.B. (UFPI) ; Almeida, D.D.M. (UFPI) ; Oliveira, A.G.S. (UFPI) ; Barros, W.O. (UFPI) ; Lage, M.C.S.M. (UFPI)

Resumo

Por meio dos estudos das cerâmicas arqueológicas é possível obter informações sobre as técnicas de produção utilizados por grupos humanos pré- históricos. Assim, o objetivo do presente trabalho foi analisar cerâmicas de sítios arqueológicos do litoral piauiense a partir da FRX aliadas a tratamento estatístico visando propor padrões de produção das peças bem como a origem das argilas utilizadas. Os antiplásticos utilizados para produção cerâmica baseou-se no uso de grãos de areia grandes e materiais encontrados em regiões litorâneas como conchas. Os principais elementos químicos detectados por FRX foram o Al, Si, K, Ca, Ti, Fe, Zr, S, P, Sr. O estudo quimiométrico revelou que foi utilizada a mesma fonte de matéria-prima para o preparo das cerâmicas arqueológicas dos quatro sítios em estudo.

Palavras chaves

arqueometria; cerâmica; FRX

Introdução

As cerâmicas são os vestígios mais fáceis de serem encontrados no registro arqueológico, não essencialmente em termos quantitativos, mas majoritariamente pela resistência ao longo do tempo e relação imediata a ação do homem (ARAÚJO, 2014). Elas podem representar as relações dos grupos sociais de quem as confeccionou, além de ser uma demarcadora funcional (MACHADO et al. 2008). A matéria prima principal das cerâmicas é a argila, de origem mineral, que pode ser usada na sua forma natural, ou podem ser acrescentados materiais que controlem sua plasticidade (antiplásticos) (SCATAMACCHIA, 2004). As pesquisas envolvendo a analise química elementar por Fluorescência de Raios X portátil tem permitido obter informações sobre a constituição química da sua pasta, antiplástico e dos bancos de argila explorados no ambiente; técnica de manufatura empregada e até mesmo idade dos objetos estudados; bem como na identificação de processos deposicionais e pós- deposicionais das cerâmicas arqueológicas (MILHEIRA et al, 2009; BONA et al, 2007). Os estudos arqueométricos de cerâmicas arqueológicas do litoral piauiense ainda são incipientes, os trabalhos disponíveis na literatura visa sobretudo avaliação morfológica, tipológica, identificação de pasta e temperatura de queima. Na localidade da Lagoa do Portinho, posicionada entre os municípios de Luís Correia e Parnaíba, foram descobertos quatro sítios dunares. Dentre eles estão: Dunas I, Dunas II, Seu Bode e Lagoa do Portinho I. Desta maneira, o trabalho tem como objetivo analisar os vestígios cerâmicos de sítios arqueológicos do litoral piauiense a partir do uso de técnicas de exames e análises arqueométrica visando a caracterização química elementar para propor forma de manufatura das peças.

Material e métodos

Realizou-se a separação de 29 fragmentos cerâmicos dos sítios arqueológicos Lagoa do Portinho I, Dunas I, Dunas II e Seu Bode que se encontravam depositadas na reserva técnica do Núcleo de Antropologia Pré-Histórica (NAP) da UFPI. As peças foram examinadas por um microscópio óptico portátil (ProScope HR CSI Avantscope) com conexão USB ao computador e utilizando lentes de aumento (Scalar) de 50x avaliando as regiões interna, externa e núcleo. Realizou-se também a análise por Fluorescência de Raios X por Dispersão de Energia (EDXRF) utilizando um espectrômetro equipado com tubos de Raio X de Ag, operando a uma tensão de 50 kV. A corrente foi ajustada automaticamente de acordo com a análise de 200 A. O tempo de análise foi de 120 segundos realizado sob atmosfera. As medidas foram realizadas em diferentes pontos das amostras (regiões interna, externa e núcleo), bem como pontos heterogêneos de cada superfície. Os modelos multivariados foram construídos para verificar as similaridades entre as amostras de cerâmicas arqueológicas dos quatro sítios estudados utilizando classificações não supervisionadas a partir da ferramenta multivariada por análise de componente principal (PCA) utilizando software Unscrambler X 10.2 (Camo, Norway, Oslo). A matriz dos dados foi construída em uma planilha contendo as amostras versus os dados quantitativos obtidos por FRX. Foram construídos dois modelos, o primeiro utilizando os resultados quantitativos da análise das três regiões estudadas de fragmentos cerâmicos do sítio Lagoa do Portinho I; e a última com os dados da região do núcleo dos fragmentos cerâmicos.

