NÚCLEO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA NA ESCOLA: UMA ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA A MELHORIA DO ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

ISBN 978-85-85905-25-5

Área

Iniciação Científica

Autores

Pereira, P.K.L. (UFCG) ; Silva, A.S. (EEEFMJRO) ; Lima, J.P. (UFCG) ; Berto, F.R. (UFCG) ; Santos, G.L. (UFCG) ; Silva, I.S.O. (UFCG) ; Queiroz, L.W.P. (UFCG) ; Andrade, V.M. (UFCG) ; Lima, J.O. (UFCG) ; Neto, M.H.L. (UFCG)

Resumo

O propósito desse trabalho foi a criação de um Núcleo de Iniciação Científica (NIC) em uma Escola Estadual da Paraíba com intuito de mostrar uma didática escolar inovadora fazendo com que os alunos saíssem do cotidiano que é restrito a sala de aula. Inicialmente, os alunos selecionados passaram a se reunir para serem instruídos quanto às ações do núcleo como: produção de artigos científicos, oratória, monitorias, materiais laboratoriais e participação no Subprojeto CSI – investigação criminal. Os resultados mostram que o projeto envolveu aspectos metodológicos que ainda são pouco utilizados na educação básica tendo-se por base a Iniciação Científica e que a implementação dessas atividades levou a um maior engajamento dos alunos e uma notória mudança da rotina de sala de aula.

Palavras chaves

NIC; Monitorias; ZDP - Vygotsky

Introdução

Em meio aos mais diversos problemas pelos quais passa a educação brasileira na atualidade, muito se têm questionado quanto aos caminhos que possam nos levar a um sistema de ensino de qualidade, na busca pelo sucesso escolar e na formação de cidadãos capazes de se posicionar e agir diante da realidade. A Iniciação Científica é uma proposta pedagógica recente nas escolas de educação básica possibilitando uma visão de mundo, valorizando a capacidade crítica e criativa, estimulando o aluno a uma imersão nos conteúdos (ROITMAN; WERTHEIN e CUNHA, 2005). De acordo com Cruz et al. (2017), o modelo de Iniciação Científica (IC) mais comum tem sido aquele inspirado na Iniciação Científica que já se pratica nas Universidades com os estudantes, na qual o professor orientador se vincula a um ou mais estudantes que devem desenvolver e executar um determinado projeto de pesquisa e, por fim, deve socializar sua produção em eventos científicos, voltados para os juniores. É visível que a participação de projetos estimula o potencial dos alunos para o mundo acadêmico. Nesta perspectiva, este trabalho foi desenvolvido por alunos bolsistas do Programa de Iniciaçao à docência e empenhou-se na criação do Núcleo de Iniciação Científica na Escola Estadual José Rolderick Oliveira, desenvolvido com duas turmas de 1ª série e uma turma de 2ª série que compreendem um total de 70 alunos. Dentre as ações do NIC, estiveram atividades de monitorias e desenvolvimento de Subprojeto com a temática “CSI - investigação criminal”, fazendo que o aluno seja sujeito ativo de seu aprendizado.

