Pigmentos híbridos baseados em saponitas e ácido carmínico
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Materiais
Autores
Cavalcanti, G. (UFPB) ; Zhuang, G. (CHINA UNIVERSITY OF GEOSCIENCES) ; Rodrigues, F. (UEPB) ; Jaber, M. (SORBONNE UNIVERSITÉ, FACULTÉ DES SCIENCES) ; Fonseca, M.G. (UFPB)
Resumo
O desenvolvimento de pigmentos híbridos tem sido apontado como uma alternativa para solucionar problemas de fotoestabilidade como a do ácido carmínico (AC). A síntese destes pigmentos propõe unir a versatilidade e estabilidade das matrizes inorgânicas com as propriedades de fotocromia dos corantes orgânicos conferindo uma maior proteção aos pigmentos formados. Assim o presente trabalho buscou sintetizar pigmentos tendo como base o AC e o argilomineral saponita e seus derivados, por duas rotas diferentes: adsorção e coprecipitação. Os sólidos gerados foram caracterizados e avaliados quanto à fotodegradação à luz ao longo do tempo. Os ensaios realizados demonstraram que foi possível gerar pigmentos com propriedades fotocrômicas diferentes do corante de partida e mais estáveis.
Palavras chaves
Saponita; Ácido Carmínico ; Pigmentos híbridos
Introdução
As primeiras civilizações trouxeram inúmeras contribuições para a descoberta de pigmentos naturais, como o caso do pigmento azul Maia, sendo uma das principais marcas de sua presença.Diversos estudos sobre o azul de Maia monstram que trata-se de um compostos de inclusão em que uma mistura do índigo com sais nos canais do argilomineral paligorskita, que apresenta impressionante estabilidade ao longo do tempo (SÁNCHEZ DEL RÍO et al., 2006). O ácido carmínico (AC) trata-se de um pigmento natural derivado da cochonilha que apresenta grande interesse arqueológico, porém quando usado em sua forma pura apresenta vulnerabilidade a variações térmicas e à fotodegradação. Esse fenômeno tem sido comumente observado nas pinturas e tem levado ao desenvolvimento de novos pigmentos derivados do ácido carmínico com maior fotoestabilidade (RADER BOWERS; SCHMIDTKE SOBECK, 2016; TRIGUEIRO et al., 2018). A produção de pigmentos híbridos surge como uma alternativa para o desenvolvimento de novos sistemas mais estáveis. A utilização de argilominerais, como por exemplo, a saponita, são relatadas por apresentarem alto desempenho no desenvolvimento de novos pigmentos, com propriedades de estabilidade melhoradas(FOURNIER et al., 2016; LU et al., 2018; TIAN et al., 2017; ZHUANG et al., 2019). A preparação de outros sistemas a partir de um precursor inorgânico também é uma possibilidade, como por exemplo, via encapsulamento em hidrogéis(DOS SANTOS et al., 2018; LATTHE; HIRASHIMA; RAO, 2009). Diante do exposto, o presente estudo buscou investigar a estabilidade do ácido carmínico quando adsorvido em saponita, saponita pilarizada com alumínio e e coprecipitado em hidrogéis com composição do mineral saponita.
