CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA ELEMENTAR DE PIGMENTOS RUPESTRES DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO BAIXA DO CAJUEIRO – CASTELO DO PIAUÍ, PIAUÍ, BRASIL
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Iniciação Científica
Autores
Barros, W.O. (UFPI) ; Lage, M.C.S.M. (UFPI) ; Filho, B.B.F. (UFPI) ; Lima, A.C. (UFPI) ; Oliveira, A.G.S. (UFPI) ; Vieira, I.M.R.S. (UFPI)
Resumo
Dentre os diversos sítios arqueológicos presentes no estado do Piauí destaca-se a Toca da Baixa do Cajueiro, situado em Castelo do Piauí, e que apresenta uma policromia artística. Dessa forma, o presente estudo teve como principal objetivo realizar a caraterização por meio de exames por microscopia ótica e análises por pFRX de oito amostras de pigmentos rupestres contemplando as cores vermelhas, laranja e amarela do referido sítio arqueológico. Os resultados mostraram que os pigmentos são compostos de Fe, Mn, Ti, Ca, P, S, K, Si e Al. Por fim, foi encontrado pelo menos três tipos diferentes de matéria prima utilizada na elaboração do pigmento vermelho baseando na presença de elementos marcadores químicos: um com presença e ausência de manganês e outro que apresentou o estrôncio.
Palavras chaves
arqueometria; florescência de raio X; pintura rupestre
Introdução
O Piauí possui grande quantidade de sítios arqueológicos distribuídos em áreas que abrangem diversos municípios representados pelos Parques Nacionais (PARNAS) Serra da Capivara e Sete Cidades (ARAÚJO e PESSIS, 1998). A riqueza arqueológica dessa região evidencia uma arte rupestre muito rica, tanto do ponto de vista estilístico quanto da técnica de execução dos grafismos e diversidade de cores. As análises físico- químicas são importantes pois fornecem dados sobre a técnica de execução dos grafismos, casos de pinturas retocadas, superposições, técnica de fabricação e constituição química dos pigmentos, localização de fontes de matéria-prima, relações existentes entre pinturas rupestres e camadas estratigráficas, bem como pesquisas voltadas para a preservação e conservação dos sítios (LAGE, 2014,; MADARIAGA,2015). Além desses PARNAS, destaca-se também a área que corresponde o Cânion do Rio Poti e entorno, principalmente nos municípios de Castelo do Piauí e Buriti dos Montes. No entanto, os trabalhos realizados nesta área se limitam apenas ao cadastramento junto ao CNSA-IPHAN e pouco se fez de estudos mais específicos sobre a análise química elementar dos pigmentos rupestres. Embora se trate de monumentos valorosos que descrevem a história da ocupação humana no nordeste do Brasil estes sítios estão sujeitos a uma série de fatores naturais e/ou antrópicos que acabam por exigir ações de intervenção para a preservação de suas pinturas (FARIAS FILHO,2017). Assim, o presente estudo teve como principal objetivo realizar a documentação, descrição e exames por microscopia ótica e análises por Fluorescência de Raios X portátil de pigmentos rupestres do sítio arqueológico Toca da Baixa do Cajueiro, situado em Castelo do Piauí.
Material e métodos
No campo efetuou-se análises e exames de oito pinturas rupestres, cujo critério de escolha das se deu segundo a diferença de suas tonalidades, além de uma amostra da matriz rochosa que foi tomada como branco analítico. As pinturas examinadas tiveram a coloração referenciada segundo o código Munsell de cores e possuíam coloração que variavam de amarelo claro ao vermelho escuro. Foram realizados os exames microscópicos utilizando a ocular de um microscópio USB portátil (ProScope HR CSI) com uma ampliação de 50x. Após os estudos sob a ocular, as imagens foram obtidas por meio de uma câmera CCD acoplada ao equipamento. Realizou-se as análises de pFRX dos pigmentos e do suporte rochoso utilizando um espectrômetro da Thermo Fisher Scientific, modelo Niton XL3t Ultra portátil, equipado com tubo de raios-X com um anodo de prata e um detector de deriva de silício (SDD). Os parâmetros instrumentais utilizados foram voltagem máxima de 50 kV, corrente de 200 µA e 2W de potência, apresenta uma câmera CCD acoplada que permite visualizar o ponto no qual foi feita a medida e registrá-lo junto ao resultado analítico. O método de calibração utilizado foi o dos parâmetros fundamentais (PF). As medidas foram efetuadas diretamente sobre o pigmento pelo tempo de 120 segundos.