Material e métodos

Este trabalho foi desenvolvido na E.E.E.F.M. José Rolderick de Oliveira, situada no município de Nova Floresta, localizada na microrregião do Curimataú Ocidental paraibano. Os alunos escolhidos foram duas turmas de 1ª série e uma turma de 2ª série, sendo um total de 70 alunos. Os espaços utilizados foram a sala de aula, o laboratório de ciências, a biblioteca e o laboratório de informática da referida escola. Inicialmente foi realizada a seleção e preparação dos alunos para o núcleo. O critério de seleção dos alunos foi o interesse destes em participar do NIC, volitivamente. Apresentamos as ações do núcleo às turmas e os alunos interessados passaram por uma seleção que consistiu em prova escrita, redação e análise de notas. Após a etapa de seleção, os alunos classificados passaram por um processo de treinamento contínuo que se deu por meio de aulas semanais no contra turno escolar, produção de artigos científicos e oratória com técnicas para a realização das monitorias e exploraram os materiais laboratoriais disponíveis na escola, aprendendo os nomes de vidrarias e suas utilidades. Em seguida, os alunos do NIC realizaram aulas de monitorias, nas quais formavam-se grupos de alunos, onde cada grupo possuía um aluno monitor. As aulas de monitoria ocorriam para resolução de exercícios podendo ocorrer nas aulas em horário normal ou em contra turno. Além disso, os alunos realizaram monitorias em atividades diversas do cotidiano escolar como seminários, experimentos, entre outros. Simultaneamente às monitorias demos início ao subprojeto CSI. Esta etapa ocorreu diretamente com os alunos do NIC durante as reuniões semanais e abrangeu foco científico-investigativo. Iniciamos com aulas teóricas, leituras de textos e debates sobre o tema ministrado na forma de oficinas temáticas, estudos sobre o DNA (Biologia), balística (Física), análise de manchas de sangue na cena do crime (Química). Após esta etapa, os alunos receberam uma cena de crime fictícia que foi intitulada “Quem matou Sarah Parker?”. Foi entregue aos alunos um roteiro investigativo e apresentou-se slides contendo informações sobre a vítima, os suspeitos, evidências, as etapas de investigação que os alunos deveriam seguir para desvendar o crime, e por fim foi revelado quem a matou. Em seguida, realizamos uma conexão com o tema do subprojeto às questões da violência na sociedade. Nesta etapa, contamos com a colaboração de dois professores da área de Ciências Humanas que contribuíram formação de debates o qual contemplou atividades como dinâmicas, leitura, interpretação e discussão de textos e na apresentação cultural por meio de uma peça teatral. Por fim, realizamos uma análise qualitativa por meio de comparação entre os objetivos almejados e alcançados no decorrer do desenvolvimento do NIC além de uma investigação quantitativa através da aplicação de um questionário aos alunos integrantes do Núcleo, bem como análise do rendimentodos alunos das turmas envolvidas ao longo dos bimestres.

