APLICAÇÃO DE JATO DE PLASMA COM GÁS HÉLIO PARA DESINFECÇÃO DE ÁGUA DE COCO
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Materiais
Autores
Fernandes, M.J. (UFERSA) ; Vitoriano, J.O. (UFRN) ; Santos, C.S. (UFERSA) ; Feijó, F.M.C. (UFERSA) ; Alves Junior, C. (UFERSA)
Resumo
Devido ao consumo crescente de água de coco em embalagens plásticas e o risco de contaminação microbiana que isso traz, há a preocupação de utilizar etapas de desinfecção desta água durante o processo de envase. Sabendo-se das limitações e desvantagens dos processos convencionais existentes, a tecnologia de plasma seria um alternativo. Assim, o objetivo do presente trabalho foi investigar a eficiência do plasma atmosférico na desinfecção da água de coco, em configuração de jato com gás Hélio. Foram usadas cepas padrão de Salmonella tiphymurium, Escherichia coli e Candida albicans. Foram feitos tratamentos por plasma a 5 e 10 minutos, foi realizada contagem de microrganismos em placa, e microscopia eletrônica de varredura (MEV).
Palavras chaves
Cocos nucifera L.; plasma atmosférico; inativação microbiana
Introdução
A água de coco (Cocos nucifera L.) é uma bebida tropical, consumida principalmente diretamente do fruto. Em 2008, o seu consumo chegou a 39 milhões de litros no Brasil (MARTINS, 2011). Porém, está sendo cada vez mais difundido o envasamento da água de coco em recipientes plásticos, para que possa ser transportada e/ou armazenada refrigerada por várias horas antes do consumo. Durante o envasamento a água fica exposta, com uma grande possibilidade de contato com bactérias patogênicas (AWUA et al., 2012). O processo industrial pelo qual ela passa para ser embalada, em algumas empresas conta com alguma etapa de desinfecção, seja por esterilização, pasteurização ou outros. Estes são tratamentos térmicos, feitos a temperaturas acima de 25 °C. Com a pasteurização, a vida útil da água de coco é limitada, e com a esterilização, há efeitos deletérios sobre o sabor e aroma (DAMAR et al., 2009). Diante desse cenário, tratamentos não- térmicos têm sido explorados como alternativas para garantir a qualidade de alimentos sem modificar propriedades físico-químicas, nutricionais e sensoriais desejadas (BERISTAÍN-BAUZA et al., 2018). Dentre estes, o plasma atmosférico, sobre o qual existem inúmeras publicações estudando as aplicações em inativação de microrganismos em alimentos. Há três mecanismos primários para a inativação microbiana por plasma: (a) interação química entre a membrana celular e os radicais, espécies reativas ou partículas carregadas; (b) dano à membrana celular e componentes internos, por UV; e (c) fragmentação pelas fitas de DNA através do UV gerado durante recombinação de espécies (MOSAIN et al., 2002). O objetivo do trabalho foi investigar a eficiência do plasma atmosférico na desinfecção da água de coco, em configuração de jato com gás Hélio, analisando os efeitos causados em bactérias (Salmonella tiphymurium e Escherichia coli) e fungo (Candida albicans) inseridos na água de coco.
Material e métodos
Foram coletados cocos verdes na fazenda experimental Rafael Fernandes, localizada na comunidade Alagoinha e pertencente à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). Depois de lavados com detergente neutro e água corrente, e esterilizados a superfície com álcool 70%, os frutos foram abertos com furador de alumínio esterilizado, e a água de coco foi extraída com ponteiras estéreis, transferida para béquer esterilizado, adaptado de Awua et al. (2011), Silva et al. (2018). A preparação dos microrganismos, bem como as análises microbiológicas, foi executada no Laboratório de Microbiologia Veterinária (LAMIV) da UFERSA-Mossoró, utilizando metodologia adaptada de Silva et al. (2010), sendo feitas diluições das amostras em 10-1, 10-2 e 10-3. A esterilidade de cada amostra de água de coco extraída foi testada para verificação de presença de coliformes totais, sendo aplicada a técnica do Número Mais Provável (NMP); e de bolores e levedura, inoculando as diluições em ágar batata dextrose (BDA) + cloranfenicol. Foram usadas as cepas padrão de Escherichia coli ATCC 25922, Salmonella tiphymurium ATCC 14028 e Candida albicans ATCC 10231. Estas foram reativadas a partir das culturas originais e postas em caldo BHI (Brain Heart Infusion) em tubos, a 37 ºC por 24h. O inóculo padrão de cada bactéria foi obtido por segunda semeadura em caldo BHI na fase log (crescimento exponencial), e para padronização da densidade inicial de unidades formadoras de colônia por mL (UFC/mL) utilizou-se a turbidez correspondente a 0,5 da escala de MacFarland, a qual está associada a uma faixa de absorbância de 0,08 a 0,1, em um comprimento de onda de 625 nm, adaptado de Machala et al. (2009). A aplicação do jato de plasma nas amostras foi realizada no Laboratório de Plasma Aplicado (LabPlasma), UFERSA-Mossoró. O aparato utilizado tem um dos eletrodos aterrado, ligado a um tubo de vidro estreito e superior, por onde passa o gás Hélio, a um fluxo de 1 L/min, e o outro eletrodo ligado a uma fonte de alta tensão (high voltage – HV), com tensão de 14,9 kV e frequência de 508,75 Hz, vinculado a outro tubo de vidro, mais largo, posto embaixo com 2mL da amostra de água de coco dentro. As amostras de cada microrganismo foram tratadas a 5 e 10 minutos. Amostras foram diluídas em série, em tubos com 9 mL de solução salina (0,85% NaCl). Das diluições usadas, foram plaqueadas 0,1 mL em placas de Petri contendo meio de cultura adequado a cada microrganismo: ágar EMB (Eosina Azul de Metileno) para E. coli, ágar SS (Salmonella Shigella) para S. tiphymurium e ágar dextrose Saboraud para C. albicans. Contagem em placa foi feita em triplicata, após 24h ou 48h, a depender do microrganismo. Foi feita microscopia eletrônica de varredura (MEV) para verificar variações na morfologia após o tratamento por plasma. Nesta, foram testados apenas S. tiphymurim e C. albicans.
