Mecanismo de inibição enzimática da tirosinase de cogumelo por derivados de 3-(acridin-9-il)-n-benzilideno-2-cianoacrilohidrazidas
ISBN 978-85-85905-25-5
Área
Bioquímica e Biotecnologia
Autores
Meira Menezes, T. (UFPE) ; Vitalino de Almeida, S.M. (UPE) ; Olímpio de Moura, R. (UEPB) ; Alves de Lima, M.C. (UFPE) ; Luiz Neves, J. (UFPE)
Resumo
A enzima tirosinase apresenta papel chave no desenvolvimento de câncer de pele, se tornando possível fazer uso de tal enzima como alvo molecular terapêutico. Neste trabalho avaliaram-se derivados de acridinas como inibidores tirosinase. Para este efeito, as spiro- acridinas AMTAC 01 e AMTAC 02 foram sintetizadas e seus mecanismos de inibição enzimática foram investigados. Os resultados da inibição enzimática sugerem que os compostos AMTAC 01 seguem um tipo de inibição não competitiva para a AMTAC 01 e tipo mista para a AMTAC 02. No entanto, a AMTAC 02 (IC50 = 96,29 μM) inibe a enzima mais efetivamente que a AMTAC 01 (IC50 = 189,40 μM), o que indica um papel altamente relevante do grupo metoxila da AMTAC 02 para a atividadade inibitória da tirosinase.
Palavras chaves
tirosinase; acridinas; inibição
Introdução
A enzima tirosinase tem papel biológico no processo de melanogênese, com responsabilidade sobre a pigmentação da pele e de proteção contra raios – UV provenientes do sol. Contudo, alterações na atividade cinética desta enzima possibilitam a formação de desordens de pigmentação, chamados de melasma (SABUDAK, T. et al, 2013). A hiperpigmentação – causada pelo aumento na atividade da tirosinase - é um dos sintomas mais aparentes de câncer de pele, sendo conhecido por melanoma o câncer mais letal (DESAI, S. R., 2014). O mecanismo de atuação da enzima tirosinase na produção de melanina envolve uma reação de oxiredução em presença de oxigênio, com a transferência de elétrons para os íons cobre presente no sítio ativo, gerando a oxidação do substrato tirosina (CHANG, T., 2009). Substâncias dotadas de grupos doadores de elétrons demonstraram alta atividade inibitória da tirosinase (CHO, S. J. et al, 2006; KHATIB, S. et al, 2005; ZHANG, L. et al, 2017), então compreende-se que esta propriedade redutora tenha papel chave na inibição da enzima citada, para que a mesma tenha a capacidade de reagir com o íon cobre no lugar do substrato (COOKSEY, C. J. et al, 1998). Compostos acridínicos participam de uma série de reações como agentes redutores (HEMACHANDRAN, H. et al, 2018; RUZZA, P. et al, 2017; SONG, S. et al, 2017). Além disso, foi indicado em trabalho publicado pertencente ao nosso grupo de pesquisa que a atividade antitumoral em células de melanoma é recorrente em spiro- acridinas (ALMEIDA, S. M. et al, 2016), fazendo assim, do grupo acridina uma classe de compostos com alto potencial para a redução do metal envolvido na ligação O-Cu(II)-O no sítio ativo da tirosinase. Como em artigos anteriormente reportados não se tem conhecimento do mecanismo de ação de compostos acridínicos na inibição do crescimento de células de melanoma, mostra-se necessário o estudo de atividade enzimática e de mecanismos plausíveis que justifiquem a inibição tumoral por parte destes compostos. Com base nisto, foi avaliada a atividade enzimática da tirosinase quando em contato com duas spiro-acridinas (AMTAC 01 e 02) a fim de verificar a viabilidade das acridinas como agente inibitório desta biomolécula.