Material e métodos
Os reagentes utilizados nas sínteses foram adquiridos da empresa Sigma- Aldrich com grau analítico sem purificação previa. Obtenção de saponita pilarizada com alumínio (PilSap) O procedimento para preparação da saponita pilarizada seguiu procedimento conforme descrito por Bergaoui et al. 1995. Uma solução contendo AlCl3 e NaOH em relação OH:Al em mol de 2,2 foi mantida por 24 h a 25°C sob agitação. Uma suspensão aquosa de argila foi preparada com concentração de 3,2 g L-1 e mantida sob agitação por 3 h. Em seguida, a solução de alumínio foi gotejada a esta solução e a mistura resultante permaneceu sob agitação durante 24 h a 25°C e posteriormente foi lavada e seca a 50 °C durante 24 h. Ao término do processo, a amostra intercalada com espécies de alumínio foi denotada como Sap-Al e levada a calcinação à 500 ° C por 4 h e denotada PilSap. Preparação dos pigmentos híbridos Os pigmentos foram preparados por duas rotas: adsorção e co-precipitação. Na primeira a Sap e PilSap reagiram com uma solução de CA, a 0,6 g L− 1 em pH 2,5. A suspensão argila/solução do corante foi mantida sob agitação por 4 h a temperatura de 25 oC e posteriormente, o sólido foi separado por centrifugação, lavado com água deionizada e seco a 50 °C por 24 h, seguindo mesmo método descrito anteriormente (TRIGUEIRO et al., 2018). Para o pigmento preparado por co- precipitação (CSap/AC), utilizou-se um hidrogel com sais precursores com a composição referente a saponita em mol de IV(Si3,6 Al0,4)VI(Mg3,0)O10(OH, F)2(Na)0,4 .691,20 H2O. O sistema foi mantido sob agitação a 25°C por 4 h. Posteriormente uma alíquota de 12 g do gel e 1,2 g do AC (10% m/m) foram auto clavados a 120 °C por 10 dias e, em seguida, o material foi lavado e seco a 50 °C durante 24 h.
Resultado e discussão
Os resultados de difração de raios X para
as amostras mostram que após a
interação com o AC, Figura 1, houve um
aumento no valor do espaçamento basal
de 1,21 para 1,54 nm em Sap/CA e 1,37 a
1,5 nm em PilSap/CA também sugere
que a interação entre o corante e a
saponita ocorre via reação de
intercalação. A amostra obtida por co-
precipitação apresentou baixa
cristalinidade, não sendo obtida a fase
saponita.
Os espectros de infravermelho apresentaram
os picos característicos do
argilomineral, previstos em literatura
(TAO et al., 2016). Após a adsorção
não foi observada a banda referente ao ʋ C
= O. O pigmento obtido por
coprecipitação apresentou as bandas em
1567 cm-1 e 1419 cm-1 relacionada ao
grupo antraquinona que sofreu deslocamento
em relação ao espectro do ácido
carmínico isolado.
As curvas de DTG mostraram três eventos de
perda de massa para a Sap/AC e
PilSap/AC, o primeiro refere-se a
decomposição da matéria orgânica e a
desidratação que ocorrem simultaneamente;
o segundo corresponde à
decomposição da matéria orgânica
remanescente e o último evento refere-se à
disidroxilação do argilomineral
(GUILLERMIN et al., 2019; TRIGUEIRO et
al.,
2018).
As variações de cor ao longo do tempo nos
pigmentos foram determinadas
usando parâmetros CIE (L*, a*, b*), Figura
2. Os valores de ΔE* fornecem
informações sobre a estabilidade dos
pigmentos uma vez que quanto maior o
ΔE* menor a estabilidade do pigmento
formado (KOKALJ et al., 2019). Os
pigmentos Sap/AC apresentaram valores
maiores de ΔE* (ΔE* < 40). Em
contraste, os pigmentos formados a partir
da amostra com pilares de alumínio
mostraram-se mais estáveis com valores de
ΔE menores que 11 e o CSap/AC
apresentou alta estabilidade com valores
de ΔE * inferiores a 7.
Conclusões
Os resultados demonstraram que os pigmentos gerados por adsorção apresentaram características diferentes dos produzidos via processo sol-gel. Para a Sap/AC observou-se uma interação fraca que está diretamente relacionado com as espécies em solução em valores de pH = 2,5 (pKa1 = 2,8), no caso da PilSap/AC a interação ocorre majoritariamente pela quelação do alumínio presente nos pilares. Para o CSap/AC a mistura de óxidos presentes no gel pode gerar o mesmo tipo de interação com o corante observada na amostra pilarizada. A CSap/AC apresentou maior estabilidade á luz que as demais amostras.
Agradecimentos
A CAPES pela bolsa de pesquisa e ao programa CAPES/COFECUB (835/2015) pelo suporte financeiro.
Referências
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