Resultado e discussão
Os exames (Figura 1) revelaram aspectos sobre a fixação das pinturas no suporte
rochoso, sobreposição e estado físico do material pictórico, bem como aspectos de
desgastes devido ao intemperismo natural. De forma geral, os pigmentos rupestres se
encontram aderidos ao suporte rochoso, espalhados uniformemente sobre a superfície
dando ideia de uma aplicação mais bem elaborada da arte rupestre, além disso, as
observações ainda que a tinta rupestre pode ter sido preparada e aplicada no estado
líquido, sendo uma característica do aspecto tecnológico dos povos que o elaboraram.
Alguns sítios de arte rupestre no Brasil também têm empregado essa forma de preparo
das tintas, como nos trabalhos dos Parques Nacionais da Serra da Capivara, Sete
Cidades e da Pedra do Castelo (Cavalcante et al., 2015; Lopes, 2018; Lage 1996).
Como pode ser observado na Figura 2, os principais elementos detectados foram o Fe,
que faz parte do material pigmentante da arte rupestre que se apresentam nas cores,
vermelhas, laranja e amarela. Elementos como o Ca e o Ti, podem ser inequivocamente
associados aos depósitos de alteração apontados nos exames sob microscopia ou faz
parte da composição da tinta, na forma de fixador da arte rupestre. Por fim, os
elementos como Al, Si, P, S, K e Mn são sobretudo derivados da matriz rochosa, bem
como da argila utilizada para a elaboração da tinta. Foi encontrado pelo menos três
tipos diferentes de matéria prima utilizada na elaboração do pigmento vermelho
baseando na presença de elementos marcadores químicos: um com presença e ausência de
manganês e outro que apresentou o estrôncio.
(A) laranja, (B) vermelho, (C) vermelho, (D) laranja, (E) vermelho com amarelo, (F) vermelho com amarelo, (G) vermelho escuro, (H) rocha, (I). amarelo
Resultado obtido nas análises químicas elementares por meio da técnica de pFRX dos pigmentos rupestres bem como do suporte rochoso.
Conclusões
É importante ressaltar que as técnicas usadas (FRX e microscopia) para as análises foram determinantes na obtenção de resultados satisfatórios para as pinturas e pode ser amplamente usado em situações semelhantes onde haja a necessidade de análises pontuais, rápidas e de precisão. Pode-se observar que a composição química elementar das variedades de cores, foram semelhantes em termos do teor elementar, mas diferem em si sobretudo em relação ao teor de ferro encontrado para cada uma das colorações.
Agradecimentos
Referências
ARAÚJO, A. G; PESSIS, A. M et al. Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí Brasil. Fundação do Homem Americano. São Paulo: Typelaser Desenvolvimento Editorial Ltda, 1998.
CAVALCANTE, L. C. D.; RODRIGUES, P. R. A. Análise dos registros rupestres e levantamento dos problemas de conservação do sítio Pedra do Atlas, Piripiri, Piauí. CLIO. Série Arqueológica (UFPE), v. 24, p. 154-173, 2009.
FARIAS FILHO, Benedito Batista; LAGE, Maria Conceição Soares Meneses; LIMA, Rassius Alexandre Medeiros. Estudo químico de eflorescências salinas do sítio arqueológico Toca Exú do Jurubeba do Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Química Nova, v. 40, p. 1-6, 2017.
LAGE, M. C. S. M. e LAGE, W. Conservation of rock-art sites in Northeastern Brazil; IN: Open-Air Rock- Art Conservation and Management – State of the Art and Future Perspectives; Ed. Routledge Studies in Arqchaeology, 2014.
MADARIAGA, J. M. Analytical chemistry in the field of cultural heritage. Analytical Methods, v. 7, p. 4848-4876, abr. 2015.V. 9. p. 83-96, 1996.