Resultado e discussão

A estrutura microscópica das amostras (Figura 1) foram estudadas a fim de obter informações sobre as similaridades físicas em relação aos aspectos tecnológicos de preparo e elaboração das pastas argilosas. Como características principais pode-se observar gradientes de cores, sendo claras, negras (processo de queima), alaranjadas e avermelhas (tintas decorativas) e cinzas (atuação de processo pós-deposicional). Os antiplásticos adicionados foram grãos de areia grossos e fragmentos de peças de origem marinha em grande quantidade, utilizados intencionalmente pelos seus artesões visando a modificação das propriedades mecânicas da argila. A análise elementar permitiu identificar como principais elementos o Al, Si, P, K, Ca, Ti, Fe, Zr e Sr (Figura 2) indicando que esses elementos fazem parte da constituição química das argilas que compõem as pecas cerâmicas. As diferenças entre os teores elementares quantitativos detectados estão relacionadas sobretudo em relação as diferentes proveniências das argilas ou técnicas de produção. A análise dos resultados por PCA, com os scores da PC1 (78%) variando de 8 a -8 e na PC2 (16%) variando de 2 a -5), mostrou a formação de um único grupo, sem a exibição de um padrão de classificação entre as amostras devido aos teores similares dos elementos majoritários que compõem a matéria-prima argilosa e ausência de elementos traços que se referem a locais específicos de proveniências. Assim, tais resultados indicam a utilização de uma matéria-prima similar para a manufatura das peças.

Figura 1

micrografias das cerâmicas. A e E – Sítio Dunas I; B e F – Sítio Dunas II; C e G – Sítio Seu Bode; D e H – Sítio Lagoa do Portinho I

Figura 2

Espectros elementares das cerâmicas obtidas por FRX

Conclusões

A utilização da FRX portátil para as análises das amostras cerâmicas foi importante por dispensar as etapas de preparo de amostras, permitindo a preservação dos bens culturais. As análises realizadas nas amostras detectaram os elementos Al, Si, P, K, Ca, Ti, Fe, Zr e Sr com poucas variações em seus teores o que impediu uma classificação das peças por meio da estatística multivariada baseada em PCA. Os resultados levantam a hipótese do uso de uma matéria-prima similar para a produção das cerâmicas, com diferença mínima na adição dos antiplásticos às pastas cerâmicas.

Agradecimentos

Núcleo de Antropologia Pré-Histórica (NAP) e Grupo de Instrumentação e Automação em Química Analítica (GIAQA-UNICAMP)

Referências

ARAÚJO, I. L. O que os olhos não veem, os dados revelam: estudo arqueométrico de cerâmicas arqueológicas do sítio Lagoa do Portinho I. Dissertação (Mestrado em Antropologia e Arqueologia) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2014.
BONA, I. A. T.; SARKIS, J. E. S.; SALVADOR, V. L. R. Análise arqueométrica de cerâmica tupiguarani da região central do estado do Rio grande do Sul, Brasil, usando Fluorescência de Raios X por Dispersão de Energia (EDXRF). Química Nova, Vol. 30, No. 4, 785-790, 2007.
MACHADO, N. T. G.; SCHNEIDER, P.; SCHNEIDER, F. Análise parcial sobre a cerâmica arqueológica do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. Cerâmica, 54, p. 103-109, 2008.
MILHEIRA, R. G.; APPOLONI, C. R., PARREIRA, P. S. Arqueometria em cerâmicas Guarani no sul do Brasil: um estudo de caso. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo: 355-364, 2009.
SCATAMACCHIA, M.C.M. Proposta de terminologia para a descrição e classificação da cerâmica arqueológica dos grupos pertencentes à família lingüística tupi-guarani. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo,14 : 291-307, 2004.

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