Material e métodos
Os compostos AMTAC 01 e AMTAC 02 foram sintetizados pela literatura reportada (ALMEIDA, S.M. et al, 2016). O ensaio de inibição da tirosinase foi realizado pelo método de Cho et al. (2006) com modificações. Adicionou-se 100 µL de solução 0,5 mM de substrato L-DOPA em tampão fosfato 0,05 M (pH 6,8) às soluções dos compostos em diferentes concentrações (0,6 mM a 0,008 mM) previamente dissolvidas em DMSO. Para cada poço foi adicionado 10 μL (0,25 mg/mL) da enzima e a inibição foi monitorada pela formação de dopacromo a 475 nm por dez minutos utilizando-se leitor de microplacas ELISA (Bio-rad).Os resultados foram comparados com o ácido kójico e a amostra com DMSO como referência. A porcentagem de inibição da atividade enzimática foi calculada através do gráfico de IC50. O mecanismo de inibição é avaliado pelo efeito do inibidor em Km (constante de Michaelis-Menten) e Vmáx (velocidade de reação máxima).
Resultado e discussão
Para o cálculo da atividade enzimática da
tirosinase foram consideradas as
taxas médias de inibição
(IC50)
das spiro-acridinas, com
quantificação mais eficiente na AMTAC 02
(IC50 – 96.29 μM) em
comparação com a AMTAC 01
(IC50
– 189.40 μM), usando como
controle o ácido kójico (IC50
-
17.40 μM). A variação em torno de
51 % de inibição da AMTAC 02 com relação
à
AMTAC 01 pode ser esclarecida
pelo efeito indutivo da metoxila
(OCH3) presente na AMTAC 02,
que
doa densidade eletrônica para o anel
aromático, deslocalizando a carga
negativa. Esse acúmulo de elétrons no
anel permite uma maior facilidade de
interações com os aminoácidos
pertencentes
ao sítio ativo da enzima. Além
disso, há a questão da eletronegatividade
do oxigênio que pode favorecer a
formação de ligação coordenada da
metoxila
com o metal cobre da tirosinase.
Com o intuito de analisar o mecanismo de
inibição dos compostos, foi
investigado o comportamento da equação de
Lineweaver-burk e sua variação de
acordo com a concentração do inibidor
(LINEWEAVER, H., BURK, D., 1934). Os
resultados demonstram que o tipo de
inibição da AMTAC 01 apresenta perfil
de inibição não competitiva, tendo em
vista que a Vmapp diminui e
a Kmapp não se modifica de
acordo com a concentração de inibidor.
Contudo para a AMTAC 02, Vmapp
e a Kmapp aumentam
simultâneamente, indicando que a inibição
apresenta mecanismo misto
(competitivo e acompetitivo), apesar de
se
aproximar em sua maior parte do
mecanismo competitivo devido ao aumento
da
Kmapp e diminuição da
Vmapp com o aumento da
concentração de AMTAC 02 no sistema
analisado. As constantes de inibição
(KI) evidenciam a alta
afinidade da enzima pelos inibidores
apresentando ordem de grandeza a nível
micromolar (10-6). A AMTAC 02
se liga mais fortemente à enzima
livre (KI = 19,16 μM) do que a
AMTAC 01 (KI = 179,1
μM). De acordo com o modelo de inibição,
KIS= 476,3 μM foi
determinado apenas para o AMTAC 02 devido
ao seu comportamento
predominantemente competitivo. Recentemente foram relatadas as atividades
inibitórias da tirosinase por derivados da benzonitrila, que apresentaram
valores de IC50 similares às spiro-acridinas aqui reportadas
(NIHEI,
K., KUBO, I., 2019). A luteolina, um tipo de flavonóide encontrado em
extratos de plantas, apresenta mecanismo de inibição e valor de
IC50 equiparado ao perfil de inibição encontrado para a AMTAC
01 (KUBO, I., et al, 2000). Em comparação com os resultados obtidos, relata-
se em literatura que o inibidor natural cinamaldeído apresenta
IC50 = 980 μM, valor cerca de 10 vezes maior que o
IC50 da AMTAC 01 e 5 vezes maior
que a AMTAC 02 (KIM, Y., UYAMA, H., 2005).
Conclusões
As spiro-acridinas têm a capacidade de inibir de modo eficaz a tirosinase dos cogumelos (todos os parâmetros de inibição medidos estão na faixa de micromolar). Como notado, a AMTAC 01 difere estruturalmente da AMTAC 02 por um grupo metoxila, ocasionando um tipo diferente de inibição. Portanto, o AMTAC 01 exibiu uma inibição do tipo não competitiva e AMTAC 02 mista, evidenciando a relevância do grupo metoxilo para a inibição da enzima.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro.
Referências
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