Resultado e discussão

De acordo com o levantamento bibliográfico realizado, notamos que a proposta de utilização da Iniciação Científica, apesar de extremamente relevante, ainda é pouco utilizada nas escolas de educação básica no nosso país. Por meio da investigação de campo, sentimos a necessidade de popularizar a IC na escola, visando a melhoria da qualidade da educação no ensino médio, através da criação de um grupo de alunos, posteriormente denominado Núcleo de Iniciação Científica (NIC). Analisando as notas que os alunos obtiveram ao fim do primeiro bimestre, observamos que cerca de 35% apresentaram o perfil esperado para integrar o NIC em termos, não apenas quantitativos, como também qualitativos abrangendo a participação nas aulas, envolvimento com a disciplina, assiduidade, entre outros fatores. Trinta alunos mostraram-se interessados e participaram da primeira reunião seguida do processo seletivo. Ao fim, foram selecionados os 15 alunos que obtiveram melhores resultados no processo. É importante destacar, que 5 alunos de uma turma do 9° Ano do ensino fundamental II, ao saberem da criação do núcleo, mostraram interesse em participar, realizaram o processo seletivo e obtiveram resultados que não poderiam ser ignorados, passando, deste modo, a integrar o NIC junto aos alunos do ensino médio, compondo, por fim, um total de 20 alunos. Em relação às monitorias, tínhamos uma expectativa muito grande a esta etapa, pois ela está baseada no trabalho colaborativo o qual é defendido na literatura como um processo que favorece o desenvolvimento dos alunos agindo com ênfase na ajuda mútua e na construção das aprendizagens recíprocas. Acredita-se na necessidade dessa colaboração, pois ela fortalece o ensino e a aprendizagem, tornando-se importante estratégia de trabalho (FRISON; MORAES, 2010). Os resultados mostram que os alunos avaliaram as monitorias como uma etapa que abrangeu um imenso diferencial metodológico, uma vez que nunca estiveram inseridos nesse tipo atividade. Pudemos tornar possível o nosso objetivo de inserir os alunos numa perspectiva de aprendizagem significativa tornando-os agentes ativos e colaborativos no processo de ensino-aprendizagem, além de promover o melhor aproveitamento do tempo de aulas e utilizar a heterogeneidade das turmas a favor da aprendizagem dos alunos. Foi perceptível o processo de desenvolvimento positivo dos alunos em geral ao longo desta etapa. Os alunos não monitores passavam, cada vez mais, a confiar e solicitar a ajuda dos monitores. Em decorrência disso, os monitores se viam motivados a estudar mais para obter mais conhecimento e, assim, poder ajudar seus colegas. Isto, ditosamente, alicerçou o nosso argumento construído em torno da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) para uma agência colaborativa defendida por Vygotsky (1988, citado por JÚNIOR, 2017), de que os alunos não monitores passam a realizar, com a colaboração de um monitor, tarefas que não conseguiriam realizar sozinhos. Em relação ao Subprojeto CSI, esta atividade atingiu positivamente 100% dos alunos envolvidos e, diante das justificativas, observamos que o caráter científico-investigativo caracterizou-se como um processo de aprendizagem dinâmico e proporcionou aos alunos uma aprendizagem significativa tornando- os agentes ativos e colaborativos no processo de ensino-aprendizagem. Ao longo das investigações, foi possível notar a curiosidade e o empenho dos alunos em desvendar o crime, ansiosos por mais pistas e promovendo discussões que chegaram à sala de aula. Em alguns casos, alunos não integrantes do NIC também se viram intrigados com a problemática a ser resolvida e deram suas opiniões de como poderia ter ocorrido o crime fictício. Os alunos participaram ativamente colhendo as evidências, analisando-as, fazendo anotações a cada novidade sobre o caso (Figura 1) e realizando os experimentos de análise proposto. Destacamos que os experimentos utilizados para a análise de evidências foram baseados na proposta de materiais de baixo custo devido à falta de reagentes disponíveis na escola. No entanto, este não foi e, de modo nenhum, pode ser visto como fator de impedimento para a realização de atividades como esta. Isto comprova o que apontam Schwahn e Oaigen (2009) de que, para obter êxito em sua execução, a experimentação não deve estar associada apenas a um aparato experimental sofisticado, mas sim à sua organização, discussão e análise, o que possibilita interpretação dos fenômenos químicos e a troca de informações entre o grupo que está realizando o experimento. Após a realização das análises, os alunos socializaram suas conclusões e doze alunos acertaram quem havia sido o assassino e como ocorreu o crime, alguns acertando detalhes do ocorrido, o que evidenciou o cumprimento de um dos nossos objetivos que foi o desenvolvimento do caráter investigativo, da observação e interpretação de resultados, bem como da associação aos conhecimentos teóricos. Na segunda parte do Subprojeto “CSI”, pudemos atingir o objetivo de melhorar a capacidade cognitiva dos alunos e aprimorar competências de relacionamento pessoal e comunicação, por meio das discussões e do desenvolvimento da opinião crítica através desta etapa a qual evidenciou a importância de tratar de assuntos concernentes às problemáticas socioculturais vivenciadas na escola dando ênfase à violência (Figura 2). Foi visível o desenvolvimento do protagonismo dos alunos dos NIC os quais estavam preocupados em passar o problema da violência de forma séria e envolvente aos demais alunos que, por sua vez, mostraram envolvimento e participação, além do fato de refletirem e compreenderem valores morais e humanos e princípios de extrema importância para seu convívio social por meio da retratação de situações cotidianas de desrespeito às desigualdades sociais e étnicas. Houve aqui, ainda, uma superação de limites, pois alguns alunos que participaram da peça eram introspectivos, tímidos e falavam pouco nas outras atividades e, no entanto, se destacaram em suas apresentações. Diante dos resultados obtidos, ao verificarmos de forma quantitativa o rendimento dos alunos e compararmos a média geral ao longo dos bimestres, vimos que, no decorrer do desenvolvimento do projeto, foi havendo uma melhoria no rendimento dos alunos das três turmas envolvidas. No 1º bimestre a média geral dos alunos das turmas envolvidas era 6,8. Passou para 7,3 no 2º bimestre e atingiu 8,4 no 3º bimestre. Com esta avaliação, verificamos que, a partir do segundo bimestre, momento em que foram iniciadas as atividades do NIC com os alunos selecionados, o rendimento quantitativo aumentou e foi refletido nas notas dos alunos integrantes. No terceiro bimestre, com a participação dos monitores nas aulas de Química o número de alunos com notas acima da média também apresentou um crescimento significativo em relação ao primeiro bimestre. Assim, observamos que, no decorrer do desenvolvimento e com o rumo que as atividades iam tomando, o envolvimento dos alunos nas propostas em cada etapa ia se tornando maior contribuindo, pois para a melhoria do seu rendimento quantitativo.

