EFEITO DO ANESTÉSICO EUGENOL SOBRE A COMPETÊNCIA ANTIOXIDANTE E DE DETOXIFICAÇÃO NO PEIXE COLOSSOMA MACROPOMUM (TAMBAQUI)
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Bioquímica e Biotecnologia
Autores
Fialho, L.B.A. (UFPA) ; Barbas, L.A.L. (IFPA) ; Costa, B.M.P.A. (IFPA) ; Torres, M.F. (IFPA) ; Amado, L.L. (UFPA)
Resumo
Foi avaliado, em Colossoma macropomum, o efeito do eugenol sobre a capacidade antioxidante e de detoxificação no cérebro, em um curto período de tempo, visando verificar se a anestesia com este fármaco tem o potencial de acarretar prejuízo à homeostase do animal. Realizou-se um experimento com18 peixes divididos em 3grupos: controle (n=6), veículo (etanol, n=6) e Eugenol (n=6) a 65 ppm, por 5 min (em imersão). Foram medidas a Capacidade Antioxidante Total (ACAP) e a atividade da enzima Glutationa-S-Transferase. A atividade da GST foi maior nos grupos de Eugenol e veículo em relação ao grupo controle. A ACAP não variou. Conclui-se que, mesmo em um curto período de exposição, o eugenol diluído em etanol tem o potencial de induzir a atividade detoxificatória no cérebro desta espécie de peixe.
Palavras chaves
óleo de cravo; glutationa S-transferase; capacidade antioxidante
Introdução
Na piscicultura, o uso de anestésicos é de extrema importância para diversos procedimentos rotineiros que envolvem o manejo dos peixes (VICENTE, 2014) a fim de desestimular a resposta aos estímulos externos e diminuir o estresse provocado pelo transporte e manuseio (BARBAS, 2018). É desejável que o anestésico altere o mínimo possível variáveis fisiológicas basais para que, no retorno da anestesia, o indivíduo esteja apto a lidar com as condições ambientais a que está exposto. Neste estudo, avaliamos a atividade da Glutationa S-transferase (GST) e da capacidade antioxidante total. A GST tem como função catalisar a conjugação da molécula de GSH a várias outras moléculas orgânicas, e possuem um papel fundamental em mecanismos de detoxificação intracelular de compostos xenobióticos (CHELVANAYAGAM et al., 2001). A capacidade antioxidante, também avaliada neste estudo, está relacionada com o fato de organismos de metabolismo aeróbio estarem propensos a geração rotineira e normal de espécies reativas de oxigênio (EROs). Estas são moléculas instáveis capazes de desencadear reações em cadeia que podem oxidar macromoléculas, buscando um estado estacionário (VESKOUKIS, 2012). Para lidar com este processo, o organismo possui uma série de defesas capazes de evitar o efeito tóxico do acúmulo excessivo destas EROs. O sistema de defesa antioxidante é formado por um conjunto de substâncias que atrasam, previnem ou removem o dano oxidativo de uma molécula alvo (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 2007). Portanto, para que o funcionamento celular do indivíduo ocorra naturalmente, e não haja dano oxidativo, é necessário que os mecanismos de defesa consigam reagir em balanço com os efeitos negativos do xenobiótico.
Material e métodos
A espécie escolhida foi o Tambaqui (Colossoma macropomum), em fase juvenil, coletado no IFPA- Campus de Castanhal, município do Estado de Pará. Na piscicultura da Amazônia Ocidental a maioria da produção é baseada no Tambaqui destinadas à alimentação humana (INPA, 2018) por ser um peixe que apresenta alta fecundidade e facilita a criação em cativeiro (INOUE, 2011). Os peixes foram induzidos ao banho anestésico por eugenol (4-alil-2- metoxifenol) na concentração de 65ppm durante 5 minutos e dissecados no gelo para a retirada do cérebro. As amostras foram homogeneizadas em diluição 1:4, em tampão com pH ajustado para 7,5 (White et al., 2003), centrifugadas numa velocidade de rotação de 10.000x g por 20 min a 4°C, e o sobrenadante foi retirado e armazenado a -78ºC. A análise de proteínas totais foi feita com kit comercial (Doles Ltda, Brazil) baseado no teste Biureto para proteínas. As leituras foram realizadas no leitor de microplacas multimodal (Victor X3, Perkin Elmer). Para a dosagem de GST, foi seguido a metodologia de HABIG & JAKOBY (1981). As leituras foram realizadas por espectrofluorímetro, no equipamento Victor X3 (Perkin Elmer). O cálculo final representa a quantidade necessária da GST para conjugar 1 µMol de CDNB/min/mg de proteína. A metodologia seguida para medição da capacidade antioxidante total baseou-se no trabalho de AMADO et al. (2009), que determina a concentração de espécies reativas de oxigênio (EROs) nas amostras com e sem exposição a um gerador de radicais peroxil, o ABAP. Para uma leitura direta dos gráficos os resultados foram expressos como inverso da área relativa. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) seguido da aplicação do teste de Tukey para a melhor comparação das médias.
Resultado e discussão
A quebra da homeostase pode desencadear diversas reações metabólicas (INOUE,
2010) e mecanismos de defesa que trazem doenças e morte aos animais do
cultivo (IWAMA et al. 2004). Por isso, em aquicultura é desejável que
manejos de rotina alterem o menos possível características basais como
capacidade antioxidante e de detoxificação. A enzima GST tem um papel
fundamental no processo de desintoxicação de fase II de vários compostos
orgânicos, viabilizando sua excreção e impedindo o contato dos xenobióticos
com as proteínas celulares (SHEEHAN, 2001). Neste estudo, conforme observado
na fig. 1, a atividade da enzima GST foi maior no grupo tratado com eugenol
mostrando que, apesar de curto período de exposição, o eugenol foi capaz de
induzir os mecanismos de detoxificação nos indivíduos. O etanol também se
mostrou participativo na indução do aumento da atividade de detoxificação. O
álcool, mesmo em baixas concentrações, pode provocar a redução da secreção
de cortisol e influenciar no comportamento de peixes (OLIVEIRA, 2013), isso
sugere que o etanol tem implicações diretas no SNC, além de ser um bom
formador de EROs (ALBANO, 2006).
Em estudos realizados com eugenol para várias espécies de peixes
(GRUSH,2004; VIDAL,2006; MYLONAS,2005), os animais apresentaram
hiperatividade e agitação dos movimentos respiratórios. Esse fenômeno pode
favorecer a geração de radicais livres ou de EROs. No entanto, o resultado
das análises mostra que não houve alteração significativa na capacidade
antioxidante total entre os grupos tratados com eugenol e controle (fig. 2)
provavelmente relacionado ao curto período de exposição, uma vez que, a
curto prazo o cérebro não se mostra muito responsivo em termos antioxidantes
em comparação a outros tecidos (GARGIA, 2012).
Conclusões
Atingir o estado de incônscio, caracterizado pela depressão do SNC, é um fator muito importante, e esperado, quando se sujeita um animal a anestesia geral. Caso contrário, a ação do anestésico se torna ineficiente e expõe o indivíduo a dor e manuseio em condições desumanas. Por meio dos métodos aplicados neste estudo, foi possível ver o aumento da atividade da enzima de detoxificação, GST, nos animais tratados com eugenol e veículo. Por outro lado, o curto período de exposição ao anestésico não se mostrou suficiente para alterar o funcionamento das defesas antioxidante do animal.
Agradecimentos
Referências
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