Resultado e discussão
A Figura 1 apresenta os resultados da contagem dos microrganismos em placa,
onde pode-se perceber redução do número de unidades formadoras de colônia
(UFC) por mL, de cada microrganismo em função do tempo de tratamento a que
foram submetidos. No caso da E. coli, houve redução de 24,8% com 5 min
de tratamento e de 34,6% com 10 min. Para S. tiphymurium, reduziu a
contagem em 41,9% com 5 min, e 51,6% com 10 min. E para C. albicans,
não houve redução do crescimento a 5 min, apenas a 10 min, com 15,6% de
redução. Na Figura 2, estão as imagens de microscopia eletrônica de varredura
de Salmonella tiphymurium e de Candida albicans tratadas a 10
minutos pelo jato de plasma, em comparação com as mesmas, não tratadas. É
possível perceber células de S. tiphymurium danificadas em ambas as
amostras, porém com mais intensidade após o tratamento por plasma. Parte desta
danificação, na própria amostra de controle, está associada ao vácuo ao qual a
bactéria foi submetida no equipamento de MEV. Já a C. albicans não
apresentou modificações relevantes.
Redução de (a) E. coli, (b) S. tiphymurium e (c) C. albicans associada ao tratamento por plasma.
Imagens de MEV da S. tiphymurium: (a) controle; (b) tratada por plasma a 10min; e da C. albicans: (c) controle; (d) tratada por plasma a 10 min.
Conclusões
Pode-se concluir, com a execução do trabalho, que: (a) O aparato de aplicação do plasma, com as configurações adotadas, já é capaz de inativar uma porcentagem dos microrganismos; (b) O plasma tem efeitos de inativação sobre os microrganismos tratados, mas a interação destes com as espécies geradas pelo plasma ainda precisam ser investigadas; (c) Pela microscopia eletrônica de varredura não houve danos relevantes do plasma na C. albicans (fungo), apenas na S. tiphymurium (bactéria).
Agradecimentos
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro. Ao Laboratório de Plasma Aplicado (LabPlasma) da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).
Referências
AWUA, A. K.; DOE, E. D.; AGYARE, R. Exploring the influence or sterilisation and storage on some physicochemical properties of coconut (Cocos nucifera L.) water. BMC Research Notes, 4, 2011.
AWUA, A. K.; DOE, E. D.; AGYARE, R. Potential bacterial health risk posed to consumers of fresh coconut (Cocos nucifera L.) water. Food and Nutrition Sciences, 3, 2012.
BERISTAÍN-BAUZA, S.; et al. Inhibition of Salmonella Typhimurium growth in coconut (Cocos nucifera L.) water by hurdle technology. Food Control, 92, 2018.
DAMAR, S.; BALABAN, M. O.; SIMS, C. A. Continuous dense-phase CO2 processing of a coconut water beverage. International Journal of Food Science and Technology, 44, 2009.
MACHALA, Z.; et al. DC discharges in atmospheric air for bio-decontamination – spectroscopic methods for mechanism identification. The European Physical Journal D, 54, 2009.
MARTINS, C.R.; JÚNIOR, L.A.J. Evolução da produção de coco no Brasil e o comércio internacional - Panorama 2010. Documentos 164. Embrapa. Aracaju-SE, 2011.
MOISAN, M.; et al. Plasma sterilization: Methods and mechanisms. Pure Appl. Chem, 74, 2002.
SILVA, J. V.; SOUSA JUNIOR, D. L.; LEANDRO, L. M. G.; MACEDO, R. O.; GUEDES, T. T. A. M.; AQUINO, P. E. A. Análise microbiológica da água de coco comercializada na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará. Revista Saúde (Sta. Maria), v. 44, n. 2, 2018.
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