Figura 1: Alunos realizando a investigação das evidências encontradas.

Fonte: Autoria própria (2019).

Figura 2: Discutindo o combate à violência.

Fonte: Autoria própria (2019).

Conclusões

Com base nas observações realizadas ao longo da execução do projeto e ainda de acordo com os resultados obtidos por meio das análises qualitativas e quantitativas, pudemos perceber que o projeto envolveu aspectos metodológicos que ainda são pouco utilizados na educação básica tendo-se por base a Iniciação Científica. Os resultados sugerem que a implementação dessas atividades obteve grande sucesso, uma vez que ocorreu melhora significativa das notas, além de um maior engajamento dos alunos e uma notória mudança da rotina de sala de aula. O uso da monitoria foi imprescindível para evidenciar o quanto os professores ficam sobrecarregados durante as atividades de sala de aula, e ainda confirmou nossas expectativas de que o uso dos monitores pode ser uma ferramenta eficaz na rotina de sala de aula na melhoria do processo de ensino-aprendizagem. O trabalho envolvido no Subprojeto “CSI-investigação” abrangeu aspectos científico-investigativo e socioculturais que apresentaram um diferencial significativo e positivo na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, além do caráter crítico na discussão de temas tão relevantes como a violência causada pelo desrespeito às diferenças étnicas e sociais. A proposta elaborada para a execução das ações foi bem aceita e aprovada pelos alunos, nos levando a concluir que o material veio a contribuir e favorecer a aprendizagem destes devido sua inserção numa agência colaborativa, preocupada em apresentar o significado real que o conhecimento terá para o aluno, tornando-o protagonista de sua aprendizagem, levando-o a compreender que a Química não é uma matéria em que se decoram regras, mas uma ciência rica que nos permite permear pelos mais diversos campos de conhecimento.

Agradecimentos

PIBID/CAPES/UFCG

Referências

CRUZ,M. H.da; et al. Atividade de pesquisa no ensino médio: a educação científica no espaço da ICJr. XIII EDUCERE. 2017.

FRISON, L. M. B.; MORAES, M. A. C. As práticas de Monitoria como possibilitadoras dos processos de auto-regulação das aprendizagens discentes. Revista Poíesis Pedagógica, Goiás: UFG, v. 8, n. 2, 2010.

JÚNIOR, F. R. da C. Atividades de monitoria: uma possibilidade para o desenvolvimento da sala de aula. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 43, n. 3, p. 681-694, jul./set., 2017.

ROITMAN, I; WERTHEIN, J.; CUNHA, C. Ciência para os jovens: falar menos e fazer mais. Educação científica e desenvolvimento: o que pensam os cientistas. Brasília: UNESCO. Brasil, p. 133-141, 2005.

SCHWAHN, M. C. A.; OAIGEN, E. R. Objetivos Para o Uso da Experimentação no Ensino de Química: A Visão de Um Grupo de Licenciandos. VII ENPEC, 2009.

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